CAPÍTULO 2 (PARTE 2): Os MITOS Mais Comuns Sobre o Dispensacionalismo | Michael Vlach

Agora vejamos os MITOS mais comuns sobre o Dispensacionalismo:

MITO 1: O Dispensacionalismo Ensina Várias Formas de Salvação.

Ryrie está correto quando ele afirma que “a objeção mais freguentemente ouvida contra o dispensacionalismo é que ele supostamente ensina várias formas de salvação”.[9] John Wick Bowman fez essa acusação em 1956, quando ele disse que os dispensacionalistas estão “claramente lidando com dois meios de salvação”.[10] Em 1960, Clarence Bass argumentou que as distinções dispensacionalistas entre a lei e a graça, e Israel e a Igreja, “inevitavelmente resultam em múltiplas formas de salvação – que os homens não são salvos da mesma maneira em todas as eras”.[11] Embora estas acusações sejam infundadas, precisamos reconhecer que algumas declarações de dispensacionalistas foram feitas de maneira confusa sobre este assunto.[12] Isto foi especialmente verdadeiro no caso da nota referente a João 1.17 na Bíblia de Referência Scofield, de 1909:

Como uma dispensação, a graça começa com a morte e a ressurreição de Cristo (Rm 3.24-26; 4.24,25). O ponto aqui não é mais a obediência à lei como condição da salvação, mas a aceitação ou rejeição de Cristo, com as boas obras como fruto da salvação.[13]

Alguns viram nessa declaração uma afirmação explícita de que Scofield e os dispensacionalistas acreditavam em múltiplas formas de salvação.[14] Significativamente, a opinião de Scofield na sua Bíblia de referência foi muitas vezes equiparada ao dispensacionalismo, uma vez que ele foi tido como o líder dispensacionalista de seu tempo. De acordo com Klooster, a percepção de que o dispensacionalismo ensina várias maneiras de salvação era comumente declarada por não-dispensacionalistas até 1965.[15] Nesta mesma época, Ryrie publicou o trabalho “Dispensationalism Today”, no qual ele respondeu a esta acusação.[16] Ryrie afirmou que dispensacionalistas mais antigos, incluindo Scofield, não ensinaram isso. Eles fizeram “declarações descuidadas que poderiam ter sido mais bem escritas se elas estivessem sendo feitas à luz do debate de hoje em dia”.[17] Ryrie também pediu que os não-dispensacionalistas reconhecessem a significativa mudança da Nova Bíblia de Referência Scofield sobre João 1.17, na qual o texto polêmico foi removido e uma declaração clara de um único caminho para a salvação foi confirmada. A nota agora diz:

Na dispensação anterior, a lei se mostrava impotente para garantir justiça e vida para uma raça pecadora (Gl 3.21-22). Antes da cruz, a salvação do homem foi por meio da fé (Gn 15.6; Rm4.3), tendo como base o sacrifício expiatório de Cristo, visto antecipadamente por Deus; agora está claramente revelada a salvação e a ressurreição do Salvador.[18]

Desde a publicação de Dispensationalism Today, outros dispensacionalistas se juntaram a Ryrie para esclarecer esse assunto. Como Saucy escreveu, “Embora não se possa negar que há alguma tensão não resolvida nas declarações anteriores, dispensacionalistas têm mais recentemente sido cuidadosos em explicar que a progressão nas dispensações não envolve nenhuma mudança no princípio fundamental da salvação pela graça”.[19]

Como resultado do trabalho de Ryrie, os escritos de outros dispensacionalistas e a revisão da Nova Bíblia de Referência Scofield, muitos não-dispensacionalistas se convenceram de que o dispensacionalismo não ensina múltiplas maneiras de salvação. Fred H. Klooster é um exemplo:

À luz desta significativa revisão na Nova Bíblia de Referência Scofield e de tantos dispensacionalistas como Ryrie e [John] Feinberg, a velha acusação deve ser descartada. Deve-se proceder a partir da confirmação de que o Dispensacionalismo reconhece uma única forma de salvação em toda a Escritura. A Salvação é agora e sempre foi apenas pela graça – Sola Gratia! Esse consentimento é causa de alegria; este reconhecimento não deve ser feito de má vontade.[20]

A perspectiva de Klooster foi também compartilhada por Anthony Hoekema que declarou: “Agradecemos a insistência deles [dispensacionalistas] de que em cada era a salvação é somente pela graça, com base nos méritos de Cristo”.[21] Levando em consideração a Nova Bíblia de Referência Scofield e a Dispensationalism Today de Ryrie, Daniel Fuller escreveu: “Comparando estas declarações contemporâneas do dispensacionalismo com a teologia do pacto, concluímos que não há nenhuma diferença substantiva entre os dois a respeito do tema da lei e do evangelho”.[22]

Klooster, Hoekema e Fuller demonstraram integridade ao se disporem a avaliar esta questão objetivamente. Infelizmente, nem todos os críticos do dispensacionalismo seguiram essa orientação. No seu livro de 1991, “Wrongly Dividing The Word Of Truth: A Critique of Dispensationalism” (Dividindo Injustamente a Palavra da Verdade: Uma Crítica ao Dispensacionalismo), John Gerstner acusou todos os dispensacionalistas de ensinar mais de um caminho para a salvação. Ele disse: “Nós devemos, infelizmente, acusar os dispensacionalistas (de todos os tipos) de ensinar, sempre implicitamente e, às vezes, explicitamente, que há mais de um meio de salvação e, no processo de desenvolvimento dessa teologia, excluíram o único caminho a partir da dispensação da graça”.[23] Gerstner não explica porque o dispensacionalismo leva a uma soteriologia errada, no entanto este foi o seu argumento. Contrariando as alegações de Gerstner, entretanto, a evidência indica que o dispensacionalismo não ensina múltiplas maneiras de salvação. Como John Feinberg apontou, não há nada inerente ao dispensacionalismo que leve os dispensacionalistas a concluírem que a Bíblia ensina múltiplas maneiras de salvação: “Assim, a questão de saber se o dispensacionalismo implica numa visão de múltiplos métodos de salvação, ou numa posição de que somente um meio de salvação seja irrelevante. A Soteriologia não é a área determinante para o Dispensacionalismo”.[24]

MITO 2: O Dispensacionalismo Está Intrinsecamente Ligado ao Arminianismo.

Uma segunda acusação errônea muitas vezes feita contra o dispensacionalismo está associado ao Arminianismo.[25] Assim, o dispensacionalismo é supostamente oposto ao Calvinismo. Por exemplo, de acordo com Keith A. Mathison, “o dispensacionalismo adotou uma doutrina semipelagiana, arminiana, não baseada nas Escrituras”.[26] Gerstner viu o dispensacionalismo como inerentemente “anticalvinista” e o acusou de negar todos os cinco pontos do Calvinismo.[27] Ele também diz que “do seu ponto de vista da criação do homem, da queda, da expiação, soteriologia e escatologia, esse sistema é uma variação do arminianismo”.[28] J. I. Parker parece impressionado com as afirmações de Gerstner quando declara: “Ele [Gerstner] procura mostrar que o Calvinismo e o Dispensacionalismo são radicamente opostos e prova seu argumento”.[29]

A metodologia de Mathison e Gerstner é apontar para declarações de dispensacionalistas adeptos do arminianismo e então declarar que o dispensacionalismo é companheiro do arminianismo. E, em certos casos, eles estão corretos em afirmar que alguns dispensacionalistas possuem uma visão arminiana. Esse ponto não está em discussão. (Contudo, o número de dispensacionalistas que aderem linha por linha do todo do sistema arminiano são poucos, na melhor das hipóteses). A verdadeira questão, entretanto, é se o dispensacionalismo está inerentemente conectado ao [herético] arminianismo. Nossa afirmação é que não está. Nós apresentamos três razões para nossa alegação.

Primeiramente, como já dissemos, o dispensacionalismo é, principalmente, sobre eclesiologia, escatologia e hermenêutica, e não sobre soteriologia. Quanto a abordagem a respeito do dispensacionalismo estar relacionado à questão do arminianismo ou do Calvinismo, John Feinberg explica porque não está:

Nem o calvinismo nem o arminianismo estão na essência do dispensacionalismo. (...) Este assunto não está na essência do dispensacionalismo porque o calvinismo e o arminianismo são muito importantes no que diz respeito aos conceitos de Deus, o homem, o pecado e a salvação. O dispensacionalismo se torna muito importante no que diz respeito à eclesiologia e à escatologia, mas realmente não se trata destas outras áreas.[30]

Em segundo lugar, embora existam dispensacionalistas que são arminianos, existem também dispensacionalistas calvinistas. Conforme David L. Turner explica: “Há certos dispensacionalistas, eu incluso, que defendem a teologia Calvinista, incluindo a expiação limitada”.[31] Além disso, para Turner, o falecido S. Lewis Johnson Jr. Foi outro dispensacionalista que guardou todos os cinco pontos do Calvinismo.[32] Jeffrey Khoo aponta que James Oliver Buswell (1895-1977) foi um “premilenista dispensacional” que também era “um verdadeiro e consistente estudioso reformado..., um Calvinista de cinco pontos (TULIP*)”.[33] Buswell, um membro da Igreja Presbiteriana Bíblica, foi “talvez o maior proeminente estudioso reformado que teve uma visão premilenista dispensacionalista”.[34]

Tanto Mathison quanto Gerstner negam uma conexão entre o dispensacionalismo e o Calvinismo, mas eles não mostram de maneira lógica porque um é antitético ao outro. Nem demonstram porque os teólogos dispensacionalistas como Turner, Johnson e Buswell não podem ser calvinistas. Em vez de apenas citar certos dispensacionalistas orientados pelo arminianismo, os argumentos de Gerstner e Mathison seriam mais fortes se eles pudessem de maneira lógica mostrar porque o dispensacionalismo é inerentemente anti-calvinista e porque os dispensacionalistas que clamam ser calvinistas não são realmente calvinistas. Não há, no entanto, nenhuma razão lógica pela qual um dispensacionalista não possa ser um calvinista. Como Richard Mayhue observa, “alguém pode ser um calvinista de cinco pontos e ainda ser um dispensacionalista consistente”.[35]

Finalmente, alguns estudiosos não-dispensacionalistas têm realmente documentado uma ligação histórica estreira entre o dispensacionalismo e o calvinismo. De acordo com Vern Poythress, “os ensinos e textos de Scofield são evangélicos. Eles são ligeiramente calvinistas conquanto mantenha em grande relevância a soberania de Deus”.[36] O historiador da Igreja George M. Marsden disse que o “dispensacionalismo foi essencialmente reformado em suas origens do Século XIX e teve na América do final do mesmo século uma difusão maior entre os calvinistas reavivados”.[37] C. Norman Kraus declara que “as afinidades teológicas básicas do dispensacionalismo são calvinistas”.[38] Em sua discussão sobre o [herético] arminianismo e a teologia reformada, Wayne Grudem diz que “os dois pontos de vista são encontrados entre os... dispensacionalistas”.[39]

Nós destacamos as conclusões destes estudiosos não para provar que o dispensacionalismo é inerentemente calvinista, mas para mostrar que quando se quer forçar o problema, pode-se argumentar que o dispensacionalismo tem uma ligação histórica mais próxima do calvinismo do que do [herético] arminianismo. Assim, a alegação de que o dispensacionalismo é intrinsecamente ligado ao arminianismo é falsa e deve ser descartada. É simplesmente um MITO.

MITO 3: O Dispensacionalismo é Inerentemente Atinomiano.

Uma terceira acusação algumas vezes feita contra o dispensacionalismo é que ele ensina o antinomianismo. Antinomianismo, como Robert D. Linder define, é “a doutrina sobre a qual não é necessário que os cristãos preguem e/ou obedeçam a lei moral do AT”.[40] O antinomianismo é frequentemente associado com o endosso do comportamento sem lei.[41] De acordo com Gerstner, o dispensacionalismo é “comprometido com a doutrina inegociável do antinomianismo”.[42] Para ele, “todos os dispensacionalistas tradicionais ensinam que cristãos convertidos  podem (não devem) viver em pecado durante toda a vida pós-conversão sem perigo para o destino eterno deles”.[43] É importante notar que Gerstner foi além de simplesmente argumentar que certos dispensacionalistas ensinam antinomianismo. Para ele, o dispensacionalismo é inerentemente antinomiano.[44] Gerstner crê nisso por causa da alegação de que o cristão não está sob a Lei Mosaica e por causa de sua suposta falha “em entender as doutrinas reformadas de justificação e santificação”.[45] O dispensacionalismo, ele alega, crê que as pessoas podem ser justificadas sem ser santificadas. Este “dualismo”, de acordo com Gerstner, leva à crença de que esses cristãos podem ser “carnais”.[46]

Gerstner está correto em dizer que alguns dispensacionalistas têm separado a justificação da santificação. Devemos, no entanto, abordar também outras questões. Há líderes dispensacionalistas que vêem a justificação e santificação como sendo inseparáveis? Da mesma forma, o dispensacionalismo conduz um dispensacionalista a separar a justificação da santificação? Ao contrário do que Gerstner afirma, muitos dispensacionalistas vêem uma ligação inseparável entre justificação e santificação, e muitos não aceitam a idéia de que uma pessoa possa ser justificada sem ser também santificada. Não apenas não há nada dentro do dispensacionalismo que levaria um dispensacionalista a separar a justificação da santificação, como alguns dispensacionalistas vêem a justificação e a santificação como sendo inseparáveis. John MacArthur, por exemplo, argumenta de forma explícita contra o antinomianismo e se posiciona em defesa da visão de que a justificação e a santificação são inseparáveis.[47] Para MacArthur, “Não existe essa coisa de um verdadeiro convertido a Cristo que é justificado mas não santificado”.[48] Este posicionamento não é recente no sistema. O dispensacionalista Donald G. Barnhouse declarou que a “Justificação e a santificação são tão inseparáveis quanto o tronco e a cabeça. Você não pode ter um sem o outro”.[49] Alva J. McClain declarou que “A justificação não pode ser separada da santificação”. Ele também disse: “Justificação e santificação são dois aspectos da obra única de Deus em salvar os homens”.[50]

Como Gerstner, Curtis Crenshaw e Grover Gunn também afirmaram que há “um antinomianismo inerente ao dispensacionalismo”.[51] Para eles, os dispensacionalistas rejeitam a lei moral de Deus e sustentam que os cristãos são livres para agir carnalmente:

Rejeitar a lei moral, especialmente a lei moral do AT, resulta numa série de conseqüências. Eles tendem a rejeitar a idéia de que Cristo está governando agora por sua lei (ou qualquer lei que importe) como Rei dos reis, relegando isso a um futuro milênio. Isto, por sua vez, leva-os a rejeitar o Seu senhorio na salvação e mantém que se pode ter a fé sem obras (a idéia do “cristão carnal”).[52]

Há duas respostas a esta acusação de antinomianismo. Primeiro, não estamos negando que alguns dispensacionalistas podem ser antinomianos ou têm tendências antinomianas (embora não saibamos de nenhum dispensacionalista que realmente defenda uma vida sem lei). Negamos, entretanto, que o dispensacionalismo seja, em si, inerentemente antinomiano. Um sistema que é preocupado principalmente com eclesiologia e escatologia não pode necessariamente levar ao antinomianismo. Como Feinberg coloca:

Alguns argumentam que o dispensacionalismo implica em antinomianismo, já que os dispensacionalistas afirmam que a lei foi cumprida de qualquer maneira, pois Cristo é o fim da lei (Rm 10.4). Embora alguns possam manter este ponto de vista, isto dificilmente é a norma ou uma necessidade para o dispensacionalismo.[53]

MacArthur também está certo quando diz que “É um grosseiro mal-entendido assumir que o antinomianismo está no coração da doutrina dispensacionalista”.[54]

Em segundo lugar, embora a maioria dos dispensacionalistas diga que os cristãos de hoje não estão sob a lei mosaica, eles não afirmam que os crentes não estejam sem qualquer lei. A alegação de Creenshaw e Gunn de que os dispensacionalistas rejeitam a “lei moral” é uma deturpação daquilo que a maior parte deles crê. Muitos dispensacionalistas acreditam [corretamente] que os cristãos atuais estão sob uma nova lei – a Lei de Cristo, na qual as leis morais de Deus são comunicadas. De acordo com Wayne G. Strickland, a Lei de Cristo “é o novo pacto em contrapartida à lei mosaica. Assim como a lei mosaica era normativa para os judeus, a lei de Cristo é obrigatória para os cristãos”.[55] Segundo Blaising, o dispensacionalismo não é antinomiano porque “ao mesmo tempo em que ensina que a lei do pacto mosaico acabou de uma maneira dispensacional, ele também ensina que foi substituído pela NOVA LEI da aliança”.[56] No seu sumário sobre a perspectiva dispensacional da lei, Erickson escreve que “A lei moral está sempre presente... embora o seu conteúdo exato possa variar”.[57]

Alguém pode argumentar que os dispensacionalistas estejam errados no que concerne ao relacionamento entre a lei mosaica e a LEI DE CRISTO, mas não é correto acusar o dispensacionalismo de dizer que os cristãos de hoje não tem lei ou que eles podem pecar sem se preocupar com o seu destino eterno. Também deve ser observado que a ligação histórica entre o dispensacionalismo e o antinomianismo pode também ser exagerada. Como um especialista da história do dispensacionalismo, Blaising escreve: “Eu não sou convencido por Gerstner de que o antinomianismo, como tradicionalmente entendido, é característico do dispensacionalismo”.[58]

MITO 4: O Dispensacionalismo Conduz a uma Salvação Sem Senhorio.

Uma quarta acusação contra o dispensacionalismo é que ele obrigatoriamente conduz a uma idéia de salvação sem senhorio. Embora possua diferentes formas, a teologia do não-senhorio é normalmente caracterizada pela crença de que o arrependimento e entrega de uma vida ao senhorio de Cristo não é necessário par que ocorra a salvação. Alguns defensores do não-senhorio também sustentam que uma pessoa pode ser salva e não evidenciar frutos espirituais.[59] De acordo com Gerstner, “Toda essa traição dispensacional do evangelho se tornou central na controvérsia do senhorio”.[60] Para ele, “O evangelho do antinomismo dispensacional declara que uma pessoa pode ter Cristo como Salvador mas se recusar a “aceitá-Lo” como Senhor da sua vida”.[61]

Obviamente, alguns dispensacionalistas defendem uma visão da salvação sem senhorio ou têm tendências neste sentido. Lewis Sperry Charfer, por exemplo, fez declarações compatíveis com a visão do não-senhorio.[62] O defensor mais conhecido desta teologia é Zane Hodges. Seus livros, “The Gospel Under Siege” (O Evangelho Sitiado) e “Absolutely Free” (Absolutamente Livre) são explicitamente promotores da teologia do não-senhorio.[63] Mais uma vez, a questão aqui não é se alguns dispensacionalistas têm mantido uma visão de não-senhorio, mas se este ponto de vista é uma conseqüência inevitável do dispensacionalismo. Nós asseguramos que NÃO é, por duas razões:

Primeiro, uma vez que o dispensacionalismo é principalmente sobre eclesiologia e escatologia, ele não tem uma conexão necessária com a questão do Senhorio, um assunto soteriológico. Alguns dispensacionalistas até questionam se a opinião mais extrema a favor do não-senhorio de alguns dispensacionalistas está mesmo historicamente relacionada com o dispensacionalismo. Saucy, por exemplo, diz que “a posição radical do não-senhorio de alguns dispensacionalistas contemporâneos, negando a necessidade para a salvação de uma ‘fé com obras’ baseados em Tiago 2.14-26, nunca fez parte do dispensacionalismo tradicional ou clássico”.[64]

Segundo, vários teólogos dispensacionalistas rejeitaram explicitamente a ideia do não-senhorio. John MacArthur e Robert Saucy, por exemplo, argumentaram abertamente contra a posição do não-senhorio como defendida por Hodges.[65] Curiosamente, em sua afirmação de que o dispensacionalismo é intrinsecamente ligado à posição do não-senhorio, Gerstner cita John MacArthur contra outros dispensacionalistas.[66] Mas a lógica aqui é estranha. Gerstner cita o dispensacionalista John MacArthur para mostrar que a alegada visão do não-senhorio do dispensacionalismo é errada. PORÉM, em vez de provar o ponto de vista de Gerstner, entreganto, o uso de MacArthur mostra que há diversidade dentro do dispensacionalismo a respeito desta questão e que não há nenhuma conexão intrínseca entre o dispensacionalismo e a teologia do não-senhorio.

MITO 5: O Dispensacionalismo é Principalmente Sobre a Crença em Sete Dispensações.


No livro “What is Reformed Theology?” (O que é Teologia Reformada?), R. C. Sproul se esforça para mostrar como as teologias do pacto e reformada são distintas do dispensacionalismo. Sua declaração que define o dispensacionalismo era: “A teologia dispensacional originalmente cria que a chave para a interpretação bíblica é ‘manejar bem’ a Bíblia em sete dispensações, definidas na Bíblia de Referência Scofield como períodos de teste específicos na história da redenção”.[67] A definição do dispensacionalismo de Sproul é muito comum e, para ser honesto com ele, tem sido frequentemente utilizada por dispensacionalistas também. Em minha opinião, contudo, esta definição mostra uma falta de compreensão sobre o que o dispensacionalismo realmente é. Ao olhar para estas questões, estou convencido de que o dispensacionalismo não é primariamente crer em dispensações ou crer que existem sete dispensações. Por que afirmo isso?

Primeiramente, acreditar em dispensações não pode ser uma característica distintiva do dispensacionalismo desde que todos os cristãos crêem em dispensações. Qual o cristão que não crê que há uma diferença dispensacional entre o mundo pré e pós-queda? Quem não vê uma diferença dispensacional entre os tempos antes e depois da primeira vinda de Cristo? Qual cristão não reconhece que a era presente é diferente do novo céu e nova terra vindouros?

Além disso, o dispensacionalismo não é reconhecer o termo grego “oikonomia”, o qual está ligado à palavra “dispensação”. Afinal, qual estudioso bíblico não acredita que oikonomia seja um termo bíblico? Deste modo, admite-se que a palavra em questão não faz um dispensacionalista, e nem a definição deste termo nos revel a essência do dispensacionalismo. Como John Feinberg pontuou, “o erro inicial é pensar que a palavra ‘dispensação’ e a fala de ordens administrativas divergentes só aparecem no pensamento dispensacional”.[68] Feinberg também está correto ao dizer que “Definir o termo ‘dispensação’  não mais define a essência do dispensacionalismo assim como a definição do termo ‘pacto’ explica a Teologia do Pacto”.[69]

De um modo semelhante, o número de dispensações não deve ser considerado a essência do dispensacionalismo. Tradicionalmente, o sistema tem sido associado à crença em “sete” dispensações, mas alguns têm argumentado em favor de quatro ou oito, ou algum outro número qualquer. Pessoalmente, não concordo com a omissão do Estado Eterno como uma “dispensação” em qualquer esquema dispensacional. Além disso, nunca tenho sido inteiramente convencido dos critérios de “teste”, “fracasso” e “julgamento” para determinar uma dispensação, o que tem sido parte do dispensacionalismo clássico. Esta abordagem parece um tanto arbitrária para mim e lida com dispensações duvidosas e omitem outras que parecem óbvias (como o Estado Eterno). Assim, não creio que alguém deva defender sete dispensações para ser um verdadeiro dispensacionalista. Feinberg está correto novamente quando afirma: “O número de dispensações não está no coração do sistema”.[70]

Há outros MITOS sobre o dispensacionalismo e suas aplicações que também poderiam ser abordados, alguns dos quais podem realmente ter definido pontos do dispensacionalismo no seu início. Um deles é a suposição de que o sistema necessariamente ensina que o Sermão do Monte se aplica apenas ao futuro reino milenar. Lewis Sperry Chafer mantém esta visão[71] e é verdade que os primeiros dispensacionalistas relegaram o Sermão do Monte (Mt 5-7) ao futuro milênio somente. Mas a maioria deles, hoje, não tem a mesma opinião. Estes vêem o Sermão como um reino ético que se aplica nos dias atuais.[72]

Outro MITO diz que o dispensacionalismo ensina que há uma diferença entre o reino de Deus e o reino dos céus. Novamente, esta visão foi sustentada por alguns dos primeiros dispensacionalistas, mas é amplamente rejeitada pela maioria dos atuais. Mais uma vez, uma distinção precisa ser feita entre o que alguns crêem e o que é característico  do dispensacionalismo como um sistema. Como John Martin observou, “Um dos maiores equívocos é o pressuposto de que existe uma única ‘interpretação dispensacional’ de cada passagem”.[73]

Outras alegações sobre o dispensacionalismo atingem o nível do absurdo. O conhecido apresentador de rádio Hank Hanegraaff afirmou no seu livro, “Apocalipse Code” (Código do Apocalipse), que a opinião dispensacionalista de um cumprimento literal da terra prometida à Israel e a crença de que esta nação irá passar por tribulações no futuro leva ao racismo e ao estímulo de uma limpeza étnica”.[74] Esta acusação é simplesmente boba. De todos os livros que li sobre dispensacionalismo, a acusação de racismo não foi feita por aqueles que fizeram críticas ou explanações sérias sobre o sistema. Os dispensacionalistas crêem numa restauração de Israel e num futuro período de tribulação porque eles acreditam que a Bíblia ensina estas coisas. Isso dificilmente leva ao racismo. No Velho Testamento, Deus escolheu Israel dentre todas as nações de maneira explícita (ver Dt 7.6). Teria sido Deus racista no AT, uma vez que Ele escolheu amar o Israel étnico de uma maneira que não escolhera outras pessoas da Terra? Stephen Sizer, no livro “Zion’s Christian Soldiers?” (Soldados Cristãos de Sião?), também faz uma afirmação estranha de que as crenças dispensacionalistas resultam em uma total falta de preocupação com as grandes questões nacionais e globais:

Infelizmente, a idéia equivocada de um arrebatamento secreto tem gerado muito má teologia. É, provavelmente, a razão pela qual muitos cristãos não parecem se preocupar com as mudanças climáticas ou com a preservação de fontes, cada vez mais escassas de recursos naturais. Eles são igualmente despreocupados com a dívida nacional, a guerra nuclear ou a pobreza no mundo, pois esperam ser arrebatados para o céu e não sofrer as conseqüências do holocausto global vindouro.[75]

Certamente, não há fatos ou documentos para apoiar essa alegação. Como um dispensacionalista que crê num arrebatamento “secreto”, eu me importo com a guerra nuclear, a dívida nacional, recursos naturais e outras coisas que Sizer menciona. O mesmo é verdade para a maioria dos dispensacionalistas que conheço. Novamente, este parece ser o caso em que uma pessoa pensa que compreendeu as implicações do dispensacionalismo, mas, na realidade, não entendeu.

Em suma, os pontos mencionados acima são MITOS sobre o dispensacionalismo. Aqueles que estudam o sistema dispensacionalista devem se concentrar sobre os verdadeiros problemas e evitar tais mitos.

– Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo futurista – John MacArthur & Richard Mayhue - Cap. 2, Pág. 40-52

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

CAPÍTULO 2 (PARTE 1): O Que o Dispensacionalismo Não É? | Michael Vlach

Recentemente, enquanto corria em uma esteira na academia, escutei atentamente um professor de Bíblia bem conhecido no meu iPhone. Durante uma sessão de perguntas e respostas, alguém lhe perguntou o que ele pensava sobre o dispensacionalismo. Ele respondeu que um de seus maiores problemas com o dispensacionalismo era sua doutrina da salvação. Em particular, ele argumentou que o dispensacionalismo ensina o tricotomismo – a crença de que os seres humanos são compostos de três partes: corpo, alma e espírito. Ele afirmou que desde que o dispensacionalismo ensina que a alma e o espírito são distintos, isso leva à conclusão de que os cristãos podem viver vidas carnais elegantemente enquanto vivem para a glória de Deus espiritualmente. Depois de ouvir isso, eu repassei os seus comentários para ver se eu tinha entendido corretamente. E sim, ele tinha dito exatamente isso. Para ele, dispensacionalismo estava intrinsecamente ligado à crença de que a alma e o espírito são partes distintas da constituição humana, o que poderia levar a uma vida ímpia.

Este homem estava sinceramente errado. Tricotomismo não é uma crença necessária ao dispensacionalismo nem de longe. Eu me perguntava como ou de onde ele tirou essa conclusão. Infelizmente, os seus ouvintes terminaram aquele dia pensando que o dispensacionalismo defende uma visão errônea da salvação. Este é apenas um dos muitos exemplos em que o dispensacionalismo tem sido seriamente deturpado.

Ao longo de sua história, ele tem sido muitas vezes associado a vários pontos de vista periféricos que não são fundamentais para a sua teologia, especialmente no que diz respeito à doutrina da salvação. Tal alegação revela a ignorância quanto à verdadeira natureza do dispensacionalismo. Assim, este capítulo vai mostrar alguns dos MITOS comuns ou mal-entendidos sobre a teologia dispensacionalista que precisam ser eliminadas de quaisquer discussões factuais do dispensacionalismo.

DISPENSACIONALISMO E OUTRAS DOUTRINAS
Nem todo sistema teológico tem uma relação orgânica com cada área da teologia cristã. Por exemplo, a teologia reformada tem pontos de vista específicos sobre as doutrinas da Escritura, da soberania de Deus e da salvação. Mas essa teologia não lida com nenhum ponto específico da escatologia. Por exemplo, há teólogos reformados que são amilenistas, pós-milenistas e premilenistas. Entretanto, a tentativa de vincular a teologia reformada com uma visão milenar específica seria incorreta, já que não há nenhuma relação inerente com qualquer visão milenar específica.

O mesmo é verdadeiro para o dispensacionalismo. Esta teologia está intrinsecamente ligada a algumas áreas da teologia, mas não a outras. Ao examinarmos, fica claro que o dispensacionalismo está preocupado  principalmente com as doutrinas da eclesiologia (igreja) e escatologia (final dos tempos). Mas uma doutrina que não é inerentemente relacionada com o dispensacionalismo é a soteriologia, a doutrina da salvação. Como John Feinberg escreve:

O dispensacionalismo se torna muito importante com relação à eclesiologia e à escatologia, mas realmente não se trata destas outras áreas. Alguns pensam que a salvação é o cerne do dispensacionalismo porque pensam erroneamente que ele ensina múltiplos métodos de salvação. Aqueles que compreendem corretamente a posição percebem que sua ênfase está em outro lugar.[1]

John MacArthur, um dispensacionalista que tem se envolvido profundamente em debates soteriológicos com outros dispensacionalistas, também afirma com razão que a escatologia e a eclesiologia, e não a soteriologia, estão no cerne do dispensacionalismo.:

Assim, o dispensacionalismo forma uma escatologia e eclesiologia. Esta é a extensão dele. O dispensacionalismo puro não tem ramificações para as doutrinas de Deus, do homem, do pecado ou da santificação. Mais significativamente, o dispensacionalismo verdadeiro não faz nenhuma contribuição relevante para a soteriologia, a doutrina da salvação.[2]

O. T. Allis, um não-dispensacionalista, ecoa as conclusões de Feinberg e MacArthur: “As principais características deste movimento [dispensacionalismo] são duas em número. A primeira é relacionada com a igreja. (...) A segunda tem a ver com a profecia”.[3]

Que o dispensacionalismo é principalmente sobre eclesiologia e escatologia (e não soteriologia) é também evidenciada nas obras de outros líderes dispensacionalistas que tem enfatizado a essência do dispensacionalismo. Por exemplo, no livro “Dispensationalism Today” (Dispensacionalismo Hoje), Ryrie dedicou um capítulo à “salvação”, mas o capítulo foi principalmente uma refutação contra a acusação de que o dispensacionalismo ensina várias maneiras de salvação. Ele não argumenta que o dispensacionalismo implique necessariamente em qualquer visão soteriológica. Em seu trabalho de 1993, “The Case for Progressive Dispensationalism” (O Argumento do Dispensacionalismo Progressivo), Robert L. Saucy discute questões eclesiológicas, escatológicas e hermenêuticas relacionadas com o dispensacionalismo, contudo, ele não promoveu nenhuma soteriologia dispensacional em particular.[4]

Em um livro de 1992, editado por Blaising e Bock, chamado “Dispensationalism, Israel and the Church: The Search for Definition” (Dispensacionalismo, Israel e a Igreja: A Busca por definição), autores dispensacionalistas escreveram sobre vários temas eclesiológicos, escatológicos e hermenêuticos, mas nenhum defendeu uma soteriologia dispensacional específica.[5] O mesmo pode ser dito a respeito do livro de 1993 dos mesmos autores, Progressive Dispensationalism.[6] Exceto por tratar de conceitos errôneos à opinião dispensacionalista sobre a lei e a graça, não houve discussão direta sobre qualquer soteriologia dispensacional. Paul Enns, um dispensacionalista, dedica um capítulo à “Teologia Dispensacional” no seu livro de 1989, “The Moody Handbook of Theology” (O Manual de Teologia Moody).[7] Ele apresentou um parágrafo para o assunto da salvação. A ênfase do parágrafo, entretanto, foi para refutar o falso argumento de que o dispensacionalismo ensina variadas formas de salvação. Nenhuma soteriologia dispensacional específica foi mencionada. Estas obras de dispensacionalistas reconhecidos são importantes porque revelam o que está no cerne do dispensacionalismo. É significativo que nenhum desses textos tenta ligar o dispensacionalismo a uma determinada perspectiva soteriológica. Quando abordaram a soteriologia, foi principalmente para responder às acusações de que o dispensacionalismo está ligado a alguma perspectiva errada de salvação.

Para esclarecer, não estou afirmando que os dispensacionalistas não possuem suas opiniões soteriológicas individuais; claro que eles têm. Uma distinção, contudo, deve ser feita entre o que os dispensacionalistas asseguram individualmente e o que o dispensacionalismo, enquanto um sistema, afirma. Não considerar esta distinção é o grande erro daqueles que associam o dispensacionalismo a certos pontos de vista soteriológicos. Eles estão, como Feinberg diz, “reagindo àquilo que eles pensam que o dispensacionalismo afirma ao invés de reagirem contra a lógica do próprio sistema”.[8]

– Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo futurista - Cap. 2, Pág. 37-40

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

CAPÍTULO 1 (PARTE 2): SEIS CRENÇAS ESSENCIAIS DO DISPENSACIONALISMO | Michael Vlach

Nesta seção apresento as crenças essenciais do dispensacionalismo. Por “essencial” entendo as crenças fundamentais do dispensacionalismo que são centrais e únicas ao sistema, crenças sobre as quais o sistema permanece de pé ou cai. Há também crenças que, se negadas, provavelmente fariam de uma pessoa um não-dispensacionalista. Esta lista leva em consideração a contribuição de Ryrie, Feinberg e Blaising e Bock, mas também ofereço minhas próprias distinções que espero ajudarem na elucidação dessas questões.

1. Revelação progressiva do Novo Testamento não interpreta ou reinterpreta passagens do Antigo Testamento de um modo que cancela o significado original dos escritores do Antigo Testamento como determinados pela hermenêutica histórico-gramatical.

O primeiro ponto é uma questão hermenêutica e, talvez, é o mais fundamental de todos eles. Todos os dispensacionalistas afirmam que o ponto de partida para entender as passagens do Antigo Testamento são as próprias passagens do Antigo Testamento. O significado primário dos textos do Antigo Testamento não são primariamente dependentes da interpretação ou reinterpretação do Novo Testamento. O Novo Testamento pode, com a revelação progressiva, à luz de passagens do Antigo Testamento, oferecer comentários, ou acrescentar aplicações ou referências, mas jamais substitui a intenção original dos escritores do Antigo Testamento. Na revelação progressiva, os escritores do Novo Testamento podem fazer mais na forma de aplicação ou cumprimento com as passagens do Antigo Testamento, mas eles não podem anular ou transferir o significado das passagens do Antigo Testamento de uma forma a irem contra o que os escritores do Antigo Testamento intencionaram. Assim, como afirma Paul D. Feinberg, “O sentido de qualquer predição do A.T. deve ser determinado através da aplicação da hermenêutica histórico-gramatical ao texto”.[13] Bruce A. Ware aplica esse princípio às promessas feitas a Israel:

Não há dúvida de que os profetas pretendiam comunicar a promessa de um retorno nacional de Israel à sua terra. Na medida que nossa hermenêutica é regulada pelo princípio da intenção do autor, nos é dada ampla razão para aceitar este entendimento literal do que Deus, através das profecias, originalmente prometeu para o seu povo Israel.[14]

Vamos considerar uma passagem chave como exemplo. Hebreus 8.8-13, que cita a passagem original da nova aliança de Jeremias 31.31-34, inclui a igreja nas bênçãos espirituais da nova aliança, mas, uma vez que a nova aliança foi originalmente prometida a Israel, o cumprimento final da aliança deve envolver a nação de Israel. O autor de Hebreus inclui a igreja como nas bênçãos da nova aliança, mas ele não exclui a nação de Israel da aliança. Assim, a nova aliança traz nela o elemento “tanto/quanto”, ou seja, tanto Israel quanto a igreja. A igreja está relacionada com a nova aliança (Hb 8.8-13) e Israel será relacionado à nova aliança na segunda vinda de Cristo (cf. Rm 1.25-27). Bock está correto quando afirma que “A inclusão adicional de algo na promessa não significa que o beneficiário original seja assim excluído. A expansão da promessa não significa necessariamente o cancelamento de compromissos anteriores feitos por Deus. O cumprimento da esperança da nova aliança hoje pelos gentios não significa que a promessa feita a Israel em Jeremias 31 tenha sido descartada”.[15]

Esta abordagem é bastante diferente daquela feita pelos não-dispensacionalistas, que frequentemente vêem a nova aliança como sendo totalmente cumprida com a igreja de tal forma que não inclua o Israel nacional. Com este método, as bênçãos físicas e materiais da nova aliança encontram um cumprimento espiritual ou menos literal com a igreja, que é agora o novo ou o verdadeiro Israel”.[16] Assim, não se deve olhar para uma futura inclusão da nação de Israel na aliança.

Este princípio dispensacional de manter a intenção original do autor do texto do Antigo Testamento tem grande importância para as alianças eternas e incondicionais dadas a Israel no Antigo Testamento (Abraâmica, Davídica, Nova). John Feinberg argumenta que alianças incondicionais de Deus com Israel garantem que o Novo Testamento nunca iria introduzir uma idéia na qual Deus não iria cumprir Suas alianças e promessas com Israel, as pessoas com as quais as promessas originais foram feitas. Para isso, Deus teria que se contradizer, o que não é possível. Se uma promessa do Antigo Testamento é feita de modo incondicional a um grupo específico tal como Israel, então a promessa deve ser cumprida com aquele grupo. O progresso da revelação não pode cancelar as promessas incondicionais a Israel. Feinberg declara:

Se uma profecia ou promessa do AT é feita incondicionalmente para determinado povo e ainda não foi cumprida na era do NT, significa que a profecia se cumprirá futuramente. Embora uma profecia dada incondicionalmente a Israel tenha o seu cumprimento na igreja, se o NT a aplicar à igreja, ela também deve ser cumprida para com Israel. O progresso da revelação não pode cancelar promessas incondicionais.[17]

David L. Turner aponta corretamente que “teólogos do pacto e dispensacionalistas discordam sobre a natureza da revelação progressiva”.[18] Ele escreve: “Cada grupo acusa o outro de má interpretação do NT devido aos pressupostos estranhos”.[19 Turner ressalta que dispensacionalistas negam que o Novo Testamento reinterprete as promessas do Antigo Testamento a Israel: “São deles a asseveração de que o NT não fornece qualquer “reinterpretação” da profecia do AT de modo a cancelar as promessas do Antigo Testamento a Israel de um futuro reino histórico. Na visão deles, o uso que o NT faz do AT não modifica radicalmente as promessas do Antigo Testamento a Israel”.[20] Turner argumenta que o entendimento não-dispensacionalista levanta a questão da fidelidade de Deus a Israel: “Se a reinterpretação do NT reverte, anula ou modifica seriamente as promessas do Antigo TESTAMENTO PARA Israel, deve-se imaginar de que forma definir a palavra “progressiva” [na revelação progressiva]. A fidelidade de Deus às Suas promessas a Israel também deve ser explicada”.[21]

Ryrie, também, aponta que o Novo Testamento não contradiz o significado dos textos do Antigo Testamento. Ele afirma: “Uma nova revelação não pode significar revelação contraditória. Uma revelação posterior sobre um assunto não faz a revelação anterior significar algo diferente”.[22] “Se assim fosse”, escreve Ryrie, “Deus teria de ser concebido enganador dos profetas do Antigo Testamento quando revelou a eles um reino nacionalista, sendo que Ele saberia do tempo que reverteria completamente o conceito de revelação posterior”.[23] Para Ryrie, o conceito de “a estrutura superior não substitui a fundação”.[24] Assim, a manutenção da relevância da intenção original do autor de uma passagem do Antigo Testamento é um elemento essencial do dispensacionalismo.

2. Tipos existem, mas Israel nacional não é um tipo substituído pela igreja.

A questão da tipologia tem implicações significativas para a escatologia. Não-dispensacionalistas sustentam que Israel nacional funcionou como um tipo da igreja no Novo Testamento. Uma vez que o maior antítipo (“o cumprimento” do tipo), a igreja, foi revelado, o lugar de Israel como povo de Deus foi transcendido e superado pela igreja.[25]

Dispensacionalistas, também, acreditam em tipos. No entanto, eles adotam uma abordagem diferente para a compreensão de Israel em relação à tipologia. John Feinberg, por exemplo, aponta que a natureza das promessas incondicionais a Israel possuem implicações para a compreensão do relacionamento de Israel com a tipologia. Embora reconhecendo a existência de tipos do Antigo Testamento que prefiguram realidades do Novo Testamento, as pessoas a quem foram feitas as promessas não são tipos.

A incondicionalidade das promessas feitas a Israel garante que o NT não remove implicitamente tais promessas. Leis e instruções civis e cerimoniais do Antigo Testamento são sombras e são explicitamente removidas no NT. Mas as promessas incondicionais não são sombras, como não são os povos a quem elas foram dadas.[26]

Paul Feinberg, também, embora reconhecendo a existência de tipos, não vê Israel como um símbolo da igreja: “Além disso, embora a interpretação histórico-gramatical leve em conta símbolos, tipos e analogias, não vejo evidência de que Israel seja um símbolo para a igreja, a Palestina para a nova Jerusalém, e outros”.[27] Deve-se usar de cautela para determinar quando o Novo Testamento cancela um tipo do Antigo Testamento. Como John Feinberg declara: “Se o antítipo do NT cancela o significado do tipo do AT, o NT precisa nos dizer isso”.[28]

Estariam os dispensacionalistas afirmando que não há conexão tipológica alguma entre Israel e a igreja? Não necessariamente. Saucy, por exemplo, argumenta que a nação de Israel não é um tipo no sentido de que Israel foi transcendido por uma realidade espiritual maior, a igreja. No entanto, ele também acredita que há uma correspondência histórica e teológica entre Israel e a igreja que pode ter implicações tipológicas. Como ele explica, “Se um tipo é entendido como sombra apontando para frente para a realidade de um antítipo, então é questionável se Israel é um tipo”.[29] Por outro lado, se um tipo é visto em termos de uma correspondência entre dois grupos, decorre que, uma ligação tipológica entre Israel e a igreja pode existir:

Se um tipo é definido como uma correspondência histórica e teológica geral, então as muitas analogias entre Israel do Antigo Testamento e o povo de Deus do Novo Testamento podem ser explicadas vendo Israel como um tipo da igreja. Mas a correspondência com as ações de Deus entre Israel do Antigo Testamento nesta compreensão da tipologia não negaria a existência dessa nação no futuro.[30]

Assim, pode haver ligação tipológica entre Israel e a igreja, mas essa conexão não é que a igreja substitui o Israel nacional. Em vez disso, a conexão tipológica é de uma correspondência histórica e teológica que revela uma estreita relação entre Israel e a igreja.

Esta ligação tipológica entre o Antigo e o Novo Testamentos, no entanto, não altera o sentido original das promessas do Antigo Testamento a Israel. David L. Turner explica: “Tipologia genuína e analogia entre AT e NT não devem ser vistas como destrutiva para o cumprimento literal das promessas do AT a Israel, mas sim uma indicação de uma maior continuidade entre Israel e a igreja”.[31] Assim, qualquer que seja a relação tipológica que exista entre Israel e a igreja, esta não pode ser tomada como significando que Israel foi transcendido e superado pela igreja.

3. Israel e a Igreja são distintos, assim, a igreja não pode ser identificada como o novo ou verdadeiro Israel.

Como indicam as listas de Ryrie, Feinberg, e Blaising e Bock, todos os dispensacionalistas estão unidos ao considerar que não se pode equiparar a igreja do Novo Testamento como o novo ou o verdadeiro “Israel”. Pode haver diferenças quando se trata de especificidades da relação entre a igreja e Israel ou a relação exata da igreja com as alianças bíblicas, mas todos os dispensacionalistas rejeitam uma “teologia da substituição” ou “supersessionismo”, em que a igreja do Novo Testamento é vista como a substituição ou cumprimento da nação de Israel como o povo de Deus.[32]

Dispensacionalistas tradicionais e progressistas têm diferenças sobre como vêem a igreja. Dispensacionalistas tradicionais tendem a ver a igreja como um grupo antropológico distinto, enquanto dispensacionalistas progressivos são mais propensos a ver a Igreja como a comunidade soteriológica dos redimidos começando com os acontecimentos de Pentecostes, como descrito em Atos 2.[33] Mas ambos os lados concordam que não há evidências bíblicas que indiquem que a igreja é o novo ou o verdadeiro Israel que substituiu para sempre o Israel nacional como o povo de Deus.

Dispensacionalistas reconhecem que os crentes gentios foram aproximados às alianças de Israel (cf. Ef 2.11-22), mas eles também apontam que o Novo Testamento distingue Israel e a igreja de tal maneira que exclui a idéia de que a igreja agora é identificada como Israel ou que a igreja herda totalmente as promessas e alianças de Israel com a exclusão deste.

Arnold Fruchtenbaum, por exemplo, mostra que o título “Israel” é usado num total de setenta e três vezes no Novo Testamento, mas é sempre usado para judeus étnicos: “Destas setenta e três citações, a grande maioria refere-se ao Israel nacional, étnico. Algumas se referem especificamente aos crentes judeus que ainda são judeus étnicos”.[34] Saucy confirma este ponto quando diz: “A evidência do NT revela que, fora algumas referências em disputa... o nome Israel está relacionado ao povo “nacional” da aliança do AT”.[35] Para os dispensacionalistas é significativo que o Novo Testamento ainda consistentemente se refira à nação de Israel como “Israel”, mesmo após o estabelecimento da igreja. Israel é tratado como uma nação, em contraste com os gentios depois que a igreja foi fundada no dia de Pentecostes (At 3.12; 4.8, 10; 5.21, 31, 35; 21.28). Como Ryrie destaca, “Na oração de Paulo pelo Israel natural (Rm 10.1) há uma clara referência à Israel como um povo nacional distinto e fora da igreja”.[36]

Ryrie argumenta que a ligação feita por Paulo do Israel nacional às alianças e promessas do Antigo Testamento, mesmo enquanto em um estado de descrença, é uma prova de que a igreja não absorveu inteiramente as bênçãos de Israel:

Paulo, obviamente referindo-se ao Israel natural como seus “parentes segundo a carne”, atribui a eles as alianças e as promessas (Rm 9.3-4). O fato de que essas palavras foram escritas após o início da igreja é prova de que esta não rouba Israel de suas bênçãos. O termo Israel continua a ser usado para os descendentes naturais (não espirituais) de Abraão depois que a igreja foi instituída, e não é equiparado com a igreja.[37]

Os dispensacionalistas também argumentam que o livro de Atos mantém uma distinção entre Israel e a igreja. No livro de Atos, tanto Israel como a igreja existem simultaneamente, mas o termo “Israel” é usado vinte vezes e, ekklesia (igreja), dezenove vezes. Mas os dois grupos são mantidos sempre distintos.[38] Assim, o uso contínuo do termo “Israel” para os descendentes físicos de Jacó é evidência de que a igreja não é Israel. Como Saucy explica: “A igreja não é... identificada como ‘Israel’. Eles compartilham uma identidade semelhante como o povo de Deus e desfrutam igualmente as bênçãos da salvação escatológica prometida. Mas essa semelhança não elimina todas as distinções entre eles”.[39] Em suma, a distinção Israel/igreja continua a ser uma característica definidora do dispensacionalismo.

4. Há unidade espiritual na salvação entre Judeus e Gentios e um papel futuro para Israel como nação.

Um dos principais argumentos apresentados contra o dispensacionalismo é que ele não faz justiça à unidade que os judeus e gentios experimentam em Cristo. A ênfase sobre “um novo homem” (Ef 2.15) e “um corpo” (Ef2.16) na Bíblia significa [segundo os não-dispensacionalistas] que não pode haver papel futuro para Israel, uma vez que a unidade em Cristo supostamente exclui qualquer distinção para Israel. Em referência a Efésios 2, Anthony Hoekema declara: “Todo pensamento de um propósito separado para crentes judeus é aqui excluído”.[40] Em relação a Efésios 2.11-15, Raymond Zorn argumenta: “Através do cumprimento da lei por Cristo veio um fim à exclusividade de Israel como uma nação santa e um povo santo”.[41] Wayne Grudem diz que Ef 2 “não apresenta nenhuma indicação de plano distinto para o povo judeu ser salvo fora dessa inclusão no único corpo de Cristo, a igreja”.[42] Segundo os não-dispensacionalistas, parece improvável que Deus juntaria judeus e gentios somente para fazer uma distinção entre os dois grupos no futuro. Fazer isto parece ser um retrocesso. Como Hoekema declara, é como colocar os andaimes de volta em um edifício acabado:

Sugerir que Deus tem em mente um futuro separado para Israel, em distinção do futuro que ele tem planejado para os gentios, na verdade vai contra o propósito de Deus. É como colocar os andaimes de volta depois que o edifício foi concluído. É como voltar o relógio da história aos tempos do Antigo Testamento. É impor a distinção do Antigo Testamento sobre o Novo Testamento e ignorar o progresso da revelação.[43]

Uma crença fundamental do dispensacionalismo, porém, é que a unidade espiritual entre crentes judeus e gentios não cancela distinções funcionais ordenadas por Deus entre grupos, tais como Israel e a igreja. Por exemplo, no campo da bênção da salvação e posição diante de Deus, os crentes gentios são iguais aos crentes judeus. No entanto, a unidade salvífica entre judeus e gentios não apaga as distinções étnicas ou funcionais entre os dois grupos. Como Carl Hoch declara:

Os comentários de Paulo em Efésios, no entanto, excluem qualquer prioridade salvífica para Israel na estrutura eclesiológica do novo homem... No entanto, embora não haja mais vantagem salvífica, ainda há uma distinção étnica entre judeus e gentios. Paulo continua a falar de judeus e gentios como grupos étnicos distintos em suas cartas (Rm 1.16; 9.24; 1Co 1.24, 12.13. Gl 2.14,15).[44]

Essa crença dispensacional que a igualdade salvífica não exclui distinções funcionais é vista em outros exemplos na Escritura. Por exemplo, de acordo com Gálatas 3.28, homens e mulheres participam igualmente nas bênçãos da salvação, mas a Bíblia ainda ensina que eles têm diferentes funções (cf. 1Tm 2.9-15). Assim, no caso de homens e mulheres, a unidade salvífica não anula distinções funcionais. O mesmo é verdade para os presbíteros e não-presbíteros em uma igreja. Ambos são iguais em essência e compartilham as mesmas bênçãos espirituais, mas os presbíteros têm um papel distinto no plano de Deus (cf. Hb 13.17). Poderia ser estabelecida a mesma distinção entre pais e filhos ou até mesmo na própria Trindade, em que há igualdade de essência entre eles e ainda distinções funcionais dentro desta unidade. Assim, a igualdade em essência e bênçãos espirituais não anula distinções funcionais. Como Saucy escreve:

A união de judeus e gentios na igreja não descarta a possibilidade de distinção funcional entre Israel e as outras nações no futuro – da mesma forma que existem distinções funcionais entre os crentes na igreja hoje em meio a igualdade espiritual.[45]

Assim, quando se trata da questão da unidade salvífica entre crentes judeus e gentios e um papel futuro de Israel num reino milenar, o dispensacionalista diz: “Sim, trata-se de uma situação do tipo tanto um/como o outro”.

5. A nação de Israel será salva, restaurada com uma identidade e função singulares num futuro reino milenar sobre a terra.

Os dispensacionalistas frequentemente não tem explicado bem este ponto, mas ele é extremamente importante.[46] Muitas vezes os dispensacionalistas afirmam que a crença em “um futuro para Israel” ou “a salvação de Israel” é uma característica distintiva do dispensacionalismo. Mas estas declarações não são específicas o suficiente para definir o dispensacionalismo. Muitos não-dispensacionalistas também afirmam as duas idéias acima. De fato, um bom número de não-dispensacionalistas, incluindo muitos pós-milenistas e alguns amilenistas, acreditam em uma salvação literal de Israel com base nas palavras de Paulo em Romanos 11.26 que “todo o Israel será salvo”. Esta opinião foi defendida por muitos dos teólogos da era patrística. Mais recentemente, esse entendimento de Romanos 11.26 foi promovido por Handley C. G. Moule, John Murray, Leon Morris, F. F. Bruce e Wayne Grudem.[47] Portanto, não é suficiente afirmar que a crença numa salvação futura de Israel é estritamente uma visão dispensacional.

O que distingue todos os dispensacionalistas, no entanto, é que eles acreditam não só na salvação de Israel; eles também acreditam em uma restauração de Israel. O conceito de restauração certamente inclui a idéia de salvação, mas vai além disso. “Restauração” envolve a idéia de Israel sendo reinstalado como uma nação em sua terra, com uma identidade específica e o papel de servir as nações. Em outras palavras, em um reino literal terreno – um milênio – a nação de Israel desempenhará um papel funcional de serviço para as nações. Este ponto é algo que todos os dispensacionalistas afirmam ao passo que todos os não-dispensacionalistas negam. Mesmo premilenistas históricos, que concordam com os dispensacionalistas em relação às questões de salvação nacional de Israel e um futuro reino milenar, irão discordar com a idéia dispensacionalista de que Israel será restaurado com uma identidade e função únicas que sejam distintas da igreja. Assim, há uma distinção entre dizer que a nação de Israel será salva na igreja e dizer que a nação de Israel será salva e restaurada com uma identidade e função únicas num milênio terreno. Dispensacionalistas afirmam o último.

6. Há múltiplos sentidos da “semente de Abraão”. Assim, a identificação da igreja como “semente de Abraão” não cancela as promessas de Deus para a “semente de Abraão” judaica crente.

Gálatas 3.7 afirma que os que exercem fé são “filhos de Abraão”. Gálatas 3.9 também declara que aqueles que pertencem a Cristo são “descendentes de Abraão” e “herdeiros conforme a promessa”. Não-dispensacionalistas têm argumentado que uma vez que os gentios são “filhos” e “descendentes” (ou “semente”) de Abraão, eles também devem ser judeus espirituais.[48] Dispensacionalistas, porém, contestam esse entendimento. Eles o fazem desafiando a idéia de que ser um “filho” ou “semente” de Abraão torna alguém automaticamente um judeu. Saucy, por exemplo, afirma que a paternidade de Abraão vai além de ser o pai de Israel étnico, uma vez que Abraão confiou em Deus antes de ser reconhecido como um Hebreu:

Se Abraão fosse apenas o pai de Israel, temos de concluir que os gentios que agora são uma parte desta semente são, portanto, uma parte de Israel. Mas de acordo com o Novo Testamento, Abraão é mais do que isso, é retratado como o pai de ambos os povos, Israel e gentios. Com base no fato de Abraão ter sido um crente, antes de ser reconhecido como um hebreu – o apóstolo Paulo declarou que ele é “o pai de todos os que crêem, mas não foram circuncidados... e... também o pai do circuncidado” (Rm 4.9-12; cf. v 16).[49]

Como resultado, “O fato de que a verdadeira semente de Abraão inclui judeus e gentios não descarta uma distinção contínua para Israel no Novo Testamento. Também não deve o fato dos gentios serem chamados como a semente de Abraão ser interpretado como a formação de um “novo Israel espiritual”, que substitui a nação de Israel do Antigo Testamento”.[50]

Dispensacionalistas têm argumentado que o conceito de “descendência de Abraão” é usado de várias maneiras diferentes no Novo Testamento. Fruchtenbaum, por exemplo, lista quatro sentidos da “semente de Abraão”. Primeiro, ele diz que pode se referir àqueles que são descendentes biológicos de Abraão. Em segundo lugar, pode referir-se ao Messias, que é a semente individual, singular de Abraão. Terceiro, pode se referir ao remanescente justo de Israel (cf. Is 41.8 com Rm 9.6). Em quarto lugar, ele pode ser usado num sentido espiritual para os crentes judeus e gentios (Gl 3.29).[51] É neste último sentido, o sentido espiritual, que crentes gentios são descendentes de Abraão. John Feinberg também distingue entre um sentido físico e um sentido espiritual de ser uma semente de Abraão. Conforme ele, nenhum supersessionista sustenta que “nenhum sentido (sobretudo espiritual) é mais importante do que qualquer outro, e que nenhum sentido anula o significado e implicações dos outros sentidos”.[52] Consequentemente, a aplicação dos títulos “filhos de Abraão” ou “semente de Abraão” não significa que os crentes gentios são judeus ou parte do Israel espiritual.[53]

Juntos, esses seis pontos acima mencionados constituem o fundamento da teologia dispensacionalista. É sobre esses seis pontos que eu acredito que o dispensacionalismo permanece de pé ou cai.

 – Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo - Um guia básico sobre o premilenismo futurista - John MacArthur & Richard Mayhue - Cap. 1, Pág. 22-32

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

CAPÍTULO 1 (PARTE 1): O que é o Dispensacionalismo? | Michael Vlach

Daniel, um menino de nove anos, saiu da sala da escola bíblica dominical explodindo como um cavalo selvagem. Seus olhos corriam em todas as direções enquanto ele tentava localizar o pai ou a mãe. Finalmente, depois de uma busca rápida, ele agarrou seu pai pela perna e gritou: “Pai, essa história de Moisés e de todas aquelas pessoas que atravessaram o Mar Vermelho é ótima!” Seu pai olhou, sorriu e pediu ao menino que ele dissesse tudo que pudesse sobre a história.

“Bem, os israelitas saíram do Egito, mas Faraó e seu exército os perseguiram. Então os judeus correram o mais rápido que podiam até chegarem ao Mar Vermelho. O exército egípcio ia chegando cada vez mais perto. Então Moisés pegou o seu rádio e mandou a Força Aérea de Israel bombardear os egípcios. Enquanto isto, a Marinha israelense construiu uma ponte de barcas para que as pessoas pudessem atravessar. E eles atravessaram!”

O pai está chocado até agora. “Foi assim que eles lhe ensinaram essa história?”

“Bem, não, não exatamente”, Daniel admitiu, “mas se eu contasse para o senhor essa história do jeito que eles nos contaram, o senhor jamais acreditaria, pai”.

Essa é a maneira que muitos acreditam que os dispensacionalistas tratam as profecias bíblicas. Para eles os dispensacionalistas têm de fazer um malabarismo para torná-la crível. Mas nada poderia estar mais longe da verdade do que isso. Com algumas exceções, os dispensacionalistas querem dizer nada mais, nada menos do que aquilo que a Bíblia relata. O plano deste capítulo é definir corretamente o que é o Dispensacionalismo.

Muito tem sido escrito sobre o dispensacionalismo em geral e sobre o premilenismo futurista em particular. A fim de compreender com precisão o dispensacionalismo, é preciso ter uma perspectiva adequada sobre o que esta abordagem teológica envolve na verdade. Assim, este capítulo apresenta as características essenciais ou fundamentais do dispensacionalismo. Estas crenças definem o coração da perspectiva da teologia dispensacionalista que o distingue de outros sistemas teológicos, especialmente a teologia do pacto. A fim de alcançarmos esse objetivo, vamos pesquisar como os principais representantes do dispensacionalismo definiram a teologia dispensacionalista, seguida por uma lista de características únicas que compõem as crenças centrais do dispensacionalismo.

O CONTEXTO RECENTE DO DISPENSACIONALISMO
Em seu livro “Dispensationalism Today” [Dispensacionalismo Hoje], publicado em 1965, Charles Ryrie apresentou três pontos que ele considera essenciais ou o ‘sine qua non’ do dispensacionalismo: (1) uma distinção entre Israel e Igreja, (2) uma abordagem hermenêutica denominada interpretação literal, e (3) a crença de que o propósito de Deus para a história no mundo é a Sua glória [1]. O ‘sine qua non’ de Ryrie foi bem recebido pela maioria dos dispensacionalistas e é frequentemente usado como o ponto de partida para explicar o dispensacionalismo. Por outro lado, os oponentes do dispensacionalismo também lidaram com os achados de Ryrie e os usaram como ponto de partida para criticar a teologia dispensacional.

Em 1988, com seu importante artigo “System of Discontinuity” [Sistemas de Descontinuidade], John Feinberg apresentou seis conceitos “essenciais do dispensacionalismo”: (1) a crença de que a Bíblia se refere a múltiplos sentidos dos termos “judeus” e “semente de Abraão”; (2) uma abordagem hermenêutica que enfatiza que o Antigo Testamento seja tomado em seus próprios termos e não reinterpretado à luz do Novo Testamento; (3) a crença de que as promessas do Antigo Testamento serão cumpridas com respeito à nação de Israel; (4) a crença num futuro distinto para o Israel étnico; (5) a crença de que a igreja é um organismo distinto; e, (6) uma filosofia da história que enfatiza não apenas questões espirituais e soteriológicas, mas também questões sociais, econômicas e políticas.[2]

Apesar de não apresentar uma lista de “essenciais”, Craig Blaising e Darrel Bock forneceram uma lista de “características comuns” do dispensacionalismo em seu livro “Progressive Dispensationalism” [Dispensacionalismo Progressivo], publicado em 1993. Estas características incluem: (1) a autoridade das Escrituras; (2) dispensações; (3) singularidade da igreja; (4) significado prático da igreja universal; (5) significância da profecia bíblica; (6) premilenismo futurista; (7) retorno iminente de Cristo; e (8) um futuro nacional para Israel.[3]

Nem todas as características mencionadas nas listas acima, particularmente a de Blaising e Bock, são exclusivas ao dispensacionalismo. Muitos não-dispensacionalistas, por exemplo, crêem na autoridade das Escrituras, nas dispensações e na significância da profecia bíblica. Alguns não-dispensacionalistas também crêem no premilenismo – sustentam que um futuro reino milenar será estabelecido com a segunda vinda de Cristo. George Ladd, por exemplo, sustenta o premilenismo histórico enquanto argumenta contra o premilenismo dispensacional (futurista). Assim, ser um premilenista não significa necessariamente ser dispensacionalista.

A reivindicação de Ryrie de que uma marca distintiva do dispensacionalismo é a crença de que o propósito da história no mundo é a glória de Deus tem sido controversa. Quando bem compreendido, Ryrie corretamente assinalou que os dispensacionalistas muitas vezes têm uma compreensão mais ampla dos propósitos de Deus do que os não-dispensacionalistas, que frequentemente focam principalmente na doutrina da salvação. Mas a formulação que Ryrie ofereceu não ajuda. Muitos não-dispensacionalistas consideram a glória de Deus com muita seriedade, e, para eles, parece que Ryrie está reivindicando que os dispensacionalistas valorizam a glória de Deus mais do que os não-dispensacionalistas. Mas dizer a um teólogo reformado/aliancista que ele não enfatiza a glória de Deus tanto quanto um dispensacionalista não foi visto com bons olhos. Assim, embora Ryrie estivesse certo de alguma maneira, sua abordagem não foi tão clara quanto poderia ter sido. Creio que John Feinberg foi mais preciso quando indicou que os dispensacionalistas promovem uma filosofia da história que enfatiza as implicações espirituais e físicas do propósito de Deus mais do que seus homólogos não-dispensacionalistas. Os dispensacionalistas enfatizam o completo cumprimento de ambas as promessas, espirituais e físicas, da aliança bíblica.[4] Nesse sentido, creio que dispensacionalistas são mais holísticos em seu entendimento do propósito do reino de Deus do que muitos não-dispensacionalistas.

Após um exame atento, porém, as listas de Ryrie, Feinberg, Blaising e Bock revelam três marcas importantes do dispensacionalismo. Primeira, todas estas listas mencionam a singularidade da igreja como uma característica do dispensacionalismo. Embora possa haver discordância sobre alguns detalhes desta distinção, os dispensacionalistas concordam que a igreja começou em Pentecostes (Atos 2) e não deve ser identificada como Israel.[5] Todos os dispensacionalistas, portanto, rejeitam a “teologia da substituição” ou “supersecionismo”, segundo a qual acredita que a igreja substitui permanentemente a nação de Israel como povo de Deus.

Uma segunda marca de Ryrie, Feinberg e Blaising e Bock indicam que os dispensacionalistas crêem num futuro para a nação de Israel. Dispensacionalistas afirmam que as promessas e as alianças feitas a Israel no Antigo Testamento serão cumpridas futuramente na nação de Israel. Embora os dispensacionalistas possam discordar sobre a medida da participação da igreja nas promessas e alianças no Antigo Testamento, eles estão de acordo que Israel experimentará uma salvação e uma restauração futuras.

Ambos, Ryrie e Feinberg, mencionam uma terceira área – uma abordagem dispensacional para a hermenêutica – como sendo de algum modo um distintivo do dispensacionalismo. Para Ryrie, dispensacionalistas interpretam a Bíblia de uma maneira consistentemente literal (isto é, normal) enquanto que os não-dispensacionalistas não o fazem.[6]

Feinberg crê que Ryrie foi “muito simplista” ao afirmar o assunto dessa maneira.[7] Conforme Feinberg, a questão da hermenêutica “não é assunto fácil”, e ele salienta que muitos teólogos não-dispensacionalistas reivindicam interpretar a Bíblia literalmente. Seu literalismo, porém, difere em pontos da abordagem dos dispensacionalistas. Assim, para Feinberg, “a diferença não é ‘Literalismo versus Não-literalismo’, mas diferentes entendimentos do que constitui a hermenêutica literal”.[8]

De acordo com Feinberg, a diferença reside em três áreas: (1) a relação da revelação progressiva à prioridade de um Testamento sobre o outro; (2) o entendimento e as implicações do uso do Novo Testamento do Antigo Testamento; e (3) o entendimento e implicações da tipologia.[9] Em suma, a diferença principal repousa na forma em como dispensacionalistas e não-dispensacionalistas vêem o relacionamento entre os Testamentos.

A análise de Feinberg parece precisa. A principal diferença entre dispensacionalistas e não-dispensacionalistas sobre o assunto da hermenêutica não é simplesmente uma questão de interpretação “literal” VS “espiritual”, mas em como cada campo contempla o relacionamento entre os testamentos. Como Herbert Bateman coloca, a questão central é o “testamento prioritário”.[10] Testamento prioritário é “uma preferência pressuposicional de um testamento sobre o outro que determina o ponto de partida hermenêutico literal histórico-gramatical de uma pessoa”.[11]

As suposições da prioridade de um testamento por um interprete são significativas especialmente quando se interpreta como os autores do Novo Testamento usam o Antigo Testamento. Os dispensacionalistas querem sustentar um ponto de referência no Antigo Testamento. Querem fazer justiça à intenção autoral original dos escritos do Antigo Testamento, de acordo com a hermenêutica histórico-gramatical. Os não-dispensacionalistas, por outro lado, enfatizam o Novo Testamento como ponto de referência para entender o Antigo Testamento. Feinberg explica a diferença:

Não-dispensacionalistas começam com o ensino do NT como tendo prioridade e então voltam para o AT. Dispensacionalistas frequentemente começam com o AT, mas onde quer que eles comecem, eles exigem que o AT seja tomado em seus próprios termos em vez de uma reinterpretação à luz do NT.[12]

Assim, os não-dispensacionalistas partem do Novo Testamento para entender os textos proféticos do Antigo Testamento. O Novo Testamento é a lente pela qual eles enxergam o Velho Testamento. Isto é o que frequentemente conduz ao entendimento “não literal” de textos do Antigo Testamento, visto que eles crêem que o Novo Testamento emprega sentidos menos que literais de passagens do Antigo Testamento, especialmente nos textos sobre Israel. Em outras palavras, para os não-dispensacionalistas, a interpretação literal do Novo Testamento estabelece um entendimento não-literal de algumas passagens do Antigo Testamento, especialmente aquelas relacionadas com Israel.

– Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo - Um guia básico sobre o premilenismo futurista - John MacArthur & Richard Mayhue - Cap. 1, Pág. 17-22


SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

INTRODUÇÃO: Por Que Estudar Profecia? | Richard Mayhue

Em mais do que uma ocasião tenho ouvido, e estou certo de que você também, pessoas que declaram com confiança que o estudo de profecia bíblica é uma questão secundária ou até opcional quando contrastada com a busca de doutrinas supostamente mais complexas como a da salvação ou a de Cristo.

É verdade que não se entra num relacionamento redentivo com Deus por se crer em qualquer sistema profético em particular, mas por colocar a sua fé na pessoa, na obra da cruz e ressurreição do Senhor Jesus Cristo (Rm 10.9-10. Ef 2.8-10). E mais, um cristão verdadeiro não amadurece necessariamente na fé cristá abraçando certo esquema escatológico (2Pe 3.14-18).

Todavia, a Bíblia exorta os crentes a interpretarem-na com precisão (2Tm 2.15). As Escrituras ensinam que a Palavra de Deus é útil para o ensino, repreensão, correção e instrução na justiça (1Tm 3.16-17). Deus até promete suas bênçãos sobre aqueles que conhecem e obedecem a profecia bíblica (Ap 1.3; 22.7). Por outro lado, em nenhum lugar das Escrituras, nem no Velho Testamento ou no Novo Testamento, sequer é sugerido que porções proféticas são isentas de cuidadoso, detalhado conhecimento e entendimento.

Pense nisso por um momento – quem planejou, revelou e, então, executa as intenções proféticas de Deus? Não foi Deus somente que planejou o fim desde o começo (Is 46.9)? Deus revelou nas Escrituras algo que é tão sem importância ou trivial que possa ser considerado opcional para os cristãos (At 20.20, 25,27)? Onde, na Bíblia, se pode encontrar a mínima sugestão de que questões proféticas devam ser evitadas porque podem ser controversas ou difíceis de entender?

Assim, vamos comparar a alegação de que o estudo da profecia bíblica é secundário na melhor das hipóteses, com a Escritura, a fim de descobrir a perspectiva de Deus sobre a questão. Por que os cristãos devem estudar as Escrituras proféticas?

CONTEÚDO BÍBLICO
As Escrituras transbordam de material profético.[1] Não existe nem mesmo uma leve indicação de que o material profético deva ser ignorado, colocado à parte ou marginalizado. Considere os seguintes fatos sobre a informação escatológica na Bíblia, especialmente a segunda vinda de Cristo.

● Na Escritura, 62 (94 por cento) dos 66 livros contém informações preditivas (Rute, Cântico dos cânticos, Filemon e 3João são as exceções).

● Na Bíblia, 27 por cento (8.352) e todos os versículos (31.124) referem-se a questões proféticas.

● Na Palavra de Deus, 22 por cento (1.845) de todos os versículos proféticos (8.352) referem-se à segunda vinda de Cristo.

● Todos os nove autores do Novo Testamento mencionam a segunda vinda de Cristo.

● Ao lado do assunto fé/salvação, o tema da segunda vinda de Cristo é mais proeminente no NT.

● Somente três dos 27 livros do NT não mencionam o segundo advento de Cristo (Filemon, 2João e 3João).

● Das aproximadamente 333 profecias bíblicas específicas tratando com os dois adventos de Cristo, um terço trata da sua primeira vinda e dois terços tratam da segunda vinda.

COMANDOS E RECOMENDAÇÕES BÍBLICAS
Por toda a Bíblia, Deus manda e louva o acurado estudo de toda a Escritura. Este tema aparece nos ensinos de Cristo, na pregação dos apóstolos e nos escritos de Paulo e Pedro.

Mateus 28.19-20
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.

Atos 2.42

E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.

Atos 5.20
Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida.

Atos 20.27
Porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus.  

2Timóteo 2.15
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.

1Pedro 1.10-11
Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. (Todas as ênfases são minhas).

CONSEQUÊNCIAS BÍBLICAS
Os benefícios da vida e as bênçãos espirituais de conhecer e obedecer às Escrituras proféticas enriquecem a todos os cristãos dedicados. Os seguintes dez resultados ilustram representativamente como e porque a Bíblia exalta o estudo da profecia bíblica.

● As profecias cumpridas provam que a Bíblia é verdadeira e inspiram confiança nas Escrituras (At 13.32-35 com 42-44).

● O Estudo da profecia promove obediência e providencia condição necessária para as bênçãos de Deus (Ap 1.3; 22.7).

● O material profético equipa os santos a refutarem aqueles que zombam da esperança cristã (2Pe 3.1-13).

● A profecia fornece respostas para questões teológicas, respostas essas que não são encontradas em nenhum outro lugar, tais como o relacionamento entre o arrebatamento e a ressurreição (1Ts 4.13-18).

● A profecia dá motivação para uma vida santa hoje (1Ts 5.6-9; Tt 2.11-14; 2Pe 3.11-13).

● Expectativas proféticas purificam (1Jo 3.2-3).

● As profecias fornecem uma base bíblica para a oração (cf. Dn 9.1-19 com Jr 25.11-12).

● A profecia é uma fonte de esperança, conforto e encorajamento para o cristão (1Ts 4.8; 5.11; Tt 2.13).

● O Estudo da profecia encoraja uma paciente perseverança em meio a sofrimentos e provações (Tg 5.7-11).

● A profecia nos assegura que a perseguição injusta sobre os retos será vingada por Deus (2Ts 1.5-10).

CONFIANÇA BÍBLICA
Qual será o fruto definitivo de estudar a Palavra de Deus, incluindo essas porções explicando a segunda vinda de Cristo? O profeta Isaías construiu a resposta com essas palavras infalíveis dadas originalmente para Israel, mas que continuam verdade hoje:

“Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei (Is 55.10-11).

– Richard Mayhue / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo futurista – John MacArthur & Richard Mayhue, pág. 11-15

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

QUADRO ESCATOLÓGICO: O Premilenismo Futurista na Bíblia



O premilenismo futurista resulta da compreensão e aplicação da profecia bíblica da forma mais consistente com a abordagem normal ou literal [1] de interpretação das Escrituras. Quando se tem o cuidado de não presumir certos resultados proféticos antes da interpretação bíblica e, ao mesmo tempo se emprega uma abordagem normal, consistente para entender a Escritura, se chegará ao Premilenismo futurista como o verdadeiro plano profético de Deus para todas as eras. Os capítulos que seguem definem e discutem a abordagem bíblica que conduz ao premilenismo futurista, começando com o porquê um cristão deve estudar a profecia bíblica e concluindo com razões convincentes para se ter certeza de um retorno futuro e terreno de Cristo.

-- Trecho do artigo anterior (Prefácio da série "Os Planos Proféticos de Cristo")

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

Prefácio | John MacArthur

Imagine o seguinte diálogo hipotético sobre o milênio entre dois cristãos bem-intencionados. Um deles orgulhosamente anuncia: “Sou ‘Pro-milenista’ seja lá o que isso envolva, embora não possamos realmente saber com certeza, eu sou!” O outro responde: “Bem, eu sou ‘Pan-milenista’ – embora profecia não seja tão importante para os cristãos, tenho certeza de que tudo vai ‘terminar’ no final”. O primeiro cristão conclui que não se pode saber ao certo o que a Escritura diz sobre questões proféticas e o segundo declara que não é importante saber. Ambos são sinceros, mas lamentavelmente ignorantes quanto ao fato de que a Escritura está cheia de informações sobre coisas futuras. Cristãos biblicamente ocupados não têm que se contentar com uma abordagem tão confusa acerca da escatologia.

Este livro “básico” pretende fornecer uma explicação bíblica clara e convincente à abordagem interpretativa da Escritura, que resulta no reconhecimento de uma visão futurista do reino milenar de Cristo na terra, a validade certa das promessas de Deus para o futuro Israel e a diferença fundamental entre Israel (como um povo e uma nação) e a igreja do Novo Testamento. O dispensacionalismo, um termo mais amplo do que “Premilenismo futurista” (veja o quadro na p. 10), vê distintamente um grande contraste entre o tratamento passado e o futuro de para com Israel nacional e a sua relação com a igreja.

O Premilenismo Futurista serve como um termo mais focado do que dispensacionalismo ao tratar de questões proféticas. O premilenismo futuro contrasta com o premilenismo histórico (ou Aliança), que é uma das três principais opções proféticas associadas à teologia do pacto, juntamente com o Amilenismo e o Posmilenismo.

Muitas pessoas não entendem o termo “dispensacionalismo”. Mas, isto não precisa ser assim. O dispensacionalismo decorre basicamente de:

1. Interpretação da Escritura normal como seria qualquer outra peça de literatura, resultando em...

2. Compreensão das promessas de restauração feitas a Israel no Antigo Testamento e os eventos do Apocalipse de João, como futuro, o que exige...

3. A distinção decisiva entre Israel e a Igreja.

Como resultado, os dispensacionalistas ensinam que Israel era o foco principal do plano redentor de Deus em uma dispensação. A igreja, que consiste de pessoas resgatadas, incluindo judeus e gentios, é o foco em outra dispensação. Todos os dispensacionalistas acreditam que pelo menos uma dispensação ainda está no futuro – o reino de mil anos de Cristo na terra, conhecido como o milênio, em que Israel voltará a assumir um papel central e, durante o qual, Jesus Cristo reinará na terra a partir de Seu trono em Jerusalém como Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Dispensações não são apenas períodos de tempo, mas diferentes administrações na realização do propósito redentor de Deus. É essencial compreender que o caminho da salvação – pela graça de Deus somente através da fé em Jesus Cristo, continua a ser a mesma em cada dispensação. O plano redentor de Deus nunca muda, mas a forma como ele o administra tem variado de uma dispensação para outra. E sucessivas gerações, desde o tempo de Moisés compreenderam esta verdade com mais detalhes à medida que a revelação progressiva de Deus, especialmente com o Novo Testamento.

Os dispensacionalistas esperam que todas as promessas futuras das alianças de Deus (Abraão, Davi e Nova) para Israel serão literalmente cumpridas – incluindo as promessas de bênçãos terrenas e um reino messiânico terreno. Deus prometeu a Israel que eles iriam possuir a Terra Prometida por um tempo prolongado e que seus descendentes iriam florescer (Gn 13.1-4. 17; Ex 32.13). A Escritura prediz que o Messias vai governar sobre os reinos da terra por mil anos de Jerusalém (Zc 14.9-11; Ap 20.1-6). A profecia do Antigo Testamento explica que todo o Israel um dia retornará a terra Prometida. (Am 9.14-15), o templo será reconstruído (Ez 40.1-48.35), e o povo de Israel vai ser redimido (Jr 23.6; Rm 11.26-27).

O premilenismo futurista resulta da compreensão e aplicação da profecia bíblica da forma mais consistente com a abordagem normal ou literal [1] de interpretação das Escrituras. Quando se tem o cuidado de não presumir certos resultados proféticos antes da interpretação bíblica e, ao mesmo tempo se emprega uma abordagem normal, consistente para entender a Escritura, se chegará ao Premilenismo futurista como o verdadeiro plano profético de Deus para todas as eras. Os capítulos que seguem definem e discutem a abordagem bíblica que conduz ao premilenismo futurista, começando com o porquê um cristão deve estudar a profecia bíblica e concluindo com razões convincentes para se ter certeza de um retorno futuro e terreno de Cristo.

- John MacArthur / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo futurista / John MacArthur & Richard Mayhue
_________________________________________________
[1] “O literalista (assim chamado) não é aquele que nega que a linguagem figurada e os símbolos são usados na profecia, nem nega que grandes verdades espirituais estão ali estabelecidas; sua posição é, simplesmente, que as profecias devem ser normalmente interpretadas (ou seja, de acordo com as leis recebidas da linguagem) como quaisquer outras declarações são interpretadas – o que é manifestamente literal sendo considerado como literal, o que é manifestamente figurativa sendo assim considerada”.

(E. R. Craven, Ed., “The Revelation of John,” in lange’s Commentary on the Holy Scriptures (1874; repr., Grand Rapids: Zondervan, 1968), 12:98).

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?

Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....