O OUTRO EVANGELHO | Arthur W. Pink



Satanás não é um iniciador; ele é um imitador. Deus tem um Filho unigênito, o Senhor Jesus Cristo; de modo similar, Satanás tem o “filho da perdição” (2 Ts 2.3). Existe uma Trindade Santa; de maneira semelhante, existe a Trindade do Mal (Ap 20.10). Lemos nas Escrituras a respeito dos “filhos de Deus”? Lemos também sobre os “filhos do maligno” (Mt 13.38). Deus realmente realiza em seus filhos tanto o querer como o executar a sua boa vontade? Somos informados que Satanás é o “espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2). Existe um “mistério da piedade” (1 Tm 3.16)? Também existe um “mistério da iniquidade” (2 Ts 2.7). A Bíblia nos diz que Deus, por meio de seus anjos, sela os seus servos em suas frontes (Ap 7.3)? Aprendemos igualmente que Satanás, por meio de seus agentes, coloca uma marca sobre as frontes de seus servidores (Ap 13.16). As Escrituras nos revelam que o “Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1 Co 2.10)? De maneira semelhante, Satanás possui as suas “coisas profundas” (Ap 2.24). Cristo realiza milagres? Satanás também pode fazer isso (2 Ts 2.9). Cristo está assentado em seu trono? De modo semelhante, Satanás tem o seu trono (Ap 2.13). Cristo possui uma Igreja? Satanás tem a sua sinagoga (Ap 2.9). Cristo é a luz do mundo? De modo similar, o próprio Satanás “se transforma em anjo de luz” (2 Co 11.14). Cristo designou os seus apóstolos? Satanás também possui os seus apóstolos (2 Co 11.13). Tudo isso nos leva a considerar o “Evangelho de Satanás”.

Satanás é um arqui-imitador. Ele está agora em atividade no mesmo campo em que o Senhor Jesus semeou a boa semente. O diabo está procurando impedir o crescimento do trigo, utilizando-se de outra planta, o joio, que em aparência se assemelha muito ao trigo. Em resumo, por meio de um processo de imitação, Satanás está almejando neutralizar a obra de Cristo. Portanto, assim como Cristo tem um evangelho, Satanás também possui um evangelho, que é uma imitação sagaz do evangelho de Cristo. O evangelho de Satanás se parece tanto com aquele que procura imitar, que multidões de pessoas não salvas são enganadas por este evangelho.

O apóstolo Paulo se referiu a este evangelho, quando disse: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1.6,7). Este falso evangelho estava sendo proclamado mesmo nos dias do apóstolo, e uma terrível maldição foi lançada sobre aqueles que o pregavam. O apóstolo continuou: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (v. 8). Com a ajuda de Deus, nos esforçaremos para explicar, ou melhor, para desmascarar este falso evangelho.

O evangelho de Satanás não é um sistema de princípios revolucionários, nem ainda é um programa de anarquia. Ele não promove a luta e a guerra, mas objetiva a paz e a unidade. Ele não busca colocar a mãe contra sua filha, nem o pai contra seu filho, mas busca nutrir o espírito de fraternidade, por meio do qual a raça humana deve ser considerada como uma grande “irmandade”. Ele não procura deprimir o homem natural, mas aperfeiçoá-lo e erguê-lo. Ele advoga a educação e a cultura e apela para “o melhor que está em nosso interior” – Ele objetiva fazer deste mundo uma habitação tão confortável e apropriada, que a ausência de Cristo não seria sentida, e Deus não seria necessário. Ele se esforça para deixar o homem tão ocupado com este mundo, que não tem tempo ou disposição para pensar no mundo que está por vir. Ele propaga os princípios do auto-sacrifício, da caridade, e da boa-vontade, e nos ensina a viver para o bem dos outros, e a sermos gentis para com todos. Ele tem um forte apelo para a mente carnal, e é popular com as massas, porque deixa de lado o fato gravíssimo de que, por natureza, o homem é uma criatura caída, apartada da vida com Deus, e morta em ofensas e pecados, e que sua única esperança reside em nascer novamente.

Contradizendo o Evangelho de Cristo, o evangelho de Satanás ensina a salvação pelas obras. Ele inculca a justificação diante de Deus em termos de méritos humanos. Sua frase sacramental é “Seja bom e faça o bem”; mas ele deixa de reconhecer que lá na carne não reside nenhuma boa coisa. Ele anuncia a salvação pelo caráter, o que inverte a ordem da Palavra de Deus – o caráter como fruto da salvação. São muitas as suas várias ramificações e organizações: Temperança, Movimentos de Restauração, Ligas Socialistas Cristãs, Sociedades de Cultura Ética, Congresso da Paz, estão todos empenhados (talvez inconscientemente) em proclamar o evangelho de Satanás – a salvação pelas obras. O cartão da seguridade social substitui Cristo; pureza social substitui regeneração individual, e, política e filosofia substituem doutrina e santidade. A melhoria do velho homem é considerada mais prática que a criação de um novo homem em Cristo Jesus; enquanto a paz universal é buscada sem que haja a intervenção e o retorno do Príncipe da Paz.

Os apóstolos de Satanás não são taberneiros e traficantes de escravas brancas, mas são em sua maioria ministros do evangelho ordenados. Milhares dos que ocupam nossos modernos púlpitos não estão mais engajados em apresentar os fundamentos da Fé Cristã, mas têm se desviado da Verdade e têm dado ouvidos às fábulas. Ao invés de magnificar a enormidade do pecado e estabelecer suas eternas conseqüências, o minimizam ao declarar que o pecado é meramente ignorância ou ausência do bem. Ao invés de alertar seus ouvintes para “escaparem da ira futura”, fazem de Deus um mentiroso ao declarar que Ele é por demais amoroso e misericordioso para enviar quaisquer de Suas próprias criaturas ao tormento eterno. Ao invés de declarar que “sem derramamento de sangue não há remissão”, eles meramente apresentam Cristo como o grande Exemplo e exortam seus ouvintes a “seguir os Seus passos”. Deles é preciso que seja dito: “Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus” (Romanos 10:3). A mensagem deles pode soar muito plausível e seu objetivo parecer muito louvável, mas, ainda sobre eles nós lemos: – “Porque tais falsos apóstolos são obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (II Coríntios 11:13-15).

Somando-se ao fato de que hoje centenas de igrejas estão sem um líder que fielmente declare todo o conselho de Deus e apresente Seu meio de salvação, também temos que encarar o fato de que a maioria das pessoas nestas igrejas está muito distante de conseguir descobrir a verdade por si mesma. O culto doméstico, onde uma porção da Palavra de Deus era costumeiramente lida diariamente, é agora, mesmo nos lares de Cristãos professos, basicamente uma coisa do passado. A Bíblia não é exposta no púlpito e não é lida no banco da igreja. As demandas desta era agitada são tão numerosas, que multidões têm pouco tempo, e ainda menos disposição, para fazer uma preparação para o encontro com Deus. Por essa razão, a maioria, aqueles que são negligentes o bastante para não pesquisarem por si mesmos, são deixados à mercê dos homens a quem pagam para pesquisar por eles; muitos dos quais traem a verdade deles, por estudar e expor problemas sociais e econômicos ao invés dos Oráculos de Deus.

Em Provérbios 14:12 lemos: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte”. Este “caminho” que termina em “morte” é a Ilusão do Diabo – o evangelho de Satanás – um caminho de salvação através da realização humana. É um caminho que “parece direito”, o qual, é preciso que se diga, é apresentado de um modo tão plausível que ganha a simpatia do homem natural; é pregado de forma tão habilidosa e atrativa, que se torna recomendável à inteligência dos seus ouvintes. Por incorporar a si mesmo terminologia religiosa, algumas vezes apela para a Bíblia como seu suporte (sempre que isto se ajusta aos seus propósitos), mantém diante dos homens ideais elevados, e é proclamado por pessoas que têm graduação em nossas instituições teológicas, e incontáveis multidões são atraídas e enganadas por ele.

O sucesso de um falsificador de moedas depende em grande medida de quão proximamente a falsificação lembra o artigo genuíno. A heresia não é uma total negação da verdade, mas sim, uma deturpação dela. Por isto é que uma meia verdade é sempre mais perigosa que uma completa mentira. É por isso que quando o Pai da Mentira assume o púlpito, não é seu costume claramente negar as verdades fundamentais do Cristianismo, antes ele tacitamente as reconhece, e então procede de modo a lhes dar uma interpretação errônea e uma falsa aplicação. Por exemplo, ele não seria tão tolo de orgulhosamente anunciar sua descrença em um Deus pessoal; ele dá a Sua existência como certa, e então apresenta uma falsa descrição da Sua natureza. Ele anuncia que Deus é o Pai espiritual de todos os homens, que as Escrituras claramente nos dizem que nós somos: “filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus” (Gálatas 3:26), e que “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (João 1:12). E mais adiante, ele declara que Deus é por demais misericordioso para em algum momento enviar qualquer membro da raça humana no Inferno, mesmo havendo o próprio Deus dito que: “aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo” (Apocalipse 20:15).

Novamente, Satanás não seria tão tolo, a ponto de ignorar a figura central da história humana – o Senhor Jesus Cristo; ao contrário, seu evangelho O reconhece como sendo o melhor homem que já viveu. A atenção é então levada para os Seus feitos de compaixão e para as Suas obras de misericórdia, para a beleza de Seu caráter e a sublimidade de Seu ensino. Sua vida é elogiada, mas Sua morte vicária é ignorada, a importantíssima obra reconciliadora da cruz não é mencionada, enquanto Sua triunfante e corpórea ressurreição dos mortos é considerada como uma crendice de uma época de muita superstição. É um evangelho sem sangue, e apresenta um Cristo sem cruz, que é recebido não como Deus manifesto em carne, mas meramente como o Homem Ideal.

Em 2 Coríntios 4.3-4, temos uma passagem bíblica que oferece muito esclarecimento sobre o nosso tema. Esta passagem nos diz: “Se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está en- coberto, nos quais o deus deste século [Satanás] cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”. Satanás cega a mente dos incrédulos por ocultar-lhes a luz do evangelho de Cristo e por substituí-lo pelo seu próprio evangelho. Ele é apropriadamente chamado de “diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo” (Ap 12.9). Apenas em apelar ao “melhor que existe no homem” e em exortá-lo a “seguir uma vida nobre”, Satanás fornece uma plataforma geral sobre a qual as pessoas de diferentes tons de opinião podem se unir e proclamar esta mensagem comum.

Citamos, novamente, Provérbios 14.12: “Há caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte”. Alguém já disse, com considerável verdade, que o caminho para o inferno está pavimentado com boas intenções. Haverá muitos no lago de fogo que recomendaram suas próprias vidas com boas intenções, resoluções honestas e ideais elevados — aqueles que eram justos em seus relacionamentos, corretos em suas transações e caridosos em todos os seus procedimentos; homens que se orgulhavam de sua integridade, mas que procuravam justificar-se a si mesmos diante de Deus, por meio de sua justiça própria; homens de boa moralidade, misericordiosos, magnânimos, mas que nunca se viram como pecadores culpados, perdidos, merecedores do inferno e necessitados de um Salvador. Este é o caminho que “parece direito”; é o caminho que a si mesmo se recomenda à mente carnal e a multidões de pessoas iludidas em nossos dias. O engano do diabo afirma que podemos ser salvos por meio de nossas próprias obras e justificados por meio de nossos atos; enquanto Deus nos declara em sua Palavra: “Pela graça sois salvos, mediante a fé... não de obras, para que ninguém se glorie”; e: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou”.

Há alguns anos, conheci um homem que era um pregador leigo e obreiro cristão entusiasta. Durante sete anos, ele estivera engajado na pregação pública e em atividades religiosas. No entanto, por meio das expressões que ele utilizava, eu mesmo duvidei se ele era “nascido de novo”. Quando comecei a questioná-lo, descobri que ele tinha um conhecimento muito imperfeito das Escrituras e apenas uma vaga noção sobre a obra de Cristo em favor dos pecadores. Por algum tempo, procurei apresentar-lhe o caminho da salvação, de uma maneira simples e impessoal, e encorajá-lo a estudar a Palavra de Deus, na esperança de que, se meu amigo ainda não era salvo, Deus se agradaria em revelar-lhe o Salvador que ele necessitava.

Uma noite, para nossa alegria, aquele que estivera pregando o evangelho por vários anos, confessou que havia encontrado a Cristo somente na noite anterior. Ele reconheceu (usando as suas próprias palavras) que estivera apresentando “o Cristo ideal”, e não o Cristo da cruz. Creio que existem milhares de pessoas semelhantes a este pregador, pessoas que, talvez, foram trazidas à Escola Dominical, aprenderam sobre o nascimento, a vida e os ensinos de Jesus Cristo; pessoas que crêem na historicidade da pessoa de Cristo; pessoas que esporadicamente se esforçam para obedecer os preceitos de Jesus e pensam que isso é tudo que é necessário para a sua salvação. Com freqüência, esse tipo de pessoa, quando atinge a maturidade e sai para o mundo, depara-se com os ataques de ateístas e infiéis, dizendo-lhes que Jesus de Nazaré nunca viveu neste mundo. Mas as impressões dos primeiros contatos com o evangelho não podem ser facilmente apagadas e tais pessoas permanecem firmes na confissão de que crêem em Jesus. Apesar disso, quando a sua fé é examinada, com muita freqüência descobre-se que, embora acreditem em muitas coisas sobre Jesus, tais pessoas realmente não crêem nEle. Em sua mente, elas acreditam que Ele realmente viveu neste mundo (e, por crerem nisso, imaginam que são salvas), mas nunca abaixaram as armas de sua guerra contra Jesus, sujeitando-se a Ele, nem creram nEle verdadeiramente, com todo o seu coração.

A simples aceitação de uma doutrina ortodoxa sobre a pessoa de Cristo, sem o coração haver sido conquistado por Ele e sem a vida Lhe ser consagrada, é outra fase do “caminho que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte”; em outras palavras, é outro aspecto do evangelho de Satanás.

E, agora, qual é a sua situação? Você está no caminho que “parece direito”, mas termina na morte, ou no caminho estreito que conduz à vida? Você abandonou verdadeiramente o caminho largo que conduz à perdição? O amor de Cristo criou em seu coração um ódio e horror por tudo aquilo que é desagradável a Deus? Você tem desejo de que Ele reine sobre você (Lc 19.14)? Você está descansando plenamente na justiça de Cristo e no sangue dEle para a sua aceitação diante de Deus?

Aqueles que estão confiando em formas exteriores de piedade, como o batismo ou a “confirmação”; aqueles que são religiosos porque isto é considerado uma característica de respeitabilidade; aqueles que freqüentam alguma igreja, porque fazê-lo está na moda; e aqueles que se unem a alguma denominação porque supõem que esse passo os capacitará a se tornarem cristãos — todos esses estão no caminho que “ao cabo dá em morte” — morte espiritual e eterna. Não importa quão puros sejam os nossos motivos; quão bem intencionados, os nossos propósitos; quão nobres, as nossas intenções; quão sinceros, os nossos esforços, Deus não nos reconhece como seus filhos enquanto não recebemos o seu Filho.

Uma forma ainda mais ilusória do evangelho de Satanás consiste em levar os pregadores a apresentarem o sacrifício expiatório de Cristo e, em seguida, dizerem aos seus ouvintes que a única exigência de Deus para eles é que creiam no seu Filho. Por meio disso, milhões de almas que não se arrependem são iludidas, pensando que foram salvas. Mas o Senhor Jesus disse: “Se.... não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13.3). Arrepender-se significa odiar o pecado, sentir tristeza por causa do pecado e converter-se dele. É o resultado da obra do Espírito Santo em tornar o coração contrito diante de Deus. Ninguém, exceto a pessoa de coração quebrantado, pode crer de maneira salvífica no Senhor Jesus Cristo.

Afirmamos, mais uma vez, que milhares estão iludidos, ao supor que “aceitaram a Cristo” como seu “Salvador pessoal”, quando na realidade ainda não O receberam como seu SENHOR. O Filho de Deus não veio ao mundo para salvar seu povo nos pecados deles, e sim para salvá-los “dos pecados deles” (Mt 1.21). Ser salvo dos pecados significa ser salvo do ignorar e do rejeitar a autoridade de Deus; significa abandonar o curso de vida caracterizado pelo egoísmo e pela satisfação pessoal; ou, em outras palavras, abandonar nosso próprio caminho (Is 55.7). Ser salvo significa sujeitar-se à autoridade de Deus, render-se ao domínio dEle, oferecer-nos a nós mesmos para sermos governados por Ele. Aquele que nunca tomou sobre si o jugo de Cristo; aquele que não está verdadeira e diligentemente procurando agradar a Cristo, em todos os aspectos da sua vida, e continua supondo que está confiando na obra consumada de Cristo, esse está iludido por Satanás.

Em Mateus 7, há duas passagens que nos mostram os resultados aproximados entre o evangelho de Cristo e a falsificação de Satanás. Primeira, nos versículos 13 e 14: “Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela”. Segunda, nos versículos 22 e 23: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade”.

Sim, querido leitor, é possível trabalhar em nome de Cristo (até pregar em seu nome) e, embora o mundo e a igreja nos conheçam, não sermos conhecidos pelo Senhor! Quão necessário é que descubramos em que situação realmente estamos; que examinemos a nós mesmos, a fim de sabermos se estamos na fé; que nos julguemos pela Palavra de Deus e verifiquemos se estamos sendo enganados pelo nosso sutil inimigo; que descubramos se estamos edificando nossa casa sobre a areia ou se ela está construída sobre a Rocha, que é Jesus Cristo! Que o Espírito de Deus examine nosso coração, quebrante nossa vontade, destrua nossa inimizade contra Deus, produza em nós um profundo e verdadeiro arrependimento e faça os nossos olhos se fixarem no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

–– Arthur Walkington Pink
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Noé tinha filhos quando foi avisado do fim do mundo? | Mario Persona


Acredito que Noé ainda não tivesse filhos quando foi avisado por Deus que o mundo seria destruído por um dilúvio. Lendo a história toda, do capítulo 5 ao 9 de Gênesis, e fazendo algumas contas com as idades também de outros capítulos, você irá descobrir que Noé não tinha filhos quando soube que o mundo iria terminar e foi instruído a construir a arca.

Se você já escutou algum casal dizer que não quer filhos porque o mundo está ruim, então já dá para ter uma ideia do que Deus pensa disso. Noé não só vivia em um mundo ruim; Noé vivia em um mundo condenado a ser destruído, um mundo com data de vencimento. Mesmo assim ele decidiu ter filhos, pois era um homem de fé. É disto que estou falando, da fé que confia e espera em Deus e não se aflige com as circunstâncias.

Noé é uma figura do crente neste mundo que caminha para o juízo. Com o que Noé estava ocupado? Certamente não com a melhoria do mundo para sua família, mas com a salvação de si mesmo, de sua família e de qualquer um que acreditasse na mensagem que ele pregava. Noé era um pregador da justiça divina, avisando a todos do dilúvio que viria e mostrando na prática que cria no que Deus disse.

Evidentemente os outros deviam achar que ele fosse louco por falar em dilúvio quando nem chuva havia, como podemos deduzir de Gênesis 2:5-6. A enorme arca que construía em terra seca num tempo em que a vegetação era regada, não por chuvas, mas por neblina, era bem visível a todos. Naquelas condições os homens de então viviam mais e Noé devia ter uns 480 anos quando foi avisado por Deus do juízo que viria e recebeu instruções de como se salvar por meio da Arca, que é uma figura de Cristo.

Se eu não estiver enganado em meus cálculos, e se tomarmos Gênesis 6:3 não como uma data limite para a vida humana, mas como uma contagem regressiva para a destruição de toda a carne, então Deus devia estar avisando Noé que o dilúvio viria cento e vinte anos após o momento da ordem para construir a arca. "Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos." (Gn 6:3). Então o dilúvio teria vindo cento e vinte anos anos mais tarde, ou quando "era Noé da idade de seiscentos anos, quando o dilúvio das águas veio sobre a terra" (Gn 6:7).

Considerando que o dilúvio tenha vindo quando Noé tinha seiscentos anos, então subtraindo os 120 anos da contagem regressiva podemos deduzir que o aniversário de 480 anos de Noé ocorreu no ano em que ele recebeu a ordem para construir a arca. Baseado em Gênesis 5:32 ele já estaria  trabalhando há pelo menos vinte anos na construção quando nasceu seu primeiro filho: "Era Noé da idade de quinhentos anos e gerou a Sem, Cam e Jafé". Isto não quer dizer que Noé teve trigêmeos quando tinha quinhentos anos, todos no mesmo ano, mas que por volta dessa idade foi que começou a ter filhos. Apesar de a passagem apresentar a ordem "Sem, Cão e Jafé", talvez não tenha sido Sem o primogênito, e sim Jafé, ficando Cam ou Cão na posição de caçula.

Digo isto porque existem dúvidas sobre a melhor tradução de Gênesis 10:21. J. N. Darby traduziu a Bíblia dos originais hebraicos e gregos para o inglês, o que em português seria: "E a Sem — a ele também nasceram filhos; ele é o pai de todos os filhos de Eber, o irmão de Jafé o mais velho". De acordo com Gênesis 11:10 Sem devia ter 98 anos de idade quando ocorreu o dilúvio, mas na genealogia de Gênesis 5:32 ele aparece primeiro por ser dele que viria a linhagem de Israel. "Estas são as gerações de Sem: Sem era da idade de cem anos e gerou a Arfaxade, dois anos depois do dilúvio".

Se meus cálculos estiverem corretos, Noé tinha 480 anos e ainda não tinha filhos quando recebeu o aviso de que o mundo que conheceu até então seria destruído e que deveria construir uma arca. Vinte anos mais tarde começaram a nascer seus três filhos e cento e vinte anos depois do aviso veio o dilúvio. Assim quando você achar que o mundo atual está ruim para colocar filhos nele, pense em Noé, que é citado em Hebreus dentre os homens de fé: "Pela fé Noé, divinamente avisado das coisas que ainda não se viam, temeu e, para salvação da sua família, preparou a arca, pela qual condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé." (Hb 11:7).

–– Mario Persona
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Sete desculpas para não se separar dos sistemas denominacionais | Bruce Anstey


1) "Não devemos julgar outros cristãos!"


Às vezes as pessoas dirão: "Eu não me separaria de minha igreja mesmo que visse algumas coisas que não estão corretas, pois se me separasse estaria julgando os que praticam essas coisas, e a Bíblia diz que não devemos julgar uns aos outros".

Percebemos que, para alguns, nossos comentários parecem estar carregados com um espírito de farisaísmo, como se estivéssemos julgando outros cristãos. De boa consciência diante de Deus, cremos que não estamos julgando os motivos dos outros, pois somente Deus é o Juiz dos motivos (Mt 7:1; 1 Sm 2:3;1 Co 4:4-5), mas somos instruídos pelas Escrituras a julgar as doutrinas de uma pessoa (1 Co 10:15; 14:29), suas ações (1 Co 5:12-13), e seus frutos (Mt 7:15-20).

Com a ajuda do Senhor, iremos demonstrar a partir das Escrituras que a atual ordem de coisas praticadas em todos os lugares da cristandade, para a adoração e o ministério da Palavra, não está de acordo com a Palavra de Deus, e que ela (a Palavra de Deus) julga essa ordem de coisas e a considera errada. Como cristãos, somos exortados a exercer juízo sobre aquilo que a Palavra de Deus exerce juízo. O princípio é claramente apresentado em Apocalipse 18:20: "Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos e apóstolos e profetas; porque já Deus julgou o vosso juízo quanto a ela" (Versão J. N. Darby). Depois que os verdadeiros crentes são tirados dessa cristandade no Arrebatamento, toda a ordem humana de coisas nela culminará na falsa igreja do livro de Apocalipse (apresentada como "Mistério, a grande Babilônia"). Deus executará o Seu julgamento sobre ela – Ele utilizará a Besta para fazê-lo, e ela terminará para sempre (Ap 17:16).

Quando isso acontecer, o céu todo se regozijará em uma celebração, e aos santos de Deus será dito: "Deus julgou o vosso juízo quanto a ela" (Ap 18:20 Versão J. N. Darby). Isto demonstra que antes daquele tempo, os crentes sensatos já fizeram o seu juízo dela. Naquele dia vindouro Deus fará com que o julgamento que eles fizeram seja publicamente reconhecido, ao executar o Seu julgamento sobre ela. Isto mostra claramente que os cristãos devem julgar aquilo que não é bíblico na cristandade e separar -se disso.

O Antigo Testamento traz uma figura que ilustra este ponto. Jeroboão introduziu em Israel um novo sistema de adoração que não passava de uma invenção sua. Ele não tinha qualquer autorização de Deus para fazê-lo. Todavia, ele criou dois novos centros de adoração em Israel, um em Betel e outro em Dã. Ele também estabeleceu uma nova ordem sacerdotal nesses lugares, a qual era "como" a ordem instituída por Deus em Jerusalém. Ele fez tudo isso para dar ao povo a sensação de que essa nova ordem de coisas vinha de Deus, pois era parecida com a ordem instituída por Deus em Jerusalém. Mas com isso ele levou Israel a pecar, ao encorajar o povo a adorar ali (1 Reis 12:28-33). Nem precisaria ser mencionado que isso desagradou ao Senhor.

Não muito tempo depois, o Senhor enviou um profeta a Betel para clamar contra o altar que Jeroboão havia construído ali. O profeta "clamou contra o altar por ordem do Senhor, e disse: Altar, altar! Assim diz o Senhor... E deu, naquele mesmo dia, um sinal, dizendo: Este é o sinal de que o Senhor falou: Eis que o altar se fenderá, e a cinza, que nele está, se derramará(1 Reis 13:1-3). Repare com atenção: o profeta clamou contra o altar, não contra as pessoas que adoravam ali! O altar, com seu bezerro, era o ponto focal da adoração em Betel, representada por todo um sistema de coisas que Jeroboão havia estabelecido. Isso ilustra nosso ponto. Não julgamos ou clamamos contra nossos irmãos que estão misturados com a confusão existente na casa de Deus, mas contra o sistema, pois ele não é de Deus.

A mensagem do profeta deixou Jeroboão muito aborrecido, e ele estendeu sua mão contra o profeta, mas ao fazê-lo, sua mão secou-se. Mesmo assim, o profeta rogou pela recuperação da mão de Jeroboão. Isto prova que o profeta não tinha intenção de atacar Jeroboão ou o povo, mas desejava apenas o bem e a bênção deles. Do mesmo modo, quando o assunto da separação da confusão na casa de Deus é mencionado, muitos cristãos que desejam seguir adiante com esse sistema de coisas sentem-se pessoalmente ofendidos, como ocorreu com Jeroboão. Todavia, não é nossa intenção atacar quem quer que seja, mas sim revelar a verdade de Deus em amor (Ef 4:15). Jamais deveríamos fazer ofensas pessoais, mas quando a verdade atinge alguém que não a deseja, essa pessoa poderá sentir-se ofendida pela verdade (Mt 15:12; Gl 4:16). Se for este o caso, devemos deixar que o Senhor trate com ela.

2) "Separar-se não é demonstrar amor!"

Alguns cristãos acham que separar-se de outros crentes que têm "diferentes opiniões" é uma medida extrema demais e que isso não seria uma demonstração de amor.

Todavia a Bíblia diz que a maior prova de amor que podemos demonstrar pelos filhos de Deus é por meio de nossa obediência pessoal a Deus. "Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus, quando amamos a Deus e guardamos os Seus mandamentos" (1 João 5:2-3). A pergunta que fazemos é: "O que é mais importante, a obediência a Deus, que é uma demonstração de nosso amor por Ele, ou continuar numa posição contrária à Bíblia por querermos mostrar que amamos as pessoas que estão ali?" Desobedecer as Escrituras não é amor.

Uma coisa é fazer parte de uma organização chamada "igreja" por ignorar a ordem de Deus dada nas Escrituras, e outra bem diferente é permanecer ali quando sabemos o que é correto (Tiago 4:17). Jamais deveríamos colocar o povo de Deus antes de Deus – é Deus quem deve vir primeiro. O Senhor Jesus disse: "Se me amais, guardai os meus mandamentos... aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama" (João 14:15, 21).

3) "Nossa igreja está crescendo!"

Outros reagem dizendo: "Mas nossa igreja está crescendo. Isto prova que Deus está abençoando. E se Deus está abençoando nossa igreja, ela não pode estar errada! Por que eu deveria me separar de algo que Deus está claramente abençoando?".

O problema é de definição. Quando as pessoas falam de crescimento elas geralmente se referem ao número de pessoas. A Bíblia, porém, quando fala de crescimento, se refere ao desenvolvimento e maturidade espiritual no crente (1 Pedro 2:2; 3:18; Ef 4:15-16: Cl 1:10; 2:19; 1 Ts 3:12; 4:10; 2 Ts 1:3; At 9:22).

Crescimento numérico não é sinal da aprovação ou bênção do Senhor. É presunção achar que o aumento no número de pessoas seja uma bênção vinda de Deus. Se fosse assim, então a Igreja Católica Romana seria a denominação que Deus aprova, pois ela se gloria de possuir o maior número de pessoas dentre todas as igrejas! As ‘Testemunhas de Jeová’ se gloriam de um crescimento fenomenal em seus números. Será que isto significa que Deus os esteja abençoando?

A Palavra de Deus diz que a única classe de pessoas que irá crescer em números na igreja nos últimos dias é a dos "homens maus e enganadores" e dos "muitos" que irão segui-los (2 Tm 3:13; 2 Pd 2:2). Ao nos vangloriarmos de possuir um grande número de pessoas, podemos estar inadvertidamente nos identificando com o erro que as Escrituras nos alertam que viria a aumentar nos últimos dias. Embora não seja sempre o caso, entender isso pode nos impedir de sucumbirmos ao desejo de nos gloriar nos números. Está claro nas Escrituras que, à medida que os dias forem se tornando mais sombrios, o número de crentes fiéis e piedosos será cada vez menor (2 Tm 1:15; Sl 12:1).

Em um sistema de coisas mantido principalmente por doações e ofertas da congregação, o número de pessoas é importante para as organizações eclesiásticas. Mas Deus não está preocupado com números como estão os homens. Isto é visto nas poucas ocasiões em que são mencionados números no livro de Atos. Lá diz simplesmente que "chegou o número desses homens a quase cinco mil" (At 4:4; 2:41). E "estes eram, ao todo, uns doze homens" (At 19:7). O tipo de crescimento que Deus procura para o Seu povo redimido é o crescimento em maturidade espiritual. Se visitássemos uma assembleia que tivesse um determinado número de pessoas, e voltássemos ali um ano mais tarde para ver se eles tinham verdadeiramente crescido no conhecimento do Senhor e em amor uns para com os outros, então poderíamos afirmar com certeza que aquela assembleia estaria crescendo, mesmo que continuasse com o mesmo número de pessoas (2 Ts 1:3).

Neste contexto nós perguntamos: "Quanto crescimento existe entre os que estão nas várias denominações?". Considerando que o teste de maturidade espiritual de uma pessoa é o quanto ela reconhece a verdade de Deus (1 Co 10:15; Fp 1:9-10; Hb 5:14), será que os cristãos que estão nas igrejas denominacionais receberiam a verdade da igreja, quanto à sua ordem e função, do modo como ela é mostrada nas Escrituras, se esta fosse apresentada a eles?

4) "Deus está usando as denominações!"

Alguns cristãos dizem: "Mas eu continuo não achando que esteja errado adorar com um grupo de crentes em sua denominação só porque a ordem de coisas ali não está na Bíblia. Afinal, Deus está usando essas igrejas denominacionais! Pessoas são salvas e cristãos são abençoados ali. Se Deus Se apraz em usá-las, elas não podem ser assim tão ruins ao ponto de eu precisar me separar delas!".

Embora possa parecer que Deus esteja usando as igrejas denominacionais e não denominacionais, ousamos dizer que não são as denominações criadas pelos homens que Ele está usando. O que Deus está usando é a Sua Palavra. A Bíblia diz: "A palavra de Deus não está presa" (2 Tm 2:9). Deus pode usar e efetivamente usa a Sua Palavra para bênção, onde quer que ela seja ministrada. Quando um assim chamado "Pastor" ou "Ministro" prega a Palavra e ministra a verdade da Palavra à sua audiência, o Espírito de Deus irá tomar essa Palavra e aplicá-la aos corações e consciências dos que estiverem ali. Pessoas são salvas nesses lugares, não há dúvida de que isto acontece. Todavia, o fato de Deus estar salvando pessoas nessas igrejas não significa que Ele esteja aprovando essa ordem de coisas criada pelo homem, a qual é contrária à Sua Palavra. Ele nunca aprova algo que contradiz Sua Palavra.

Uma pessoa poderia levar a Palavra de Deus a um lugar de impiedade, como um bar ou um botequim, e o Espírito ainda assim usá-la para a salvação de alguém.

Mas será que isto significa que Deus está usando os botequins? Não se pode usar de tal argumento para justificar a existência dos botequins. É claro que se trata de um exemplo extremo, mas ele ilustra o que queremos mostrar, ou seja, que Deus pode usar a Sua Palavra em qualquer lugar, até mesmo em um lugar onde prevaleça a impiedade.

Enquanto Deus usa a Sua Palavra onde quer que Ele queira (Is 55:11), os cristãos não devem ir a qualquer lugar que desejem estar. Devemos andar em conformidade com a senda que Deus estabeleceu para nós em Sua Palavra. Devemos amar a todo o povo de Deus, mas nossos pés devem permanecer no caminho da obediência à Palavra de Deus, a qual nos convoca a nos separarmos da desordem que o homem introduziu na casa de Deus (2 Tm 2:20-21). O fato de existir bênção notória em algum sistema ou denominação não significa que ficamos livres de nossa responsabilidade de andar na verdade da Palavra de Deus. Não podemos, em sã consciência, desprezar o caminho da obediência e continuar em comunhão com algo que sabemos que está em desacordo com as Escrituras.

5) "Posso ser muito útil permanecendo onde estou em minha denominação!"

Há quem diga: "Eu sei que existem algumas coisas que não estão exatamente corretas em minha igreja, mas por que eu deveria abandonar uma porção de coisas que considero boas, só porque algumas outras não são consistentes com as Escrituras? Além disso, sinto que posso fazer muita coisa boa ajudando as pessoas ali. Se eu sair, não poderei ajudá-las".

Este é um argumento comum, e geralmente é a desculpa dada por Pastores e Ministros que lideram a congregação para continuarem com a ordem sem base bíblica que existe em suas “igrejas”. Muitos acham que permanecendo em comunhão com aqueles que estão nessas igrejas sem fundamento bíblico, terão uma esfera maior de atuação para servirem ao Senhor. Como diz o velho ditado: "você deve estar onde os peixes estão".

Se pudermos voltar ao exemplo usado pelo apóstolo Paulo, dos vasos na "grande casa", veremos que não se trata de questionar se os vasos de honra misturados com vasos de desonra poderiam ser usados pelo Senhor. O ponto é que eles não podem ser usados em todas as circunstâncias que o Senhor possa precisar usá-los. Uma vasilha suja em sua casa é útil para algumas tarefas. Por exemplo, se você precisar trocar o óleo do motor de seu carro, uma vasilha suja serviria muito bem. Mas uma vasilha limpa poderia ser usada para qualquer finalidade. O princípio é o mesmo no que diz respeito ao serviço na casa de Deus.

Há quem pense que estamos desprezando os cristãos associados a essas igrejas, ao insinuarmos que eles não estejam limpos. Não desprezamos cristãos; apenas declaramos aquilo que as Escrituras dizem. São as Escrituras que dizem que uma pessoa não é um vaso "santificado", até que tenha se purificado da mistura existente na casa de Deus separando-se dessas coisas (2 Tm 2:21).

Alguns podem perguntar: "Que tipo de serviço o Senhor poderia querer que não pudesse convocar alguém que está em uma denominação para fazê-lo?" Para ilustrar o que queremos dizer, suponha que existam alguns cristãos passando por um exercício em suas almas quanto à verdade de como Deus gostaria que nos reuníssemos para a adoração e o ministério da Palavra. Poderia o Senhor chamar alguém que está nos sistemas denominacionais para delinear o padrão bíblico para a adoração e o ministério? E mesmo que alguém associado com essas “igrejas” conhecesse a verdade sobre este assunto, ele provavelmente não iria querer falar sobre isso, pois se condenaria a si mesmo. E ainda que tentasse explicar o assunto, estaria se condenando por não cumprir ele próprio aquilo que manda os outros fazerem. Suas palavras pareceriam zombar da verdade, e assim ele não teria qualquer poder de livrar alguém que estivesse numa mesma posição.

Não há dúvida de que alguém possa fazer muita coisa estando nas igrejas. No Antigo Testamento, Eldade e Medade são figuras disso (Nm 11:26). Eles permaneceram no arraial de Israel quando o Senhor chamou o povo para sair para estar junto de Si (Nm 11:16; 24-26). Eles eram úteis onde estavam, mas porventura poderiam eles estar entre os que foram selecionados, quando o Senhor ordenou distintamente que "setenta homens dos a n c i ã o s de Israel" fossem trazidos "perante a tenda da congregação" para estarem ali com Moisés?

Outro exemplo é o de Naomi na terra de Moabe. Ela foi de auxílio para Rute, já que por intermédio dela Rute abandonou os ídolos e se voltou para Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro (Rute 1:16-17). Mas isso não justificava Noemi estar onde estava. Para começar, ela nem deveria ter ido para lá. O Senhor poderia ter trazido Rute ao conhecimento do único Deus verdadeiro sem Naomi precisar ficar em uma posição comprometedora.

As Escrituras dizem: "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar" (1 Sm 15:22). Isto significa que obedecer é nosso principal dever, e devemos deixar as outras coisas para o Senhor. O Senhor considera a obediência mais importante do que qualquer serviço para Ele. A maior ajuda que podemos dar àqueles que estão misturados na confusão da grande casa é nos desvencilharmos dessas coisas, e então tentarmos ajudar outros (2 Tm 2:24-26).

O irmão W. Potter disse que nossa primeira responsabilidade é cuidar dos princípios, e Deus cuidará das pessoas. J. G. Bellet disse que se virmos alguém preso em uma fossa, não devemos entrar na fossa para ajudá-lo a sair dela. Poderíamos acabar igualmente presos lá. Ao invés disso, devemos procurar um terreno firme de onde poderemos ajudar o outro a sair. O mesmo ocorre com as coisas divinas.

6) "Não devemos deixar a nossa congregação!"

Outros argumentam que "a Palavra de Deus nos exorta a não deixarmos nossa congregação. Se eu me separasse de minha igreja não estaria obedecendo esta passagem das Escrituras".

Sim, a Bíblia nos diz para não deixarmos de congregar, é verdade (Hb 10:25), mas não precisamos pertencer a uma denominação sem base bíblica (ou a algum grupo sem denominação na mesma situação) para obedecermos as Escrituras. O Senhor Jesus disse: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles" (Mt 18:20).

7) "Separar-se de outros cristãos destrói a unidade do Espírito!"

Para muitos crentes honestos e sinceros parece inconcebível que um cristão venha a se separar de outros cristãos. Principalmente por ser um dos principais conceitos da comunidade cristã que todos fazemos parte de uma grande família onde deve haver unidade e uma feliz comunhão. Na opinião deles, a separação romperia essa unidade (Ef 4:3).

É importante compreender que nenhum cristão sincero e com boas intenções quer se separar de outros cristãos, pois o normal e correto é amarmos a todos os da família da fé (Jo 13:34-35; Rm 12:9-10; Ef 1:15; Hb 13:13). Todavia, o amor ao Senhor Jesus e o desejo de agradá-Lo leva os cristãos sinceros a se separarem daquilo que é uma desonra para o Senhor (2 Tm 2:19-20; Jo 14:15). Mesmo que seja doloroso para nós nos separarmos de irmãos queridos, devemos nos separar daquilo que desonra a Cristo. Tudo o que diz respeito a Ele deve ter a primazia.

O problema dessa ideia de se manter a unidade a qualquer custo está em enxergar apenas um lado da verdade sobre esta questão. Se enxergarmos apenas uma faceta das coisas que falam da unidade cristã, sem vermos o lado que trata da separação do mal, os que são fiéis seriam obrigados a continuar seguindo em frente sem qualquer alternativa. Eles seriam abandonados à difícil situação de enxergarem a ordem de Deus em Sua Palavra, sem poderem colocá-la em prática, já que a unidade exigiria deles que permanecessem com outros cristãos numa posição sem fundamento bíblico. Eles seriam obrigados a continuar em comunhão com aquilo que sabem ser contrário à Palavra de Deus. E para eles este seria um caminho de desobediência, pois "aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado" (Tg 4:17). Consequentemente, para todo cristão que tivesse tal exercício, viver assim seria uma constante aflição para sua alma. Felizmente podemos dizer que se trata de um falso princípio de unidade sacrificar a santidade e a obediência – e que este nunca é o caminho de Deus. A verdade é que o princípio divino da unidade só pode ser corretamente praticado em separação do mal.

J. N. Darby disse: "O próprio Deus deve ser a fonte e o centro da unidade, e somente Ele pode estar no comando e preeminência. Qualquer centro de unidade fora de Deus será uma completa negação da Sua divindade e glória. Considerando que existe o mal – sim, é esta a nossa condição natural – não pode existir uma união da qual o santo Deus seja o centro e o poder, senão por meio da separação do mal. A separação é o primeiro elemento de unidade e união".

Portanto, em nossos dias, quando a ruína e a confusão prevalecem no testemunho público da igreja, as coisas que dizem respeito à unidade só podem ser praticadas em um testemunho remanescente. Este é um princípio bíblico, e é também uma provisão que Deus fez para podermos praticar toda a verdade. Isto pode ser visto ao longo do curso decrescente que encontramos na história do testemunho cristão, do modo como nos é apresentado nas palavras que o Senhor dirige às sete igrejas em Apocalipse capítulos 2 e 3. Há um ponto em que o Senhor já não reconhece a massa da profissão cristã, e a partir daí passa a tratar com um testemunho remanescente. Ele distingue um remanescente ao dizer: "Mas eu vos digo a vós, e aos restantes [ou remanescentes]..." E é neles que o Senhor passa a tratar a partir de então (Ap 2:24-29). A razão disso é que o estado da igreja chegou a um ponto em que já não existe conserto.

A partir daí ocorre uma mudança notória na maneira como o Senhor trata com a igreja. Isto é indicado pela expressão "ouça o que o Espírito diz às igrejas", que passa a vir depois da promessa ao que vencer, ao invés de precedê-la, como tinha sido o padrão até aquele ponto. Nas palavras do Senhor às três primeiras igrejas, a recompensa ao que vencer era colocada diante de toda a igreja, pois o Senhor ainda tratava com ela como um todo. Mas desse ponto em diante já não é mais assim. A expressão "ouça o que o Espírito diz às igrejas" só é dada a um remanescente, pois somente os que fazem parte dele irão ouvir e vencer. Walter Scott disse que a razão dessa mudança é que a grande massa da profissão cristã passa a ser tratada como incapacitada de ouvir, arrepender-se e praticar a verdade. W. Kelly disse: "Desse ponto em diante o Senhor coloca a promessa [ao que vencer] primeiro, e o faz porque é inútil esperar que a igreja como um todo vá recebê-la... apenas um remanescente irá vencer, e a promessa é para os que fazem parte dele; no que diz respeito aos outros, é caso encerrado". Portanto, já que é assim, não podemos esperar que em nossos dias o princípio divino da unidade seja praticado em meio à massa da profissão pública, mas apenas dentro de um testemunho remanescente.

Na prática, alguém que se une a uma determinada denominação em detrimento das outras, já não tem autoridade para criticar aqueles que querem se separar das denominações, pois foi exatamente o que fez! Ao limitar-se a uma denominação, acabou deixando de lado todas as outras, pois ninguém pode ser Batista e Presbiteriano ao mesmo tempo. Portanto, ao unir-se à denominação de sua escolha, sua atitude o excluiu de todas as outras, deixando assim de guardar a unidade do Espírito. Quem quiser argumentar sobre este ponto precisará primeiro praticar por si mesmo a unidade que espera que os outros pratiquem.

Continua em: Separar-se NÃO significa isolar-se

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–– Bruce Anstey | A ORDEM DE DEUS
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