COMO O ARREBATAMENTO SERÁ SECRETO COM TANTO BARULHO? | Mário Persona



Você disse que viu um vídeo onde o autor alega que o arrebatamento da igreja não poderá ser secreto, considerando todo o barulho que está envolvido na passagem que o descreve. Em 1Tessalonicenses diz que Jesus descerá com grande alarido, voz de arcanjo e trombeta de Deus, o que deve causar um grande alarde em todo o mundo.

O autor do vídeo está equivocado porque se esquece de que existem diferentes esferas onde as coisas sempre aconteceram. Enquanto vivemos na terra, existe toda uma esfera cheia de atividades nas regiões celestiais, as quais não podemos ver e nem ouvir, salvo em algumas situações muito especiais que foram descritas na Bíblia, como aconteceu na transfiguração do Senhor no monte. Essas ocasiões são como frestas que permitiram a alguns enxergar o mundo espiritual.

Um bom exemplo disso é o capítulo 10 de Daniel, quando este descreve a visão que teve e seus amigos não tiveram, e também de como soube que uma guerra foi travada nos lugares celestiais por vinte e um dias sem que ninguém no mundo percebesse isso. Sugiro que leia o capítulo 10 de Daniel para melhor compreender como essas coisas acontecem. Do mesmo modo, o arrebatamento será um evento que terá a ver apenas com os interessados nele, e não com a humanidade em geral. Vamos à passagem:

"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1Ts 4:16-17).

"alarido" da versão Almeida Corrigida aparece na versão de J. N. Darby como "assembling shout", que é praticamente a mesma expressão da versão Almeida Atualizada, ou "palavra de ordem". A expressão tem a ver com o brado dado pelo comandante para seus soldados se ajuntarem para uma batalha, portanto nada tem de público nesse brado. Ele é dirigido apenas aos que estão submissos ao comandante e ao seu comando. William Kelly comenta:

"Ele deve descer do céu com "um brado de comando". A palavra empregada restringe-se a esta passagem no Novo Testamento, e daí o peso especial que carrega. Fora das escrituras ela é usada para o comando dado por um general aos seus soldados, ou de um almirante para seus marinheiros, ou às vezes de uma forma mais genérica aos gritos para incitar coragem nos soldados.

Parece mais apropriado que uma palavra de comando seja restrita àqueles que estejam em um relacionamento próximo. Não existe aqui qualquer indício de ser um brado para o mundo, para os homens em geral escutarem. Aqui é para o povo do Senhor se juntar ao Senhor nas alturas. A expressão "com a voz do arcanjo" introduz a mais elevada glória das criaturas celestiais a serviço do Senhor nessa ocasião transcendente. Se os anjos agora ministram em favor dos santos, como sabemos que também ministraram ao Senhor, quão apropriado é escutar "a voz do arcanjo" quando eles se reunirem em torno do Senhor! Tampouco poderia a "trombeta de Deus" ficar silenciosa em um momento assim, quando tudo o que existe de mortal no homem, dentre os que pertencem ao Senhor, será tragada pela vida na presença de Cristo."


Para mim fica tudo muito claro que isso estará acontecendo na esfera celestial, não na terra, mesmo porque a passagem não diz que Jesus voltará à terra, mas sim que os salvos ressuscitados e transformados é que subirão para se encontrar com Ele entre as nuvens. Como isso acontece em um piscar de olhos ou fração mínima de tempo, obviamente qualquer cidadão da terra não verá acontecer. Enquanto isso estiver acontecendo, os habitantes da terra estarão olhando para as coisas da terra como sempre estiveram. Aqueles que nunca tiveram qualquer interesse em escutar as coisas vindas do céu pela Palavra de nosso Deus serão privados também de ouvir qualquer coisa dessa esfera à qual pertencem aqueles que são do céu.

Daí o fato de que o arrebatamento será secreto, ou seja, privativo e apenas visível e audível aos seus participantes. Como esses casamentos que são públicos, porém seguidos de uma recepção e festa restrita a alguns convidados que receberam um convite diferenciado contendo um RSVP, abreviatura do francês "Répondez S'il Vous Plaît", que significa "Responda por favor". No caso do evangelho, o convite foi enviado a todos, mas nem todos atenderam ao RSVP, e por isso não farão nem ideia de como foi a festa reservada.

Veja também:
http://www.respondi.com.br/2010/06/o-arrebatamento-sera-audivel-e-visivel.html

–– Mario Persona

O PRÉ-TRIBULACIONISMO ESTÁ ERRADO? | Mário Persona



Uma pessoa enviou um texto ao Mário Persona perguntando se o Pré-tribulacionismo está errado se levado em conta um texto que ela havia lido de um autor aliancista. Esse autor usou como suposto argumento a passagem de Apocalipse 3.10, fazendo um mau uso do grego e isolando a passagem completamente de seu contexto maior (como todo aliancista faz). Mário Persona respondeu da seguinte forma:

O autor do texto que você enviou, cujo nome desconheço, está equivocado ao dizer que o versículo de Apocalipse 3:10 "é reivindicado como o texto de prova por muitos que acreditam em um arrebatamento pré-tribulação". O conhecimento de que a igreja não passará pela tribulação, mas será arrebatada antes, não está fundamentado em apenas um versículo como Ap 3:10, mas em um conjunto de evidências na Palavra de Deus.

É difícil alguém entender isso sem entender as diferentes dispensações ou maneiras como Deus trata com o homem ao longo dos tempos. Se a pessoa não entender que Israel e Igreja são coisas distintas, que a Igreja não aparece no Antigo Testamento e que os evangelhos são judaicos em sua época e natureza (inclusive os relatos da Grande Tribulação que aparecem neles), ela não entenderá nem o arrebatamento, nem a razão de ocorrer antes da tribulação.

Mas vamos ao argumento do autor do texto que recorre ao grego (língua que não conheço), em especial a palavra "ek", para "provar" que a Igreja passará pela tribulação.

Ap 3:10 – “Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei ['guardarei' = 'tereo'] da ['da' = 'ek'] hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra”. 

Segundo ele, guardar "da hora da tentação" não significa remover "da hora da tentação", mas sim preservar a igreja dos sofrimentos conectados à tribulação, enquanto estiver inserido na tribulação. Ele apela para a palavra grega "ek" que poderia significar tanto "dentre" como "dentre o meio", alegando que para ser preservado "dentre o meio" é preciso primeiro estar no "meio" da tribulação. Sua interpretação recorre a outra passagem onde a mesma palavra "ek" é usada:

Jo 17:15 – “Não peço que os tires do [ek] mundo, mas que os livres [tereo] do [ek] mal”.

Sim, realmente esta passagem está dizendo que o Senhor não rogava para que seus discípulos fossem tirados "dentre o meio" do mundo ou do atual sistema de coisas (este é o significado de mundo aqui). Eles, e os cristãos depois, viveriam fisicamente inseridos neste mundo sem fazerem parte dele. O autor explica assim:

"Significa claramente proteção na presença dentre o mal, não remoção da esfera do mal. Jesus estava para voltar ao Pai, mas sabia que tinha de deixar os seus discípulos no mundo na presença do mal até que a Grande Comissão estivesse completa. E Jesus orou para que os crentes fossem preservados do mal... Jesus usou [em Ap 3:10] a frase 'guardar [tereo]... dentre [ek]' para opor-se à ideia de um arrebatamento. Ele inegavelmente tinha em vista uma proteção na presença do mal. Então como poderia a mesma frase inverter completamente aquele sentido e significar um arrebatamento pré-tribulação? Neste caso João 17:15 interpreta Apocalipse 3:10. Somos então compelidos a concluir que Apocalipse 3:10 é uma promessa de proteção divina até emergirmos seguramente dentre a "hora da tentação". Isto não é uma sugestão de um arrebatamento secreto e oculto pré-tribulação. Neste versículo a palavra 'guardarei' significa 'protegendo enquanto você emerge dentre o meio da tribulação'".

Esta é a explicação do autor e tudo estaria bem se o versículo estivesse realmente dizendo "eu te guardarei da tentação que há de vir sobre todo o mundo". Mas não é o que o versículo diz. Ele diz: "eu te guardarei DA HORA da tentação que há de vir sobre todo o mundo"! Portanto não se trata de proteger das aflições dessa "hora da tentação", mas guardar (ou evitar que passe) pela própria "hora" ou momento da tentação. Para entender melhor é só lermos outra passagem que também usa a mesma construção, inclusive no grego:

Jo 12:27 – “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me DESTA [ek] HORA; mas para isto vim a ESTA HORA”.

Jesus não estava ali sugerindo que o Pai o livrasse das aflições da cruz enquanto ele estivesse na cruz, mas que o livrasse DAQUELE MOMENTO, que incluía estar em um determinado ponto físico na relação tempo-espaço. Em Apocalipse 3:10 Jesus está dizendo à igreja que irá guardá-la "DA HORA", isto é, daquele momento, que é um período que inclui tempo e espaço.

Se você disser que visitou as Torres Gêmeas em Nova Iorque no dia 11 de setembro de 2011, porém não estava lá na HORA do atentado, certamente não estará querendo dizer que estava dentro das torres e não sofreu dano algum! Você simplesmente não estava lá, naquele lugar e naquele momento. Saiu antes. Não poderia nem estar querendo dizer que foi tirado NA HORA em que os aviões bateram, ou depois do desmoronamento. Você não estava lá na hora e circunstâncias do atentado e ponto.

A passagem de Ap 3:10 está se referindo ao MOMENTO da tentação e não às agruras da tentação. Afirmar que ela estaria se referindo à mera proteção contra o sofrimento é fugir do assunto e acabar conflitando com várias passagens de Apocalipse que falam dos fiéis que irão sofrer durante o período de tribulação, os quais farão parte do remanescente judeu que se converterá naquele tempo.

Aqui o comentário que William Kelly (que não apenas sabia muito bem o grego, o hebraico e outros idiomas, como também traduziu a Bíblia dos originais):

--- Como sabemos, existe um tempo perigoso aguardando pelo mundo, não exatamente a hora da tribulação, mas da "tentação". Ao que parece, esta hora de prova ocorre dentro do futuro apocalíptico, ou "as que depois destas hão de acontecer" (Ap 1:19). Não se trata meramente do tempo de horrores quando Satanás em fúria é expulso das alturas, e quando a Besta, impulsionada por ele, se levanta com todo o seu poder perseguidor, mas sim a um período prévio de sofrimento e sedução. "A hora da tentação" é um termo mais amplo do que "a grande tribulação" de Apocalipse 7, e mais ainda que a tribulação sem paralelo que está para cair sobre a terra de Israel (Dn 12, Mt 24, Mc 13). Se assim for, quão rica e plena é a promessa: "Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei DA HORA da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra". Os homens tentam em vão escapar. A hora da tentação deve vir sobre todo o mundo habitável... ela irá alcançar os homens, não importa onde possam se esconder; pois ela está para vir sobre todo o mundo habitável "para tentar os que habitam na terra". Quão abençoado é ser um peregrino aqui, associado com Cristo no céu!

Quem então pode escapar? Aqueles que forem chamados por Cristo para serem levados para o céu. Eles não estarão aqui naquela hora. Não se trata meramente de escaparem de estarem envoltos em sofrimento, mas de serem guardados "DA HORA" da tentação vindoura. Que exceção plena e magnífica! Tal é a força da promessa e sua bênção, que o Senhor promete que os Seus serão guardados para não participarem DESSE MOMENTO. A forma simples e segura de mantê-los a salvo DESSA HORA é tirando-os de cena. Os seguidores de Irving costumavam falar de o Senhor ter uma pequena Zoar (cidade de refúgio no Antigo Testamento). Que comparação mais pobre e terrena! Não se trata de uma questão de geografia ou de um esconderijo distante e secreto, mas da total remoção do período compreendido pela tentação que virá sobre todo o mundo habitável. Isto é totalmente assegurado pelo traslado deles para o céu antes que chegue a hora da provação do mundo; e é isto o que importa nesta promessa. O remanescente de judeus fiéis, por sua vez, só terá o recurso de fugir para as montanhas para escapar, até que Jesus apareça em glória para confundir seus perseguidores. Para os cristãos, porém, a história é outra. Quão errado é dar à história da igreja uma conotação judaica! --- [1]

–– Mario Persona
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[1] William Kelly - 1821-1906


OBSERVAÇÃO:
Quando William Kelly diz que "A hora da tentação" é um termo mais amplo do que "a grande tribulação" de Apocalipse 7, e mais ainda que a tribulação sem paralelo que está para cair sobre a terra de Israel (Dn 12, Mt 24, Mc 13)", ele está se referindo ao fato de que Jesus está, de fato, prometendo à sua amada noiva (Igreja) que ela não estará aqui em nenhum momento da TRIBULAÇÃO num todo, período conhecido como a Septuagésima Semana de Daniel). A primeira metade desses 7 anos é chamada de "princípio das dores" (Mt 24:8). A Bíblia chama de "grande tribulação" a segunda metade desses 7 anos.

- JP Padilha

DIVÓRCIO E SEGUNDO CASAMENTO DE DIVORCIADOS | JP Padilha




"Eu odeio o divórcio; Eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher" (Malaquias 2.16).

Malaquias nos lembra aqui que a vontade de Deus, a respeito do casamento, sempre foi a mesma. Enquanto milhares de pessoas no mundo procuram justificativas baseadas nos abusos que eram tolerados durante a era patriarcal – sob a Lei Mosaica – Jesus nos diz que a ordem de Deus sempre foi a mesma: "Não tendes lido que o Criador, desde o princípio os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?... Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem" (Mateus 19.4-6).

Quando se tem o cuidado de não presumir certas premissas antes da interpretação bíblica e, ao mesmo tempo, se emprega uma abordagem normal e consistente para entender a Escritura, fica fácil chegar ao entendimento irrefutável de que o divórcio e o segundo casamento de divorciados são ambos proibidos por Deus em sua Palavra. As palavras que se seguem definem a abordagem bíblica que conduz à interpretação correta do tema, começando com a análise exegética de Mateus 19.9 – o versículo bíblico mais usado pelos hereges como suposto fundamento para a defesa do divórcio e adultério do segundo casamento. Aqui será mostrada a razão pela qual um cristão deve estudar a Bíblia sempre levando em conta a mensagem do evangelho num todo, e não com base em interpretações que mutilam a lei que rege todo um pano de fundo de determinado assunto bíblico.

O princípio da hermenêutica irrefutável exige que qualquer passagem da Escritura, por mais difícil que seja de se interpretar, não pode, em hipótese alguma, entrar em conflito com a antítese apresentada pelos principais textos normativos da Bíblia. Ou seja, a lei de Deus, de Gênesis à Apocalipse, quanto ao divórcio e segundo casamento de divorciados, diz que nem um nem outro é permitido ao homem, exceto em caso de viuvez, como será provado mais à frente.

Mesmo Deus tendo dito no princípio que o que Ele uniu o homem não pode separar (Gn 2.24), mesmo Ele tendo enviado profetas como Malaquias para ratificar tal mandamento (Ml 2.16), mesmo Jesus tendo carimbado a lei do casamento uno e indissolúvel (Mt 19.3-9) e mesmo o apóstolo Paulo tendo enfatizado tudo isso com riqueza de detalhes (Rm 7.1-3; 1Co 7.10,11,15,39), a igreja moderna insiste em prostituir a Palavra pura de Deus. O mundo atual está cheio de pessoas procurando justificar a própria crueldade do divórcio, prática que Deus condenou peremptoriamente. Alguns argumentam que o divórcio é melhor do que sofrer as dificuldades de um casamento problemático; mas Deus diz que odeia o divórcio. Muitos alegam que o divórcio é a melhor opção quando o sentimento de amor diminui ou quando conflitos e diferenças aparecem; mas Deus diz que odeia o divórcio.

Sempre que trato desse tema, o principal questionamento é sempre o mesmo: "Padilha, você diz isso porque não passou por problemas no casamento"! Isso é lá argumento para o pecado? Significaria que eu, por não ter tido outra mulher ou me divorciado, não passo por provações em outras áreas da vida? Ora, eu poderia reivindicar tal falsa compaixão quando me fosse conveniente, não é mesmo? Todavia, o casamento não se trata de um conto de fadas. Na verdade, o casamento é o maior teste de amor incondicional: Deus lhe concede um cônjuge que não irá cumprir com todas as suas exigências e você será provado nisso. Visto que amor incondicional significa amar sem considerar os pecados e defeitos do próximo, o casamento é a melhor forma de mostrar a verdadeira face de alguém que se diz servo de Deus.

ANÁLISE EXEGÉTICA DE MATEUS 19.3-11


"Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério. Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido”
 (Mateus 19.3-11).

Com base nos versículos acima, analisaremos seis pontos cruciais da passagem bíblica para o entendimento correto do texto sagrado.

1. A Pergunta dos fariseus e a resposta de Jesus (v. 3-6):

O texto apresenta alguns detalhes interessantes. O primeiro deles é que os fariseus vieram até Jesus para o “tentar”, não para aprender com Ele. Esses mestres da lei não precisavam aprender nada sobre isso, pois eram os mais eruditos estudiosos acadêmicos da época. Sua intenção era incitar Cristo a blasfemar contra a lei de Moisés com base numa permissão temporária ocorrida durante o ministério de Moisés, e não com base na lei de Deus, a qual Jesus cita como refutação prévia. Isto é, ao ser indagado acerca do tema, Jesus Cristo aponta para o que está em Gênesis 2.24, asseverando que o que vale é o que Deus estabeleceu e não o que Ele tolerou numa determinada época. A resposta de Cristo foi enfática, direta e concisa: Não; não pode se divorciar por motivo algum.

2. A Réplica tendenciosa dos fariseus (v. 7,8):

A justificativa usada para defender a legitimidade do divórcio e de um novo casamento está em Deuteronômio 24.1. E é a esse versículo que os fariseus supracitados e os falsos mestres da atualidade recorrem quando querem legitimar o pecado do divórcio e adultério. Todavia, Jesus critica a falha exegética dos fariseus em reconhecerem qualquer legislação nos livros de Moisés para esse ato. Na verdade, não há qualquer menção de uma lei aprovando o divórcio como norma para o povo de Deus em Deuteronômio 24.1, mas tão somente uma descrição do estado conturbado em que se encontravam os hebreus daquele contexto.

Assim, a pergunta que todos os defensores do “re-casamento” amam fazer foi feita também pelos fariseus que mantinham a mesma justificativa para deixarem suas esposas: "Por que Moisés mandou"? E é aqui que encontramos um segundo fator imprescindível para o entendimento correto do contexto. Jesus responde à indagação tendenciosa com uma correção sobre a falsa premissa que eles tinham em relação a Moisés: “Moisés... permitiu...”!

Ou seja, Moisés não mandou nada. Deus nunca deu tal ordem. Deus jamais estabeleceu uma lei que contrariasse o Seu próprio mandamento quando ainda nem havia uma lista com os dez mandamentos. Na verdade, a lei que proíbe qualquer tipo de separação conjugal se baseia na criação (Gn 2.24) e não nas ordenanças que regiam o período mosaico para fins de regulamentação do estado espiritualmente decaído dos hebreus. E é para lá [Gn 2.24] que Jesus aponta ao dizer o que é legítimo e imutável: “... no princípio não foi assim” (v. 7,8).

Jesus está simplesmente dizendo aos fariseus que Moisés não mandou ninguém se separar ou se juntar a outrem, e que a permissão por ele dada foi um caso isolado, temporário, mutável e ilegítimo para o povo de Deus. O que vale é o que Deus disse no início de tudo. É como se Jesus dissesse assim: “agora sou Eu, Jesus, quem estou falando; e não Moisés”. Casamento é um só, pois dois indivíduos passam a ser um só (Gn 2.24).

3. Cristo invalida a "permissão" de Moisés (v. 9a):

"EU VOS DIGO, PORÉM” é a peça-chave que estabelece uma ordem clara de Cristo em oposição à permissão de repúdio em qualquer circunstância. Após salientar que Moisés deu aquela permissão temporária no período cerimonial por um motivo específico – a dureza de seus corações –, Jesus invalida a permissão de Moisés, eliminando qualquer espécie de argumento que possa ser usado como justificativa para a separação de um casal casado.

Os termos “Eu, Porém, vos digo” são freqüentes nas falas de Jesus. É uma marca evidente em todo o período de seu ministério. Toda vez que Jesus se depara com a elite religiosa de Israel com seus métodos de lavagem cerimonial, requeridos pelos fariseus, Ele os confronta com um sonoro “Eu, porém, vos digo”. Toda vez que esses termos são usados por Jesus é para invalidar alguma premissa baseada em ordenanças que nunca passaram de fábulas criadas pelo sistema chamado Tradição dos Antigos (cf. Mt 15.3). Tal distintivo de Cristo resultou em um ódio muito grande no coração dos doutores da lei. Esses doutores eram os mais eruditos estudiosos da Escritura naquela época. Assim, fica fácil entender por que os conflitos entre Jesus e os fariseus era constante.

4. A cláusula de exceção (v. 9b):

No verso 9 de Mateus 19 fica patente que há uma cláusula de exceção para algum tipo de repúdio. Que tipo de repúdio é esse, uma vez que Jesus acabara de estabelecer uma regra tão enfática e imutável para o povo de Deus? Se um casal de casados não pode se separar “por motivo nenhum” (v. 4-6), a que tipo de casal Jesus se refere ao falar de uma cláusula? Teria Jesus entrado em contradição consigo mesmo? A Bíblia contém paradoxos? A Escritura se contradiz? A resposta é obviamente não.

Como será provado ao longo deste capítulo, Jesus, neste verso, não está abrindo exceção nenhuma para casados. A palavra grega usada para se referir à cláusula de exceção é Porneia, que significa fornicação. Pessoas casadas não praticam fornicação quando traem seus cônjuges. Elas praticam adultério, que é o termo usado duas vezes por Jesus para se referir especificamente ao pecado da separação ou do segundo casamento de divorciados. A palavra grega para adultério é outra – Moicheia.

Sendo assim, a cláusula de exceção aqui é concedida somente ao casal de noivos; pessoas que ainda não oficializaram o casamento. Se houver traição por parte de uma das partes durante o período de noivado, o cônjuge traído tem o direito (mas não o dever) de abandonar a relação durante esse período. A fornicação é um ato pecaminoso praticado por solteiros, não por casados. O Espírito Santo teria se esquecido disso na hora de se revelar na Palavra? Não, caro leitor. Se ao invés da palavra porneia (fornicação) a cláusula fosse moicheia (adultério), então Jesus estaria abrindo uma exceção para casados. Mas não é isso que a Bíblia está dizendo em Mateus 19.9. Cristo é minucioso e categórico quando se refere à porneia (fornicação) para referir-se à exceção, e usa o termo moicheia (adultério) duas vezes adiante, em um mesmo versículo, fazendo uma diferenciação irrefutável entre uma prática e outra, com a finalidade de falar exclusivamente sobre o pecado do divórcio e também do segundo casamento de divorciados – o adultério.

Em algumas raras ocasiões, o termo moicheia é generalizado, significando tanto fornicação como adultério. Mas esse não é o caso de Mateus 19.9. Nessa passagem, duas expressões gregas específicas são usadas para dar significado a dois atos distintos – fornicação e adultério. O único outro lugar além de Mateus 5.32 e 19.9 onde Mateus usa a palavra porneia é em 15.19. Nesse verso, o termo porneia é utilizado junto com moicheia. Assim, a evidência contextual primária para o uso das duas palavras em Mateus 19.9 é que o autor inspirado faz uma clara distinção entre porneia e moicheia, esclarecendo aos ouvintes que o termo porneia está ali para se diferenciar da prática do adultério (moicheia). Em termos diretos, Mateus está usando o termo grego porneia em seu sentido normal de fornicação. Esse sempre foi o significado primário dessa palavra. Do mesmo modo, ele usa a expressão moicheia para tratar especificamente da prática do adultério.

5. Descomplicando com um texto-chave (Mateus 1.18-20):

Não por acaso, encontramos em João 8.41 o termo porneia, onde os líderes judeus indiretamente acusam Jesus de ter nascido de porneia (fornicação/prostituição). Uma vez que os fariseus não aceitam que Jesus havia sido concebido pelo Espírito Santo, eles acusam Maria de ter praticado fornicação e afirmam que Jesus era o resultado desse ato. Dito isso, é necessário voltarmos ao texto que fala sobre o nascimento de Cristo, em Mateus 1.18-20, e assim eliminaremos toda e qualquer queixa acerca de Mateus 19.9 que possa ser usada como argumento por hereges, divorcistas e adúlteros.

Nos versos aqui analisados (Mt 1.18-20), José e Maria são apontados como marido (Aner) e mulher (gunaika). No entanto, eles são descritos na passagem como sendo ainda noivos um do outro, e não casados. Isso ocorre por dois motivos: (1) As palavras para marido e esposa são simplesmente homem e mulher, e (2) o noivado judeu não se tratava de algo banal como no atual século e na cultura em que vivemos, mas era um compromisso sério e significativo diante de testemunhas e autoridades. No versículo 19, José toma a decisão de divorciar-se de Maria. A palavra usada para o divórcio aqui é a mesma descrita em Mateus 5.32 e 19.9. Agora note um fator determinante para a conclusão da correta interpretação de Mateus 19.9 – o apóstolo Mateus diz aqui que José era "justo" em sua decisão de se separar de Maria. Sua atitude era justa porque, do ponto de vista da acusação dos fariseus, Maria praticara porneia (fornicação). Assim, enquanto Mateus constrói toda a narrativa do seu evangelho, ele se encontra numa situação complicada ao ter de explicar o capítulo 19 sem entrar em contradição com o capítulo 5. O autor, inspirado pelo Espírito Santo, se vê diante de uma responsabilidade muito grande. Diante dos seus olhos estão os comandos diretos e absolutos de Jesus de que “se um homem se divorcia de sua esposa e casa com outra, comete adultério”, isto é, ele comete uma grave injustiça.

Uma vez que Mateus nos ensina que o “divórcio” de José, descrito no capítulo 1, trata-se de uma "justa" possibilidade, ele chega no capítulo 19 e aplica uma cuidadosa diferenciação entre porneia e moicheia a fim de evitar a inconsistência gritante entre o que ele disse sobre José e o que Jesus diz sobre o divórcio. Consciente de que o leitor honesto entenderia não somente o contexto como os termos gregos empregados para a distinção entre um pecado e outro, Mateus insere a cláusula de exceção (porneia – fornicação) no intuito de exonerar José e mostrar que o tipo de divórcio que alguém pode assumir durante o noivado – por causa de fornicação – está em perfeita harmonia com o que Jesus disse.

Essa interpretação é consistente e resultante de uma aplicação exegética honesta, sem os malabarismos que a maioria faz para tentar legitimar um pecado que Deus condena de Gênesis a Apocalipse. Pelo menos quatro vantagens exegéticas ficam evidentes a respeito da exceção concedida por Cristo em Mateus 19.9:

(1) Esta interpretação não força Mateus a contradizer o significado claro e absoluto de Marcos e Lucas. A força e significado das expressões usadas por Marcos e Lucas não abrem margens sequer para uma discussão; (2) ela fornece uma explicação lógica para o emprego de porneia ao invés de moicheia na frase de exceção de Mateus; (3) ela enquadra o uso do termo porneia em seu significado predominante – fornicação – em Mateus 5.32 e 19.9; e (4) promove a verdade do absoluto mandamento de Jesus de que o divórcio e a nova união entre divorciados são ambos condenados por Deus, sem permitir que isto entre em contradição com a retidão da intenção de José ao resolver divorciar-se de sua noiva Maria.

Portanto, não podemos fugir do fato de que a distinção entre o que era considerado como porneia e o que era considerado como moicheia foi minuciosamente mantido na literatura judaica pré-cristã e no Novo Testamento.

6. A frustração dos discípulos que pensavam poder se divorciar (v. 10,11):

"Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido".

Primeiro, a frustração dos discípulos diante da proibição direta de Jesus quanto ao divórcio e novo casamento de divorciados é um ponto significativo. Assim como os fariseus, os discípulos ali presentes também estavam acostumados com a tradição dos antigos, também conhecida como Torá Oral. A reação dos discípulos, descrita nos versos 10 e 11 diante da resposta de Jesus sobre repúdio ou novas núpcias, é peremptória para o desenlace do texto, pondo fim à discussão entre Jesus e os fariseus que o experimentavam: "Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar "! O que isso significa? Significa que, muito mais agora, após aquele período complicado no ministério de Moisés com o povo hebreu, o casamento era algo muito mais sério do que eles podiam imaginar. Agora os discípulos tinham compreendido que o matrimônio conjugal se tratara de uma união vitalícia, santa e irrevogável, que mais tarde seria a analogia usada pelos apóstolos para se referir à própria noiva de Cristo – a Igreja (Ef 5.22-33). Pergunto ao leitor: Cristo se divorcia de sua amada noiva, embora ela o traia todos os dias?

Segundo, Cristo se direciona aos discípulos e diz exatamente o que Paulo reforçaria nas epístolas: "Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido" (v. 11). Em 1Coríntios 7.20, Paulo se encontra falando sobre a vocação do casamento, a qual nem todos estão destinados a receber: “... cada um fique na vocação em que foi chamado". Assim, a fim de acalmar o espírito de seus discípulos, Jesus os conduz ao entendimento de que cada um recebe de Deus um dom diferente, por divino decreto, e em Sua soberania é onde eles devem descansar. Portanto, Mateus 19:3-11 não permite Divórcio nem Segundo Casamento.

A SAMARITANA E SEUS CINCO "MARIDOS"


 Uma vez que as dúvidas acerca do polêmico versículo de Mateus 19.9 foram desfeitas sob o uso responsável de uma exegese sadia, uma simples leitura das normas prescritas nas epístolas será suficiente para reforçar a lei da imutabilidade da união matrimonial feita por Deus entre um homem e uma mulher.

Antes de observarmos o que é dito em Romanos 7 e 1Coríntios 7, é importante que o leitor preste muita atenção ao diálogo entre Jesus e uma mulher samaritana que havia passado por cinco maridos em sua vida:

"Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido; Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade" (João 4.15-18).

A mulher com quem Jesus está falando nesta passagem era uma samaritana. Os samaritanos surgiram de uma mistura de povos e crenças pagãs, e não eram bem vistos pelos judeus em Jerusalém, nem mesmo considerados como humanos, mas como animais (cf. Mc 7.25-27). O fato de Jesus não rejeitar os samaritanos quando estes se achegavam a Ele foi motivo de escândalo para a maioria dos judeus. Além da idolatria (adoração a outros deuses) misturada aos conceitos judaicos, os samaritanos acreditavam que o local correto de se adorar a Deus era o monte Gerizim, e não o templo de Jerusalém. A crença de que a adoração a Deus devia ser feita no monte Gerizim é descrita na continuação deste mesmo diálogo de Jesus com a mulher samaritana, do verso 19 ao 24. Foi ali que Jesus declarou que a verdadeira adoração não seria mais avaliada com base no lugar onde uma pessoa estivesse, mas que a verdadeira adoração seria reconhecida por um espírito sincero, independente de se estar em um templo ou monte qualquer (v. 23,24).

Fica difícil imaginar que Jesus teria em vão intimidado a mulher samaritana a chamar seu “marido” para, só então, receber a água da vida, que traz a vida eterna. Cristo a instiga a confessar seu real estado espiritual. Ela não necessitava do marido por perto para receber a salvação. Isto parece insignificante para doutores diplomados que não se interessam por cada mensagem que Jesus transmite toda vez que abre sua boca. Mas o fato é que, sabendo que a mulher estava em adultério, Jesus provoca a mulher a dizer que seu atual marido não era, de fato, MARIDO. A conclusão textual é a peça-chave que coloca a samaritana em uma posição de adultério. Jesus diz: “Disseste bem: ‘Não tenho marido’; Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade” (v. 17,18). Isso ocorre pelo fato de que seu MARIDO certamente ainda estava vivo. De outra maneira, Cristo não teria dito que o atual “cônjuge” não era de fato seu marido. Se ela havia ficado viúva do primeiro, ou do segundo, ou, ainda, do terceiro, isso não é revelado na Escritura, nem mesmo necessário para a conclusão de uma premissa. O fato é que esta mulher estava em adultério porque se separou do legítimo marido e se “casou” outra vez. E é assim que o diálogo sobre casamento se encerra em João 4.15-18.

DESERÇÃO E ABANDONO


"Todavia, aos casados mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher (...). Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos (irreconciliáveis), não fica sujeito à servidão nem o irmão (repudiado), nem a irmã (repudiada); Deus vos tem chamado à paz"
 (1Coríntios 7.10,11,15).

O foco de Paulo em 1Coríntios 7 é a relação entre um homem e uma mulher. Todo o capítulo é composto por uma série de mandamentos e conselhos destinados a três grupos diferentes: (1) solteiros ou viúvos, (2) casados e (3) crentes que se casaram com descrentes. O apóstolo fala acerca do celibato, do casamento e dos crentes que haviam se casado com pagãos. Portanto, para que o nosso foco seja mantido neste capítulo, falaremos sobre os deveres predominantes dos solteiros e viúvos em outra ocasião. O que importa agora é desfazer o engano de Satanás e dos falsos mestres a respeito do divórcio e segundo casamento.

Paulo proíbe o divórcio e o faz sob a base de que Jesus o proibiu (Mc 10.9; Lc 16.18; Mt 19.3-9). Não se trata de uma mera opinião do apóstolo, mas da revelação direta de Jesus Cristo a ele, já que nenhum apóstolo escreveu sob qualquer influência que não fosse do Espírito Santo. Paulo diz: "aos casados mando, não eu, mas o Senhor", a fim de asseverar aos crentes de Corinto que Jesus já havia ensinado tudo isso nos evangelhos, e que, portanto, ele não estava dizendo nada novo ali. Ao contemplar a possibilidade de um rompimento forçado, Paulo proíbe expressamente que haja um novo casamento. Pode parecer uma doutrina severa para “cristãos” relativistas e pagãos da nossa era, mas o fato é que em Corinto havia uma lassidão espiritual fora do comum, característica que marcou aquela igreja como sendo a mais resistente à disciplina cristã devido aos costumes de suas antigas crenças em deuses pagãos. Nada pertencente a esta vida deveria tomar a atenção dos crentes de Corinto, e Paulo não deu mole para as ovelhas daquela congregação. Isso explica por que a linguagem de Paulo é tão severa ao se dirigir a uma classe de recém-convertidos que, outrora, praticava orgias em devoção a todo tipo de deuses da antiga Grécia. Portanto, era necessário que qualquer tipo de pensamento impuro fosse evitado entre os Coríntios, especialmente na área sexual. E Paulo não poupou a cinta. Divórcio não! Segundo casamento, exceto em caso de viuvez, também não!

As quatro regras imutáveis para os casados da Igreja de Deus, prescritas em 1 Coríntios 7, são:

1. Não se aparte do cônjuge.
2. Se apartar (separação forçada), fique sem casar.
3. Ou, que se reconcilie com o marido.
4. Que o marido não deixe a mulher.

Se houver traição dentro do matrimônio, o perdão e a oração para que o cônjuge seja transformado(a) em uma nova criatura em Cristo é a opção correta.

A única exceção para novas núpcias está destinada aos viúvos, no final da carta:

"A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido, fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor" (1Coríntios 7.39).

Quaisquer que sejam as justificativas dos advogados do divórcio e “re-casamento”, nenhuma passagem da Escritura pode ensinar o contrário do que está enfaticamente ordenado em 1 Coríntios 7.39. Esta passagem é a conclusão lógica de todo um pano de fundo que vimos até aqui. Todo o ensinamento de Cristo sobre relação conjugal, separação ou união com terceiros é concluído aqui. Um novo casamento só é permitido em caso de óbito (morte física; túmulo).

Em 1 Coríntios 7, Paulo tem ciência de que uma possível separação forçada é inevitável. Quando ele escreve aos Coríntios sobre o assunto, ele está considerando em sua mente a possibilidade de um adultério sem arrependimento e de casos como a deserção e a violência doméstica. A fim de deixar claro ao leitor de que o divórcio e o novo casamento de divorciados são ambos condenados por Deus, ele se dirige aos cônjuges que sofreram o rompimento forçado e os alerta sob a base das mesmas palavras do Jesus histórico. Esses indivíduos abandonados no casamento devem se manter no celibato, pois Deus os chamou para a paz e eles não estão fadados a forçarem ninguém a manter laços com eles.

Portanto, Lucas 16.18, Marcos 10.11-12 e Mateus 19.3-11 são as normas que o apóstolo Paulo tem em mente quando vai tratar sobre o assunto com a Igreja de Cristo na dispensação da graça. É por essa razão que ele diz: “... aos casados mando, não eu, mas o Senhor“, fazendo alusão ao que Jesus já havia dito nos evangelhos, mas que precisava ser enfatizado para um povo de difícil compreensão.

O CASAMENTO É O ESPELHO DA RELAÇÃO ENTRE CRISTO E A IGREJA


 A analogia entre a relação de Cristo e a Igreja com o Casamento não foi feita em vão pelo apóstolo da graça. Quando a Bíblia diz que o Casamento é como Cristo e a Igreja, tudo fica evidente nesse assunto. O que é correto ou não no casamento deve ser decidido, sobretudo, à luz desta analogia –Marido e Esposa / Cristo e a Igreja. Façamos a seguinte pergunta: Quantas vezes por dia a Igreja trai a Cristo? Se eu fosse contar, perderia a conta. Mas, se eu perguntar como Cristo reage à traição de Seu Corpo, a Igreja, a resposta é óbvia: Perdoando. O casamento é um teste para o desenvolvimento da santidade. Ele é o crivo pelo qual se manifestam os filhos de Deus e os filhos do diabo.

“Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois NUMA SÓ CARNE. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido” (Efésios 5:22-33).

O SEGUNDO CASAMENTO NÃO É RECONHECIDO POR DEUS


 A psicologia moderna e os livros de autoajuda tomaram o lugar da Palavra de Deus nos púlpitos. Hoje, quando um pastor moderno vai “pregar”, ele se preocupa com a autoestima das ovelhas e não com suas almas. Troca-se o "Toma a Sua Cruz" pelo "Seja Feliz". Alguns líderes religiosos tem se afrouxado diante de homens e mulheres que já se divorciaram e casaram com outros. Quando deparados com a situação, omitem partes da verdade com o intuito de não ofender o pecador. Então eu pergunto: Como continuar no "segundo casamento" se isso implica em "continuar no adultério"? A menos que esse seja um método de aconselhamento que objetiva encaminhar adúlteros para o inferno, não se pode afirmar outra coisa senão que se trata de heresia.

Portanto, é necessário que o leitor tenha uma atenção dobrada neste momento. Preste muita atenção ao que é dito em Romanos 7.2-3, pois aqui será provado que todo “segundo casamento de divorciados” é, na realidade, um contínuo adultério.

“Porque a mulher que tem marido, está ligada pela lei ao marido dela enquanto ele estiver vivendo; mas se o marido morrer, ela está livre da lei do marido dela. De sorte que, enquanto estiver vivendo o marido dela, se ela se casar com outro homem, ela será chamada de adúltera; mas, se morto o marido dela, ela livre está daquela lei; de modo que ela não é adúltera, ainda que ela se case com outro homem” (Romanos 7.2-3).

1 - Essa mulher casa novamente com outro homem, estando o seu marido ainda vivo.

2 - Essa mulher que casa novamente com outro homem (não interessa o motivo nem a "legitimidade" atribuída pelos homens), não se livrou do fato de que o seu legítimo marido (o primeiro) ainda é chamado de M-A-R-I-D-O. Não existe “ex-marido” na Bíblia. Essa ideia foi inventada por pecadores para racionalizar o pecado do adultério. Em nenhuma parte das Escrituras você encontrará o termo “ex-marido”. O fato de que o legítimo marido ainda é chamado de M-A-R-I-D-O, apesar da mulher tê-lo deixado e casado com outro, derruba por terra toda a tentativa inútil de dizer que a nova união entre divorciados é reconhecida por Deus. Essa nova união não é reconhecida por Deus. Deus aplica a esta mulher o título de ADÚLTERA! Este é o nome dela – ADÚLTERA. Ela tem dois maridos!

Se o divórcio fosse válido e anulasse o casamento, a passagem de Romanos 7.1-3 estaria totalmente em desacordo com as Escrituras, entrando numa contradição descabida com a tese do divórcio e novo casamento apresentada até aqui. Tal pensamento secular gera um total descrédito sobre a Palavra de Deus e lança a inerrância das Escrituras na lata do lixo!

3 - Ela será chamada (grego chrematizo = considere-se avisada por Deus) de adúltera. Isso significa que ela está num estado de adultério contínuo, e não apenas num ato de adultério isolado como querem afirmar os liberalistas da igreja moderna. Jesus está dizendo que ela será chamada de adúltera! Esse é o título dela por definição. E mais, ela continuará sendo adúltera enquanto o verdadeiro marido estiver vivo. Sim, é uma tragédia para qualquer família, mas é o retrato que a Palavra de Deus apresenta acerca desse pecado!

4 - A fidelidade deve ser mantida "enquanto ele estiver vivendo" e não "enquanto ele for fiel", muito menos "até que eles se divorciem", como querem afirmar os defensores do divórcio por causa de infidelidade.

● Infidelidade não quebra a união do casamento.
● Abandono não quebra a união do casamento.
● Divórcio não quebra a união do casamento.

Infidelidade, abandono e divórcio trazem maldição e profanação para o casamento, mas não quebram a união do casamento. Os dois cônjuges continuam sendo uma só carne até que a morte os separe.

Ao olharmos para o mundo religioso, fica evidente a fala dobre de pessoas inconstantes (Pv 17.20; Tg 1.8). A maioria dos casais fala uma coisa, mas em suas mentes pensam de outra maneira. Os votos feitos na cerimônia não servem de nada. São palavras. Nada mais do que palavras. São cristãos nominais – apenas no nome. São mentirosos e, portanto, filhos do diabo, o pai da mentira. São pessoas ímpias. Jamais foram regeneradas. Sua língua está cheia de rapina e hipocrisia.

João Batista apontou e condenou o pecado de Herodes, o governador da Judeia, que estava em adultério porque se uniu a uma mulher divorciada. Essa mulher era esposa de seu irmão Felipe (Mt 14.3-4). Preste atenção nisso. João apontou o dedo na fuça de um governador em público. Observe a coragem, ousadia e intrepidez de João Batista e compare esse servo de Deus com os que se dizem “pregadores do evangelho” hoje. João Batista não tinha medo de apontar o pecado, nem de repreender os mestres e poderosos. Com efeito, João Batista não se enquadra na abordagem pacifista e carismática dos "profetas" do nosso século, em nenhum nível e em nenhum aspecto.

O resultado é que, diferentemente da mulher samaritana (Jo 4.15-18) e da mulher judia que também havia cometido adultério e se arrependido (Jo 8.11), o ódio de Herodias contra o profeta cresceu em seu coração. Herodias não abandonou o seu pecado. Ela escolheu outro caminho – matar um servo de Deus, pensando que assim calaria suas palavras.

João Batista foi punido com a morte por ter uma visão bíblica do casamento. Teve sua cabeça arrancada por não fazer parte de uma elite religiosa que visava o lucro pessoal e político; que valorizava mais as suas tradições do que a Palavra de Deus; que vivia de aparências. João Batista não dobrou seus joelhos diante da diplomacia acadêmica. Ele cumpriu com fidelidade sua missão de profeta na terra.

Com efeito, não há uma só linha no Novo Testamento que sirva de amparo para a quebra da aliança do casamento, exceto a morte. A única forma de um cristão se casar de novo é somente "se o marido morrer" e ponto final. Não há o que discutir. Os divorcistas e adúlteros não têm para onde correr. Ou eles usam a permissão de Moisés como desculpa (o que é exatamente o que os fariseus da época de Jesus fizeram), ou terão de concordar com a antítese que aponta para a proibição do divórcio e também de um novo casamento entre divorciados (Gn 2.24; Ml 2.16; Mt 19.3-11; Mc 10.2-12; Lc 16.18; 1Co 7.10,11,15,39; Rm 7.1-3).

Você diz servir ao Deus da Bíblia? Então saiba que Ele odeia o divórcio e o adultério. E Ele não muda. Esse Deus é imutável. Você quer se divorciar? Quer se “recasar”? Então faça-o sem distorcer as Escrituras para a sua satisfação carnal. Há milhares de religiões que apoiam a poligamia e você não precisa ultrapassar os limites da insensatez ao tentar legitimar tal abominação por meio da Bíblia. Poupe a si mesmo e aos mais fracos de tamanha aberração ilógica e busque, sem demora, por uma religião pagã que forneça a você os conceitos e práticas que lhe convém.

UM CONSELHO AOS IRMÃOS QUE POSSUEM MEMBROS DIVORCIADOS NA IGREJA


 Embora o pastor tenha o dever de guiar as ovelhas de Cristo no caminho da Sã Doutrina, ele não é responsável pelos atos pecaminosos de ninguém. A Bíblia não manda que um pastor examine alguém. Ao contrário, a Bíblia ordena que o homem deve examinar a si mesmo (1Co 11.28). Ou seja, o casal que se encontra no adultério do “segundo-casamento” deve examinar a si mesmo à luz das Escrituras para saber se está em conformidade com a Palavra, e não jogar a responsabilidade nas costas dos demais crentes ou, como de costume, no pastor ou em algum tipo de líder de uma igreja local. Como em qualquer pecado, quem criou essa confusão foi o casal separado e mais ninguém além dele. “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Romanos 14.12).

UM CHAMADO AO ARREPENDIMENTO


 A Bíblia diz que os adúlteros não herdarão o reino dos céus (1Co 6.10). O versículo de João 8.11 fala exatamente sobre uma mulher que adulterou. O que Jesus disse a ela? "Vá e não peques mais". Em momento algum Ele diz "permaneça no adultério", mas sim "Vá e não peques mais". Jesus não estava interessado se aquela moça (deveras casada, pois praticou moicheia - adultério) já havia construído outra vida e com outra pessoa. Jesus não perguntou a ela o que lhe faria sentir bem consigo mesma, ou, ainda, se as circunstâncias da sua vida possuíam barreiras demais para se acertar com Deus. E são exatamente estas coisas que os pastores do século presente fazem: "Ah... você já formou outra família? Bom, nesse caso concedemos uma exceção para você"! Quem inventou tal bestialidade? Quem deu o direito ou autoridade de revirarmos os 66 livros da Escritura de cabeça para baixo com a finalidade de "abrir uma exceçãozinha" para o irmão que está em pecado? Nem todos suportam ouvir essa verdade, mas é isso que a Bíblia ensina. Quem recasa destruiu, irremediavelmente, a figura indissolúvel do relacionamento entre Cristo e a igreja, comparados com o marido e com a esposa respectivamente (Ef 5.24-25 ).

O verdadeiro arrependimento produz mudança de pensamento, e o pensamento produz mudança de atitude. A própria lógica nos diz isso. Ou sai do adultério ou fica nele. As duas coisas ao mesmo tempo não existe. Os que aceitam que divórcio e “re-casamento” são de fato condenados pela Bíblia e, ao mesmo tempo, negam que aqueles que se mantém no erro do “segundo-casamento” estão em constante ADULTÉRIO, estão a cometer um paradoxo sem precedentes. Isso é afrontar a inteligência humana.

Quando uma pessoa ouve a verdade, ela toma uma atitude ou outra: Ou ela vai para o lado certo ou ela vai para o lado errado. Uma pessoa arrependida do divórcio e do "novo casamento" irá criar uma ruptura no adultério, por mais que ela tente impedir. Eu vi isso acontecer. Certa vez uma mulher adúltera entendeu meu artigo a respeito do tema e ficou ARREPENDIDA. Automaticamente a relação dela com o adúltero entrou em crise. O que ela fez para cessar a crise? Escolheu o caminho errado e voltou atrás! Ela encontrou uma brecha na lei de Moisés e justificou seu ato por meio desta brecha. Depois disso ela rompeu todos os contatos comigo para não ouvir mais nada sobre o assunto.

Diante do exposto, uma pergunta popular sempre surge: “O adultério anula o Sacrifício Expiatório de Cristo?” Esse tipo de pergunta jamais deveria ser feita por um cristão. Isso prova o quão longe ele se encontra de Deus. Pois nada e nem ninguém anula o sacrifício de Cristo. O fato é que, como qualquer outro pecado, o divórcio e o adultério do segundo casamento, quando não retratados (abandonados), são simplesmente o resultado da não-regeneração do pecador. É o fruto resultante de um não-eleito. Não existe justificação sem santificação. Do contrário, isso seria antinomianismo (cf. Rm 6.1-23). A obediência é o resultado da salvação e não um pré-requisito para ser salvo. "Porque somos feitura Sua [de Deus], criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2.10). Ou seja, o fato de sermos salvos pela graça e não pelas obras não significa permissão para pecar. Pelo contrário, a graça é concedida justamente para tornar possível a santificação do eleito. "Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?"(Romanos 6.16). A ovelha pode cair na lama, mas só um porco consegue permanecer nela.

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–– JP Padilha / O Evangelho sem Disfarces
–– Fonte 1: Página 
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Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....