Por que devo obedecer a Deus se já está tudo decretado? | JP Padilha


1. POR QUE DEVO OBEDECER SE JÁ ESTÁ TUDO DECRETADO?


A mais satisfatória resposta para esta queixa está em Rm 9.19-24. Nesta passagem Paulo antecipa a mesma lamúria de forma retórica (ele já 'previa' que alguém pudesse questionar sua mensagem) e que se refere aos eternos decretos de Deus. Veja o contexto da pergunta retórica e como Paulo lida com ela:

"Então me questionarás: "Por que Deus ainda nos responsabiliza? Pois, quem pode resistir à Sua vontade?" Mas, quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: "Por que me fizeste assim?" Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios"? (Romanos 9.19-24).

Do verso 14 ao 29 de Romanos 9 (vide o contexto) podemos encontrar uma “diatribe”. Trata-se de um recurso de retórica em que o escritor responde aos questionamentos de um opositor imaginário. Os questionamentos levantados pelo opositor arminiano estão em Rm 9.14 e 9.19. A “diatribe” é um artifício muito eficaz ao lidar com incrédulos que tentam achar respostas não concedidas de forma exaustiva na Bíblia, mas que estão implícitas em seu determinismo em termos de soberania divina. Porém, este recurso só funciona se o autor está entendendo corretamente o opositor. Todos os dois questionamentos do opositor (9.14 e 9.19) tem a ver com a “injustiça de escolher uns para a salvação e predestinar outros para a perdição eterna”. Se o apóstolo Paulo estivesse lidando com os preceitos de Deus ou, ainda, com a ‘eleição de nações’ ao invés de indivíduos, ele poderia ter corrigido este equívoco e concluído da seguinte maneira: “Não estou tratando dos decretos eternos de Deus, mas de seus preceitos para a igreja; não estou falando de pessoas, mas de nações”. Contudo, o apóstolo estabelece a objeção como legítima e a responde de forma direta, concisa e sem eufemismos, enfatizando sua intenção de falar sobre os decretos de Deus em termos de metafísica, e não de Suas ordens direcionadas a todos os homens para que obedeçam. Ele também deixa claro que não se refere à nenhuma ‘promessa terrena à Israel’ aqui (como em outras passagens), mas à eleição de indivíduos para a Salvação.

Sendo assim, a ordem é clara: Obedeça a Deus e se cale diante dos desígnios do Senhor. Prostre-se diante de Deus, em temor e tremor. Ponto final.

A Bíblia é assim: Ela não se coloca na obrigação de responder a todas as nossas perguntas. Ela não se permite dizer o "por quê" de muitas coisas, mas vai direto ao ponto e ordena que o homem se cale diante de Deus. A Palavra de Deus é DETERMINISTA, não fatalista.

2. DECRETOS E PRECEITOS

Muitos incautos apelam para passagens normativas como Ezequiel 18.32, na tentativa de driblar Deus de Seus eternos decretos e ainda assim o manter na posição de ‘totalmente Soberano’. Todavia, passagens como Ezequiel 18.32, assim como milhares de outras, onde Deus ordena a todos que se arrependam de seus pecados e escolham viver em santidade com Ele, não estão lidando com os decretos divinos, mas sim com os preceitos de Deus – Sua ordem universal para que todo homem se arrependa e se converta de seus maus caminhos (At 3.19). O Deus que ordenou a Faraó que libertasse Seu povo é o mesmo Deus que, no contexto seguinte, endureceu o coração de Faraó para que este não o obedecesse (Ex 8.1; 10.27). É por esta razão que Paulo menciona Faraó como exemplo clássico de como Deus lida com suas criaturas num nível metafísico, em Romanos 9: “Porque diz a Escritura a Faraó: ‘Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra’. Logo, pois, Deus se compadece de quem Ele quer e endurece a quem Ele quer”. (Romanos 9.17,18).

3. NÃO EXISTE JUSTIFICAÇÃO SEM SANTIFICAÇÃO

"Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; sabendo que, tendo sido Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte não mais tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. Pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum. Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça? Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Falo como homem, pela fraqueza da vossa carne; pois que, assim como apresentastes os vossos membros para servirem à imundícia, e à maldade para maldade, assim apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santificação. Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:1-23).

4. O ANTINOMIANISMO

A palavra “antinomianismo” vem de duas palavras gregas: anti, que significa "contra", e nomos, que significa "lei". Sendo assim, antinomianismo significa “contra a lei”. Tal crença se baseia na ideia de que, se Jesus pagou pelos nossos pecados na cruz e aboliu o Velho Testamento, os cristãos não são ordenados a obedecer as leis morais de Deus que, por meio de Cristo, são direcionadas à igreja. De fato, Cristo cumpriu a lei, pagou pelos pecados dos eleitos e aboliu o Velho Testamento (2Co 3.2-18; Rm 10.4; Gl 3.23-25; Ef 2.15). Todavia, Ele estabeleceu leis para a Igreja cumprir e muitas delas de forma intensificada. Se antes não podia tocar em mulher alheia, agora o crente não pode sequer olhá-la para desejá-la (Mt 5.28). O antinomianismo trata-se de uma doutrina luterana de João Agrícola (1494-1566), que, em nome da “supremacia da fé e da graça divina”, ensina a indiferença para com a lei, como se a igreja estivesse isenta de sua responsabilidade para com a Doutrina dos Apóstolos e livre para pecar. A propósito, este é o real conceito de “hiper-calvinismo” (termo muito mal compreendido pelos próprios calvinistas hoje). De fato, Cristo encerrou, na Cruz do Calvário, as leis cerimoniais do Antigo Testamento, as quais para nós não passam de “fábulas judaicas” (Tt 1.14) e “ordenanças caducas” (Cl 2.11-23). Todavia, Sua LEI para a Igreja está intacta e o mandamento que resume todo o Novo Testamento, em termos de obediência, é: "Sede santos" (1Pe 1.15,16)... “porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1 Ts 4:7).

CONCLUSÃO:

A soberania de Deus e a responsabilidade humana andam de mãos dadas. Não se pode separar uma da outra. Do contrário, isto seria "Fatalismo" e não Calvinismo. Não há espaço para a vontade do homem nos eternos decretos de Deus. De fato, o homem é um ser dotado de vontades, mas não de livre-arbítrio. Aquele que é chamado por Cristo recebe a liberdade da escravidão do pecado e do jugo de satanás e do mundo, mas jamais poderá dizer que um dia foi [ou é] livre de Deus.

Não existe justificação sem santificação. Do contrário, isto seria antinomianismo: uma afronta às leis de Deus direcionadas aos Seus filhos.

"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" (Romanos 8:29,30).

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