REVELAÇÃO PROGRESSIVA NO QUE DIZ RESPEITO À SALVAÇÃO | JP Padilha


O termo "revelação progressiva" refere-se à ideia e ensino de que Deus revelou vários aspectos da Sua vontade e plano geral para a humanidade em diferentes períodos de tempo. Chamamos a isso de “dispensações”. Para nós, dispensacionalistas, uma dispensação é uma economia distinguível (ou seja, uma condição ordenada das coisas) na realização do propósito de Deus. Embora nós, como dispensacionalistas, debatamos o número de dispensações que ocorreram ao longo da história, todos acreditamos que Deus revelou apenas certos aspectos de Si mesmo e de Seu plano de salvação em cada dispensação, com cada uma se desenvolvendo sobre a anterior.

Uma dispensação é a maneira como Deus trata com o homem durante um determinado período de tempo, quando este é provado e testado quanto à obediência a certas revelações definidas da vontade de Deus. Por exemplo, desde os dias de Moisés até Cristo o homem foi provado sob a Lei. O período atual é chamado de "dispensação da graça de Deus" (Ef 3.2). No Milênio o homem será provado sob o reinado pessoal de Cristo, sem a presença de um tentador (Satanás) – é a chamada "dispensação da plenitude dos tempos" (Ef 1.10).

Existem ao todo sete dispensações nas quais o homem tem sido provado: (1) em inocência, (2) em consciência (da expulsão do jardim do Éden ao dilúvio), (3) em autoridade ou governo (do dilúvio a Abraão), (4) sob a promessa (de Abraão a Lei), (5) sob a Lei (da Lei a Cristo), (6) sob a graça (de Cristo ao arrebatamento), (7) sob o reinado pessoal de Cristo (da vinda de Cristo ao final do Milênio).

Embora acreditemos na revelação progressiva, é importante ressaltar que não é necessário ser um dispensacionalista para adotar a revelação progressiva. Quase todos os estudantes da Bíblia reconhecem o fato de que certas verdades contidas nas Escrituras não foram totalmente reveladas por Deus para as gerações anteriores. Qualquer pessoa hoje que não sacrifique um animal (dízimo) quando pretende aproximar-se de Deus ou que adore a Deus em qualquer dia da semana ao invés de no último (sábado judaico) entende que tais distinções na prática e conhecimento têm sido progressivamente reveladas e aplicadas ao longo da história.

Além disso, há questões mais importantes sobre o conceito da revelação progressiva. Um exemplo é o nascimento e a composição da Igreja, da qual Paulo fala: "Por esta razão eu, Paulo, o prisioneiro de Cristo Jesus por amor de vós gentios... Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como pela revelação me foi manifestado o mistério, conforme acima em poucas palavras vos escrevi, pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual em outras gerações não foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Espírito aos seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (Efésios 3.1-6 – ênfase minha).

Paulo afirma quase a mesma coisa em Romanos: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar, segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio desde os tempos eternos, mas agora manifesto e, por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, dado a conhecer a todas as nações para obediência da fé” (Romanos 16.25-26 – ênfase minha).

Em discussões sobre a revelação progressiva, uma das primeiras perguntas que as pessoas fazem é: Como a revelação progressiva se aplica à salvação? Aqueles que viveram antes do primeiro advento de Cristo foram salvos de uma maneira diferente do que as pessoas são salvas hoje? Na era do Novo Testamento, as pessoas devem colocar a sua fé na obra consumada de Jesus Cristo, crer que Deus o ressuscitou dentre os mortos e serão salvas (Rm 10.9-10; At 16.31). No entanto, muitos estudiosos do Antigo Testamento dizem ser improvável que todos os santos do Antigo Testamento acreditavam na morte de Jesus Cristo, o Filho de Deus. John Feinberg, por exemplo, diz: "As pessoas da era do Antigo Testamento não sabiam que Jesus era o Messias, que Jesus iria morrer, e que a Sua morte seria a base da salvação.” Se Feinberg e outros estudiosos do Antigo Testamento estão corretos, então o que exatamente Deus revelou aos que viveram antes de Cristo, e como eram salvos os santos do Antigo Testamento? Qual aspecto muda no processo da salvação do Antigo Testamento para o Novo Testamento?

REVELAÇÃO PROGRESSIVA:
Dois caminhos ou um caminho de salvação?


Alguns afirmam que aqueles que defendem a revelação progressiva acreditam em dois métodos diferentes de salvação – um que estava em vigor antes da primeira vinda de Cristo e outro que surgiu depois da Sua morte e ressurreição. Tal afirmação é uma falácia e é refutada por L. S. Chafer, que escreve: "Porventura há duas maneiras pelas quais um homem pode ser salvo? Em resposta a esta pergunta pode-se afirmar que a salvação de qualquer criatura é sempre a obra de Deus em favor do homem e nunca uma obra do homem em nome de Deus. Há, portanto, apenas uma maneira de ser salvo e isso é pelo poder de Deus tornando a salvação do homem possível pelo sacrifício de Cristo.”

Se isso for verdade, então como podem as revelações no Antigo e Novo Testamento a respeito da salvação se reconciliarem? Charles Ryrie resume a questão de forma sucinta desta forma: "A base da salvação em qualquer época é a morte de Cristo; o requisito para a salvação em qualquer época é a fé; o objeto da fé em qualquer época é Deus; o conteúdo da fé muda nas diferentes épocas." Em outras palavras, não importa quando uma pessoa tenha vivido – a sua salvação, em última análise, depende da obra de Cristo e de uma fé colocada em Deus, mas a quantidade de conhecimento que uma pessoa tinha sobre os detalhes do plano de Deus tem aumentado durante os séculos através da revelação progressiva de Deus.

Quanto aos santos do Antigo Testamento, Norman Geisler oferece o seguinte: "Em suma, parece que os requisitos para a salvação no Antigo Testamento no máximo (em termos de crença explícita) foram (1) a fé na unidade de Deus, (2) o reconhecimento da pecaminosidade humana, (3) a aceitação da graça necessária de Deus e, possivelmente, (4) o entendimento de que o Messias estava por vir."

Há evidência nas Escrituras para apoiar a reivindicação de Geisler? Considere esta passagem no Evangelho de Lucas, a qual contém os primeiros três requisitos:

"Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: ‘ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘ó Deus, sê propício a mim, um pecador!’ Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado" (Lucas 18.10-14).

Este evento ocorreu antes da morte e ressurreição de Cristo, ou seja, ainda no Velho Testamento, visto que o Novo Testamento só começa com a morte do Testador (Jesus - Hebreus 9.15-17); ou seja, os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João não fazem parte do Novo Testamento. A doutrina dos apóstolos está nas epístolas. É de suma importância lembrar-se disso a fim de não misturar o contexto judaico com o contexto cristão. A Igreja foi inaugurada no livro histórico de Atos, no capítulo 2.

Costumamos ver a Bíblia dividida de forma errada, onde os evangelhos fazem parte do Novo Testamento. Mas isso foi uma tramoia arquitetada por hereges durante a história a fim de transferir para a Igreja os comandos mais severos dados a Israel. Na prática, o Novo Testamento começa no livro histórico de Atos, e não nos evangelhos que obviamente nos mostram um contexto judaico somado a algumas profecias, sinais e milagres de Jesus como uma forma de mostrar ao povo que Ele era, de fato, o Filho Unigênito do Pai, o Deus encarnado. Não há Novo Testamento sem a morte do Testador: “E por isso [Jesus] é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna. Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testadorPorque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?” (Hebreus 9.15-17).

Sendo assim, a parábola do fariseu e o publicano ocorreu antes do Novo Testamento, e isso envolve claramente uma pessoa que não tem conhecimento da mensagem do evangelho da graça como articulada hoje no Novo Testamento. Na declaração simples do coletor de impostos ("Deus, sê propício a mim, um pecador!"), encontramos (1) uma fé em Deus, (2) um reconhecimento do pecado e (3) uma aceitação da misericórdia. Então Jesus faz uma declaração muito interessante: Ele diz que o homem foi para casa “justificado”. Este é o termo exato usado por Paulo para descrever a posição de um santo do Novo Testamento que acreditou na mensagem do evangelho da graça e colocou a sua confiança em Cristo: "Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5.1).

O quarto na lista de Geisler está em falta na narrativa de Lucas – a compreensão de um Messias que estava por vir. No entanto, outras passagens do Novo Testamento indicam que este pode ter sido um ensino comum no Velho Testamento. Por exemplo, no relato de João sobre Jesus e a mulher samaritana no poço, a mulher diz: "Eu sei que vem o Messias {que se chama o Cristo}; quando ele vier há de nos anunciar todas as coisas" (João 4.25). No entanto, como o próprio Geisler reconheceu, a fé no Messias não era algo que "tinham que ter" para a salvação no Antigo Testamento.

REVELAÇÃO PROGRESSIVA:
Mais evidência das Escrituras


Uma rápida pesquisa das Escrituras revela os seguintes versículos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que suportam o fato de que a fé em Deus sempre foi o caminho da salvação:

“E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça” (Gênesis 15.6).

“E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Joel 2.32).

“(...) porque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire pecados” (Hebreus 10.4).

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem. Porque por ela os antigos alcançaram bom testemunho” (Hebreus 11.1-2).

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6).

As Escrituras dizem claramente que a fé é a chave para a salvação para todos os povos ao longo da história. Mas, como poderia Deus salvar pessoas desprovidas do conhecimento do sacrifício de Cristo a seu favor? A resposta é que Deus as salvou com base em sua resposta ao conhecimento que tinham. Sua fé aguardava algo que não podiam ver, enquanto que hoje, os crentes olham para trás em eventos que podem ver. O gráfico do artigo ilustra esse entendimento (Vide imagem do artigo).

A Bíblia ensina que Deus tem sempre dado às pessoas revelação suficiente para exercer fé. Agora que a obra de Cristo tem sido concretizada, a exigência mudou; os "tempos da ignorância" acabaram:

"(...) o qual nos tempos passados permitiu que todas as nações andassem nos seus próprios caminhos. Contudo não deixou de dar testemunho de si mesmo" (Atos 14.16)

"Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam" (Atos 17.30)

"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos" (Romanos 3.25).

Antes da vinda de Cristo, Deus estava prenunciando a morte de Jesus através do sistema de sacrifício e condicionando o Seu povo a compreender que o pecado leva à morte. A Lei foi dada para ser um tutor e levar as pessoas ao entendimento de que eram pecadoras necessitadas da graça de Deus (Gl 3.24). Mas a lei não revogou a anterior aliança com Abraão, a qual era baseada na fé. É a aliança de Abraão que é o padrão para a salvação hoje (Rm 4). Mas, como Ryrie afirmou acima, o conteúdo detalhado da nossa fé – a quantidade de revelação dada – tem aumentado ao longo dos tempos ao ponto que as pessoas hoje têm uma compreensão mais direta do que Deus requer delas.

REVELAÇÃO PROGRESSIVA – Conclusões

Referindo-se à revelação progressiva de Deus, João Calvino escreve: "O Senhor susteve esta economia e esta ordem na administração do pacto de sua misericórdia, de sorte que, quanto mais com o correr do tempo se aproximava o dia da plena revelação, com tanto maior clareza o quis anunciar. Assim, no início, quando a primeira promessa de salvação foi dada a Adão (Gn 3.15), ela brilhou como uma faísca fraca. Então, ao ser a ela adicionada, a luz cresceu em plenitude, rompendo cada vez mais e derramando o seu brilho mais amplamente. Finalmente – quando todas as nuvens se dispersaram – Cristo, o Sol da Justiça, plenamente iluminou toda a Terra" (Institutas, 2.10.20).

A revelação progressiva não significa que o povo de Deus no Antigo Testamento não tinha qualquer revelação ou compreensão. Aqueles que viveram antes de Cristo, diz Calvino, não estavam "sem a pregação que contém a esperança de salvação e de vida eterna, mas, eles só tinham um vislumbre de longe e em um esboço sombrio aquilo que vemos hoje em plena luz do dia" (Institutas, 2.7.16; 2.9.1; comentário sobre Gálatas 3.23).

O fato de que ninguém é salvo sem a morte e ressurreição de Cristo é claramente indicado na Escritura (Jo 14.6). A base da salvação tem sido, e sempre será, o sacrifício de Cristo na cruz, e o meio de salvação sempre tem sido a fé em Deus. No entanto, o conteúdo da fé de uma pessoa sempre dependia da quantidade de revelação que Deus estava contente em dar em um determinado tempo. Os santos do Velho Testamento tinham conhecimento da vinda de Cristo e criam que Ele viria. Os cristãos, por outro lado, têm conhecimento da vinda de Cristo e creem que Ele veio. Só o que podemos concluir é que muda-se a conjugação dos verbos “criam” e “creem”, mas a crença é a mesma, a fé é a mesma e o meio pelo qual os diferentes povos de Deus são salvos é o mesmo.

– JP Padilha
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