4. LIBERDADE COMPATIBILISTA
Objeção 1:
“Com respeito à liberdade compatibilista, meu entendimento disso é que nós sinceramente escolhemos a partir de uma vontade dirigida por Deus – quer para o bem ou para o mal, dependendo se Ele tem nos endurecido ou iluminado. Há algo nisso que você considere incorreto/antibíblico?”
RESPOSTA:
Eu concordo com o que você escreve, mas, contrário a muitos calvinistas modernos, eu discordo que isso deva ser chamado “liberdade” num sentido relevante.
Quando falando de liberdade em nosso contexto, eu sempre falo de liberdade em relação a Deus – e esse é o porquê o assunto se torna claro imediatamente. Eu posso usar a mesma definição consistentemente se estiver tratando com a natureza de Deus, o decreto de Deus, a natureza do homem, a natureza da salvação ou o determinismo, de uma perspectiva filosófica.
Muitos calvinistas não falam dessa forma; antes, eles dizem que sempre escolhemos o que mais desejamos, [1] mas quando eles adicionam que isso é “liberdade” num sentido relevante, e que nós somos responsáveis com base nessa “liberdade”, eu discordo. Pelo contrário, eu nego qualquer sentido de liberdade humana e nego qualquer relação entre liberdade e responsabilidade.
A responsabilidade moral tem a ver com “se Deus decidiu nos julgar”; ela não tem relação direta com “se somos livres”. De fato, se fôssemos livres de Deus, mas não julgados por Deus, então ainda não seríamos moralmente responsáveis. Em outras palavras, a responsabilidade moral não pressupõe liberdade humana, mas ela pressupõe a soberania divina. Nós somos responsáveis não porque somos livres, mas somos responsáveis precisamente porque NÃO somos livres.
Também, os calvinistas modernos frequentemente afirmam que Adão foi livre antes da Queda. Mas, novamente, eu sempre falo de liberdade com relação a Deus, e dessa perspectiva, eu diria que Adão NÃO teve nenhuma liberdade, seja qual for, nem mesmo antes da Queda. Ser “livre” para pecar é irrelevante. A questão é se Adão era livre de Deus para escolher permanecer no pecado – ele não era. Em adição, eu não diria que Deus meramente permitiu Adão cair, mas que Deus causou essa queda. Muitos calvinistas também discordariam de mim nisso.
Compatibilistas hesitariam em dizer que somos livres de Deus, mas eles insistiriam que, visto que sempre agimos de acordo com o desejo mais forte no momento, isso é um sentido real de liberdade, e que essa “liberdade” é a pré-condição para a responsabilidade moral.
Digamos que eu tenha cometido um assassinato. Eu era realmente livre de outras criaturas quando eu tomei minha decisão, e eu agi de acordo com meu próprio desejo interno. Mas esse desejo foi causado e controlado por Deus, e o fato de que eu sempre agirei com base no meu desejo mais forte (que é a natureza humana) também foi causado por Deus. Mas isso equivale a dizer que nós não temos nenhuma liberdade de Deus para nos abstermos do assassinato, mas que temos somente uma liberdade interna de outras criaturas para nos abstermos do assassinato.
Então, se fôssemos suavizar isso e dizer que nossos desejos são de certa forma não determinados, mas meramente permitidos por Deus, então, mesmo ignorando por ora que isso é antibíblico, ainda devemos explicar como é possível para Deus permitir algo sem causá-lo, e, todavia, decretar imutavelmente que ele aconteça num sentido que não é meramente uma expressão de presciência. Se não pudermos explicar isso, então somos arminianos (hereges).
Também, se Deus meramente nos permite fazer algo, então eu também demandaria uma explanação metafísica sobre como é possível para uma criatura dirigir e controlar sua própria mente. Isto é, é possível que uma coisa ou criatura funcione de alguma forma debaixo da simples permissão de Deus, sem Sua constante determinação causativa? Como?
O próprio Calvino escreveu: “De fato, nem mesmo uma abundância de pão nos beneficiaria nem no mínimo grau, a menos que tivesse se tornado divinamente em alimento”. Isso soa como meu ocasionalismo. Não há nenhuma “natureza” ou poder inerente no pão que sempre opera com o corpo para fornecer alimento, mas ele deve ser “tornado divinamente em alimento” cada vez em que é consumido.
Isso é Calvinismo – é uma aplicação consistente da soberania divina sobre todas as coisas. É uma negação de qualquer forma de dualismo ou deísmo. Assim, eu afirmo que Deus controla todas as coisas sobre todas as coisas que seja algo, incluindo cada aspecto de cada detalhe de cada decisão ou ação humana, e de uma tal forma que o homem não tem nenhuma liberdade em qualquer sentido significativo ou relevante.
Resumindo, a liberdade libertariana não é de fato liberdade, mas é antibíblica e impossível – não existe tal liberdade. Por outro lado, a liberdade compatibilista não é “liberdade” de forma alguma (exceto de outras criaturas, o que é irrelevante), mas é apenas uma descrição do que acontece quando Deus controla cada aspecto de nossas decisões e ações, usualmente (não sempre) de acordo com uma “natureza” que Ele também criou em nós. Ambas as palavras, “compatibilista” e “liberdade”, são enganosas.
Objeção 2:
“Eu me considero um batista “calvinista”. De acordo com o meu entendimento, o pecado entrou neste mundo através da desobediência de Adão e não como um resultado do propósito determinante de Deus”.
RESPOSTA:
De fato, todos os escritores calvinistas e reformados afirmariam que o pecado veio como um resultado do decreto de Deus, de forma que ele foi determinado pelo menos nesse sentido. A diferença é que muitos “calvinistas inconsistentes” dizem que esse é um decreto “passivo” ou “permissivo”, enquanto que minha posição é que não há tal coisa como um decreto “passivo” ou “permissivo” em Deus, pois é antibíblico e impossível que um decreto divino seja “passivo” ou “permissivo”. A Bíblia descreve os decretos de Deus como sendo ativos, não passivos ou permissivos.
É correto dizer que o pecado veio através da desobediência de Adão, mas essa não é a questão debatida. A questão é o que causou essa desobediência. Dizer que antes da Queda Adão tinha “livre-arbítrio” é antibíblico, a menos que esse “livre-arbítrio” signifique ser livre de Deus. Se é isso o que ele significa, então isso é paganismo, não Calvinismo ou Cristianismo. Se o significado pretendido é somente a liberdade do pecado, então novamente isso é irrelevante, visto que a questão relevante na discussão do determinismo divino deve ser se Adão era livre de Deus para se abster do pecado, não se ele era livre do pecado para se abster do pecado.
– Vincent Cheung
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NOTAS:
1 – Embora eles possam reconhecer também que é Deus quem determina esse desejo, eles, diferentemente de mim, podem negar que Deus causa nossos desejos, quer para o bem ou para o mal, sempre de uma maneira ativa e direta.
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