Marcas da verdadeira Espiritualidade | John MacArthur



Uma das marcas fundamentais da verdadeira espiritualidade é a profunda consciência de pecado. Na Bíblia, aqueles que mais admitiam sua pecaminosidade eram freqüentemente os mais espirituais. Paulo afirmou ser o principal dos pecadores (1Tm 1.15). Pedro disse: “Retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8). Isaías declarou: “Ai de mim... sou homem de lábios impuros” (Is 6.5). Pessoas espirituais reconhecem sua luta mortal contra o pecado. Paulo afirmou que morria diariamente (1Co 15.31).

O objetivo final da espiritualidade é a semelhança com Cristo. Paulo reiterou muitas vezes essa verdade (1Co 1.11; Gl 2.20; Ef 4.13; Fp 1.21). No conceito de Paulo, a espiritualidade, em sua mais forte expressão, é a semelhança com Jesus; isso não é algo que podemos atingir por meio de uma única experiência ou alguma técnica subliminar. É uma busca perseverante e contínua:

“Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.12-14).

Muitos carismáticos afirmam que, após o recebimento do batismo do Espírito, a espiritualidade é “sua”. Infelizmente as coisas NÃO ocorrem assim. Quando o fervor da experiência acaba, eles são forçados a procurar outra e, depois, mais outra. Descobrem que uma “segunda obra da graça” não é suficiente; precisam de uma terceira, uma quarta, uma quinta e assim por diante. No esforço de acharem
algo mais, os carismáticos abandonam (alguns de forma inconsciente) a Bíblia e a verdadeira senda da espiritualidade, andando errantes pelo caminho da experiência até chegarem ao inevitável beco sem saída.

DONS NÃO GARANTEM ESPIRITUALIDADE

Os livros, folhetos e artigos carismáticos estão repletos de “testemunhos” sobre como determinada experiência trouxe um novo grau de espiritualidade. Os testemunhos seguem freqüentemente o mesmo padrão: “Quando fui batizado no Espírito, falei em línguas; depois comecei a viver de forma mais santa. Tive mais poder, liberdade e alegria do que em qualquer outra época. Tive mais amor e mais completude como cristão”.

Embora os carismáticos não sejam coerentes nesse ponto, a maioria deles ressalta fortemente o dom de línguas como meio para obter espiritualidade. No entanto, a Bíblia não apóia essa idéia. Por exemplo, Paulo elogiou a igreja de Corinto ao dizer que não lhes faltava “nenhum dom” (1Co 1.7). Os crentes de Corinto possuíam todos os dons espirituais: profecia, conhecimento, milagres, cura, línguas, interpretação de línguas e outros mais. Contudo, eles também possuíam todos os tipos de problemas espirituais. Quanto à posição deles em Cristo, eram espirituais, mas suas ações lançaram a igreja no caos decorrente da carne.

Os crentes da Corinto, no século I, não foram os únicos. Hoje os cristãos enfrentam os mesmos problemas. Somos salvos e temos o Espírito Santo, recebemos alguns dons espirituais, mas também lutamos contra a carne (ver Rm 7). Nenhum dom espiritual pode assegurar-nos a vitória completa nesta vida. A única maneira pela qual podemos vencer é andarmos sempre no Espírito e não sucumbirmos aos desejos da carne (Gl 5.16).

Qualquer carismático discernente e que seja honesto admitirá que tem enfrentado muitos problemas relativos aos desejos da carne. Entusiasmo, euforia, fervor, excitação e emoção — todas as coisas que os carismáticos consideram provas de força espiritual — são incapazes de restringir o desejo, o orgulho, o egoísmo ou a ambição. Os carismáticos, cujo único “poder” é extraído do ápice de sua experiência mais recente, são aparentemente mais propensos à fraqueza e à imaturidade espiritual. A história do movimento pentecostal comprova essa afirmação.(12) Muitos caem na armadilha de crer que a experiência carismática resolve a questão da luta contra a carne. Isso não é verdade. E, para aumentar a dificuldade, os carismáticos, quando caem, costumam não assumir a responsabilidade pelo fracassso; acabam acusando os poderes demoníacos em vez de reexaminarem sua teologia concernente à santificação.

Com todas as alegações de poder e de novos níveis de espiritualidade, os carismáticos não possuem nenhuma prova de que as experiências extáticas os colocam em um nível espiritual novo e duradouro. Não importa o tipo de experiência pelo qual imaginam ter passado ou com que freqüência falam em línguas ou caem no Espírito, os carismáticos ainda enfrentam os mesmos desafios que os demais cristãos enfrentam: a necessidade de andar no Espírito em obediência à Palavra e a morte diária do ego e do pecado.

Raramente os testemunhos e os ensinos dos carismáticos são honestos nesse ponto. E, por causa disso, é comum os carismáticos nutrirem uma forte mentalidade de escapismo. Quantas pessoas se unem ao movimento porque receberam promessas de respostas imediatas para seus problemas ou de um caminho rápido e fácil para a santidade?

SANTIFICAÇÃO OU SUPERFICIALIDADE?

Assim, muito do que ocorre no movimento carismático é mais leviano que divino. A emissora de televisão cristã de minha região apresenta um programa de entrevistas e variedades, ao vivo, todas as noites da semana. O programa tem alcance nacional e apresenta alguns dos maiores nomes do movimento carismático. Assista-o todas as noites da semana e você verá o mesmo. A ênfase recai sobre a diversão e a frivolidade. Há muito riso e manifestações efusivas de emoções. O tempo é ocupado, de modo geral, com entretenimento, fanfarrice, tolice e conversas inúteis. As roupas caras e ostentosas, as maquiagens densas, os comportamentos e as conversas da maioria das mulheres violam claramente todas as interpretações possíveis de 1 Pedro 3.3-6 e 1 Timóteo 2.9-10. Francamente, sinto-me embaraçado por saber que muitos incrédulos extraem de pessoas como essas seu conceito a respeito do cristianismo. E não estou falando sobre carismáticos desconhecidos ou insignificantes, e sim de pessoas que estão à frente da liderança visível desse movimento.

Não há nada de errado em ser feliz; não há nada de errado em louvar a Deus e sentir-se satisfeito. No entanto, os adeptos do movimento carismático parecem determinados a alcançar o ápice emocional, o estímulo imediato, o momento eletrizante, a reunião divertida — pois ignoram as ricas recompensas de uma andar consistente com Deus em favor da alegria superficial de um espetáculo público.

No entanto, a alegria não substitui a piedade. A piedade verdadeira nem sempre traz consigo o ápice emocional. De acordo com as Escrituras, a pessoa repleta do Espírito busca a justiça com um forte senso de convicção e uma profunda consciência de seu próprio pecado. Existe profunda alegria onde o Espírito atua, mas há também grande tristeza. Walter Chantry escreveu com muita propriedade:

“Quando o Espírito vem a homens pecadores, Ele traz inicialmente tristeza. No entanto, nos círculos [carismáticos]... existe apenas a jactância do transporte imediato de alegria e paz. Não devemos confiar em nenhuma experiência religiosa que produza júbilo instantâneo e animação ininterrupta. Na espiritualidade existe mais do que um soerguimento do espírito, uma entrada na vida exuberante ou uma ampliação da continuidade das experiências empolgantes de alguém. Entretanto, em diversas comunidades pentecostais populares será inútil procurar algo além disso...

Ninguém que tenha o Espírito de Deus é capaz de andar em nosso mundo sem gemer profundamente por causa de tristeza e sofrimento. Quando o fedor da imoralidade penetra as narinas do homem cheio do Espírito de Deus, ele não é feliz, feliz, feliz o dia todo... Se o Espírito viesse com poder [hoje], ele não faria os homens baterem palmas de alegria; Ele os faria bater no peito de tristeza”.(13)

Chantry acrescentou: “Ele não é o Espírito Alegre, e sim o Espírito Santo”.(14)

É comum os carismáticos darem a impressão de que o Espírito é mais alegre do que santo. Caso alguém proteste contra a comoção, a gritaria, a frivolidade, a tolice, a irreverência e as falsas promessas do movimento carismático e pentecostal — ele é visto com suspeita. Enquanto isso, a auto-satisfação e a falta de moderação tornam-se mais evidentes, gritantes, impressionantes e excêntricas. Essa característica não é o fruto da piedade genuína.

PAULO VS. SUPER-APÓSTOLOS

Uma das características mais infelizes do movimento carismático é a ênfase contínua nos acontecimentos surpreendentes, dramáticos e sensacionais que os membros esperam que façam parte da experiência carismática cotidiana. O efeito é a intimidação daqueles que não obtêm os mesmos resultados — línguas, profecias, pirotecnias espirituais, tanques miraculosamente cheios de combustível, instruções audíveis da parte de Deus, etc. Aqueles que obtêm resultados menos espetaculares (talvez estejam sob o domínio de um feitiço que não lhe permite obter os resultados – pensam eles) se vêem relegados ao status de segunda classe.

O apóstolo Paulo sabia muito bem o que significava ser desdenhado e intimidado por pessoas que julgavam ter alcançado um nível mais elevado que o dele. Nos dois capítulos finais de 2 Coríntios ele discorreu a respeito dos super-apóstolos que haviam chegado a Corinto e assumido o controle da igreja enquanto ele estava ausente. Os novos “mestres” adoravam enaltecer a si mesmos. Afirmavam que seus poderes, experiências e êxtases haviam afetado emocionalmente os crentes de Corinto. Agora a espiritualidade de Paulo era questionada. Ele não se igualava aos novos astros recém-chegados à cidade.

Qual foi a resposta de Paulo? Leia 1 Coríntios 11 e 12. Paulo não montou uma lista de curas ou de outros milagres realizados. Em vez disso, ele apresentou o que podemos chamar de “ficha criminal” espiritual. Recebeu cinco vezes 39 chicotadas; três vezes foi fustigado com varas; uma vez apedrejado e abandonado à morte; naufragou três vezes; passou uma noite e um dia à deriva em mar aberto.

Paulo experimentou tudo isso. Ele sentiu fome e sono; esteve em perigo entre ladrões, gentios e conterrâneos. Foi expulso de cidades mais vezes do que conseguiu lembrar. Seu espinho na carne (que Deus não removeu, embora Paulo Lhe tenha pedido isso em três ocasiões diferentes) era uma tortura difícil de suportar. E o que Paulo disse a respeito de todas essas coisas?

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte. Tenho-me tornado insensato; a isto me constrangestes. Eu devia ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais “apóstolos”, ainda que nada sou” (2Co 12.10-11).

Paulo jamais teria uma boa impressão dos muitos programas carismáticos de televisão. Em vez de “cair no Espírito”, às vezes ele era quase morto em seu corpo. Paulo não se lembrava bem de suas visões. Em 2 Coríntios 12.1-4 ele mencionou a ocasião de haver sido arrebatado ao terceiro céu quatorze anos antes. No entanto, ele aparentemente não lembrava dos detalhes desse ocorrido. Em vez de ressaltar sua viagem miraculosa de ida e volta ao terceiro céu, Paulo preferiu falar a respeito de suas fraquezas e como elas glorificavam a Deus.

A verdadeira espiritualidade sobre a qual Paulo falava não corresponde às listas mais atuais dos principais best-sellers “cristãos”. De acordo com ele, sua vida era fraca, miserável, temerária e modesta. Ele esteve em constante estado de dificuldade, perplexidade, perseguição e aprisionamento desde a hora em que se rendeu a Cristo até ser decapitado por um carrasco romano (2Co 4.8-11). Isso também é verdade no que concerne aos outros apóstolos, que também sabiam algo a respeito do sofrimento e da verdadeira espiritualidade — em especial Pedro, Tiago e João.

Em nenhuma passagem das Escrituras você achará a menor sugestão de que existe um escape das realidades, das lutas e das dificuldades da vida cristã. O “falar em línguas” não resultará em verdadeira espiritualidade, mas pode afastá-lo do caminho da verdadeira espiritualidade. O caminho correto da verdadeira espiritualidade é definido pela expressão “Andai em Espírito”.

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página 
JP Padilha
–– Fonte 2: 
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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