O que significa ser cheio do Espírito Santo? | John MacArthur



Como vimos, a Bíblia NÃO nos ordena a ter a experiência do “batismo do Espírito”. O cristão é batizado com o Espírito Santo, no Corpo de Cristo, no momento em que crê (1Co 12.13; Rm 8.9). No Novo Testamento, existem sete referências ao batismo com o Espírito. É significativo que todas essas referências estejam no indicativo. Nenhuma delas é uma ordem.

Entretanto, a Escritura está repleta de mandamentos concernentes à vida cristã. As ordens sobre a caminhada cristã encontram-se primariamente nas epístolas; em particular, nas epístolas de Paulo. Em Efésios 4.1 o apóstolo nos advertiu: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados”. Em Efésios 5.18 ele nos informou como atingir esse andar de modo digno: sendo cheios do Espírito.

Paulo começou com a exortação: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução”. Devemos evitar todas as coisas que conduzem ao excesso, à degeneração, ao desperdício ou à falta de autocontrole.

Depois de haver dado a ordem contrastante — “enchei-vos do Espírito”—, ele usou vários parágrafos explicando o significado dessa expressão. Não há menção de euforia por causa de experiências religiosas extáticas. Em vez disso, encher-se do Espírito envolve submissão, amor, obediência e busca do melhor para o próximo.

Quando Paulo disse: “Enchei-vos do Espírito”, usou termos que descrevem o processo de enchimento contínuo. Paulo não estava dando uma opção ou fazendo uma sugestão. As palavras que escolheu foram estruturadas como uma ordem. Devemos ser continuamente cheios do Espírito. O que Paulo quis dizer com isso? Estava exigindo que alcançássemos um tipo de estado super-espiritual do qual nunca nos afastaríamos? Ou ele sugeriu que fôssemos perfeitos?

Paulo jamais afirmou: “Sejam batizados no Espírito”. Ele não estava defendendo uma “segunda obra da graça”. Paulo falava sobre o enchimento contínuo e diário. Você pode ser cheio hoje, mas amanhã é outra história. Essa é a razão pela qual o conceito da “segunda bênção” é inadequado e herético. Quando a “segunda bênção” acaba, o “crente carismático” é relegado à luta contra os mesmos problemas básicos de todo cristão. Embora seja salvo, o crente ainda existe em um corpo humano que tem forte propensão ao pecado. Assim como os israelitas recolhiam o maná todos os dias, assim também os cristãos devem manter-se, diariamente, cheios do Espírito.

VOCÊ NÃO É CHEIO PROGRESSIVAMENTE, E SIM DE UMA VEZ

É importante conhecer o significado exato do vocábulo “encher”, usado por Paulo. Quando pensamos neste verbo, nos vem à mente a figura de um recipiente em que algo é derramado até o recipiente ficar cheio. Isso não era o que Paulo tinha em mente na passagem. Paulo não tinha em mente o enchimento progressivo, e sim o enchimento imediato — o ser completamente permeado pela influência do Espírito Santo.

Freqüentemente falamos sobre pessoas “cheias” de ódio ou de alegria. Com isso, afirmamos que as pessoas se encontram sob o controle total desses sentimentos. Era isso o que Paulo tinha em mente; devemos ser totalmente controlados pelo Espírito Santo.

A Escritura usa muitas vezes a expressão “cheio” nesse sentido. Por exemplo, quando Jesus disse os discípulos que iria deixá-los, a tristeza lhes “encheu” o coração (Jo 16.6). Ela os dominou e consumiu naquele momento. Em Lucas 5 Jesus curou um homem paralítico, e todas as pessoas ficaram atônitas. Elas ficaram “possuídas de temor” (v. 26). Muitos de nós já ficamos “cheios de medo”. O temor não é uma emoção que você compartilha com outros sentimentos. Quando você está com medo, existe apenas o medo e ponto! Em Lucas 6 Jesus debateu com os fariseus acerca do legalismo deles e curou, no sábado, um homem que tinha uma mão ressequida. O resultado foi que os fariseus “se encheram de furor” e começaram a planejar como matariam a Jesus. Em outras palavras, os fariseus estavam furiosos! Quando alguém está cheio de fúria, de ódio, esses sentimentos são capazes de consumir as pessoas. Essa é a razão pela qual a ira pode ser tão perigosa. É possível que a pessoa tenha a razão ofuscada por esses sentimentos.

A palavra ‘cheio’, portanto, é usada na Escritura para descrever aqueles que são totalmente controlados por uma emoção ou influência.

A Escritura afirma exatamente o mesmo quando menciona o encher-se do Espírito Santo. Vemos isso em Atos 4.31: “Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a Palavra de Deus”.

É óbvio que muitos crentes não são cheios do Espírito. Além disso, os carismáticos que afirmam ter passado por essa experiência não apresentam qualquer evidência de serem cheios ou controlados pelo Espírito. Eles escolhem não permitir que o Espírito Santo lhes permeie a vida. Preocupam-se consigo mesmos, com outras pessoas ou outras coisas. Sucumbem ao orgulho, ao egocentrismo, à ira, à depressão e a muitas outras coisas que conduzem ao vazio espiritual.

COMO SER CHEIO DO ESPÍRITO SANTO

O primeiro passo para ser cheio do Espírito é render-se a Ele na caminhada diária. De acordo com Efésios 4.30, o cristão pode “entristecer” o Espírito de Deus. De modo semelhante, 1 Tessalonicenses 5.19 afirma que podemos “apagar” o Espírito. Se podemos entristecer e apagar o Espírito, também podemos tratá-Lo com o devido respeito — render-mo-nos a Ele e permitir Sua atuação em nossa existência. Fazemos isso quando submetemos a vontade, a mente, o corpo, o tempo, os talentos, os tesouros — todas as áreas — ao controle do Espírito Santo.

Isto é um ato voluntário — o compromisso de render-se ao Espírito em cada área da vida. Quando surgirem tentações, recusaremos render-mo-nos a elas. Toda vez que o pecado acenar para nós, nos afastaremos. Sempre que alguma coisa tenta nos afastar da influência do Espírito de Deus, nós a rejeitamos. Não estamos à procura de diversões, distrações e amizades que nos afastem das coisas de Deus. E, quando falharmos, confessaremos e abandonaremos nosso pecado. Deste modo, à medida que o Espírito de Deus permanece no controle, experimentamos Seu enchimento, bem como Sua alegria e Seu poder. Essa é a vida abundante (Jo 10.10).

Se você vive esse estilo de vida, ele se evidenciará, porque as pessoas cheias do Espírito apresentam o fruto da justiça em seu viver.

O QUE ACONTECE QUANDO ALGUÉM É CHEIO DO ESPÍRITO?

Nenhuma parte das Escrituras nos ensina que o enchimento do Espírito é acompanhado por experiências de êxtase ou sinais externos. Na verdade, o ser cheio do Espírito traz ao crente grande regozijo e alegria, mas as epístolas do Novo Testamento revelam que o ser cheio do Espírito produz o fruto do Espírito, e não os “dons” do Espírito.

Efésios 5.19 a 6.9 apresenta uma lista de especificidades: o cristão cheio do Espírito canta salmos, hinos e cânticos espirituais, criando em seu coração melodias ao Senhor. Ele sempre dá graças por tudo em nome de Cristo. Os cristãos cheios do Espírito sujeitam-se uns aos outros, ouvem uns aos outros e se submetem à autoridade do outro. As mulheres cheias do Espírito submetem-se ao próprio marido, e os maridos cheios do Espírito amam cada um a sua esposa, como Cristo ama a igreja. Filhos cheios do Espírito honram seus pais e lhes são obedientes, e os pais cheios do Espírito criam os filhos na disciplina e admoestação do Senhor, sem provocá-los à ira. O empregado cheio do Espírito obedece ao patrão e faz um bom trabalho. E o patrão cheio do Espírito é justo e compreensivo em relação aos empregados. Todas essas coisas são manifestações da vida cheia do Espírito.

Uma passagem correspondente, Colossenses 3.16-22, vincula as benditas manifestações resultantes do enchimento do Espírito a permitir que “habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo” (v. 16). Visto que o encher-se do Espírito e o permitir que Cristo habite em nós produzem os mesmos resultados, o cristão cheio do Espírito é aquele em quem a Palavra de Cristo habita. O cristão cheio do Espírito tem a consciência de Cristo. O cristão cheio do Espírito ocupa-se em aprender tudo o que puder sobre Jesus e em obedecer ao que Ele disse. Esse é o significado de permitir que “habite, ricamente, em vós a Palavra de Cristo”. Ser cheio do Espírito significa envolver-se, de forma total e profunda, em todas as possibilidades do conhecer a Jesus Cristo.

PEDRO: UM PADRÃO DE SER CHEIO DO ESPÍRITO
O apóstolo Pedro é o exemplo perfeito a respeito de como isso se realiza. Pedro gostava de estar perto de Jesus. Ele não desejava afastar-se de Seu Senhor, nem mesmo por um momento. Quando estava perto de Jesus, Pedro falava e realizava coisas incríveis. Em Mateus 16 Jesus perguntou aos discípulos quem Ele era, e Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Jesus disse a Pedro que ele não chegara a essa conclusão por si mesmo (v. 17); o Pai celeste lhe revelara isso.

Em Mateus 14 lemos que os discípulos estavam em um barco, em meio a águas turbulentas. Eles viram Jesus andando sobre a água e indo em direção a eles. Pedro desejava certificar-se de que era Jesus, e por isso falou: “Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo por sobre as águas” (v. 28). Jesus respondeu: “Vem!”, e Pedro começou a andar sobre as águas. Uma vez fora do barco, Pedro teve dúvidas e começou a afundar, mas Jesus o segurou. Sempre que Jesus estava perto, Pedro podia fazer coisas incríveis.

Outro exemplo é o relato da prisão de Jesus no Getsêmani. Um grupo de homens armados aproximou-se para prendê-Lo, mas Pedro não demonstrou temor. Na verdade, ele desembainhou a espada e, de modo irrefletido, decepou a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote. Jesus reprovou a violência de Pedro e curou Malco, colocando-lhe a orelha no lugar. Embora a ação de Pedro tenha sido errada, demonstra que ele se sentia invencível quando estava com Jesus.

No entanto, o que ocorreu poucas horas depois? Jesus estava sendo julgado, e Pedro não estava mais na presença dEle. Perguntaram-lhe três vezes se ele conhecia Jesus. Nas três ocasiões, Pedro negou veementemente o Seu Senhor. As horas da crucificação devem ter sido particularmente difíceis para Pedro enquanto ele observava Seu amado Senhor sofrendo as agonias da cruz.

Mas Jesus ressuscitou dentre os mortos e poucas semanas depois ascendeu ao céu. O que Pedro faria? O Senhor não estava mais a poucos metros ou quilômetros de distância; Ele estava no céu. Obtemos nossa resposta no segundo capítulo de Atos dos Apóstolos. Pedro se levantou em meio a uma multidão hostil, em Jerusalém, e pregou um sermão poderoso que convenceu muitas pessoas a se converterem a Jesus Cristo. Pouco tempo depois, ele seria usado para curar um coxo e falar com grande ousadia diante dos membros iracundos do Sinédrio. O que o tornou tão diferente? Pedro recebeu o Espírito Santo e ficou cheio de Seu poder. Ao ser cheio do Espírito de Deus, Pedro apresentou as mesmas habilidades, ousadia e poder de que tinha quando estava na presença física de Jesus.

Ser cheio do Espírito significa viver cada momento como se estivéssemos na presença de Jesus Cristo. Significa praticar a conscientização da presença de Cristo. Como fazemos isso? Bem, por um lado, quando temos a percepção da presença de alguém, nós nos comunicamos. Isso é verdade no que diz respeito a praticarmos a conscientização da presença de Cristo. Devemos começar o dia dizendo: “Bom dia, Senhor; este é Teu dia e desejo que me faças lembrar, durante todo o dia, que Tu estás ao meu lado”.

Quando somos tentados, devemos falar com o Senhor. Quando tivermos decisões a tomar, devemos pedir-Lhe que nos mostre o caminho. Nossa mente e coração não pode estar, ao mesmo tempo, cheio da consciência da presença de Jesus e de pensamentos pecaminosos. Jesus e o pecado não ocupam o mesmo lugar simultaneamente. Um deles será excluído. Quando deixamos de nos lembrar da presença de Cristo, nossa carne pecaminosa prevalece. Quando nos lembramos da presença de Jesus e nos conscientizamos de que Ele está conosco, somos cheios de Seu Espírito.

COMO VOCÊ PODE SABER QUE ESTÁ CHEIO DO ESPÍRITO?
Como você pode realmente saber que está cheio do Espírito?

Eis algumas perguntas que você deve fazer a si mesmo:

Eu canto? De acordo com a Escritura, você cantará salmos, hinos e cânticos espirituais, à medida que permite que a Palavra de Deus habite ricamente em seu interior (Cl 3.16). Isso sugere que a leitura bíblica diária e a comunhão com o Senhor não são caprichos ou atitudes legalistas, e sim características naturais do ser cheio do Espírito.

Sou grato? A Escritura nos ensina a dar graças a Deus sempre (Ef 5.20, 1Ts 5.18). O que caracteriza a sua vida: a reclamação ou a gratidão? Na verdade existem muitas coisas pelas quais podemos lamentar neste mundo caído. Todos passamos por problemas, irritações, frustrações e crises. Mas temos muitas coisas pelas quais devemos agradecer! Você é agradecido pela presença de Deus? Pela vitória sobre a morte? Pela vitória na vida diária? Pela saúde, família, amigos? A lista é praticamente infindável. Jamais esqueça de contar suas bênçãos.

Relaciono-me bem com meu cônjuge, filhos, amigos, colegas de trabalho e vizinhos? Releia o que Paulo ensinou em Efésios 5.21 a 6.9. Você consegue se submeter aos outros? Obedece tão bem quanto lidera? Se você é casada, submete-se à liderança de seu marido? Se você é casado, ama sua esposa de modo sacrificial, imitando o amor de Cristo pela Igreja?

Sou um empregado confiável e obediente? O trabalho que você realiza faz jus ao salário que recebe? Se você é o patrão, seu comportamento é correto e justo? Tem procurado o bem de seus empregados, e não apenas meios para aumentar o lucro?

Existe pecado não confessado em minha vida? Uma marca inequívoca de estar cheio do Espírito é o senso de pecaminosidade. Pedro disse a Jesus: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8). Quanto mais perto do Senhor você estiver, maior será sua consciência de pecado e sua necessidade de Jesus. Sempre que você perceber um pecado em sua vida, confesse-o imediatamente e o abandone. Existe algo que você alimenta ou deseja? Há algum bem material que lhe seja mais desejável do que ser cheio do Espírito?

Estou vivendo algum tipo de mentira? Sou egoísta? Tenho deixado de orar, ler a Bíblia ou anunciar o evangelho de Cristo?

Independentemente do que lhe falta na vida, você pode se voltar para Cristo e deixar o Espírito Santo assumir o controle neste momento. Apenas conte ao Senhor o seu desejo de viver completamente sob a influência dEle. Em seguida, discipline-se para ser obediente à Palavra.

Render-se ao Espírito e ser cheio dEle produz reações diversas em pessoas diferentes. Algumas O consideram alegre, festivo, como se um fardo lhes saísse dos ombros. Outras podem achar que nada emocionalmente espetacular acontece, mas sentem uma paz e satisfação que não ocorreriam de outra maneira. Qualquer que seja a reação, as Escrituras deixam claro que a “renovação divina” não é uma resposta de longa duração.

Ser verdadeiramente espiritual significa ser verdadeiro a Cristo e render-se a Ele diariamente, momento a momento, de modo coerente e resoluto. Isso não ocorre de uma vez; pelo contrário, ocorre em medidas dolorosamente pequenas, em oportunidades sucessivas. Todavia, não importando como isso acontece, não existem atalhos para a espiritualidade. Não há caminho fácil, e nenhuma “renovação” espiritual singular realizará a obra.

É um processo de renovação da mente (Rm 12.2). Nenhuma fita cassete de mensagens subliminares ou método que ignora o esforço pessoal pode obtê-lo para você. Você tem de estudar para mostrar-se aprovado (2Tm 2.15). Deve ser diligente, resoluto e frutificar com “Perseverança” (Lc 8.15). Pedro delineou o processo contínuo e exigente do crescimento espiritual:

“Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Pe 1.5-8).

Jamais troque essas palavras por uma “promessa” mais rápida. Esopo contou a história de um cão que atravessava uma ponte levando um osso na boca. Ele olhou para a margem do rio e viu seu reflexo na água. O osso visto no reflexo da água parecia melhor do que o osso que ele tinha em sua boca. Por isso, desistiu da realidade em troca do reflexo. Meu grande temor é que haja muitos cristãos que, a despeito de seu grande zelo sem entendimento, estejam agindo de modo semelhante.

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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