Que tipos de "Línguas" são faladas hoje? | John MacArthur



Como explicar a experiência carismática? Diversos carismáticos testemunham que o falar em línguas enriqueceu-lhes a vida. Por exemplo:

“Qual é a utilidade do falar em línguas?” A única coisa que posso responder é: “Qual a utilidade do azulão? Qual a utilidade do pôr-do-sol?” Apenas a enlevação pura e irrestrita, apenas a alegria indescritível e, com ela, bem-estar, paz, descanso e libertação de fardos e tensões”.(31)

E isto:

“Quando comecei a orar em línguas senti-me mais novo e as pessoas disseram que eu parecia vinte anos mais novo... Fui edificado, recebi alegria, coragem, paz e a percepção da presença de Deus. Eu possuía uma personalidade fraca que necessitava disso”.(32)

Esses testemunhos são chamarizes poderosos para o falar em línguas. Se as línguas podem conceder bem-estar e alegria, além de fazê-lo parecer mais novo, o mercado é ilimitado.

Por outro lado, a evidência para apoiar essas alegações é duvidosa. Poderia alguém afirmar, com seriedade, que as pessoas que falam em línguas hoje vivem para Cristo de maneira mais santa e mais sensata do que aqueles que não falam em línguas? O que podemos dizer sobre todos os líderes carismáticos cujas vidas, nos últimos anos, provaram ser moral e espiritualmente CORROMPIDAS? Será que a evidência comprova que as “igrejas” carismáticas são mais fortes espiritualmente e mais sólidas que as igrejas de crentes bíblicos que não defendem os dons? A verdade é que devemos gastar muito tempo e com bastante diligência para encontrar uma comunidade carismática em que o crescimento espiritual e o entendimento da Bíblia sejam o foco genuíno. Se o movimento não produz cristãos mais espirituais ou crentes que possuem mais conhecimento teológico, qual é o seu fruto? E o que dizer das diversas pessoas que pararam de falar em línguas e testemunham não terem experimentado paz genuína, satisfação, poder e alegria enquanto não deixaram o movimento carismático? Por que a experiência carismática redunda com tanta freqüência em desilusão, à medida que o ápice emocional das primeiras experiências extáticas se torna mais difícil de repetir?

Indubitavelmente, muitas pessoas que falam em línguas afirmam os benefícios da prática em diversos graus. Entretanto, normalmente — como nos testemunhos já citados —, elas estão falando a respeito de como a experiência as faz sentir-se ou parecer, e não sobre como a experiência faz com que se tornem melhores cristãos. Todavia, a melhora da aparência e dos sentimentos nunca foi o resultado do dom do Novo Testamento.

É
significativo notar que pentecostais e carismáticos não podem corroborar suas reivindicações de que o que eles estão fazendo é o dom bíblico de línguas. Não conhecemos nenhum caso autêntico ou comprovado de que qualquer pentecostal ou carismático tenha realmente falado em uma língua identificável e traduzível.(33) O lingüista William Samarin escreveu: “É muito duvidoso que os casos alegados de xenoglossia [línguas estrangeiras] entre os carismáticos sejam verdadeiros. Sempre que se tenta verificá-los, descobre-se que os relatos foram muito distorcidos ou que os ‘testemunhos’ são incompetentes ou não-confiáveis do ponto de vista lingüístico”.(34) “Os proponentes carismáticos não têm apresentado qualquer evidência além da suposição de que essas línguas são o mesmo fenômeno” do dom descrito no Novo Testamento”.(35)

Portanto, como podemos explicar o fenômeno?

Existem várias possibilidades. Primeira, as línguas podem ser de origem satânica ou demoníaca. Alguns críticos do movimento desejam atribuir todas as supostas línguas à atuação do Diabo. Embora eu não concorde com isso, estou convencido de que Satanás encontra-se muitas vezes por trás dos fenômenos que se passam por dons do Espírito. Na verdade, ele está por trás de toda religião falsa (1Co 10.20), e sua especialização é fraudar a verdade (2Co 11.13-15). Em nossos dias, muitas pessoas nas igrejas são suscetíveis às mentiras de Satanás. “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4.1).

Ben Byrd, que anteriormente falava em línguas, crê que algumas de suas capacidades extraordinárias eram “poderes psíquicos e provavelmente satânicos”:

“Muitas, muitas vezes orei em línguas em favor das pessoas, com os olhos fechados. Eu era capaz de enxergar, como se meus olhos estivessem abertos. Tinha consciência de tudo o que acontecia à minha volta, mas meus olhos estavam fechados. Sentia-me como se estivesse em um estado de sono estranho, mas vívido... quase dormente em meu corpo e alerta em minha mente. Agindo através de outra esfera, é possível realizar coisas, mas lembre-se, por favor, de que nem todos os dons procedem de Deus”.(36)

As línguas extáticas são comuns nas falsas religiões. As edições mais modernas da Enciclopédia Britânica contêm artigos úteis sobre a glossolalia entre os pagãos, usada em seus ritos religiosos. Há registros da África Oriental em que pessoas possessas por demônios falam fluentemente em suaíli ou inglês, embora em circunstâncias normais essas línguas não sejam entendidas. Entre o povo tonga (África), quando um demônio é exorcizado, geralmente canta-se uma música em zulu, ainda que os tongas não entendam zulu. O exorcista supostamente fala em zulu por um “milagre das línguas”.


Hoje as línguas extáticas são encontradas entre muçulmanos, esquimós e monges tibetanos. Um laboratório de parapsicologia da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia relata casos de pessoas que falam em línguas entre os praticantes do ocultismo.(37)

Esses são uns poucos exemplos da tradição multissecular da glossolalia que continua hoje entre pagãos, hereges e ocultistas. A possibilidade de influência satânica é uma questão séria e não deveria ser descartada irrefletidamente pelos carismáticos.

Outra possibilidade é a de que as línguas sejam um padrão de comportamento aprendido. Estou convencido de que a maior parte dos praticantes da glossolalia se enquadra nesta categoria. Como vimos, líderes carismáticos como Charles e Frances Hunter ensinam às pessoas como receber o dom de falar em línguas. Como isso pode ser visto, se não como um comportamento aprendido? Os Hunters emocionam as pessoas, fazendo-as “orar” e cantar “louvores”; sugerem uma simples sílaba para o começo e encorajam as pessoas a repetir “pequenos sons engraçados”.(38) Isso não é evidentemente a atuação espontânea do dom.

Tampouco é um tipo de experiência “sobrenatural”. Não é um milagre. É algo que qualquer pessoa pode aprender. É surpreendente o número de pessoas que falam em línguas usando os mesmos termos e sons. Todas elas falam essencialmente da mesma maneira. Qualquer pessoa que as ouvir suficientemente pode fazê-lo.


No livro The Psychology of Speaking in Tongues (A Psicologia de Falar em Línguas), John Kildahl concluiu, após estudar muitas evidências, que a glossolalia é uma habilidade adquirida.(39) Kildahl, psicólogo clínico, e seu associado, Paul Qualben, psiquiatra, foram comissionados pela American Lutheran Church (Igreja Luterana Americana) e pelo National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental) a realizarem um estudo amplo sobre a glossolalia. Depois de todo o seu trabalho, chegaram à firme convicção de que se trata de um “fenômeno aprendido”.(40)

Um estudo mais recente, conduzido pela Universidade de Carleton, em Ottawa (Canadá), demonstrou que, com instrução e modelação mínimas, qualquer pessoa pode aprender a “falar em línguas”. Sessenta pessoas que nunca haviam falado em línguas ou ouvido qualquer pessoa fazê-lo foram usadas em uma experiência. Depois de duas sessões breves que incluíam exemplos audiovisuais da prática de glossolalia, pediu-se a todos os participantes que tentassem falar do mesmo modo por trinta segundos. No teste de trinta segundos, todas as pessoas foram capazes de imitar a glossolalia de forma regular, e 70% delas conseguiram falar com fluência.(41)

Um membro de nossa igreja que costumava falar em línguas confidenciou-me: “Eu aprendi a falar em línguas. Vou lhe mostrar”. Em seguida, começou a falar em línguas. Os sons provenientes dele eram exatamente iguais aos das línguas que ouvi na boca de outras pessoas. Apesar disso, uma afirmação freqüente dos carismáticos é que cada indivíduo recebe supostamente uma língua “particular” para orar.

Ouvi, por acaso, um carismático zeloso tentando ensinar um recém-convertido a falar em línguas. Achei muito estranho que esse homem tenha sentido necessidade de esforçar-se para ajudar o “bebê” cristão a receber o dom de línguas. Por que uma pessoa deveria aprender a receber um dom do Espírito Santo? No entanto, o movimento carismático está repleto de pessoas que o “ensinarão” alegremente a falar em línguas.

Enquanto realizava pesquisas para escrever este livro, assisti a uma conversa em um programa de televisão. Uma pessoa confessou ter problemas espirituais. Outro carismático lhe disse: “Você tem usado o dom de línguas diariamente? Você tem falado em sua língua todos os dias?”

“Não, não tenho”, a pessoa admitiu.

Ao que a outra replicou: “Bem, este é o seu problema. Você precisa falar em línguas todos os dias, sem importar como. Apenas comece, e o Espírito Santo dará continuidade”.

Essa conversa é bastante reveladora em diversos aspectos. Se o Espírito Santo concedeu a alguém o dom de línguas, por que a pessoa precisa se esforçar para começar a usá-lo?

No movimento carismático existe uma forte pressão entre os adeptos para que as pessoas se comportem da mesma maneira que as demais, integrando, possuindo e demonstrando os mesmos dons e o poder. As línguas são a “resposta” para os problemas espirituais.

É fácil perceber o motivo pelo qual as línguas se tornaram o grande denominador comum, o teste universal de espiritualidade, ortodoxia e maturidade dos carismáticos. Contudo, esse é um teste falho.

Kildahl e Qualben escreveram:

“Nosso estudo produziu a evidência conclusiva de que os benefícios relatados pelos que falam em línguas são subjetivamente reais e contínuos e dependem da aceitação de um líder e de outros membros do grupo, e não da experiência real de verbalização das palavras. Quando aquele que fala em línguas rompe o relacionamento com o líder do grupo ou sente-se rejeitado pelo grupo, a experiência da glossolalia não é mais subjetivamente significativa”.(42)


Kildahl e Qualben relataram também uma ampla desilusão entre as pessoas submetidas ao estudo. Algumas delas perceberam instintivamente que sua atuação era um comportamento aprendido. Não havia nada sobrenatural nele. Em pouco tempo, passaram a enfrentar os mesmos problemas e dificuldades que sempre enfrentaram. De acordo com eles, quanto mais sincera era a pessoa ao começar a falar em línguas, tanto mais desiludida ela se tornava ao cessar a prática.

Mais uma possibilidade foi sugerida: as línguas podem ser psicologicamente induzidas. Alguns dos casos mais estranhos de falar em línguas foram explicados como aberrações psicológicas. Quem fala em línguas entra no automatismo motor, que é descrito clinicamente como o desligamento radical e íntimo da pessoa em relação àquilo que a rodeia. O automatismo motor resulta na dissociação de quase todos os músculos voluntários do controle consciente.

Você já viu alguma reportagem mostrando jovens adolescentes em shows de rock? Devido à emoção, ao ardor e ao barulho, eles abrem mão do controle voluntário das cordas vocais e dos músculos. Caem ao chão como em um ataque.

A maior parte das pessoas, em uma ocasião ou outra, passa por momentos em que se sente um pouco desligada, aturdida e fraca. Sob certas condições, particularmente quando há grande fervor emocional, uma pessoa pode passar com facilidade a um estado em que perde o controle consciente do corpo. A glossolalia pode resultar desse estado.

A condição em que a maior parte das pessoas sente a euforia da experiência das línguas parece estar bastante relacionado com o estado de hipnose. Kildahl e Qualben afirmaram em seus estudos que “a possibilidade da hipnose constitui o elemento indispensável da experiência de glossolalia. Se alguém pode ser hipnotizado, ele se encontra nas condições adequadas para falar em línguas”.(43)

Após o estudo extensivo dos praticantes da glossolalia, Kildahl e Qualben concluíram que as pessoas mais submissas, sugestionáveis e dependentes de líderes eram as mais aptas a falar em línguas.(44) William Samarin concorda que “pessoas de certo tipo são atraídas a esse tipo de religião que usa as línguas”.(45) É obvio que nem todas as pessoas que falam em línguas se encontram nessa categoria; no entanto, algumas delas, se não a maioria, encaixam-se perfeitamente. Observe os programas carismáticos na televisão. As pessoas presentes aprovam, com a inclinação da cabeça, e dizem ‘amém’ a tudo o que se diz do púlpito, mesmo os ensinamentos mais insólitos e bizarros. Elas se submetem facilmente ao poder da sugestão e àquilo que é sugerido. Quando as emoções chegam ao ápice e a pressão se eleva, qualquer coisa pode acontecer.

Não existe uma maneira de analisar cada pessoa que fala em línguas e de apresentar as razões claras de seu comportamento. No entanto, como vimos, existem várias explicações possíveis para a glossolalia entre os carismáticos modernos. O Dr. E. Mansell Pattison, membro da Christian Association for Psychological Studies (Associação Cristã de Estudos Psicológicos), disse:

“O resultado de nossa análise é a demonstração dos mecanismos naturais que produzem a glossolalia. Como fenômeno psicológico, a glossolalia é fácil de ser produzida e prontamente compreensível... Posso acrescentar minhas observações extraídas de experiências clínicas com pacientes neurológicos e psiquiátricos. Em certos tipos de desordens cerebrais resultantes de derrames, tumores, etc., o paciente sofre de interrupções nos padrões automáticos e físicos do sistema da fala. Se estudarmos esses pacientes “afásicos”, poderemos observar a mesma decomposição da fala que ocorre na glossolalia. Decomposição similar da fala ocorre no raciocínio e no padrão da fala de pessoas esquizofrênicas; essa decomposição é estruturalmente equivalente à glossolalia.

Esses dados podem ser entendidos como a demonstração de que os mesmos estereótipos da fala resultarão, sempre que a fala sofrer a interferência de ou for prejudicada pelo cérebro, pela psicose ou pela renúncia passiva do controle espontâneo.(46)

Como vimos, os candidatos à prática da glossolalia são muitas vezes instruídos, explicitamente, a se submeterem à “renúncia passiva do controle espontâneo”. Eles são ordenados a se libertarem de si mesmos, a desistirem do controle da própria voz. São treinados para pronunciarem umas poucas sílabas e a permitir-lhes fluência. Eles não devem pensar no que dizem.

Charles Smith, falecido dirigente do Master’s Seminary, escreveu um capítulo inteiro sobre as explicações possíveis para o fenômeno moderno da glossolalia. Ele sugeriu que as línguas podem ser produzidas por “automatismo motor”, “êxtase”, “hipnose”, “catarse psíquica”, “psique coletiva” ou “estímulo da memória”.(47) O fato é que as línguas podem ser explicadas de muitas maneiras. Entretanto, a conclusão inescapável é que as línguas existem hoje em muitas formas fraudulentas, sem a ação do Espírito Santo, tais como existiram na igreja de Corinto no século I.

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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