A Igreja NÃO É a continuação de Israel | JP Padilha


Maior parte do sistema religioso crê e ensina erroneamente que a Igreja é a continuidade de Israel. Essa crença é adotada pelo catolicismo romano e também por grande parte do protestantismo fundamentalista. A teoria é baseada na famigerada “Teologia do Pacto”, que contaminou maior parte da cristandade ao longo dos tempos, principalmente após o século 4º.

Na história vemos que a ideia herética de que a Igreja seja a continuidade de Israel produziu algumas aberrações, tais como o desejo de destruir os judeus, a começar pelos católicos (Inquisição) e depois por protestantes (Alemanha). Um exemplo disso é Lutero, que tinha uma aversão mórbida pelos judeus, como se eles fossem um câncer no desenrolar da história do mundo. Apesar de Deus ter usado Sua Palavra para resgatar a doutrina da “salvação pela graça” e “justificação pela fé” por meio de Lutero, o mesmo não pode ser dito a respeito da amargura que ele tinha contra os judeus devido à má compreensão sobre o povo terrenal de Deus – Israel.

O sentimento de anti-semitismo de Martinho Lutero pode ser visto em um de seus escritos:

"Em primeiro lugar, suas sinagogas deveriam ser queimadas... Em segundo lugar, suas casas também deveriam ser demolidas e arrasadas... Em terceiro, seus livros de oração e Talmudes deveriam ser confiscados... Em quarto, os rabinos deveriam ser proibidos de ensinar, sob pena de morte... Em quinto lugar, os passaportes e privilégios de viagem deveriam ser absolutamente vetados aos judeus... Em sexto, eles deveriam ser proibidos de praticar a agiotagem... Em sétimo lugar, os judeus e judias jovens e fortes deveriam pôr a mão no debulhador, no machado, na enxada, na pá, na roca e no fuso para ganhar o seu pão no suor do seu rosto... Deveríamos banir os vis preguiçosos de nossa sociedade ... Portanto, fora com eles... Resumindo, caros príncipes e nobres que têm judeus em seus domínios, se este meu conselho não vos serve, encontrai solução melhor, para que vós e nós possamos nos ver livres dessa insuportável carga infernal – os judeus". ("Concerning the Jews and their lies" - por Martinho Lutero).

Como se pode ver, a mente de Martinho Lutero, por consequência da Teologia do Pacto que permeou a cristandade em seu tempo e se alastrou pelo mundo até o século 19, era completamente cega quanto ao futuro profetizado para Israel na Bíblia. Lutero não tinha nenhuma compreensão sobre as dispensações das Escrituras e os desdobramentos delas.

TEMOS QUE PREGAR O “EVANGELHO” AOS QUATRO CANTOS DO MUNDO PARA QUE CRISTO POSSA RETORNAR PARA ARREBATAR A SUA IGREJA?

Outras consequências podem ser vistas por causa desse pensamento a respeito de Israel e Igreja. Por conta das pessoas pensarem que não existe um futuro para Israel e que tal futuro seria a Igreja, elas automaticamente são levadas a concluir que os comandos de se “pregar o evangelho aos quatro cantos do mundo para Cristo poder voltar” são para os cristãos.

Essas pessoas imaginam que é necessário que todo homem, em cada lugar do mundo, deve ser evangelizado como condição prévia para a volta de Cristo, quando, na verdade, a ordem do "Ide" em Mateus 10.7 e 24.14 foi dada aos apóstolos em circunstâncias claramente judaicas. Ou seja, Jesus estava falando do "evangelho do Reino" ali. O evangelho do reino é aquele que anuncia a volta do Rei de Israel. É muito importante entender isto: que o evangelho do reino, descrito por Jesus nestas ocasiões, não é o evangelho da graça. O evangelho do reino diz: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”, enquanto o evangelho da graça diz: “Creia no Senhor Jesus e será salvo”.

Segundo os que pensam que devemos pregar o “evangelho do reino” a toda criatura para Jesus voltar, enquanto o mundo não for totalmente evangelizado Cristo não poderá retornar para arrebatar a Sua igreja, o que Ele prometeu com tanta veemência. Portanto, segundo os que interpretam a Bíblia com tudo junto e misturado, seria bobagem crer que o Senhor poderia vir a qualquer momento para arrebatar a Sua amada Noiva (Igreja), como era a esperança de Paulo e de outros, os quais obviamente sabiam que o evangelho da graça não seria pregado em todo o mundo dentro do período de suas vidas.

Veja o que Paulo diz aqui: “Depois NÓS, OS QUE FICARMOS VIVOS, seremos arrebatados...” (1 Tessalonicenses 4.17).

A FALSA TEOLOGIA DO DOMÍNIO

Outra aberração que podemos constatar na crença de que o cristianismo precisa primeiro conquistar e dominar o mundo para que Cristo possa voltar, são as cruzadas, antigas e modernas, em sua ânsia conquistadora de dominar a terra e transformá-la em um “mundo cristão”. O desejo norte-americano de uma hegemonia ocidental, que às vezes faz uso de meios militares para atingir tal fim, faz parte do programa da “Teologia do Domínio” (ou Teologia do Pacto, para ser mais exato). A Teologia do Domínio, professada pelo ex-presidente Bush e por parte dos batistas fundamentalistas do sul dos Estados Unidos, vem desse desejo.

ISRAEL E IGREJA SÃO DOIS POVOS DISTINTOS

Sem mais delongas, vamos aos fatos: Israel e Igreja são dois povos diferentes, e isso é claramente explicado em Romanos 11. Israel está no presente momento em estado de torpor e cegueira enquanto Deus trata com a Igreja. Todavia, isso irá mudar. No fim, um remanescente judeu fiel irá se converter a Deus, e Deus terá os dois povos: Israel, escolhido desde a fundação do mundo (Mt 25.34), e a Igreja, escolhida antes da fundação do mundo (Ef 1.4).

A Igreja não é Israel. Eu não sou o “Israel de Deus”. Sou um cristão. Para ser Israel eu teria que me tornar israelita ou, no mínimo, me tornar um prosélito, passando a ter minhas práticas e costumes pautados nas ordenanças judaicas. Além disso, para ser um israelita, eu teria que buscar em Jerusalém o meu lugar de adoração (o Templo de Jerusalém), como fora ordenado aos judeus no Antigo Testamento.

Romanos 11 fala muito disso e nós deveríamos dar mais atenção ao que está explícito nesta passagem.

Mario Persona explica:

“Romanos 11 usa como exemplo a oliveira, a árvore de onde provém o azeite que é tantas vezes usado nas Escrituras como figura do Espírito Santo, pois o azeite é o combustível da luz que ilumina. O assunto do capítulo não é a salvação ou o testemunho individual, mas o testemunho coletivo de Deus na terra, ora nas mãos de seu povo Israel, ora nas mãos da Igreja, em diferentes épocas sob influência e direção do Espírito Santo.

Israel, os ramos naturais, foram quebrados, e a Igreja, os ramos de oliveira brava, enxertados. Considerando que uns e outros são meros ramos, podemos deduzir que a árvore continua existindo independente deles, porque a árvore é o testemunho de Deus em sua totalidade. Os ramos são aquelas coisas que partem do tronco e expandem seu alcance, o que vem bem de encontro à ideia de um testemunho crescente e abrangente.

Em Gênesis 12 Deus prometeu a Abraão que ele seria o pai de uma grande nação, e obviamente sabemos tratar-se de Israel. Abraão foi pai de Isaque e avô de Jacó, que teve seu nome mudado para Israel. A promessa incluía que todas as nações da terra seriam abençoadas por meio de Israel, ao qual Deus chamou de sua "menina dos olhos".”

Agora note a seriedade de tudo isso:

Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus” (João 4.22).

Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gálatas 3.14).

Essas passagens não estão dizendo que os gentios (nós) se tornariam judeus ou Israel para serem abençoados. A mensagem está dizendo que nós, gentios, desfrutaríamos da bênção que, por intermédio de Abraão e de Israel, chegaria até nós na Pessoa de Jesus Cristo e de seu sacrifício consumado. Portanto, hoje somos salvos independente de nos tornarmos judeus ou parte da nação de Israel. O fato de nós, cristãos, existirmos, independente de Israel, não significa que Israel tenha deixado de ser a “menina dos olhos” de Deus, a nação terrenal de Deus, e muito menos significa que esta nação tenha perdido as bênçãos das promessas que Deus lhe deu.

Se antes Deus olhava para o mundo e enxergava apenas dois povos, Israel e gentios, hoje Deus enxerga três: Israel, gentios e Igreja. Veja:

Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus” (1 Coríntios 10.32).

Ora, se o Espírito Santo de Deus faz essa distinção nas Escrituras, quem somos nós para dizer que Israel e Igreja são a mesma coisa? Quem nos persuadiu a crer em uma aberração dessas? Ora, Paulo não faria tal distinção entre esses três povos se a Igreja fosse apenas uma continuidade de Israel, e nem falaria de um futuro ainda a ser realizado para Israel em Romanos 11 e em várias outras passagens de suas epístolas.

Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Romanos 11.1).

Nessa passagem Paulo está falando do povo de Israel. Basta ler o contexto. Paulo deixa claro que Deus não rejeitou Seu povo terrenal, Israel, citando ele próprio como exemplo inato de um israelita. O apóstolo se apresenta aqui como um judeu de nascença e apresenta as credenciais que o identificam como um judeu, embora ele seja membro do Corpo de Cristo (Igreja) agora.

DEUS NÃO É UM MENTIROSO

Sendo assim, embora Israel tenha falhado em seu testemunho, sua identidade como povo e as promessas ainda não cumpridas a esta nação não deixaram de existir. Por que? Porque Deus não é um mentiroso. Portanto, Suas promessas para Israel são verdadeiras e certamente ainda serão cumpridas (2Co 1.20). As pessoas que se perderam nas heresias da Teologia do Pacto necessitam reajustar sua eclesiologia e escatologia para se conformarem com a verdade das Escrituras e com a verdadeira natureza de Deus, o qual não mente. E dizer que Israel não tem um futuro a ser cumprido por Deus é chamá-lo de mentiroso. Não seria isso uma blasfêmia? Essa é a lógica de tudo isso.

É realmente difícil compreender como os ditos “teólogos” e “pregadores” da Teologia do Pacto podem aplicar à Igreja promessas da Escritura que, em seu sentido normal de interpretação, aplicam-se claramente ao povo de Israel e à Palestina. E essas promessas ainda devem ser cumpridas no futuro. Os livros proféticos estão cheios de ensinamentos que, se forem interpretados normalmente, sem alegorizações infundadas, seriam inspiradores. O aprendizado resultante da compreensão dessas profecias seria uma magnífica segurança de um futuro grande e glorioso. A partir do instante em que essas profecias são espiritualizadas em sua interpretação, elas se tornam ridículas – Quando aplicadas à igreja, elas são uma comédia.

Como já fora dito, o Israel de Deus tornará a ser o centro da atenção neste mundo e Deus tornará a tratar com ele, não importa quanto tempo demore. Se não fosse assim, não teríamos mais que nos preocupar com Israel, e até seria um favor se tal nação desaparecesse da face da terra para deixar o caminho livre para a Igreja. Era assim que pensavam os católicos medievais, era assim que pensava Lutero e outros protestantes, e é assim que muitos ainda pensam.

O apóstolo Paulo, apesar de admitir o fracasso de Israel e falar da Igreja sendo introduzida por Deus como Seu testemunho na presente dispensação, deixa claro que ainda há uma dispensação à frente, chamada de “dispensação da plenitude dos tempos”
(Ef 1.10), prevista para Israel no fim de toda a história humana, confirmando assim a identidade e singularidade desse povo que ainda irá ver cumpridas as promessas feitas por Deus no Antigo Testamento:

Digo, pois: Porventura [os israelitas] tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Romanos 11.11-12).

O TESTEMUNHO DE ISRAEL E O TESTEMUNHO DA IGREJA

Abaixo veremos alguns versículos onde Paulo mostra diretamente à Igreja o perigo de seu testemunho também ser cortado, como foi o caso de Israel por sua incredulidade. E é exatamente o que tem ocorrido. Israel falhou em seu testemunho e, agora, a Igreja também mostra que falhou. Todavia, deixaremos para falar sobre a falha no testemunho cristão em outro artigo. Nas epístolas que se seguem o apóstolo fala de dois povos distintos. Se a Igreja fosse a continuidade natural de Israel, não haveriam essas comparações na Bíblia. O versículo 23 de Romanos 11, por exemplo, deixa bem claro que Israel continua apenas em "stand by" (ou em suspensão), mostrando assim a possibilidade de sua readmissão ao testemunho de Deus na terra. E é exatamente o que ainda irá ocorrer no chamado Milênio (os mil anos de reinado de Cristo na terra).

E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar” (Romanos 11.23).

Finalmente, a Bíblia mostra que é apenas uma questão de tempo para que isso aconteça: "até que a plenitude dos gentios haja entrado". Veja:

Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados” (Romanos 11.25-27).

A expressão "quando eu tirar os seus pecados" denota que a Igreja não é a continuidade de Israel, mas uma entidade distinta, pois Deus ainda irá tratar com Israel num futuro próximo, que é o tempo também citado no versículo 31:

Assim também estes agora foram desobedientes, para também alcançarem [no futuro] misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada” (Rom 11.31).

A HISTÓRIA SOMADA ÀS PROFECIAS

É importante e muito motivador notar que a história se encaixa com todas essas profecias que temos visto, especialmente com relação a Israel. Em 1967, soldados judeus entraram em Jerusalém, largaram suas armas e correram para o Muro das Lamentações, chorando profundamente. Isso mostra que atualmente Israel tem mostrado, com mais clareza do que nunca, que seu atual estado está em perfeita harmonia com o que Deus prometeu que faria a esta nação. É impressionante ver teólogos do pacto negarem a significância disso no corredor da história em conformidade com as Escrituras. Ora, no ano 70 d.C, até 1967, cerca de 2.000 anos até aqui, Jerusalém tem estado sob o domínio e controle dos gentios, e agora os judeus reconquistaram a cidade de Jerusalém. Jesus profetizou sobre isso. Ele disse que Jerusalém seria pisada sob os pés dos gentios até que a medida destes fosse completada (Romanos 11.25-27). Isso é assombrosamente maravilhoso para quem aceita o que é dito pelas Escrituras sagradas, mas é estarrecedor para quem ainda acredita que Israel é uma nação esquecida por Deus e que a Igreja tomou o seu lugar de alguma forma espiritual.

Todavia, o que parece estarrecedor e confuso para os teólogos do pacto está perfeitamente de acordo com as Escrituras. A sobrevivência dos judeus é exatamente o que deveríamos esperar ao aplicarmos consistentemente a hermenêutica literal à profecia bíblica e se entendermos que a eleição soberana de Deus sobre a nação de Israel é incondicional e distinta da Igreja. Ele fez promessas à Israel no Antigo Testamento que ainda não foram cumpridas, mas serão no futuro. Uma futura geração de israelitas étnicos na salvação e no restabelecimento do reino messiânico terreno está por vir, juntamente com o cumprimento total de todas as promessas feitas à Israel.

A ideia da Igreja substituir Israel ou ser sua continuação não deve ser tratada como uma mera questão secundária ou “opinião teológica”, como muitos têm afirmado. Esse pensamento a respeito de Israel e Igreja é uma heresia e ponto final. A propósito, eu a considero até mesmo maligna por desprezar todas as promessas feitas por Deus especificamente a esse povo e tentar usurpá-las para a Igreja. Até meados do século 19 Israel era visto pela cristandade em geral com indiferença e desprezo. Agora pense comigo, caro leitor: a "menina dos olhos" de Deus vista com desprezo pelos que se dizem seguidores de Cristo, um judeu! Consegue imaginar como isso é visto por Deus?

Desde o século 19 temos visto como muitos entenderam as verdades dispensacionais da Bíblia. Porém, infelizmente a atual Teologia da Prosperidade, filha caçula da Teologia do Pacto, volta a tentar aplicar à Igreja as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento, causando um retrocesso dos cristãos aos tempos do catolicismo medieval.

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