Dispensacionalismo: A importância da hermenêutica bíblica | JP Padilha



A hermenêutica verdadeiramente bíblica exige três regras indispensáveis para uma teologia honesta e sem distorções da Escritura Sagrada:

1. A HERMENÊUTICA HISTÓRICO-GRAMATICAL CONSISTENTE ELIMINA ALEGORIZAÇÕES INFUNDADAS

Se a maioria dos cristãos soubesse dos desdobramentos que a Eclesiologia e Escatologia trazem para a vida prática do cristão, não estaria atribuindo o tema a uma mera “questão secundária" ou “erro teológico” ao invés de uma clara heresia. A prática do “pedobatismo” (batismo infantil), por exemplo, é só a ponta do Iceberg herético da Teologia do Pacto ou Aliancista. Essa tradição romana ficou enraizada no coração de maior parte da cristandade e causa danos irreversíveis na ortodoxia cristã de forma direta. Há alguns anos atrás eu não diria isso, pois ainda era imaturo demais para perceber. Mas, tendo me aprofundado um pouquinho no tópico e vasculhado as conseqüências doutrinárias resultantes de uma Eclesiologia surgida com as alegorias mirabolantes de Agostinho, descobri que o assunto não se trata meramente de ênfase, mas de conteúdo. Tanto os apóstolos como os cristãos dos dois primeiros séculos pós-apostólico jamais foram conhecidos por defenderem uma visão anti-dispensacionalista. Por que? Porque a visão dispensacional das Escrituras é o que se espera de alguém que lê a Bíblia da forma intencionada pelo Espírito Santo.

O que é a hermenêutica?

A hermenêutica bíblica é o estudo dos princípios e métodos de interpretação do texto bíblico. Segundo os comandos claros de 2 Timóteo 2.15, ao se envolverem com a hermenêutica, os crentes devem "procurar se apresentar a Deus aprovados, como obreiros que não têm de que se envergonharem, que manejam bem a palavra da verdade” (v.15).

Deste modo, o objetivo central da hermenêutica dispensacionalista é nos guiar dentro das passagens bíblicas com o propósito de nos levar a uma interpretação aplicada pela própria Escritura, e jamais pela ótica limitada de métodos humanistas, tais como o método de interpretação histórico-crítico ou alegórico. Assim, com base no método histórico-gramatical [literal] dos textos sagrados, atestado e aprovado pelo tempo, a intenção da hermenêutica dispensacional é mostrar o genuíno entendimento e aplicação da Teologia Bíblica. Toda teologia é, por definição, bíblica. Mas, quando falamos de Teologia Bíblica em termos de método interpretativo, estamos a tratar daquilo que foi dito somente pelos autores inspirados das Escrituras Sagradas, sem subterfúgios em opiniões de teólogos e/ou manuscritos não-inspirados – ou até mesmo na aplicação da Teologia Filosófica, que inclina-se a defender a fé cristã a nível apologético e se ocupa de temas não respondidos de forma direta pela Escritura.

A regra indispensável e crucial para o método histórico-gramatical de interpretação é que a Bíblia deve ser interpretada literalmente, a menos que ela mesma nos forneça outra interpretação textual que aponte claramente para um simbolismo intencionado pelo autor inspirado. Isso significa que a Bíblia deve ser sempre interpretada com base em seu significado normal, literal ou simples, a menos que o texto sagrado exija uma visão alegórica do texto que está sendo lido e o autor inspirado mostre claramente sua intenção de apontar para uma conclusão simbólica da passagem.

A hermenêutica dispensacionalista se diferencia de todas as outras hermenêuticas por conta de sua consistência. Quando de frente para uma passagem bíblica, ela nos mostra de forma concisa se alguma figura de linguagem está, de fato, sendo empregada no manuscrito dos profetas ou dos apóstolos. A primeira intenção do leitor ao abrir a Bíblia deve ser buscar o sentido normal/literal do texto. Essa regra é imprescindível. Após fazê-lo, caso não seja possível interpretar a passagem de forma literal, então o leitor pode e deve tentar encontrar outra interpretação que não seja a literal.

Na Bíblia não existem contradições ou múltiplos sentidos. Ela diz o que deseja realmente dizer e não pergunta ao homem se ele tem uma opinião secundária a respeito do que está escrito. Por exemplo, quando Jesus fala de ter alimentado "os cinco mil homens" em Marcos 8.19, o princípio da hermenêutica irrefutável exige que entendamos os “cinco mil” como um número literal – ou seja, havia uma multidão de cinco mil pessoas esfomeadas e que foram alimentadas com verdadeiros pães e peixes por um Salvador dotado de poder milagroso. Qualquer tentativa de "espiritualizar" o número descrito em Marcos 8.19, ou de negar um milagre literal de Cristo nesse contexto, é lançar a inerrância das Escrituras na lata do lixo, acrescentando alegorias não intencionadas pelo Espírito Santo. Isso é ignorar as leis da linguagem exigidas pelo autor inspirado, que é comunicar um número real, literal e conciso, sem brechas para alegorizações.

Muitos intérpretes, sobretudo aliancistas [adeptos da teologia do pacto] cometem o erro grosseiro de tentar buscar significados esotéricos que nunca são encontrados nas entrelinhas do texto sagrado, como se cada passagem tivesse uma verdade espiritual oculta que, segundo eles, deveríamos tentar decifrar. A hermenêutica bíblica do Dispensacionalismo nos protege desses estratagemas e nos mantém fiéis ao significado intencionado pela Palavra de Deus e mui longe de alegorizações estapafúrdias de versículos claramente literais que não nos permitem enxergar qualquer sinal de simbolismo na passagem bíblica.

A abordagem literal na interpretação não elimina cegamente as figuras de linguagem, nem os símbolos, nem as alegorias e os tipos da Bíblia. Todavia, se a natureza das frases exigir que interpretemos um texto alegoricamente, ela certamente nos levará a um segundo sentido da passagem. O método literal de interpretação é o único freio saudável e seguro para a imaginação do homem. Esse método é o único que se coaduna com a natureza da inspiração divina nas Escrituras.

A INCONSISTÊNCIA DA HERMENÊUTICA ALIANCISTA

É de extrema importância saber que uma teologia não é uma hermenêutica. Tal pensamento prejudica a interpretação correta da Bíblia. Na realidade, uma hermenêutica (princípios de interpretação de literatura) aplicada por uma exegese habilidosa (aplicação artística de princípios interpretativos) conduz o leitor a uma teologia, mas não o inverso. Infelizmente, todos os que seguem o inverso disso têm colocado o carro proverbial teológico na frente do boi/cavalo hermenêutico.

Todavia, todo adepto da Teologia do Pacto segue esse processo, consciente ou inconscientemente, em parte ou no todo, quando vai lidar com a identidade da igreja (Eclesiologia) e o futuro de Israel (Escatologia). Quando os “teólogos do pacto” não atingem seu fim teológico predeterminado usando a hermenêutica normal (que os tem servido bem em todas as áreas da teologia), eles mudam a sua hermenêutica para gerar as conclusões predeterminadas por eles mesmos, com as quais começaram. Esse erro produz uma abordagem preconceituosa para com a interpretação bíblica a fim de validar uma conclusão preestabelecida pelo “corpo doutrinário” de sua escolha. Essa é uma maneira inaceitável, inconsistente e inválida de interpretar a Bíblia. Sendo assim, devemos rejeitar em todas as esferas esse método corrupto de interpretação bíblica.

Somente uma hermenêutica consistente, com o uso do método histórico-gramatical (literal) de interpretação bíblica, pode conduzir o leitor à interpretação intencionada por Deus do texto sagrado. Para entender as dispensações da Bíblia é necessário que tenhamos uma hermenêutica histórico-gramatical consistente (ou seja, literal) na interpretação de toda a Escritura. Para tal, o primeiro passo é usar de uma teologia pressuposicional, e não predeterminada e preconceituosa.

O QUE GANHAMOS COM ISSO?

O Dispensacionalismo não necessita de novas regras de interpretação quando deparado com os textos proféticos, em especial no Antigo Testamento, onde maior parte das profecias a respeito do futuro de Israel é encontrada. O texto bíblico é lido em seu sentido normal, dentro de seu contexto. E isso nos leva a respeitar a linguagem simbólica e as figuras de discursos quando elas são empregadas pelo Espírito Santo na Palavra. Ao ter uma visão dispensacional da Bíblia, você consegue entender a linguagem intencionada por Deus no Antigo Testamento, como a história de Josué, ou ao altamente figurativo Cantares, ou livros proféticos que, em sua maioria, falam de forma direta e literal. Quanto ao Novo Testamento, o resultado é ainda mais gratificante, pois o Novo Testamento não será usado para interpretar o Velho Testamento – um grande erro que muitos também cometem e por isso ficam confusos. O Velho Testamento é interpretado por ele mesmo, não pelo Novo Testamento.

Um exemplo disso é a diferença entre o arrebatamento da Igreja e a segunda vinda de Jesus. A menos que algum mandato claro e incontestável da Escritura mude o modo como a pessoa interpreta a profecia do Antigo Testamento sobre a segunda vinda de Jesus para reinar (e não há nenhum mandato para tal), então a Escritura deve ser interpretada consistentemente ao longo de toda a Bíblia. E somente uma visão dispensacional proporciona ao leitor o entendimento de que o arrebatamento da Igreja não tem nada a ver com a segunda vinda de Jesus, a qual ocorrerá no mínimo sete anos depois do arrebatamento (o intervalo entre os dois eventos é chamado de “Tribulação” – Essa tribulação durará sete anos).

2. O TEXTO DENTRO DO CONTEXTO

A segunda lei fundamental que rege a hermenêutica dispensacionalista, ou seja, bíblica, é que as passagens devem ser interpretadas visando seu contexto histórico, gramatical e contextual.

1 – O Contexto Histórico:

Ao interpretar uma passagem historicamente, o leitor deve se empenhar em compreender a cultura, pano de fundo e situação que deu origem ao respectivo texto, considerando o contexto do texto. Por exemplo, a fim de compreender plenamente a fuga de Jonas em Jonas 1.1-3, faz-se necessário entender a correlação que a história dos assírios tem com a história de Israel.

2 – O Contexto Gramatical:

Interpretar uma passagem gramaticalmente requer que sigamos as regras gramaticais exigidas pelo texto sagrado e que reconheçamos as nuances do hebraico e grego. Por exemplo, quando Paulo escreve sobre "nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo" em Colossenses 1, as regras gramaticais atestam categoricamente que “Deus e Salvador” são termos paralelos e ambos conectados a Jesus Cristo. Em outras palavras, Paulo claramente aponta Jesus como "nosso grande Deus”.

3 – O Contexto em Si:

Ao interpretar os versículos de uma passagem de forma contextual, estamos cientes de que isso envolve a lei imutável que rege toda a Palavra de Deus, onde o leitor deve, por temor a Deus, considerar todo o contexto de um versículo ou passagem antes de determinar o seu significado. Quando deparado com um texto bíblico difícil de ser conciliado com passagens aparentemente opostas à sua premissa, os versículos anteriores e posteriores devem ser imediatamente consultados para a conclusão intencionada pelos autores inspirados por Deus.

O Espírito Santo não é débil e a Bíblia jamais contradiz a Si mesma. A Bíblia responde por si mesma a qualquer dúvida humana, em qualquer passagem que possa apresentar dificuldades de correlação entre um ponto e outro por falta de uma análise aprofundada de seu amplo contexto. Tomemos como exemplo o livro de Eclesiastes. Muitas declarações enigmáticas em Eclesiastes tornam-se mais claras quando mantidas em seu devido contexto – o livro de Eclesiastes é escrito a partir da perspectiva terrena "debaixo do sol" (Ec 1.3). A frase “debaixo do sol” é repetida cerca de trinta vezes pelo rei Salomão, inspirado pelo Espírito Santo, estabelecendo o contexto real para tudo o que é "vaidade" neste mundo.

3. A ESCRITURA INTERPRETA A ESCRITURA


A terceira regra crucial da hermenêutica dispensacionalista que se diferencia de todas as visões teológicas, se contrapondo especialmente à Teologia do Pacto, é o fato inexorável de que a Escritura interpreta a própria Escritura. Por esta razão, os cristãos que já possuem uma compreensão dispensacional da Bíblia sempre comparam a Escritura com a própria Escritura ao tentarem determinar o significado de uma passagem ao invés de construir uma “teologia apropriada” com o intuito errôneo de aplicar uma hermenêutica predeterminada, como fazem os teólogos do pacto. Como já fora dito, uma boa hermenêutica produz uma boa teologia, mas nunca o inverso. Por exemplo, Isaías condena o desejo de Judá de buscar ajuda do Egito. É importante salientar o fato de que a sua dependência em uma cavalaria forte (Is 31.1) era motivada, em parte, pela proibição explícita de Deus de que Seu povo não deveria ir ao Egito em busca de cavalos (Dt 17.16).

Nos últimos tempos, o Dispensacionalismo tem sido maldosamente distorcido por “doutores” de várias denominações religiosas no desespero de defenderem suas convicções heréticas. A visão dispensacional da Bíblia tem sido alvo de ataques desonestos e das mais variadas formas de perversão que se pode imaginar, pois a visão dispensacionalista liberta os leitores de uma hermenêutica espúria e predeterminada por uma teologia de plástico, condicionada a olhar para a Bíblia com os olhos da incredulidade alegórica. O resultado dramático de nossos dias é notado pelas discrepâncias desse sistema religioso denominacional e corrompido que vemos hoje.

As pessoas evitam estudar com uma ótica dispensacional por caírem nos sofismas maldosos criados pelo sistema religioso e por acreditarem cegamente em conceitos criados pelos anti-dispensacionalistas. Doutores não-dispensacionalistas se empenham em criar conceitos que nunca foram defendidos pelo Dispensacionalismo. Quando isso não funciona, esses “ministros” se dedicam a apontar erros obsoletos que os próprios dispensacionalistas corrigiram ao longo do tempo. Ou seja, a elaboração errada de uma premissa leva a conclusões obviamente errôneas, tendo como objetivo promover uma falsa acusação.

CONCLUSÃO

A hermenêutica dispensacionalista aponta para a correta interpretação da Bíblia, sem mutilar seu real propósito ao se comunicar com os santos de Deus. O propósito da hermenêutica dispensacional é, sobretudo, nos proteger da má aplicação da exegese escriturística e nos livrar de qualquer outra concepção alegórica infundada que possa corromper a nossa compreensão da verdade. A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17). Queremos ver a verdade, conhecer a verdade e viver a verdade. É por isso que a hermenêutica dispensacional, a qual consiste num método histórico-gramatical consistente – isto é, sem abandoná-lo ao lidar com textos proféticos e relacionados à Eclesiologia e Escatologia – é a melhor opção para quem deseja saber o que a Bíblia de fato está nos comunicando, e não o que a tradição dos homens quer que sigamos.

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