IGREJA NÃO É ISRAEL - Parte 2 | JP Padilha


Um erro muito comum que alguns cristãos professos têm cometido, e que têm dificultado uma interpretação saudável das Escrituras, é acreditar que nós, a Igreja de Deus, somos o Israel de Deus. A alegação que tem sido feita é que a Igreja tem ocupado o lugar de Israel após seu início em Atos 2. Essa falsa doutrina é chamada de “Teologia da Substituição” – também conhecida como “Teologia do Pacto” ou “Aliancismo”.

O que é a Teologia da Substituição?

Kenneth Gentry, um teólogo do pacto, define a Teologia da Substituição da seguinte maneira: “Cremos que a Igreja sucedeu, para sempre, o Israel nacional como a instituição para a administração da benção divina ao mundo”. Na tentativa de embasar sua afirmação, Gentry adiciona o seguinte comentário: “Ou seja, cremos que, no desenrolar do plano divino na história, a Igreja Cristã é a exata realização do propósito redentivo de Deus. Como tal, a Igreja sucede o Israel nacional como ponto de focalização do Reino de Deus. Na verdade, cremos que a Igreja se torna o ‘Israel de Deus’, tal como está em Gálatas 6.16”.

Antes de refutarmos essa teoria estapafúrdia e sua aplicação herética de Gálatas 6.16, vamos entender mais um pouco sobre a Teologia da Substituição.

Praticamente, a Teologia da Substituição ensina que os judeus foram rejeitados por Deus e não são mais o Seu povo escolhido. Aqueles que assumem esse ponto de vista rejeitam qualquer futuro étnico para o povo judeu em relação às alianças bíblicas.

Bom, o apóstolo Paulo discorda disso. Em Romanos 11, Paulo nos ensina que, apesar da incredulidade da nação de Israel ter levado os judeus, como ramos naturais, a serem cortados da oliveira, ele também garante que, no futuro, quando vier de Sião o Libertador, por amor aos patriarcas, por serem os dons e a vocação de Deus irrevogáveis, todo o Israel será salvo (Rm 11.25-29). Em outras palavras, o fato de a geração da primeira vinda de Jesus ter sido infiel ao Senhor, sua descrença não tem o poder de anular o que Deus prometeu incondicionalmente aos patriarcas.

Em Romanos 11, Paulo usa como exemplo a oliveira, a árvore de onde provém o azeite que é tantas vezes usado nas Escrituras como figura do Espírito Santo, pois o azeite é o combustível da luz que ilumina. O assunto do capítulo não é a salvação ou o testemunho individual, mas o testemunho coletivo de Deus na terra, ora nas mãos de Seu povo Israel, ora nas mãos da Igreja, em diferentes épocas sob influência e direção do Espírito Santo.

Israel, os ramos naturais, foram quebrados, e a Igreja, os ramos de oliveira brava, enxertados. Considerando que uns e outros são meros ramos, podemos deduzir que a árvore continua existindo independente deles, porque a árvore é o testemunho de Deus em sua totalidade. Os ramos são aquelas coisas que partem do tronco e expandem seu alcance, o que vem bem de encontro à ideia de um testemunho crescente e abrangente.

Se você prestar bastante atenção no contexto de Romanos 11, verá que ali está falando sobre dois povos de Deus: Israel e Igreja. Enquanto Israel representa os ramos quebrados, a Igreja representa, neste momento, os ramos enxertados no lugar de Israel, até que o SENHOR torne a tratar com Israel no Reino Milenar de Cristo. Leia todo o capítulo de Romanos 11 e você verá que ali Deus está falando do fato de Israel estar em estado de torpor e cegueira enquanto a Igreja tem sido o alvo de Sua atenção agora. Mas tudo irá mudar, como diz o próprio texto no início da carta:

"Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo (Israel)? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim" (Romanos 11.1).

O texto já começa com Paulo falando de ISRAEL e se identificando como um israelita de nascença. Ou seja, Israel não foi abandonado. Apenas está em "stand by" – em suspensão – enquanto Deus agora trata com a Igreja.

"Digo, pois: Porventura tropeçaram (os judeus), para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda (de Israel) veio a salvação aos gentios (a Igreja), para os incitar à emulação. E se a sua queda (de Israel) é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude (de Israel)!" (Romanos 11.11-12).

Perceba que um remanescente judeu fiel ainda será salvo em sua plenitude. Essa plenitude é chamada na Bíblia de "dispensação da plenitude dos tempos" (Efésios 1.10), quando Israel tornará a ser o centro da atenção do mundo, no Reino Milenar de Cristo sobre a terra.

Nem Israel, nem a Igreja pode perder a salvação. Deus prometeu guardar um remanescente judeu fiel (os 144.000 de Apocalipse) e prometeu salvar a Igreja (os escolhidos e eleitos antes da fundação do mundo – Efésios 1.3-7).

Em Gênesis 12 Deus prometeu a Abraão que ele seria o pai de uma grande nação, e obviamente sabemos tratar-se de Israel. Abraão foi pai de Isaque e avô de Jacó, que teve seu nome mudado para Israel. A promessa incluía que todas as nações da terra seriam abençoadas por meio de Israel, ao qual Deus chamou de Sua "menina dos olhos".

GÁLATAS 6.16 ENSINA QUE
A IGREJA É O ISRAEL DE DEUS?


Gálatas 6.16 tem sido o texto em que os defensores da Teologia da Substituição tem se apoiado para seus pobres argumentos: “E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus”. Para eles, Gálatas 6.16 ensina que a Igreja substituiu Israel e que agora somos o “Israel de Deus” mencionado na passagem. Eles dizem: “Bom, se Abraão pode ter gentios como sua “descendência espiritual” (Gl 3.14), por que não deveria haver um Israel Espiritual?” Porém, os cristãos que são chamados pelo nome “Israel” em Gálatas 6.16 são judeus convertidos a Cristo em distinção com os gentios convertidos.

O “Israel Espiritual” realmente existe, mas a Igreja nunca é chamada de “Israel Espiritual” nas Escrituras. O termo “Israel de Deus” está apenas fazendo referência àqueles judeus de nascença que se converteram a Cristo e agora estão inseridos na Igreja de Deus. Esse termo refere-se aos judeus que confiaram em Jesus como o Seu Messias. “Porque não é Judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém Judeu é aquele que o é INTERIORMENTE, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus (Romanos 2.28-29). A Igreja, no entanto, nunca é chamada de “Israel Espiritual”. O Novo Testamento não muda ou espiritualiza o sentido de Israel. Há 77 referências a Israel ou Israelita na Bíblia, e tais expressões nunca foram usadas como sinônimo de Igreja. Nunca!

Quanto ao argumento de que seríamos o Israel Espiritual por sermos “descendência espiritual de Abraão” pela fé, é muito simples de entender. Preste muita atenção nestas duas passagens:

Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus” (João 4.22).

Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito” (Gálatas 3.14).

Essas passagens não estão dizendo que os gentios (nós) se tornariam judeus ou Israel para serem abençoados. A mensagem está dizendo que nós, gentios, desfrutaríamos da bênção que, por intermédio de Abraão e de Israel, chegaria até nós na Pessoa de Jesus Cristo e de Seu sacrifício consumado. Portanto, hoje somos salvos independente de nos tornarmos judeus ou parte da nação de Israel. O fato de nós, cristãos, existirmos, independente de Israel, não significa que Israel tenha deixado de ser a “menina dos olhos” de Deus, a nação terrenal de Deus, e muito menos significa que esta nação tenha perdido as bênçãos das promessas que Deus lhe deu.

Portanto, o termo “Israel de Deus” em Gálatas 6.16 NÃO significa que os cristãos são israelitas. Vamos analisar a passagem mais uma vez:

“E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus” (Gálatas 6.16).

O termo “Israel de Deus” (Gl 6.16) é usado pelos seguidores da Teologia do Pacto como prova de que os cristãos seriam israelitas espirituais. Mas isso é mais uma vez uma mera menção feita por Paulo que precisa ser colocada no contexto a fim de ser corretamente entendida. Tirar três ou quatro palavras de um versículo e construir em torno delas uma doutrina não passa de uma fraca teologia, além de ser uma heresia.

O que, então, significa esta frase? Ela se refere àqueles da nação de Israel (israelitas de nascença) que foram salvos pela graça de Deus e agora são parte da Igreja (Rm 11.5). O artigo “e” na frase “e sobre o Israel de Deus” distingue os crentes judeus dos que pertencem à companhia dos cristãos gentios. Paulo faz menção deles no final da epístola porque o cerne de suas observações ao longo da carta tinha sido de reprimenda aos cristãos por estarem adotando a Lei de Moisés e introduzindo princípios legalistas no Cristianismo. Ele queria que fosse demonstrada uma “misericórdia” especial para com seus conterrâneos (judeus convertidos ao Cristianismo) que tinham antecedente israelita. Se por um lado não havia desculpa para cristãos gentios por natureza adotarem a Lei, Paulo queria que os santos das assembleias da Galácia fossem pacientes com aqueles dentre eles que tinham ascendência judaica e demoravam a abandonar as amarras do Judaísmo. Ele sabia que não era fácil para quem tinha sido criado naquele sistema deixar de lado tudo de uma só vez (Lc 5.39), e, por isso, era preciso demonstrar paciência para com eles (Rm 14.1-6). A epístola aos Hebreus é testemunha disso.

O texto em Gálatas 6.16 é simples e claro. A primeira parte do versículo 16 – “E a todos quantos andarem conforme esta regra” – refere-se à regra recém-mencionada por Paulo no verso 15: Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser NOVA CRIATURA” (Gálatas 6.15). Esta é uma categoria espiritual que engloba todos os crentes para os quais Paulo pronuncia uma benção: “paz e misericórdia sejam sobre eles”. Mas, e a continuação do verso? Como o verso termina? O verso segue com o comentário adicional “e sobre o Israel de Deus”. Aqui está o ponto chave. São dois grupos distintos sendo abençoados por Paulo: “... eles E sobre o Israel de Deus”. Quem são os “eles”? Os cristãos gentios. Quem é “o Israel de Deus”? Os judeus recém-convertidos a Cristo.

Se a intenção de Paulo fosse identificar “eles” como o “Israel de Deus”, por que ele não eliminou simplesmente o “e” após o “eles”? O resultado seria muito mais apropriado caso Paulo tivesse identificado o pronome “eles”, ou seja, a Igreja, com o termo “Israel”. Nesse caso, o versículo seria traduzido da seguinte forma: “E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e misericórdia sobre eles, o Israel de Deus”. Entretanto, Paulo não eliminou o “e”, deixando claro que, ao invés de identificar a Igreja como sendo o Israel de Deus, ele está justamente fazendo o contrário – fazendo uma clara distinção entre “eles” (a Igreja gentílica) e o “Israel de Deus” (Judeus recém-convertidos ao Cristianismo).

A carta aos Gálatas refere-se aos gentios que procuravam alcançar a salvação pela Lei. Eles estavam sendo enganados pelos judaizantes – cristãos judeus que exigiam a adesão à lei de Moisés. Para estes, um gentio tinha de se converter primeiro ao Judaísmo a fim de ser qualificado para a salvação em Cristo. Paulo argumenta que o que realmente é necessário para a salvação é a fé em Cristo e mais nada. Ele pronuncia uma benção sobre dois grupos de pessoas que deveriam seguir essa regra para a salvação. O primeiro grupo, referido na passagem pelo pronome “eles”, é o dos cristãos gentios, aos quais ele havia dedicado a maior parte da epístola. O segundo grupo é denominado “o Israel de Deus”. Nesse caso, trata-se dos cristãos hebreus que, em contraste com os judaizantes, seguiam a regra da salvação unicamente pela fé em Cristo Jesus.

Para concluir, vale mencionar o fato de que a Igreja só surge após a ressurreição e ascensão do Senhor – em Atos 2. Deus o ressuscitou e fez dEle o cabeça do Corpo, que é a Igreja, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos (Ef 1.19-23).

Não podemos nos esquecer de que a Igreja era um mistério na antiga dispensação – no Velho Testamento (Rm 16.25-27; 1Co 2.6-10; Ef 3.1-13; Cl 1.24-29), e que ela, como já mencionado, se distingue de Israel em todo o Novo Testamento. No livro de Atos, tanto Israel como a Igreja existe simultaneamente. O termo “Israel” é usado 29 vezes e o termo “ekklesia” (Igreja) é usado 19 vezes. Por fim, os capítulos 9, 10 e 11 de Romanos nos proíbem de falar da Igreja como tendo tomado o lugar do povo judeu. Por esta razão, jamais empregue a linguagem da substituição de Israel pela Igreja.

Entenda mais sobre o assunto nos links abaixo:

Igreja não é Israel – Parte 1:
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2025/04/igreja-nao-e-israel-jp-padilha.html

Igreja não é Israel – Parte 3:
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2025/05/igreja-nao-e-israel-parte-3.html

Será que a Teologia do Pacto prova que Israel e Igreja são a mesma coisa?:
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2023/10/sera-que-teologia-do-pacto-prova-que.html

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