POUCOS SÃO ESCOLHIDOS | JP Padilha
A Doutrina da Eleição estabelece que somente uns poucos chegarão ao Céu, e que, portanto, a maioria das pessoas irá para o inferno. Leiamos os textos mais enfáticos sobre esse ponto:
Mateus 7.13-14 – “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram”.
Mateus 22.14 – “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.
Embora a doutrina da eleição ensine que somente uma minoria de escolhidos chegará ao Céu, o conceito de eleição, em si mesmo, não implica necessariamente que esse número será pequeno. A Bíblia nos mostra que será um número grande de salvos, ainda que minoritário. Quando se referindo ao número daqueles que foram escolhidos para salvação, a Escritura promete que haverá muitos salvos. Porém, ainda assim, os salvos compõem um grupo minoritário de pessoas.
Existem três passagens mal usadas para defender a ideia de que o número de salvos será maior do que o número de condenados:
1. Por exemplo, Deus disse a Abraão: “Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las”. E prosseguiu: “Assim será a sua descendência” (Gênesis 15.5). A Escritura ensina que Deus estava se referindo principalmente à sua semente espiritual, e não aos seus descendentes naturais, embora, num contexto escatológico, esse texto esteja literalmente falando de Israel.
2. Em Apocalipse 7.9-10 lemos: “Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando palmas. E clamavam em alta voz: ‘A salvação pertence ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro’”.
3. Em TUDO Cristo terá a preeminência (Compare Provérbios 27.20 com Lucas 14.23 e Colossenses 1.18).
Sabemos que haverá muitos salvos em termos absolutos, ou comparados com zero. Mas, isso não nos diz se o número de pessoas salvas será maior em relação ao número de pessoas condenadas. Algumas pessoas falham em notar esse ponto e, assim, têm enganosamente inferido dessas três passagens que o número desses salvos será maior do que o daqueles condenados no final.
A questão é quão muitos serão salvos com relação aos não-salvos, e não com relação a zero. Os dois versículos de Mateus (7.13-14; 22.14) são a base para estabelecer que o número de salvos é muito menor que o número de não-salvos. Qualquer que seja o versículo usado para tentar determinar outra premissa terá que ser submetido a uma análise exegética responsável para entender o que é dito ali. Um dos versos de Mateus que lemos diz que “poucos há que a encontrem” (a porta que conduz à vida eterna). O outro diz que “poucos são escolhidos”. Se esses dois versículos estiverem tratando amplamente da questão, então aqui está a nossa resposta — não somente o número de salvos será menor do que o número de não-salvos, mas ele será muito menor, visto que Jesus está contrastando entre os “muitos” e os “poucos”.
Há aqueles que afirmam que essas duas passagens não podem funcionar como uma resposta ampla à nossa questão, pois os contextos sugerem, segundo eles, que elas estão tratando somente da situação do primeiro século. Neste exato momento, não estou convencido de que isso seja correto, mas estou disposto a examinar argumentos exegéticos em favor dessa posição.
Ao considerar nossa questão, é importante descartar imediatamente alguns dos populares, porém vazios, argumentos.
Por exemplo, é comum argumentar que o número dos salvos será certamente muito maior do que o número de não-salvos porque Deus certamente agarrará a “vitória” no final. Isto é, Ele nunca “perderá” para satanás na batalha entre o bem e o mal, e sobre as almas humanas. Alguns dos mais proeminentes teólogos reformados do passado e do presente têm argumentado dessa forma. Mas esse argumento está errado. Trata-se de uma péssima forma de interpretar a Bíblia.
Esse argumento é tolo — é arbitrário e auto-destrutivo. É arbitrário porque ele assume que “vitória” nessa situação é determinada por número, mas esses ditos teólogos falham em produzir evidência bíblica ou qualquer tipo de suporte racional usando essa premissa ou padrão. Então, o argumento é auto-destrutivo, pois, se formos determinar “vitória” por números absolutos, então, se uma pessoa acaba no inferno, isso necessariamente significaria que Deus fracassou em obter uma vitória total sobre satanás e o mal. Todavia, muitas pessoas já estão no inferno!
Embora essa ideia estapafúrdia seja usada por alguns teólogos reformados, esse argumento carrega certo sabor dualístico nele — isto é, implica que satanás é uma força do mal poderosa com quem até mesmo Deus deve contender, que Deus ganhará alguns e perderá alguns, e que, no final, Ele ganhará mais do que perderá. Que visão patética de Deus! Que entendimento anti-escriturístico da história redentora! Quando um calvinista está usando esse argumento (ou qualquer outro como esse sobre qualquer outro assunto), ele está sendo inconsistente com suas próprias crenças sadias e bíblicas.
Agora, aqueles que acabam no Céu são salvos porque Deus predeterminou a sua salvação, e aqueles que terminam no inferno são condenados porque Deus predeterminou sua condenação. Assim, como Deus poderia “perder”, quando todos aqueles que terminarão no inferno estão ali somente porque o próprio Deus predeterminou enviá-los para lá?
Deus poderia “perder” somente se o que Ele predeterminou que acontecesse falhasse em acontecer, ou se o que Ele não predeterminou que acontecesse ainda assim acontecesse de qualquer jeito. Por exemplo, se alguns daqueles a quem Deus escolheu para salvação falhassem em serem salvos e terminassem no inferno, então poderíamos dizer que Deus perdeu; ou, se alguns daqueles a quem Deus escolheu para condenação de alguma forma terminassem no Céu, então Deus também perderia. Mas é claramente estúpido dizer que Deus perderá se mais pessoas terminarem no inferno do que no Céu se isso é exatamente o que Ele quer; até mesmo porque isso é o que Ele predeterminou que acontecesse. De fato, se Deus tivesse decidido que todo pecador deveria terminar no inferno, então poderíamos dizer que Ele perderia, mesmo que uma só pessoa conseguisse entrar no Céu.
Só o que já fora exposto acima derruba a ideia de que o fato de Jesus em tudo ter preeminência significa que Ele salvou a maioria. Pelo contrário – Jesus em tudo terá preeminência justamente porque tudo o que Ele predeterminou irá acontecer, incluindo a perdição da maioria das pessoas. Sendo assim, Provérbios 27.20, Lucas 14.23 e Colossenses 1.18 não servem de base para nossa discussão, mas sim Mateus 7.13-14 e 22.14. De fato, Colossenses 1.18 diz que em tudo Cristo terá preeminência, mas essa preeminência em nada tem a ver com o número de salvos. Ao contrário, essa passagem nos diz que Sua vontade sempre prevalece. Ou seja, Sua vontade em salvar uma pequena minoria foi realizada na cruz. Essa conclusão coaduna com uma interpretação sadia das Escrituras e do contexto dos versículos que temos analisado aqui.
Mas, a questão de que se mais pessoas terminarão no Céu ou no inferno não tem, em si mesma, relevância direta para com a questão se Deus “ganha” ou “perde”. Se o que acontece é exatamente o que Deus predeterminou que acontecesse, então Ele ganha. E Ele predeterminou que a maioria está condenada.
Há outros argumentos que as pessoas têm usado para mostrar que o número dos salvos será maior do que o número de não-salvos, mas eles são ineficazes, senão totalmente absurdos.
Todas estas objeções são ineficazes, pois há duas doutrinas que, caso fosse mostrado que as mesmas são bíblicas e relevantes, poderíamos estabelecer que o número dos salvos deveras será maior do que o dos não-salvos. Estou me referindo ao Amilenismo e ao pós-milenismo. Essas falsas doutrinas ensinam que, de acordo com numerosas profecias, tanto no Antigo como no Novo Testamento, antes do retorno de Cristo à terra, o evangelho se tornará crescentemente bem-sucedido e influente, não somente na esfera social e política, mas especialmente nos corações dos homens, de forma que ele [o evangelho] dominará o mundo por um extenso período de tempo.
O Amilenismo e o pós-milenismo afirmam hereticamente que o Reino Milenar começou no primeiro século e terminará no retorno de Cristo. Essas doutrinas ensinam hereticamente que o Reino Milenar é de caráter espiritual, não literal e futuro. Nesse ínterim entre o primeiro século e a volta de Cristo à terra, dizem eles, embora a influência do evangelho será flutuante, ele finalmente sobrepujará todas as oposições e se tornará a força dominante nos corações dos homens, e, assim também na sociedade em geral, segundo os “grandes exegetas” amilenistas e pós-milenistas. O que eu posso fazer é dar risadas!
Agora, imaginemos que o Amilenismo e o pós-milenismo estejam corretos hipoteticamente falando. Então é deveras possível que mais pessoas serão salvas do que não-salvas; que mais pessoas terminarão no Céu do que no inferno. Porém, devemos estabelecer duas coisas para eliminar tal conclusão:
Primeiro, devemos estabelecer que as duas passagens de Mateus (7.13-14; 22.14) e todas as outras passagens similares estão realmente se referindo à situação de toda a era cristã. Cristo se referiu, de fato, a toda era cristã. Ele foi enfático em dizer que poucas pessoas entrarão no Céu e que muitas irão para o inferno, e ponto final.
Segundo, devemos imaginar, se for de alguma forma possível, que o período de tempo durante o qual o evangelho dominará os corações dos homens e durante o qual mais pessoas se tornarão cristãs do que permanecerão como não-cristãs será muito longo — longo o suficiente para compensar todos os séculos passados nos quais mais pessoas permaneceram como não-cristãs (incluindo os falsos convertidos) do que aquelas que se tornaram cristãs. Porém, isso é impensável.
Essa é a razão pela qual eu digo que o Amilenismo e o pós-milenismo são visões heréticas em si mesmas, pois eles devem provar ser relevantes para que o nosso apelo a eles seja um argumento eficaz em favor de mais pessoas terminarem no Céu do que no inferno. Se o período no qual o evangelho dominará o mundo não for longo o suficiente para compensar todos os séculos passados de relativa escuridão, então, o número de pessoas não-salvas permanecerá ainda maior do que o número de pessoas salvas.
Certamente, se é impossível satisfazer a primeira condição acima, então, a segunda também é excluída. Em outras palavras, se as duas passagens de Mateus (7.13-14; 22.14) estão realmente dizendo que, como uma regra geral para todos os tempos, mais pessoas irão para o inferno do que para o Céu, então, por implicação necessária, o período durante o qual o evangelho “dominará o mundo” (de acordo com o Amilenismo e o pós-milenismo) não será suficiente para penetrar nos corações da maioria dos homens.
Podemos estar certos sobre uma coisa: que todas as coisas acontecerão exatamente como Deus predeterminou, e, portanto, Ele “ganha” mesmo que mais pessoas terminem no inferno do que no Céu.
– JP Padilha
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