Por que não congrego em denominações religiosas? | JP Padilha


Com tudo que tenho ensinado sobre o modo simples e correto de se congregar sob as bases bíblicas, muitas perguntas surgem por parte das pessoas que são afiliadas às várias denominações religiosas espalhadas mundo afora, tais como: “Você não congrega em nenhuma denominação? Você não possui líderes espirituais, presbíteros ou pastores para te guiarem? Você diz que o livre arbítrio é uma ilusão e que a Bíblia fala de predestinação. Mas, se você é calvinista, como pode se desfazer das tradições da Reforma Protestante Reformada? Acho que você se baseia em suas próprias opiniões!”.

Em primeiro lugar, não, eu não pertenço a nenhuma denominação religiosa. Depois de um tempo me dedicando a respeito da verdade sobre a Igreja na Bíblia, fui muito questionado por “crentes” e "Ministros" pertencentes a denominações religiosas (instituições). Eles pensam que aqueles edifícios de pedras e tijolos são a Igreja. Essas pessoas sempre me perguntam por que “não vou mais à igreja”. Oras, a única Igreja que encontro na Bíblia é aquela que se lançou ao pescoço de Paulo e o beijou! (At 20.37). Se aquela coisa que eles chamam de “Igreja” se lançar ao meu pescoço, ela certamente irá me matar!

Se congregamos? É claro que congregamos! Porém, somente ao nome do Senhor. Nós, que somos o “CORPO DE CRISTO” (e não uma denominação – seita), jamais pregamos que não se deve congregar. Pelo contrário, tão somente seguimos a ordem de Cristo: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles" (Mateus 18.20).

Apesar da Escritura nos mostrar claramente que os primeiros cristãos congregavam em suas casas (1Co 16.5,19; Cl 4.15; Fm 1.2), fazendo da adoração no lar um substituto para a adoração no Templo, muitos dos “pastores” e líderes religiosos insistem que o padrão para a adoração e ministério na Igreja é estar em um templo, e que aqueles que não estão dentro do templo são “desigrejados” (termo inventado pelos religiosos para denegrir e caluniar os cristãos que se libertaram do sistema religioso denominacional).

Congregar em nome do Senhor é uma coisa (Mt 18.20); fazer parte de seitas (denominações criadas por homens, que dividem o Corpo de Cristo) é OUTRA. Você precisa entender a diferença entre Igreja e instituição religiosa. Jesus nunca mandou institucionalizar sua Igreja. Ele abomina isso.

NÃO TENHO COMPROMISSO COM CALVINO

Quanto ao fato de eu crer na soberania divina de Deus e em seus eternos decretos, eu não dependo de Calvino pra isso. Basta eu ler a Bíblia para aprender sobre a predestinação e a total falta de base testamentária para o que chamam de livre arbítrio (Lm 3.37-38; Dt 32.39; Is 45.7; Rm 7.15-19). Não tenho compromisso com homens, muito menos com a Reforma Protestante, a qual se constitui apenas mais uma forma de dividir o Corpo de Cristo após o período do Catolicismo medieval. Meu compromisso é com as Escrituras. Congrego somente ao nome do Senhor, nos lares dos meus irmãos em Cristo e em meu lar (Mt 18.20).

Eu não tenho opinião própria. Eu apenas falo e faço o que aprendi com a Bíblia. Aqueles que fazem parte de instituições religiosas é que se aderem a opiniões de homens, pois a institucionalização da Igreja, isto é, seu sectarismo religioso, foi uma coisa inventada pelo homem e que trouxe sérios danos ao Corpo Místico de Cristo, o qual é um só.

ISSO NÃO SERIA OUTRA FORMA DE SECTARISMO?

Talvez alguém venha a dizer: “Se fizermos tudo o que você diz, e começarmos a nos reunir com aqueles que congregam sobre as bases bíblicas, será que não estaríamos apenas nos filiando a outra divisão ou seita da igreja?”. A resposta simples para esta pergunta é que a obediência à Palavra de Deus nunca é uma dissidência. É isto que os cristãos deveriam estar fazendo há muito tempo. Se os cristãos se reunirem em obediência à Palavra de Deus, em conformidade com a verdade do "um só corpo", eles jamais poderão ser considerados uma seita, mesmo que existissem apenas dois ou três se colocando nesse terreno. Se eles estiverem congregados pelo Espírito em torno do Senhor Jesus não estarão no terreno do sectarismo: eles estarão no divino centro, pois Cristo é o centro divino para o Seu povo (Gn 49.10; Sl 50.5; Mt 18.20; 1Co 5.4).

Na prática, alguém que se une a uma determinada denominação em detrimento das outras, já não tem autoridade para criticar aqueles que querem se separar das denominações, pois foi exatamente o que fez! Ao limitar-se a uma denominação, acabou deixando de lado todas as outras, pois ninguém pode ser Batista e Presbiteriano ao mesmo tempo. Portanto, ao unir-se à denominação de sua escolha, sua atitude o excluiu de todas as outras, deixando assim de guardar a unidade do Espírito. Quem quiser argumentar sobre este ponto precisará primeiro praticar por si mesmo a unidade que espera que os outros pratiquem.

Alguns nos acusam de causar divisões dentro da congregação onde estamos pelo fato de não estarmos inseridos nas instituições religiosas criadas pelos homens. A resposta para isso é que não há divisão onde eu congrego porque aqui a gente aplica disciplinas ordenadas pelas Escrituras e corrige o erro doutrinário que é levantado por alguém. Não há divisão aqui, pois, se alguém se levantar para tentar impingir doutrinas estranhas na assembleia, este alguém será admoestado e, posteriormente, excomungado. É isso que as Escrituras do Novo Testamento nos ensinam e é isso que fazemos (1Co 14.29; Gl 1.6-10; Tt 3.10-11).

MAS, ISSO NÃO SERIA OUTRA FORMA DE SISTEMA RELIGIOSO?

Outros, ainda, dizem que estamos apenas criando outra forma de sistema, e que tudo é sistema. De forma alguma isso faz sentido, pois o Corpo de Cristo é um povo celestial, não terrenal, como é o caso de Israel. Além do mais, nós nos reunimos somente ao nome do Senhor (Mt 18.20), e não em torno de uma denominação religiosa com doutrinas pré-concebidas. Geralmente as denominações religiosas contém um compêndio de regras em seu corpo doutrinário, as quais não podem ser violadas, nem questionadas pelos membros da seita (denominação). Isso é antibíblico. Existem vários homens dentro da Igreja que possuem diferentes dons para se levantarem em meio à assembleia e que deveriam estar participando da ministração. Porém, dentro de uma instituição religiosa é proibido que outra pessoa, que não seja o seu “líder eclesiástico” ou um “clérigo”, se levante para apontar algum erro ou usar de seu dom. Esse dom poderia ser, por exemplo, o de exortação, e, deste modo, aquele que pudesse estar dizendo coisas que não condiz com a Palavra inspirada seria exortado na assembleia por alguém com o dom da exortação. Porém, os membros das várias denominações religiosas espalhadas pelo mundo já se esqueceram ou deixaram de lado o fato de que existem vários dons além daquele conhecido como “pastorado” (Rm 12.6-8).

“De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria” (Romanos 12.6-8).

Veja no versículo acima que, diferente das denominações religiosas criadas pelos homens, as igrejas possuem homens com vários tipos de dons para serem exercidos livremente – sempre que o Espírito Santo os guiar – em um culto na assembleia. E eles não deveriam ficar presos a uma única assembleia, e sim ter liberdade para usar seus dons aonde o Espírito os guiassem para ir. Mas, como podemos perceber no atual século, todos esses homens são calados pelos assim conhecidos “pastores da igreja” ou “líderes da igreja”. São clérigos com status de “líder espiritual”, os quais geralmente são donos do templo construído com o dinheiro requerido daquela instituição. Esse dinheiro é chamado por eles de “dízimo” (outra heresia que faz parte dessas instituições religiosas para arrecadar fundos para a construção de seus templos com adornos judaicos).

As pessoas que se enveredam nesses templos chamados de “igreja” não fazem a mínima ideia do que seja Igreja. Se você perguntar a elas o que é a Igreja, você ouvirá os maiores absurdos em suas respostas, mas não ouvirá o que a Bíblia diz sobre isso. Nem chegará perto. Essas pessoas demonstram total falta de conhecimento sobre a IGREJA. O que é a Igreja? Você sabe dizer? Eles pensam que Igreja constitui-se naqueles templos religiosos com adornos judaicos com placas em suas portas, dizendo-se “Igreja”. Mas aquilo não é Igreja. A Igreja não é um templo; ela é um povo feito de carne e osso.

"Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a TRADIÇÃO dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo" (Colossenses 2:8).

MEU LÍDER ESPIRITUAL É O ESPÍRITO DE DEUS – O ESPÍRITO DE DEUS DEVE USAR PARA FALAR QUEM ELE QUER

Meu líder espiritual é o Espírito Santo, que habita em mim justamente para me ensinar tudo quanto Jesus ensinou. Foi para isso que o Espírito Santo veio sobre a Igreja: “... quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” (João 16.13). Eu não tenho um “líder espiritual” com o título de “pastor”. Em 1 Coríntios 12, um grande princípio do ministério cristão é que, ao nos reunirmos em assembleia, o Espírito de Deus deve ter o direito de empregar quem Ele desejar para falar. Sabemos que, na Igreja, a partir do nosso Sumo Sacerdote (Jesus – Hb 4.14; 7.26), somos todos sacerdotes na Igreja (1Pe 2.9). Com isso, o Espírito deve ter liberdade na assembleia para guiar aquele que Ele escolher para falar, exercitando assim seu dom no ministério. O capítulo estabelece claramente que os dons devem ser exercitados na assembleia pelo mesmo Espírito que concede o dom a cada indivíduo quando este é salvo. “Um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente [os dons] a cada um como quer” (1Coríntios 12.7,11).

Não existe no Novo Testamento qualquer outra ordem para o ministério senão esta da direção soberana do Espírito Santo. As Escrituras partem do princípio de que temos fé para confiar na liderança do Espírito. Se nós deixarmos que o Espírito Santo lidere na assembleia, Ele tomará quaisquer que sejam os dons que estiverem ali e irá usá-los para a edificação dos santos no ministério. Portanto, o princípio é simples. O Espírito Santo está na igreja, usando os dons conforme Ele escolher para a edificação de todos. É esta a ordem de Deus para o ministério cristão. Sendo assim, como se pode esperar que o Espírito Santo reparta a cada homem exatamente conforme Ele escolher, se a igreja tiver estabelecido uma ordem de coisas na qual um homem ocupe o lugar de liderança na assembleia? Na prática isso é o mesmo que negar a liderança do Espírito Santo! O Espírito pode querer levantar este ou aquele para o ministério, mas acaba sendo “bloqueado e impedido” por causa de uma ordem humana. Em muitas igrejas os cultos são programados de antemão – às vezes com dias de antecedência! No entanto, não encontramos tal ideia nas Escrituras. Tudo isso pode ter sido criado com boas intenções, mas não é a ordem que Deus instituiu.

CRISTO LIDERA A SUA IGREJA, E NÃO O HOMEM

Muitas pessoas nos perguntam quem lidera a nossa congregação. Elas imaginam que vamos dizer o nome de algum “pastor” ou “ministro”. Mas o fato é que a cabeça da Igreja é Cristo (Cl 1.18; Ef 5.23). É Ele quem lidera a Sua Igreja. E quem é que irá nos guiar no ministério e adoração durante o culto? Oras, foi pelo poder do Espírito que Deus fez o mundo e tudo o que nele existe (Jó 26.13; 33.4; Gn 1.2). Portanto, podemos ter certeza de que Ele é capaz de liderar alguns cristãos congregados para adoração e ministério. Se tivermos Alguém tão grande e competente como é esta Pessoa divina presente no meio dos santos congregados, não precisaremos designar um homem para fazer o Seu serviço, não importa quão capacitada essa pessoa possa ser. C. H. Mackintosh escreveu: “Se Cristo está em nosso meio (Mt 18.20), por que ousaríamos pensar em colocar alguém para presidir? Por que não conceder a Ele o Seu lugar de direito e deixar que o Espírito de Deus nos lidere e nos dirija na adoração e no ministério? Não há qualquer necessidade de termos uma autoridade humana”.

Todavia, as denominações colocaram um homem (um “Pastor” ou “Ministro”) para conduzir a adoração. Na Bíblia, porém, não encontramos a ideia de que Deus tenha colocado um pastor ou ministro para conduzir a adoração da igreja. Citando W. T. P. Wolston a esse respeito, “existe na cristandade a ideia de que ‘pastor’ é alguém colocado para dirigir uma congregação. A ideia está na cabeça das pessoas, mas não nas Escrituras!”.

O PASTOR DA IGREJA É CRISTO

Há aqueles que nos acusam de não termos um “líder presbiterial” ou “pastoral”, e que isso nos torna “desigrejados” (termo pejorativo inventado por aqueles que nos acusam de não congregarmos – uma calúnia). O fato é que você JAMAIS encontrará nas Escrituras a ideia de um homem ser “pastor de uma igreja local”, ou, ainda, “pastor de uma denominação (seita) dentro da igreja” e muito menos um homem que tenha o título de “Pastor da Igreja”, pois o Pastor da Igreja é Cristo (Jo 10.11). Quando entendemos a diferença entre dom e ofício, e como as Escrituras as tratam de formas distintas, percebemos o quão longe da verdade estão afirmações do tipo “Ele é o Pastor de uma igreja”. Em circunstâncias normais, o pastorado nunca é “o” único dom em uma igreja local. Tampouco um pastor por vocação deve ficar restrito a exercitar seu dom em “uma” igreja local ou até mesmo em uma seita dentro da igreja. O seu dom lhe foi dado para ser usado para o proveito de todo o Corpo de Cristo. O modo biblicamente correto de dizer seria “Ele é um pastor NA igreja de Deus” – o Corpo de Cristo.

O único lugar nas Escrituras onde encontramos alguém presidindo sobre uma assembleia local é o caso de Diótrefes, um homem mau (3Jo 9-10). Ele mandava e desmandava na congregação, exercendo uma função que jamais fora outorgada a nenhum membro do Corpo de Cristo, que é a de um Clérigo acima dos demais cristãos. Assim agem os pequenos papas evangélicos que reinam soberanos nas várias denominações religiosas da cristandade professa.

Os membros de instituições religiosas estão aprisionados e acorrentados por homens que se dizem “pastores da igreja”. Que pena! Escravos de tradições dos homens!

Com base nisso, as pessoas muitas vezes me perguntam: “Quer dizer que você não acredita que devemos ter um ‘pastor’?”. Vamos responder a essa pergunta de forma bíblica.

ISSO SIGNIFICA QUE NÃO ACREDITAMOS NA EXISTÊNCIA DE PASTORES?

Com base naquilo que acabei de dizer, alguns inferem que não acreditamos na existência de pastores na igreja, mas a verdade é que acreditamos sim, pois a Bíblia fala de pastores (Ef 4.11). Um pastor é alguém que recebeu o dom de pastorear o rebanho de Deus. Trata-se de um dos muitos dons que Cristo deu à igreja.

Nossa objeção é quanto ao que as igrejas denominacionais chamam de “Pastor”. Transformaram o dom em algo que não é encontrado nas Escrituras. Extraíram o termo das Escrituras e o aplicaram à posição de um clérigo, algo que não é encontrado na Bíblia. O que mais causa confusão é que, em sistemas assim, uma pessoa pode ocupar tal posição e nem mesmo ter o dom de “Pastor”! Talvez ele tenha o dom de evangelista ou mestre etc., e mesmo assim acabará levando o título de “Pastor”! Que triste confusão foi introduzida na casa de Deus!

A ASSEMBLÉIA LOCAL NECESSITA DE TODOS OS DONS EM SEU MEIO; NÃO SÓ DE PASTOR; NÃO SÓ DE UM HOMEM

Um dos princípios sobre o ministério cristão que é muito distorcido e fraudulosamente aplicado nas instituições religiosas é que sempre há um homem designado como “pastor da igreja” que irá usar disso para mandar e desmandar em todos os membros da igreja, sem que ninguém possa contestar o que ele diz. Porém, se, conforme as Escrituras, Cristo distribuiu os dons pelo Espírito aos diversos membros do Seu corpo, e considerando que esses dons não são todos possuídos por um único homem, precisamos da participação nas reuniões de todos os que têm um dom para isso. O Apóstolo diz que “a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito...” (1Co 12.4-10,29-30). Fica perfeitamente claro nesta passagem que uma vez que os dons não estão todos de posse de um só homem, a assembleia irá precisar de mais de um homem ministrando, isto se quiserem obter o benefício dos dons que porventura existam em seu meio. Todavia, o sistema clerical existente no cristianismo denominacional impede isso. O que acontece nesse sistema é que um homem arrecada dinheiro dos membros de sua seita construída com pedras e tijolos, impondo sobre estes membros a lei mosaica do dízimo (como se dízimo significasse dinheiro – nunca significou) e se coloca no papel de um clérigo que irá controlar aquela congregação. Essa é uma das maiores heresias inventadas na história das denominações religiosas. Isso não tem nada a ver com a Igreja de Deus.

Alguns poderão dizer: “Nossa igreja não tem apenas um homem como ministro. Temos dois ou três pastores”. Todavia, ainda assim continuam sem entender esta passagem. A intenção de Deus é que a Igreja possa crescer “pelo auxílio de todas as juntas”, não de apenas duas ou três (Ef 4.16). É verdade que provavelmente nem todos tenham um dom para ministrar publicamente a Palavra, mas, como já mencionamos, as Escrituras indicam que todos os que estiverem capacitados devem ter a liberdade de ministrar na assembleia. A Palavra de Deus diz que “todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados” (1Co 14.24, 31). Também é verdade que um homem pode ter mais de um dom, mas as Escrituras são claras no sentido de que uma só pessoa não possui todos os dons. O Apóstolo até mesmo chega a fazer uma advertência quanto ao perigo de não considerarmos a diversidade de dons que Deus colocou no corpo. Ele diz: “O olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós” (1Co 12.21). Isto demonstra que todos os membros no corpo têm algo para contribuir, ainda que aos nossos olhos pareçam insignificantes. Todavia, a ordem clerical estabelecida nas denominações religiosas é um sistema no qual duas ou três pessoas cuidam do ministério. Trata-se de um sistema que impede que outros dons sejam exercitados na igreja, o que é outra forma de se dizer “não tenho necessidade de ti”.

Aqueles que ocupam uma posição ministerial nessas ditas igrejas discordam veementemente disso, pois afirmam que em suas “igrejas” encorajam as pessoas a se reunirem para exercitar seus dons – mas isso se limita a reuniões domésticas de estudo da Bíblia. O contexto destes capítulos, porém, trata do exercício dos dons nas reuniões da assembleia (1Co 11.17,18,20,33,34; 14.23,26). A questão é: “Acaso eles permitem que haja liberdade dos dons na igreja?”. A resposta é não, eles não permitem.

O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES

O significado da palavra “sacerdote” é “aquele que faz a oferta” (Hb 5.1; 8.3; 1Pe 2.5). Um sacerdote é alguém que tem o privilégio de entrar na presença de Deus em lugar do povo. No cristianismo o sacerdote exerce seu sacerdócio ao oferecer os sacrifícios de louvor a Deus, e ao apresentar as petições a Deus em oração (Hb 13.15; 1Jo 5.14-15). Todavia, uma das causas da fraqueza e confusão que prevalece na igreja professa é que, em muitos casos, o sacerdócio é considerado como um direito limitado a uma classe privilegiada de pessoas, algumas delas que nem sequer são salvas!

A verdade é que todos os cristãos são sacerdotes. É isto que as Escrituras ensinam. O livro de Apocalipse declara que os cristãos são feitos “sacerdotes para Deus” por meio da fé na obra consumada de Cristo na cruz (Ap 1.6; 5.10). A epístola de Pedro confirma isto, dizendo que “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pe 2.5, 9). Além disso, a epístola aos Hebreus exorta todos os cristãos a se aproximarem de Deus além do véu, entrando no santuário ou “santo dos santos” (Hb 10.19-22; 13.15-16). O fato de dizer que o Senhor é o “Grande Sacerdote” ou “Sumo Sacerdote” implica que existe um grupo de sacerdotes que está abaixo dEle. Ele não presidiria como “grande” ou “sumo” sacerdote se não existissem sacerdotes sob Ele. Pela mesma razão, uma pessoa não seria chamada de líder de algum grupo de pessoas se não existissem pessoas para ele liderar. A exortação em Hebreus 10.19-22 visa encorajar os cristãos a se aproximarem de Deus e desempenharem seus privilégios sacerdotais.

Em cada uma das passagens do Novo Testamento onde o assunto do sacerdócio é tratado, não há qualquer menção – nem uma sequer – de que apenas alguns dentre os santos sejam sacerdotes. Tampouco existe em qualquer outro lugar do Novo Testamento algo semelhante. Quando o Novo Testamento fala de sacerdócio, ele se refere, sem exceção, a todos os crentes como constituídos com este privilégio. Além do mais, essas passagens não apenas nos falam que todos os cristãos são sacerdotes, como também aprendemos delas que somos sacerdotes com privilégios que vão além daqueles que tinham os sacerdotes da época do Antigo Testamento.

Um sacerdote no cristianismo pode aproximar-se da própria presença de Deus, no santo dos santos. Esse é um lugar onde nenhum filho de Aarão podia entrar. Até mesmo quando Aarão, o sumo sacerdote em Israel, entrava uma vez por ano além do véu, ele não o fazia com ousadia, como podemos fazer agora. No dia da Expiação ele entrava ali com medo de morrer, mas nós podemos entrar “em inteira certeza de fé”. Além disso, os sacerdotes da linhagem de Aarão prestavam um culto do qual pouco compreendiam. Eles não sabiam por que deviam fazer as coisas que lhes eram ordenadas. Mas nós temos um “culto racional” (Rm 12.1). Podemos desempenhar nossas funções sacerdotais com entendimento de tudo aquilo que fazemos na presença de Deus.

Portanto, considerando que as Escrituras ensinam que todos os cristãos são sacerdotes, e que todos nós temos igual privilégio de desempenhar nosso sacerdócio na presença de Deus, fica claro que não existe a necessidade de um clérigo para fazer isso pelos demais. Nas reuniões de adoração e oração (quando os cristãos exercitam seu sacerdócio), tudo o que precisamos é esperar no Espírito de Deus para que Ele dirija as orações e os louvores dos santos. Se permitirmos que Ele lidere na assembleia, no lugar que Lhe é de direito, Ele irá guiar um irmão aqui e outro ali a expressar de forma audível uma adoração e louvor, como quem fala por toda a assembleia. (Evidentemente entendemos que não somente desempenhamos nosso sacerdócio nas ocasiões em que estamos congregados em uma assembleia. A qualquer momento um cristão pode entrar na própria presença de Deus em oração e adoração e desempenhar seu papel de sacerdote. Mas no contexto deste artigo estamos falando de cristãos reunidos em uma assembleia para adoração e ministério).

Quando compreendemos a proximidade do relacionamento que todos os cristãos têm como parte do corpo e noiva de Cristo, podemos ver como a ideia de uma casta ministerial mais próxima de Deus do que os demais é totalmente incompatível com isso (Ef 2.13; 5.25-32). Se nós, como cristãos, adotarmos uma classe de pessoas assim, estaremos negando que somos capacitados, como sacerdotes, a oferecer sacrifícios espirituais a Deus. Na prática isso destrói os privilégios do cristianismo e, em certo sentido, restaura o judaísmo, ou ao menos nos leva de volta para aquele nível.

Enquanto algumas poucas denominações chegam ao ponto de possuírem um clérigo com o título de “Sacerdote” (dando a entender que os demais naquela denominação não o são), a maioria das igrejas chamadas evangélicas denomina seu clérigo de “Pastor” ou “Ministro”. Isso faz pouca diferença, pois uma posição assim na igreja não está de acordo com a verdade das Escrituras. Trata-se de uma função puramente inventada pelo homem.

TÍTULOS LISONJEIROS

As organizações eclesiásticas da cristandade não apenas criaram uma posição que não existe na Palavra de Deus, mas também adicionaram a ela vários títulos que tampouco encontramos nas Escrituras. Títulos como “Ministro”, “Pastor” ou “Doutor em Divindade” são encontrados na maioria das denominações.

É certo que palavras como “ministro” e “pastor” são mencionadas na Bíblia, mas nunca são usadas como títulos. Como já dissemos, pastor é um dom, não um título clerical. O ensino da Palavra de Deus é este: “Que não faça eu acepção de pessoas, nem use de palavras lisonjeiras com o homem! Porque não sei usar de lisonjas; em breve me levaria o meu Criador” (Jó 32.21-22).

O Senhor Jesus disse: “Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Cristo, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre, que é o Cristo. O maior dentre vós será vosso servo. E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.8-12). Todavia, mesmo que as Escrituras digam isso com total clareza, algumas denominações chamam seus clérigos de “Padre”, que vem do latim e significa “Pai”.

Como já foi mencionado, algumas organizações eclesiásticas usam o título “Doutor”. A palavra “doutor” vem do latim “docere”, que significa ensinar. Portanto, um doutor é um mestre. Mas isto é uma das coisas que o Senhor disse que não deveríamos usar para nos identificarmos uns aos outros! Quando um homem é apresentado a uma audiência como “Doutor Fulano”, a implicação que isso tem é que suas palavras têm autoridade por causa do grau de conhecimento que ele alcançou. Obviamente algo assim não tem qualquer fundamento nas Escrituras. Não estamos dizendo aqui que seja errado ter o título de “Doutor” nas profissões seculares, mas trata-se de algo que não tem lugar nas coisas de Deus.

Algumas denominações chegam ao ponto de usar o título “Reverendo”. Todavia, a Bíblia, na versão inglesa, diz que "reverend" ("reverendo") é o nome do Senhor! O Salmo 111.9 da versão inglesa King James, traduzido para o português, diz: “Santo e reverendo é o Seu nome”. Acaso seria correto o homem usar um termo que é atribuído ao Senhor como um título para si mesmo? É claro que não.

Quando os moradores da Licaônia tentaram atribuir a Barnabé e Paulo títulos elevados, eles se recusaram a recebê-los, dizendo: “Senhores, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões” (At 14.15). Semelhantemente, hoje todo servo do Senhor deveria recusar títulos lisonjeiros. A Palavra de Deus ensina que pastor é apenas mais um dentre os muitos dons dados por Cristo (Ef 4.11). Por que alguém iria querer elevar especificamente este dom na igreja, ao ponto de transformá-lo em um título oficial que ocupasse um lugar de preeminência sobre os outros dons? Não existe uma linha sequer nas Escrituras que indique que a igreja deveria fazer algo assim.

A PALAVRA “DESIGREJADO”

Aqueles que estão acorrentados e amordaçados pelo sistema religioso denominacional nos acusam de “desigrejados” e dizem que nossa posição do “Um só Corpo” significa que não congregamos, visto que estamos fora do sistema religioso denominacional. Esse é um exemplo de como a desonestidade e canalhice desses hereges podem atingir um nível de iniquidade ainda maior. Eles se referem aos santos congregados ao nome do Senhor como “desigrejados” pelo fato de não fazerem parte das várias divisões denominacionais que se encontram na cristandade. Porém, a definição de "desigrejado" atribuída aos santos que congregam fora do sistema denominacional está errada. Este termo nem mesmo existe. O correto seria dizer que somos “apóstatas” se fosse o caso de “abandono da fé” ou “da congregação”. Mas isso está longe de ser um fato. Todavia, num ato de histeria coletiva eles repetem como papagaios: “mas você é um desigrejado... você é um desigrejado!”, sem contudo apresentarem uma premissa plausível que sirva de base para suas convicções e nos torne de fato aquilo de que somos acusados.

Mas, eu pergunto: Como se “desigrejar” da Igreja? O que isso pode significar? Tal acusação trata-se de uma falácia conveniente a fim de nos pressionar a voltar àquilo que não provém da ordem de Deus, isto é, voltar a fazer parte de seitas ou sinagogas onde doutrinas estranhas são pré-concebidas por um – assim chamado – “pastor”, onde os membros da denominação aceitam tudo que é dito ali, sem nada questionar. Ainda que a palavra “Desigrejado” existisse, seria impossível alguém se “desigrejar”, visto que ninguém dentre os escolhidos de Deus pode se fazer membro da Igreja ou se desfazer dela por vontade própria. Se você nasceu de novo e é nova criatura em Cristo, já é um membro do CORPO DE CRISTO e ninguém pode lhe arrebatar das mãos dEle (Jo 15.16; Jo 10.28). Uma boa forma de provar isso é que a Bíblia diz que não somos nós que nos fazemos membros do Corpo de Cristo, mas sim o Espírito de Deus que nos introduz na Igreja dEle: “... E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (Atos 2.47). O fato é que Deus não ordenou ninguém a instituir denominações. Ele disse para congregarmos “EM SEU NOME” (Mt 18.20), não no templo. Ao contrário do que diz Atos 2.47, que diz que o Senhor acrescenta à Igreja aqueles que hão de ser salvos, as organizações religiosas vão atrás de seus membros e usam de apelos para isso. Já na Igreja de Cristo este apelo se mostra desnecessário, já que o próprio Senhor irá acrescentar à Igreja aqueles que hão de ser salvos. Eu faço parte desta Igreja, da qual eu não poderia me fazer membro por mim mesmo, mas fui acrescentado pelo Senhor a ela (At 2.47).

“Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras” (Provérbios 23.9).

O termo "Desigrejado" é tendencioso, falacioso e totalmente desconexo. Ele carrega uma conotação pejorativa e está destinado àquelas pessoas que não fazem mais parte da confusão das denominações (empresas) religiosas porque descobriram que essas instituições não possuem nenhum amparo das Escrituras, e que elas são simplesmente uma ordem inventada pelo homem.

Portanto, que todo leitor esteja apto para ouvir as palavras deste artigo, as quais, sob a base das Escrituras, mostram de forma cristalina que se você e sua família creem em Jesus Cristo vocês fazem parte do Corpo de Cristo e não podem ser retirados jamais desse Corpo. Se nos reunimos para o culto a Deus em casa, somos a igreja de Cristo congregando entre irmãos.

Não somente as denominações evangélicas têm enganado a muitos com a ideia insana de que seus templos são a igreja, a fim de trancafiarem os fieis dentro de seus templos institucionalistas. Na história constatamos que esse movimento papista surgiu há muito tempo. A igreja católica romana, por exemplo, usou dos mesmos estratagemas para estigmatizar a pessoa de Lutero e dar continuidade à manipulação religiosa. Lutero foi considerado pelo Papa Leão X como um “desigrejado”. A falácia consistia na mesma premissa de hoje – a de que se você não pertence à denominação considerada oficial pelos “sacerdotes”, “doutores” e “mestres”, e de acordo com suas tradições superficiais, você automaticamente não faz parte da Igreja de Cristo. Meu desejo é que Deus, segundo o beneplácito da Sua vontade, venha a falar aos corações de Seus escolhidos por meio deste artigo para que pessoas voltem a observar a simplicidade do evangelho da graça de Deus.

LIBERTO DO SISTEMA

O servo do Senhor não deve se deixar prender e acorrentar por uma organização denominacional criada por homens. O Apóstolo Paulo não se deixou colocar sob o comando de qualquer tipo de organização criada pelo homem. Ele disse: “Procuro eu agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo” (Gálatas 1.10). Ele disse também: “O que é chamado pelo Senhor, sendo servo, é liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de Cristo. Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens” (1 Coríntios 7:22-23).

“O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos 17.24). “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6.19). O templo de Deus é o nosso corpo, não edifícios feitos de pedras e tijolos com mãos humanas.

Guarde bem o que eu irei lhes dizer: As pessoas não se reúnem em uma “igreja”; é a igreja que se reúne em um lugar.

Portanto, minha resposta quanto à pressão que geralmente os idólatras de seus clérigos impõem sobre mim é que eu já fui liberto dessas correntes do sistema religioso! Hoje o meu Pastor é Cristo.

– JP Padilha
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Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....