CAPÍTULO 2 – A DOUTRINA ACERCA DE DEUS (Teontologia)



"(...) o mais portentoso fato a respeito de qualquer homem não é o que poderá dizer ou fazer em um dado momento, mas sim a imagem que ele leva de Deus, no fundo do seu coração". – A. W. Tozer, Mais Perto de Deus, p.7

Obviamente os crentes aceitam sem reservas o fato da existência de Deus. Crendo na veracidade da Bíblia, não podem negar o Deus que ela apresenta.

Assim, numa sociedade em que o ateísmo filosófico e prático finge ser incontestável, os discípulos de Jesus caminham na contramão das tendências seculares, proclamando a realidade de um Deus criador, amoroso e santo com quem é possível o homem se relacionar e, por meio disso, desfrutar de notável satisfação.

Segundo a visão cristã, a negação de Deus ou o conceito errado sobre Ele produzirá desajustes e quedas na vida de uma pessoa. Já o conceito correto sobre Deus trará equilíbrio e sensatez.

Os cristãos também acreditam que o fato de alguém aceitar ou não o Deus das Escrituras Sagradas influencia diretamente não somente a sua religiosidade, mas também o estilo de vida que adota, o qual abrange seu modo de pensar, falar e agir. O ateísmo, segundo entendem, é, portanto, perigoso, uma vez que lança o homem num vácuo moral, longe de qualquer fundamento ético sólido sobre o qual possa construir sua vida e conduta.

Fica claro, portanto, que a crença em Deus e a concepção sadia acerca dele não são meras questões filosófico-religiosas, mas constituem fatores determinantes da felicidade e do bom viver do ser humano.

A EXISTÊNCIA DE DEUS

A Bíblia não discute a existência de Deus. Antes, simplesmente a afirma logo em seu primeiro versículo (Gn 1.1), dizendo posteriormente que é possível perceber que Deus existe por meio da criação e da providência (At 14.17; Rm 1.20), sendo isso tão óbvio que somente os insensatos são capazes de dizer que não há Deus (Sl 14.1).

“Há pessoas que dizem que Deus não existe. Mas o que me deixa realmente irritado é que citam o meu nome para apoiar essa visão”. – Albert Einstein

Por causa disso, os argumentos a seguir não foram desenvolvidos na Bíblia. Em vez disso, foram elaborados por teólogos do passado que perceberam que a existência de Deus pode ser comprovada pelo simples uso da razão.

Há, basicamente, quatro argumentos lógicos que são usados para defender a existência de Deus. Veja-os a seguir:

O argumento cosmológico: Esse argumento afirma que existe um mundo (Gr. kosmos). Logo, algo ou alguém deve tê-lo causado, pois não existe efeito sem causa. Ademais, numa cadeia ininterrupta de causas e efeitos, chega-se fatalmente a uma causa original não causada. Essa causa primária só pode ser Deus. Os principais expoentes desse argumento foram Aristóteles e Tomás de Aquino.

O argumento teleológico: Aponta para o fato de que as coisas que existem no universo têm um propósito ou finalidade (Gr. telos). Além disso, tudo revela um arranjo ordenado num grau de harmonia e organização surpreendentes. Obviamente, um sistema harmonioso, funcional e que atende a inúmeras finalidades não pode ter como causa uma força impessoal (como uma explosão, por exemplo) ou o acaso. De fato, somente uma mente inteligente pode originar sistemas tão complexos como os encontrados no universo. Essa “mente” só pode ser Deus.

O argumento antropológico e moral: Esse argumento realça que o homem não é apenas um ser físico, mas também um ente dotado de consciência, senso moral, intelecto, emoções e vontade. Esses fatores psíquicos e morais não podem ter como causa uma força cega ou meros componentes físico-químicos. Além disso, a crença da divindade é inerente ao homem. Tudo isso só encontra explicação no fato de o ser humano ter sido criado à imagem e semelhança de um Deus santo e pessoal que imprimiu nele algumas de suas marcas.

O argumento ontológico: Foi proposto inicialmente por Anselmo de Canterbury (c. 1033-1109). Parte da afirmação de que a crença em Deus é universal, sendo certo que todo homem tem em si a ideia de um Ser Perfeito. Segundo Anselmo, se o homem concebesse a ideia de um Ser Perfeito que não existe, esse ser não seria perfeito, dada a sua inexistência. Logo, o Ser Perfeito deve existir. Esse argumento, além de confuso, tem sido muito questionado no tocante à sua validade.

OS ATRIBUTOS DE DEUS

Um atributo é uma qualidade própria de um ser. Por atributos de Deus entendem-se as propriedades que pertencem ao seu ser e que consequentemente o caracterizam. Seus atributos são perfeições que lhe são atribuídas nas Escrituras e que podem ser verificadas nas obras da criação, providência e redenção.

Como os atributos de Deus são vários, alguns estudiosos os dividem em dois grupos: os atributos naturais e os atributos morais.

OS ATRIBUTOS NATURAIS

São atributos ligados à existência de Deus, ou seja, àquilo que ele é em si mesmo. Os atributos naturais são os seguintes:

Vida. Deus é um ser vivo. Ele pensa, sente e age. Sua vida é infinita. Ele jamais morrerá (Jr 10.10; Mt 16.16; Jo 5.26; 1Ts 1.9).

Espiritualidade. Deus é Espírito. Ele não tem corpo, sendo, portanto, invisível (Dt 4.15; Jo 4.24; 1Tm 1.17).

Personalidade. Deus é pessoal. Isto não significa que ele existe em um corpo como as pessoas comuns, mas sim que ele tem uma personalidade, sendo dotado de intelecto (ou inteligência), emoções e vontade (Êx 4.14; Rm 8.28; 11.33-36; Ef 1.8-9).

Autoexistência. Deus existe por si mesmo. Ele não foi causado. Sua vida não provém de nada que não seja ele mesmo. É necessário frisar também que ele não se autocriou (Êx 3.14; Jo 5.26).

Eternidade. Deus não tem começo e nem fim. Ele existe e sempre existiu eternamente. Ele está acima do tempo (Sl 90.2; Hb 1.10-12; Ap 1.8 ).

Onisciência. Deus conhece todas as coisas. Não há nada que ele possa ou tenha que aprender. Seu conhecimento é infinito e completo (Is 40.28; Rm 11.33; Hb 4.13). Ele sabe o que aconteceu, o que acontece, o que acontecerá e o que aconteceria (Sl 139.3-4; Mt 11.21-23).

Onipotência. Deus tem poder ilimitado. Ele pode fazer tudo que deseja e que planejou executar sem que nada o impeça ou dificulte suas ações (Jó 42.2; Jr 32.17; Sl 115.3; Mt 19.26). Entretanto, todo o seu poder é coerente com seu caráter santo e sua natureza infinita. Desse modo, há coisas que Deus não pode fazer como mentir, morrer ou criar um ser melhor que ele próprio (Tt 1.2; Hb 6.18).

Onipresença. Deus está presente em todos os lugares. Não se pode fugir de sua presença. Isso não significa que Deus está contido em sua criação, mas, sim, que não existe lugar algum em todo o universo onde ele não esteja (Sl 139.7-10; Jr 23.23-24).

Imutabilidade. Deus não muda. Ele permanece sempre o mesmo. Seu relacionamento com as pessoas as transforma, mas ele mesmo nunca é transformado. De fato, nada lhe pode ser acrescentado ou tirado. Sua imutabilidade é real porque ele é perfeito, não havendo nada em seu ser que precise mudar (Sl 102.27; Ml 3.6; Tg 1.17).

OS ATRIBUTOS MORAIS

São os atributos ligados ao caráter infinitamente imaculado de Deus. Podem ser resumidos em dois:

Santidade. Deus é absolutamente santo. Ele está separado de tudo o que é mau e impuro. Ele é perfeito, puro e íntegro em seu caráter (Is 6.3; 1Pe 1.15-16; 1Jo 1.5; Hb 6.18). A santidade de Deus se manifesta por meio de sua retidão, ou seja, ele faz e exige o que é reto (Sl 25.8 ). Também por meio de sua justiça, que é a execução das penalidades contra o pecado (Sl 11.4-7), a santidade de Deus se evidencia.

Amor. Deus ama suas criaturas. Ele se preocupa com o bem-estar delas. Movido pelo amor, Deus sai em busca do homem e procura se relacionar com ele, mesmo quando isso envolve sacrifício (Is 63.9; Jo 3.16; 1Jo 4.16). O amor de Deus se manifesta também por meio de sua misericórdia, que é a disposição que tem de não aplicar a pena que o pecado merece, e por meio da sua graça, que é a disposição que tem de dar aquilo que o pecador não merece (Ef 2.8 ).

Outros importantes atributos de Deus são:

Soberania: Deus reina absoluto sobre todo o universo, governando-o com sua infinita sabedoria e sem ter que oferecer explicações a ninguém acerca de seus atos (Jó 40.1-9; Rm 9.20).

Liberdade: Sendo soberano e dono de tudo, Deus é livre para fazer o que quiser, sendo impossível que ultrapasse seus “direitos”, uma vez que não há limites para sua autoridade (Is 46.9-10; Rm 9.21).

Autossuficiência: Deus não precisa de nada nem de ninguém. Quando ele realiza ou ordena algo, não o faz para suprir alguma necessidade sua, mas para manifestar livremente seu amor, sabedoria, poder e graça aos homens (At 17.24-25).

A TRINDADE

Deus é um ser em três pessoas. Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas, que se inter-relacionam numa única essência. Essa doutrina não pode ser entendida pela lógica humana, mas é claramente ensinada na Bíblia que afirma a divindade do Pai (Ef 1.3), do Filho (1Jo 5.20) e do Espírito (At 5.3-4).

A doutrina da Trindade não deve ser entendida como triteísmo (a crença em três deuses distintos), pois ainda que Deus seja tripessoal, a Bíblia afirma claramente que ele é um só em essência ou substância (Dt 6.4; Tg 2.19).

Também não se deve pensar que as pessoas da Trindade sejam manifestações diferentes de uma só pessoa divina (sabelianismo ou modalismo). Isso porque as três pessoas, ainda que unidas em essência (Jo 10.30), são distintas entre si (Mt 3.16-17), sendo certo que o Filho é eternamente gerado (unigênito) pelo Pai (Jo 1.14,18; 3.16,18) e a ele se sujeita (Jo 5.19; 8.28; 12.49), enquanto o Espírito Santo procede somente do Pai, mas é enviado tanto pelo Pai (Jo 14.16,26) como pelo Filho (Jo 15.26).

Sendo as três pessoas da Trindade iguais em divindade, tanto o Pai como o Filho e o Espírito Santo devem ser igualmente adorados, cultuados, honrados invocados e obedecidos (Mt 28.19; 1Co 8.6; 2Co 13.14; 2Tm 1.2; 1Jo 1.3).

OS NOMES DE DEUS

Elohim – Deus (Alguém forte) – Gn 1.1
Adonai – Senhor (de tudo) – Js 3.11
Yahweh – EU SOU QUEM SOU – Ex 3.14-15
El Shaddai – Deus Todo-Poderoso – Gn 17.1
El Elyon – Deus Altíssimo – Gn 14.18-22
El Olam – Deus Eterno – Is 40.28
Yahweh Jireh – O Senhor proverá – Gn 22.14
Yahweh Nissi – O Senhor é minha bandeira – Ex 17.15
Yahweh Shalom – O Senhor é paz – Jz 6.24
Yahweh Sabbaoth – O Senhor dos exércitos – 1Sm 1.3
Yahweh Meqaddishkem – O Senhor que vos santifica – Ex 31.13
Yahweh Tsidkenu – O Senhor justiça nossa – Jr 23.6

OS DECRETOS DE DEUS

Decretos de Deus são seus planos e desígnios perfeitos, estabelecidos na eternidade. Por meio deles o Senhor dirige soberanamente a história e realiza sua vontade em todo o universo, atingindo, assim, seus propósitos santos (Ef 1.11).

Os decretos de Deus são impossíveis de ser frustrados (Jó 23.13-14; 42.2; Is 43.13; 46.10), sobrepõem-se aos propósitos humanos (Sl 33.10; Pv 19.21; Dn 4.35; Fp 2.13) e, sendo perfeitos, não sofrem alterações (1Sm 15.29; Is 46. 10; Hb 6.17), subsistindo para sempre (Sl 33.11).

IMPORTANTE!
Quando a Bíblia diz que Deus se arrependeu, isso não significa que Ele reconheceu seus erros e, então, decidiu voltar atrás (1Sm 15.29). Na verdade, a frase “Deus se arrependeu” é expressão do que alguns teólogos chamam “linguagem analógica”, ou seja, uma linguagem que envolve comparação ou aproximação. Isso significa que o que Deus sente não pode ser traduzido com precisão em termos humanos. Por isso, a Bíblia adota muitas vezes uma linguagem que se aproxima ao máximo do que o homem pode compreender a partir de suas próprias sensações e experiências, sendo certo, contudo, que essa forma de falar sobre a divindade não descreve suas emoções com exatidão. Outro fato a se considerar é que o arrependimento, quando aplicado a Deus, NÃO se refere necessariamente a mudanças de ideia, mas sim a uma “guinada” no modo como Ele vem tratando o homem, seja da benção para o castigo (Gn 6.6-7; 1Sm 15.11,35; Jr 18.9-10), seja do castigo para o perdão (Ex 32.14; 2Sm 24; Jr 18.8; Am 7.2-6; Jn 3.10). Isso, porém, não implica alteração do seu plano previamente traçado.

A Bíblia ensina que os decretos de Deus envolvem “todas as coisas” (Ef 1.11), mas é possível classificar as esferas de sua abrangência da seguinte maneira:

A criação: Tudo o que Deus criou está sujeito aos seus planos e cumpre o que ele determina (Sl 148.1-10). Foi, inclusive, por seu decreto soberano que a natureza foi submetida à vaidade (ou seja, foi condenada à uma existência fútil, fadada à deterioração) até o dia da libertação dos crentes (Rm 8.20-21). De fato, nada acontece em toda a criação sem a autorização suprema de Deus (Mt 10.29).

A história: O Senhor determinou os tempos de ascensão e queda de todos os povos e também as regiões específicas que deveriam ocupar (Dt 32.8; At 17.26). Ele decretou os atos cruéis da Assíria (Is 10.5-6) e a queda desse império por não reconhecer que era só um instrumento nas mãos de Deus (Is 10.12-15). Ele decretou também a destruição das nações pelos babilônios (Sf 3.8 ), predeterminou o castigo dos próprios babilônios (Jr 25.11-14) e planejou a restauração de Jerusalém por meio de Ciro (Is 44.24-28; 46.11). As ações de Herodes, de Pôncio Pilatos, dos gentios e do povo de Israel no trato com Jesus foram predeterminadas por Deus (At 4.27-28). Ele também traçou a trajetória de expansão do cristianismo (At 16.6-10). O Senhor ainda decretou que a história termine com a sujeição completa de todo o universo a Cristo (Ef 1.9-10). Na verdade, as profecias do AT e os ensinos do NT acerca do futuro nada mais são do que revelações dos decretos de Deus referentes à história universal.

O governo humano: Ainda que os diversos países sejam governados por homens e sistemas legais injustos, é preciso reconhecer que os decretos de Deus também estão por trás dos governos das nações, não havendo nenhuma autoridade política que não tenha sido estabelecida pelo Senhor (Dn 2.21; Rm 13.1). Foi Deus quem deu autoridade e poder a Faraó (Rm 9.17), a Nabucodonozor (Jr 27.4-8 ), a Ciro (Is 41.2-4; 45.1-7) e a Pilatos (Jo 19.10-11), tudo com o objetivo de, por meio deles, cumprir os seus decretos. Desse modo, ele, o Senhor, tem pleno domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem ele quer (Dn 4.17,25,32; 5.21), movendo o coração dos governantes de acordo com seus propósitos às vezes misteriosos, mas sempre justos (Êx 9.12; 10.20,27; 11.10; 14.8; Ed 7.21-28; Pv 21.1).

A vida dos indivíduos: Os planos de Deus se realizam também na vida de cada indivíduo, sendo ele quem decide formar pessoas fisicamente perfeitas (Sl 139.13-14) e pessoas mudas, surdas e cegas (Êx 4.11; Jo 9.1-3). O Senhor também decretou os limites da vida de cada um, fixando o número certo de seus dias (Jó 14.5; Mt 6.27) e todos os detalhes da história de todos os seres humanos (Jó 23.13-15; Sl 138.8; 139.16), incluindo suas funções (Jr 1.5; Gl 1.15-16), suas capacitações (Dn 2.21), suas experiências (At 22.14-15) e a forma como hão de morrer (Jo 21.18-19; At 1.15-20). Deus age livremente e como bem entende na vida de todo e qualquer indivíduo, sempre com o objetivo de realizar seus objetivos (Dn 4.35). Ele fez com que Sansão se interessasse por uma moça filisteia a fim de cumprir seus planos contra os inimigos de Israel (Jz 14.1-4). Ele impediu que os filhos de Eli ouvissem os conselhos do pai porque queria matá-los (1Sm 2.25). Ele também decretou a traição de Judas revelando-a de antemão na Escritura e usando o falso discípulo para cumprir as profecias sobre a rejeição e morte do Messias (Mt 26.24; Jo 17.12; At 1.15-20).

A salvação: Os decretos de Deus abrangem a história, o meio e os alvos da salvação. Na eternidade, ele planejou que seu Filho fosse morto como sacrifício pelo pecado (At 2.23; 1Pe 1.18-20) e que a oferta de salvação em Cristo fosse feita a todas as nações (Lc 24.44-48). Ele também decretou quem seria salvo e quem seria destinado para a ira (Pv 16.4; Rm 9.15-18,21-24; 1Pe 2.8 ). Essa decisão foi tomada antes dos tempos eternos (Ef 1.4-5) com base em sua própria determinação e graça e não com base em méritos pessoais (Ef 1.11; 2Tm 1.9). Ao homem não cabe questionar o decreto salvífico de Deus, uma vez que ele tem o direito de ser gracioso com quem quiser e de endurecer o coração de quem quiser (Is 63.17; Rm 9.18-21), sendo sempre justo em todas as suas decisões (Rm 9.14). No cumprimento de seus santos desígnios, o Senhor também decretou que uniria judeus e gentios num só corpo, a igreja (Ef 3.3-11) e que só um remanescente de Israel seria salvo antes da vinda do Senhor (Rm 9.27; 11.5,25-26).

RESSALVAS IMPORTANTES

Os decretos de Deus não tornam os homens inocentes pelos males que praticam
.

Os caldeus foram considerados culpados por sua maldade contra Judá (Hc 1.11), mesmo sendo o próprio Deus quem os levantou para realizar esses atos (Hc 1.6). Da mesma forma, Herodes e Pôncio Pilatos pecaram quando conspiraram contra Jesus, apesar de ter sido Deus quem decretou que agissem assim (At 4.27-28). O que se depreende disso é que o decreto de Deus não anula o pecado dos perversos, nem torna Deus culpado por suas más ações. Note-se que Jesus reprovou Judas mesmo sabendo que ele, com sua traição, cumpriu o decreto divino (Mt 26.24). Pedro, por sua vez, criticou os judeus de Jerusalém por matarem Jesus, mesmo sabendo que isso tinha sido preestabelecido por Deus (At 2.23). A maneira como Deus decreta o mal sem se tornar culpado e sem remover a culpa dos perversos não é revelada na Escritura, estando além da compreensão humana. Trata-se de um dos muitos mistérios que permanecem escondidos na mente insondável do Senhor (Dt 29.29) e que deve estimular a humildade, a fé e a adoração, e nunca a rebelião ou o inconformismo (Rm 11.33-36).

Os decretos de Deus não podem ser alterados pelas orações dos homens.

Textos que dão a impressão de que Deus mudou de plano por causa da intercessão de alguém (e.g., Êx 32.9-14) devem ser entendidos no sentido de que a aparente mudança no desejo do Senhor já estava fixada em seus planos pré-estabelecidos, sendo a própria oração parte integrante desses planos. É por isso que, mesmo sabendo que Deus já tem tudo planejado, o crente deve orar. Passagens bíblicas como 2Samuel 7.27-29, Daniel 9.2-3 e Apocalipse 22.20 mostram pessoas orando mesmo depois de Deus ter revelado o que já tinha planejado fazer.

Os decretos de Deus relativos à salvação não devem desencorajar o evangelismo.

Deus não somente decretou quem seria salvo, mas também determinou que os seus eleitos fossem alcançados por meio da pregação (1Co 1.21). Assim, uma vez que o crente não sabe quem é eleito, é seu dever pregar a todos. Ademais, é preciso destacar que o decreto eletivo de Deus é, na verdade, um estímulo ao evangelismo, uma vez que fornece a garantia do seu sucesso. De fato, uma vez que é certo que os escolhidos atenderão ao convite do evangelho (Jo 10.16; At 13.48), os crentes devem se sentir encorajados a proclamar com empenho as boas-novas. Note-se que em Atos 18.9-10 foi a certeza de que havia eleitos de Deus em Corinto que motivou Paulo a perseverar no trabalho de evangelização daquela terrível cidade.

CUIDADO! VENENO!

Ateísmo materialista: Nega a existência de Deus e de qualquer realidade espiritual. Para os ateus, o universo, as leis que o regem, a matéria e a vida vieram à existência pelo acaso. Na concepção ateísta mais inflexível, a crença em Deus é perigosa, pois gera intolerância, sendo a base de todas as guerras religiosas e de inúmeros abusos e crueldades praticados pelos homens ao longo da história. Muitos ateus também afirmam que a crença em Deus é apenas um instrumento de dominação utilizado por uma minoria a fim de incutir temor nas massas e, assim, obter obediência servil.

Panteísmo: De acordo com essa concepção, Deus tem um pólo espiritual e um pólo material. O universo físico é o pólo material de Deus. Assim, Deus é tudo e tudo é Deus. O panteísmo nega a realidade de um Deus pessoal e criador. É acolhido pelas religiões orientais como o hinduísmo e o budismo. No ocidente, sua maior expressão se encontra nas seitas de Nova Era.

Teologia do Processo: Concebe toda a realidade como um processo em desenvolvimento do qual Deus faz parte. Nesse processo Deus se aperfeiçoa e aprende, sofrendo constantes mudanças enquanto tenta influenciar o mundo e é influenciado por ele. Os homens, uma vez que têm livre-arbítrio, podem resistir a Deus e frustrá-lo na realização de seus ideais, fazendo-o sofrer. Essa vertente doutrinária ensina ainda que Deus não realiza intervenções sobrenaturais na história e nem conhece o futuro, pois este depende das decisões livres dos indivíduos. No tocante ao problema do mal, a Teologia do Processo afirma que Deus não pode impedir a maldade e o sofrimento já que não direciona as ações das pessoas. Tudo o que ele pode fazer é agir como um companheiro que entende a angústia e a dor.

Teísmo Aberto: Deus abriu mão de sua soberania e não interfere na história de modo decisivo, nem tem o controle meticuloso do universo, pois isso anularia a liberdade do ser humano. Assim, para o teísmo aberto não existe predestinação nem qualquer decreto divino que seja imposto ao homem. Na verdade, Deus sequer conhece o futuro plenamente, estando este em aberto.

Unitarismo e unicismo: O unitarismo nega a Trindade, rejeitando a divindade do Filho e do Espírito. Já o unicismo, também conhecido como modalismo ou sabelianismo, afirma que na Trindade só existe um núcleo pessoal que é o Pai (monarquianismo), sendo o Filho e o Espírito Santo apenas modos distintos como o Pai se manifesta. As Testemunhas de Jeová são um exemplo de seita unitarista. Movimentos unicistas atuais são a Igreja Pentecostal Unida do Brasil; o Ministério Voz da Verdade, o Tabernáculo da Fé e a Igreja Local, ligada ao ministério Árvore da Vida.

Concepções populares: Deus é concebido como um ser supremo, porém distante, não se importando com os detalhes da vida humana ou com o modo como as pessoas vivem. Esse “deus” não reprova praticamente nada, exceto os desvios que o senso comum também reprova (crimes, abusos, etc.) ou as injustiças que a pessoa acredita que foram feitas contra ela. Eventualmente pode ser invocado, especialmente quando o suplicante passa por algum problema mais sério. Esse deus imaginário não requer adoração, honra ou santidade das pessoas. É mais uma projeção mental a que os homens recorrem para experimentar algum alívio em dias de desespero.

Continua em: 
CAPÍTULO 3 – A DOUTRINA ACERCA DE CRISTO (Cristologia)

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PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS BÁSICAS | Marcos Granconato

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