CAPÍTULO 5 – A DOUTRINA ACERCA DO HOMEM (Antropologia)



– Compreendo, senhor. Estava pensando que bem poderia ter uma ascendência mais honrosa.
– Descende de Adão e Eva – tornou Aslam – É honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra. Dê-se assim por satisfeito.

- C. S Lewis – O Príncipe e a Ilha Mágica

INTRODUÇÃO

O que é o homem? Como ele surgiu? Qual a razão de sua existência? O ser humano tem algum grau de dignidade? Se tem, qual é a base dessa dignidade? O homem é somente um animal constituído de simples matéria perecível ou sua estrutura abrange algo mais? Tem ele deveres morais? Qual é a fonte e a base desses deveres?

Essas perguntas e muitas outras são feitas frequentemente por pessoas que veem com razão a importância que as respostas a elas têm para o sentido da vida e o procedimento ético. Diante dessas questões, filósofos seculares das mais variadas tendências elaboraram diferentes respostas, sem que nenhuma delas fornecesse bases sólidas para o respeito devido ao ser humano ou para um sistema de conduta que pudesse ser esperado ou exigido das pessoas.

Os cristãos, por sua vez, creem que a Bíblia responde todas essas perguntas de modo claro e preciso, formando uma antropologia sadia que eleva a importância de cada indivíduo e que lança as bases para uma conduta honrosa.

A CRIAÇÃO

Fora da Bíblia não há nada que possa ser dito com certeza sobre a origem do homem. Os povos antigos legaram vários contos e lendas sobre o aparecimento da raça humana na Terra, mas todos esses relatos são desprovidos de credibilidade.

Nos tempos modernos a ciência tem formulado teorias relacionadas à origem do homem. Essas teorias, porém, baseiam-se mais em hipóteses do que em fatos demonstráveis.

A verdade é que, à luz do ensino bíblico, o homem não é produto de uma evolução natural como muitas pessoas acreditam. O homem é, isto sim, um ser criado por Deus (Gn 1.26-27).

De fato, a Bíblia afirma que o homem recebeu de Deus um organismo físico formado do pó da terra (Gn 2.7). Além de receber um organismo físico, ao homem também foi dada uma alma (Gn 2.7).

Veja-se também os textos de Eclesiastes 12.7, Isaías 43.7 e Zacarias 12.1.

VISÃO EVOLUCIONISTA (ERRADO):
O ser humano é um animal racional bípede da família dos primatas, pertencente à subespécie Homo sapiens, originado a partir das forças aleatórias do processo evolutivo.

VISÃO CRIACIONISTA (CORRETO):
O ser humano é um ente que veio à existência por um ato criador de Deus, feito à sua imagem e semelhança, constituído por corpo material, alma racional e imortal, cujo propósito pelo qual foi plasmado é glorificar aquele que o criou e desfrutar para sempre da comunhão com ele.

VERDADES SOBRE O CORPO E A ALMA

O corpo – Foi formado do pó da terra (Gn 2.7).
A alma – Foi concedida por Deus ao homem (Gn 2.7; Zc 12.1).

O corpo – É reconhecido como um organismo maravilhoso (Sl 139.14).
A alma – Tem valor incomparável (Mt 16.26).

O corpo – É templo do Espírito Santo no homem que se converte (1Co 6.19).
A alma – Tem personalidade (Sl 139.14; Pv 21.10; Mt 26.38).

O corpo – Será restaurado na ressurreição (1Co 15.51-53; Ap 20.4-6).
A alma – É imortal, permanecendo consciente após a morte ((Fp 1.22-23; Ap 6.9-11).

CONCEPÇÕES DIVERGENTES SOBRE A ORIGEM DA ALMA

Traducianismo
: A alma dos filhos deriva da dos pais, como acontece com o corpo. É a concepção de Tertuliano e Agostinho (Gn 5.3; Hb 7.9-10). A ortodoxia cristã tende para essa posição.

Emanação do Ser Supremo: Um ser supremo origina a alma ao difundir e propagar sua própria essência. Esse ser supremo pode ser o Logos (estoicos), o Uno (neoplatônicos) ou a Substância (Spinoza).

Criação simultânea ou pré-existencialismo: Todas as almas foram criadas por Deus de uma só vez quando o mundo se originou ou pouco antes disso. Foi a concepção de Platão, Fílon e Orígenes. Essa teoria dá suporte para ideias reencarnacionistas (Ec 12.7).

Criação individual e direta: Deus cria cada alma no exato momento da fecundação e a une ao corpo (Nm 16.22; Sl 104.30, Hb 12.9). O problema é que, nesse caso, Deus criaria uma alma pura e perfeita e a daria ao homem imperfeito. Outro problema é que Deus cessou sua obra criadora (Gn 2.3).

Evolução da matéria: A alma (entendida apenas como racionalidade, personalidade, etc.) não tem substância ou existência independente. Trata-se de um fenômeno da corporeidade, o resultado casual da evolução. É a posição de Marx e dos materialistas.

A ESTRUTURA DO SER HUMANO

Há, basicamente, duas concepções distintas acerca da estrutura do ser humano:

Tricotomismo: O homem é composto de corpo, alma e espírito (1Ts 5.23; Hb 4.12).

Dicotomismo: O homem é composto por uma parte material (corpo) e uma espiritual (alma ou espírito – Mt 10.28; Lc 1.46-47 – Aqui há um paralelismo em que alma e espírito são sinônimos). (Rm 8.10; 1Co 5.5 1Co 7.1).

OBSERVAÇÃO: O responsável por esta exposição do livro em PDF se posiciona de acordo com o TRICOTOMISMO. As supostas bases bíblicas para o Dicotomismo não servem de amparo para essa ideia e entram em contradição com os textos bíblicos que dividem o ser humano em três partes, sendo elas corpo, alma e espírito. De fato, as bases bíblicas que apoiam o Tricotomismo são mais sólidas, diretas e concisas. - JP Padilha

Existe, contudo, na Bíblia, bases para a formação de concepções mistas. Em Gênesis 2.7, por exemplo, a alma é definida como o corpo animado pelo espírito.

ATENÇÃO!
Outro entendimento vê uma dicotomia na parte espiritual, considerando a alma, com sua racionalidade e força vital, um fator ligado ao espírito. Essa concepção é aceitável porque, às vezes, a alma não aparece como sinônimo de espírito, mas sim como a sede das emoções, da memória, do intelecto, da autoconsciência, etc. (Mt 26.38; 2Pe 2.8; Hb 6.19; 3Jo 2).

A CONDIÇÃO ORIGINAL

Originalmente o homem foi criado:

À imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27; 5.1; 9.6; 1Co 11.7). Isto não significa que o homem é fisicamente semelhante a Deus, pois Deus é espírito (Jo 4.24) e não tem um corpo. Certamente na expressão “imagem e semelhança” estão envolvidos a personalidade, o senso moral, a capacidade de se relacionar num nível pessoal, o poder de dominar a criação e a espiritualidade, fatores que caracterizam o ser humano e que tanto o diferem dos animais.

É preciso esclarecer que imagem e semelhança são termos distintos usados para descrever uma mesma realidade. A expressão encerra um recurso de linguagem chamado hendíadis, palavra que significa, literalmente, “um por meio de dois”. Na hendíadis, portanto, duas palavras de conceito básico levemente distinto são usadas para se referir a um único conceito. Esse é, pois, o caso de “imagem e semelhança”.

O fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus torna o homem um ser digno de respeito.

Com faculdades intelectuais (Gn 2.19-20). Ao ser criado, o homem podia pensar, falar e tomar decisões. Ele já possuía, então, uma natureza racional.

Com uma natureza moral santa (Ec 7.29). Quando Deus criou o homem, este não tinha qualquer pecado ou impureza. Certamente esta foi a maior glória que recebeu. O homem, no princípio, era um ser moralmente perfeito.

CINCO FATOS SOBRE A IMAGO DEI

1. A “imagem e semelhança” é transmissível (Gn 5.1-3).
2. A imago Dei serve como fundamento para a aplicação da pena capital ao assassino (Gn 9.6).
3. Com base na imago Dei, a maledicência é reprovada (Tg 3.9).
4. A criação do homem trouxe honra e glória a Deus. Já a criação da mulher trouxe honra e glória ao homem. A imago Dei somada a esse fato explica por que o homem (masculino) não pode se igualar à mulher em termos de autoridade (1Co 11.7).
5. Tendo sido corrompida pelo pecado, Deus atua no imago Dei do crente, fazendo-a crescer na direção da semelhança de Cristo (Rm 8.29; 2Co 3.18; Gl 4.19; Cl 3.9-10; 1Jo 3.2).

O PROPÓSITO DA CRIAÇÃO DO HOMEM

O Catecismo Maior de Westminster, formulado pela Assembleia de Westminster (1643-1649), ensina com precisão o propósito principal da criação do homem:

Pergunta 1: Qual é o fim supremo e principal do homem?

Resposta: O fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e deleitar-se nele para sempre.

A base bíblica para esse ensino se encontra em Romanos 11.36; 1Coríntios 10.31; Salmo 73.24-26; João 17.22-24. (Vd. tb. Is 43.7).

CUIDADO! VENENO!

Evolucionismo/materialismo: Afirma que a realidade veio à luz pelo acaso e que o homem é só mais um item que compõe essa realidade, tendo surgido por meio de forças impessoais que deram andamento a um longo processo evolutivo. Foi, assim, por meio da evolução que o ser humano chegou ao atual estágio em que se encontra biológica e mentalmente. Uma vez que o homem é somente matéria, não existe vida além-túmulo.

“O efeito de não se acreditar em Deus é acreditar em qualquer coisa”. – Gilbert K. Chesterton

Existencialismo: O termo “existencialismo” abrange uma vasta gama de ideias e concepções. Em seu formato mais secularizado, porém, parte da noção de que o homem simplesmente foi jogado e abandonado neste mundo, de maneira que, se quiser ser feliz, deve viver aqui por conta própria, elaborando seus valores e tomando suas próprias decisões. Portanto, de acordo com essa visão, não há nenhum sentido na vida. Contudo, o ser humano pode vencer esse vazio existindo intensamente, isto é, vivendo de maneira apaixonada (agindo, sentindo, provando, fazendo...), apesar de estar num mundo absurdo e muitas vezes cruel. O tempo que o homem tem para tomar as decisões que vão dinamizar sua vida é muito curto. De qualquer forma, no fim a morte transformará a existência humana em nada. Existencialistas famosos são Karl Jaspers, Jean-Paul Sartre, Martin Heiddeger e Søren Kierkegaard.

Religiões orientais e Nova Era: Toda a realidade é divina, o que inclui o homem. Sendo divino, o ser humano tem poderes sobrenaturais que deve desenvolver e também detém a prerrogativa de criar suas próprias verdades. Por meio da reencarnação, as pessoas vivem várias vidas até alcançar uma consciência plenamente iluminada e, enfim, dissolver-se na força do cosmos.

Continua em: 
CAPÍTULO 6 – A DOUTRINA ACERCA DO PECADO (Hamartiologia)

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PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS BÁSICAS | Marcos Granconato

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