A PRESERVAÇÃO DOS SANTOS – Parte 1 | JP Padilha


INTRODUÇÃO
Uma das doutrinas mais odiadas pelos arminianos (defensores da teoria do livre-arbítrio) é a doutrina da Perseverança ou Preservação dos Santos. Na teologia, ela está inclusa na soteriologia (Doutrina da Salvação). Ela é o último ponto dos “Cinco Pontos do Calvinismo”, designado pelo “P” no acrônimo TULIP, referindo-se à “perseverança dos santos”. Resumidamente, a doutrina assevera que, uma vez que uma pessoa verdadeiramente se converte a Cristo, ela nunca mais se afastará dEle (Jo 10.28-29). Uma vez que a verdadeira fé lhe é impingida por Deus na conversão, ela nunca mais tornará para o seu estado de pecador não-salvo (2Pe 1.10; Ef 1.13; Rm 8.29-30,38-39; Jo 5.24), de forma que, definitivamente e para sempre, essa pessoa está salva, e é impossível que o Espírito Santo a deixe ou que ela perca a salvação. A teoria de que um salvo pode perder a salvação é herética – antibíblica. Portanto, uma vez que uma pessoa verdadeiramente se converte e se torna um cristão, ela certamente já está salva.

EXPRESSÕES TEOLÓGICAS
Este ensino é designado por diversas expressões diferentes. Embora algumas possam ser melhores do que outras no sentido em que contém mais informação sobre a doutrina, todas elas são acuradas e cada uma delas carrega implicações teológicas importantes. Senão, vejamos:

SEGURANÇA ETERNA –
O termo “segurança eterna” assevera que a salvação do crente é algo que não se pode perder – ele não está em perigo e não será tomado.

Preste atenção na palavra “eterna”. Se ela for entendida como denotando uma duração sem fim, então, ela é sinônimo de “para sempre” e, então, enfatiza a natureza perpétua da segurança do crente. Ela não é algo que dura por um tempo e então se dissipa; ela é algo que durará para sempre.

Embora algumas pessoas tenham em mente principalmente essa ênfase quando usando a expressão, seu significado torna-se ainda mais rico se a entendemos corretamente – “eterna”! Isso se refere ao decreto eterno de Deus na eleição. Isto é, “eterna” designa o decreto soberano e imutável de Deus numa eternidade atemporal para a salvação dos Seus eleitos. Em outras palavras, a salvação de um crente está para sempre segura porque, na eternidade, Deus decretou a salvação deste indivíduo.

É impossível ser mais claro do que João 5.24: “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. – Atente-se para os tempos dos verbos, os quais revelam uma transformação imutável na posição do pecador salvo: “ouve”, “crê”, “TEM”, “entrará”, “PASSOU”. A passagem NÃO diz que o salvo “terá” vida eterna, mas que tem a vida eterna no momento em que crê, o que significa um direito adquirido por graça, e tão somente pela graça.

A Bíblia diz: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna” (1 João 5.13). Suponha que você estivesse na frente de Deus neste exato momento e Ele lhe perguntasse: “Por que eu deixaria você entrar?” O que você diria? Você pode não saber o que responder. O que você precisa saber é que Deus nos ama (isto é, a Igreja) e providenciou para nós uma forma para que pudéssemos saber com certeza onde vamos passar a eternidade. Ele enviou apóstolos e profetas para escreverem a Sua Palavra para que não ficássemos sem um norte a respeito do assunto. Temos aqui uma lista de passagens bíblicas que nos conforta com a certeza da salvação em Cristo Jesus.


UMA VEZ SALVO, SEMPRE SALVO –
Outra descrição popular desta doutrina é “uma vez salvo, sempre salvo”. Ela claramente nos mostra que, uma vez que uma pessoa foi salva, sua salvação continua imutável e ininterrupta para “sempre”. Todavia, essa expressão permite mal-entendimento e distorções. Embora ela nos diga em que estado um crente salvo permanece, ela não nos diz pela vontade de quem, por qual poder e por quais meios ele persevera.

A PERSEVERANÇA DOS SANTOS –
Calvinistas frequentemente usam os termos “a perseverança dos santos” quando se referindo à doutrina da Preservação dos Santos.

Em algumas formas, essa expressão é superior às duas anteriores. Primeiro, ela inclui mais informação relevante, visto que ela declara, não somente o resultado, mas também o estado no qual a salvação de um crente permanece intacta. Especificamente, ela transmite o fato inequívoco de que um crente sempre persiste, espiritualmente e moralmente, na condição convertida. Ela implica que ele enfrenta tentações e dificuldades em seu caminhar com Deus, e, ainda assim, “persevera” através desses desafios.

Essa expressão, além do mais, contra-ataca o mal-entendimento de que, uma vez que uma pessoa professa o Cristianismo, ela pode abandonar a sua fé, retornar permanentemente ao pecado e ainda assim ser salva. Ao invés disso, essa expressão aponta que uma pessoa que foi salva permanece salva, independente dos pecados que ela possa cometer ao longo da vida, visto que ela persevera contra as tentações e dificuldades da vida com Cristo, praticando o arrependimento e confissão de seus pecados.

Todavia, essa expressão, assim como aquela que diz “uma vez salvo, sempre salvo”, ainda permite mal-entendimento e distorções. Embora ela nos diga em que estado um crente salvo permanece, ela não nos diz pela vontade de quem, por qual poder e por quais meios ele persevera. Ela deixa espaço para alguém pensar que, uma vez convertido, um crente então tem, dentro de si mesmo, a vontade e o poder para sempre perseverar através de todas as tentações e dificuldades, mesmo que ele não possua essa disposição e capacidade antes da conversão. Essa ainda não é a versão bíblica da doutrina. Certamente, a expressão não carrega essa distorção, mas nem diretamente a exclui.

A PRESERVAÇÃO DOS SANTOS –
Talvez a melhor expressão para descrever a doutrina em questão seja “a preservação dos santos” – ela é rica em conteúdo e bíblica na ênfase.

Como todas as expressões anteriores para esta doutrina, essa nos diz algo sobre o resultado final – que um crente permanecerá salvo para sempre após se converter. No entanto, ela nos diz muito mais do que isso. Assim como “perseverança dos santos”, a ideia de “preservação” implica que o crente permanecerá, verdadeiramente e finalmente, na condição positiva espiritual e moral que a regeneração produziu nele.

Em adição, ela nos diz que a razão de um crente perseverar em seu estado regenerado e convertido é porque ele é “preservado”. Isso implica a dependência contínua do crente da graça de Deus e que um crente permanece salvo por causa da vontade e do poder de Deus, e não por causa da vontade e poder do homem. Além do mais, ser “preservado” implica que a pessoa é protegida contra influências e forças hostis, e, portanto, carrega a narrativa bíblica de que o crente continua a enfrentar tentações e dificuldades após a conversão, e que Deus o preserva para que sua fé não desfaleça.

Portanto, essa expressão – Preservação dos Santos – tem a vantagem de incluir muita informação relevante, se não for por afirmação direta, então pelo menos por implicação. Ela honra a obra de Deus, exclui a vanglória do homem e reflete a ênfase bíblica sobre a graça soberana e sobre o poder ativo de Deus durante toda a preservação da salvação do eleito, desde a conversão até a consumação.

Certamente, essa expressão ainda não diz tudo o que podemos e devemos dizer sobre a doutrina da Preservação dos Santos. Ela não enfatiza adequadamente e igualitariamente todos os seus aspectos, nem exclui diretamente todas as distorções e más representações. Ela também não nos fala sobre os meios pelos quais Deus usa para nos preservar, exceto a natureza do Seu poder ativo de preservar Seus santos escolhidos. Todavia, para uma expressão curta, essa é provavelmente a melhor porque é a mais centrada em Deus e se refere a todos os aspectos relevantes dessa doutrina, pelo menos por implicação.

DEUS É QUEM PRESERVA OS SEUS SANTOS

Visto que o nosso interesse atual é o entendimento calvinista da preservação dos santos, é apropriado examinar cada ponto das Escrituras e provar, por meio delas, que a doutrina da Preservação dos Santos é bíblica e não tem nenhuma relação com o conceito herético do livre-arbítrio. Estes pontos no fornecem expressões históricas e sistemáticas da fé cristã do ponto de vista calvinista. Na verdade, o termo “Calvinismo” é apenas um apelido. Quando falamos de Calvinismo, estamos falando das doutrinas da graça de Deus contidas na Bíblia. Todos os pontos que tecerei aqui contêm verdades divinas absolutas que são relevantes para a doutrina da Preservação dos Santos.

1.
Para deixar o mais claro possível: como de boa vontade renunciamos a qualquer honra e glória pela nossa própria criação e redenção, assim também o fazemos pela nossa regeneração e santificação, pois, por nós mesmos, nada de bom somos capazes de pensar, falar ou fazer (Rm 7.15-25), mas só Aquele que em nós começou a boa obra nos faz continuar nela (Fp 1.6), para o louvor e glória de Sua graça imerecida (Ef 2.8-9).

A visão calvinista da preservação dos santos está integrada dentro do contexto do padrão geral da soteriologia bíblica. Isto é, a soteriologia bíblica apresenta a salvação como algo que verdadeira e completamente vem de Deus (Jn 2.9; Ap 7.10), e ela se desenvolve nas vidas dos escolhidos de uma tal forma que exclui toda vanglória humana (Ef 2.8-9).

O fato dos homens serem completamente depravados e incapazes de fazer o bem, somente pela graça e pelo poder soberano de Deus que os eleitos são regenerados – é Deus quem deve começar Sua boa obra em nós. Então, é só Ele quem nos faz continuar nela, para o louvor e glória de Sua graça imerecida. Observe que é “só” Ele quem nos faz continuar, de forma que nenhum crédito seja atribuído ao homem. Tanto a conversão como a santificação dependem completamente da graça soberana de Deus (Fp 2.13).

2. Assim, confessamos que a causa das boas obras não é nosso livre-arbítrio (que não existe em nenhum nível ou aspecto), mas o Espírito de Jesus, nosso Senhor, que habita em nossos corações pela verdadeira fé, produz as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas (Ef 2.10). Por isso, com toda a ousadia afirmamos que é blasfêmia dizer que Cristo habita nos corações daqueles em quem não há nenhum espírito de santificação. Portanto, não hesitamos em afirmar que os assassinos, os opressores, os cruéis, os perseguidores, os adúlteros, os fornicadores, os idólatras, os alcoólatras, os ladrões e outros que praticam a iniquidade não têm nem verdadeira fé, nem qualquer porção do Espírito do Senhor Jesus enquanto obstinadamente continuarem na impiedade (1Co 6.9-10). Pois, logo que o Espírito do Senhor Jesus, a quem os escolhidos de Deus recebem pela verdadeira fé, toma posse do coração de alguém, imediatamente Ele regenera e renova esse homem, que assim começa a odiar aquilo que antes amava e a amar o que antes odiava (Rm 7.15). Mas, o Espírito de Deus, que dá testemunho junto ao nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm 8.16), leva-nos a resistir aos prazeres imundos e a suspirar na presença de Deus pelo livramento desse cativeiro da corrupção, e, finalmente, a triunfar sobre o pecado, para que ele não reine em nossos corpos mortais (Rm 6.12). Os homens carnais não têm esse conflito, pois são destituídos do Espírito de Deus, mas seguem e obedecem com avidez ao pecado, sem nenhum pesar, estimulados pelo diabo e por sua cupidez depravada. Os filhos de Deus, porém, como antes foi dito, lutam contra o pecado (Ef 6.12), suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido. Eles fazem essas coisas não pelo seu próprio poder, mas pelo poder do Senhor Jesus, sem quem nada podem fazer (Jo 15.5).

3. Uma transformação interior real ocorre na pessoa no momento da regeneração, quando ela crê, de fato, em Cristo (At 16.31). O crente, então, continua em sua nova direção espiritual, pois ele não é mais como era antes (Rm 6.17-18). Regeneração não é simplesmente uma experiência de curta duração, após a qual a disposição espiritual da pessoa permanece incerta. Antes, ela é uma transformação fundamental e permanente causada e sustentada pelo Espírito de Deus, que agora habita o crente (1Co 6.19-20; Rm 8.9-11; Jo 14.17).

Isso não significa que a regeneração concede ao crente um novo poder, no sentido de que ele agora funciona para produzir o bem espiritual à parte da graça e do poder contínuo de Deus. A Bíblia explicitamente nega que uma pessoa produza boas obras por qualquer “livre-arbítrio” humano, mesmo após ele ter sido regenerado. Em vez disso, ela diz que “a causa das boas obras” nos crentes é “o Espírito do Senhor Jesus” (Rm 8.9-11), que habita em nós através da fé, que é também um dom de Deus. Em adição, as próprias boas obras que realizamos foram “preparadas para nós” por Deus. Isso nos mostra que a pré-ordenação de Deus, Seu decreto eterno, não pré-determinou somente nossa conversão, mas também nossa santificação (Ef 1.4).

Não é como se Deus tivesse pré-determinado que seríamos salvos e então deixasse os eventos subsequentes incertos. Em vez disso, Ele pré-determinou tanto a conversão como a santificação dos Seus escolhidos, pré-ordenando as várias boas obras que eles realizariam após sua regeneração.

Portanto, assim como o “livre-arbítrio” não tem lugar na conversão, o “livre-arbítrio” também não tem na santificação. É a vontade de Deus que causa a conversão e é a vontade de Deus que causa a santificação, e isso significa que a perseverança dos santos não está sujeita à nossa fraqueza, mas à preservação poderosa de Deus.

Contudo, isso não nega que os crentes continuam a enfrentar tentações e dificuldades após sua conversão. De fato, algumas vezes eles caem até mesmo em pecados sérios, embora até essas falhas ocorram pela vontade e pelo poder soberano de Deus. A diferença é que, por causa da pré-ordenação e preservação de Deus, os escolhidos suspiram e gemem quando se sentem tentados à prática do mal; e, se caem, levantam-se outra vez com arrependimento não fingido.

Os crentes não perseveram porque eles têm um “livre-arbítrio” para escolher o bem após a regeneração, mas porque é a vontade de Deus preservá-los por Seu poder, e Ele decidiu que eles finalmente triunfarão sobre o pecado.
A Bíblia afirma que Jesus já venceu o pecado e a morte. Ao crer em Jesus, o crente recebe a vitória sobre o pecado e o poder para resistir a ele (1Jo 3.8-9; Rm 6.14-18; Tg 4.7; 1Co 10.13).

É anti-escriturístico dizer que a vontade de um homem está cativa ao pecado antes da conversão e que ele passa a ter “livre-arbítrio” após a conversão. A Escritura ensina que o homem está cativo à maldade antes da conversão e que ele está cativo à justiça após a conversão (Rm 6.17-18).

Segue-se que, antes de mais nada, aqueles que não demonstram mudança real no pensamento e conduta, e aqueles que não perseveram na santidade, nunca foram convertidos. A Bíblia ousadamente declara que é impossível que um homem possa ser um verdadeiro crente e ao mesmo tempo viver sem o “espírito de santificação” (2Tm 3.1-5). Todos aqueles que obstinadamente continuam em impiedade nunca foram convertidos, mesmo que eles reivindiquem serem crentes. E, se uma pessoa declara ter o Espírito Santo em si, mas, continua no caminho da perdição, eu até mesmo presumo que isso seja uma blasfêmia contra o Espírito Santo.

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– JP Padilha
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