INTRODUÇÃO
O problema do mal, na filosofia e teologia,
refere-se à dificuldade em conciliar a existência do mal com a crença em
um Deus onipotente, onisciente e perfeitamente bom. Este problema é um
desafio central para muitas religiões e sistemas de crenças que afirmam a
existência de uma divindade que é capaz de impedir o sofrimento e a maldade,
mas que, no entanto, parece não o fazer. Bom, isso pode ser um problema
para as falsas religiões, mas não é um problema para o Cristianismo autêntico.
O problema é formulado de diversas maneiras, mas geralmente se resume ao
seguinte argumento:
1. Deus é onipotente (tudo
pode), onisciente (tudo sabe) e perfeitamente bom (não deseja o mal).
2. O mal existe (tanto moral
quanto natural).
3. Se Deus é onipotente e
perfeitamente bom, Ele teria a capacidade e o desejo de eliminar o mal, logo o
mal não deveria existir.
4. Como o mal existe, parece
haver uma contradição entre as premissas, questionando a existência ou a
natureza de Deus, e, assim, o ateísmo e/ou o teísmo aberto têm a chance de
tentar argumentar contra a soberania de Deus e o determinismo bíblico.
Todavia, o argumento acima já começa errado. E, se o argumento apresenta
algum ponto errado, sua conclusão inevitavelmente se mostrará sem sentido. Por
exemplo, o ponto 1 diz que Deus não deseja o mal. Em termos de metafísica, isto
é, tratando dos decretos de Deus, quem disse isso na Bíblia? Onde? Em qual
passagem? Pelo contrário, ao longo deste artigo veremos que Deus não somente
deseja o mal, como Ele mesmo o criou e decretou ativamente para Seus bons
propósitos. Aqui também será provado que o fato de Deus ter criado o mal não
significa que Ele seja mau ou que Ele tenha feito algo ruim ao criar o mal, mas
que o Seu ato em criar o mal é uma coisa boa. Sendo assim, embora o mal seja
mal (o mal não é bom), a sua existência e propósito são bons porque Deus quis
que assim fosse.
Uma das objeções mais populares, porém superestimada, contra o
Cristianismo, é o assim chamado “problema do mal”. A objeção reivindica que o
que o Cristianismo afirma sobre Deus é logicamente irreconciliável com a
existência do mal. Aqueles que fazem essa objeção reivindicam que eles sabem,
com certeza, que o mal existe, e, visto que isso é incompatível com o Deus
cristão, então segue-se que não há Deus, ou isso mostra, no mínimo, que o que o
Cristianismo afirma sobre Deus é falso.
Sob o uso do problema do mal, os incrédulos têm conseguido confundir
muitos cristãos professos, e parece que muitos daqueles que reivindicam ser
cristãos estão, eles mesmos, perturbados pela existência do mal ou pela quantia
de mal neste mundo. Alguns crentes conseguem fornecer respostas plausíveis que
não são totalmente convincentes, enquanto muitos outros simplesmente chamam a
existência do mal de “mistério”. Contudo, até onde a Escritura trata do
assunto, visto que algo foi revelado, os cristãos não têm o direito de chamá-lo
de "mistério” no sentido de algo que está oculto. O fato de simplesmente não
podermos entender tudo sobre a existência do mal não significa que devemos
ignorar o que a Escritura claramente revela sobre ele.
Por outro lado, as respostas meramente plausíveis [dos opositores] são
insuficientes quando a Bíblia fornece uma resposta infalível e uma defesa
invencível. No que se segue, veremos que a existência do mal não apresenta
nenhum desafio ao conceito cristão de Deus ou a qualquer aspecto do
Cristianismo. Na verdade, são as cosmovisões não-cristãs que não podem fazer
sentido da existência do mal, se é que elas podem ter um conceito do mal.
O PROBLEMA
Os cristãos afirmam que Deus é onipotente
(todo-poderoso) e onibenevolente (todo-amoroso). Nossos oponentes argumentam
que, se Deus é todo-poderoso, então Ele possui a capacidade de acabar com o
mal, e se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com o mal.[1]
Contudo, visto que o mal ainda existe, isso significa que Deus não existe, ou
pelo menos significa que as coisas que os cristãos afirmam sobre Ele são
falsas. Isto é, mesmo que Deus exista, visto que o mal também existe, Ele não
pode ser tanto todo-poderoso como todo-amoroso, mas os cristãos insistem que
Ele é tanto todo-poderoso como todo-amoroso. Portanto, o Cristianismo deve ser
falso.
Aqueles que usam esse argumento contra o Cristianismo podem formulá-lo
de maneiras diferentes, mas, a despeito da forma precisa em que o argumento é
tomado, o ponto é que os cristãos não podem afirmar todos os atributos divinos,
pois assim fazer seria logicamente incompatível com o problema do mal. E se esse
é o caso, então, o Cristianismo é falso. Embora os cristãos tenham agonizado
com este assim chamado “problema do mal” por séculos, o argumento é
extremamente fácil de refutar; ele é uma das objeções mais estúpidas que já vi,
e mesmo como criança eu o consideraria um argumento tolo. Muitas pessoas têm
inquietações com a existência do mal, não porque o mesmo possua qualquer
desafio lógico ao Cristianismo, mas porque elas são sobrepujadas pelas emoções
que o assunto gera, e essas fortes emoções desqualificam efetivamente o nível
mínimo de julgamento e inteligência que eles normalmente exibem.
Agora, visto que os oponentes do Cristianismo reivindicam que o problema
do mal é um argumento lógico contra o Cristianismo, em resposta precisamos
somente mostrar que a existência do mal não contradiz logicamente o que o
Cristianismo ensina sobre Deus. Embora a Escritura também responda
suficientemente aos aspectos emocionais deste assunto, não é nossa responsabilidade
apresentar e defender essas respostas dentro do contexto do debate lógico. De
fato, os problemas emocionais que as pessoas têm com a existência do mal e sua
falta de respostas a esses problemas são totalmente consistentes com o que a
Escritura ensina. Assim, nos focaremos em responder à existência do mal como um
desafio lógico.
LIVRE-ARBÍTRIO
Muitos cristãos favorecem a “defesa do
livre-arbítrio” ao responder o problema do mal. No contexto das narrativas
bíblicas, esta abordagem declara que, quando Deus criou o homem, Ele lhe
concedeu o livre-arbítrio — um poder para tomar decisões independentes, até
mesmo se rebelar contra o Seu Criador. Certamente Deus estava ciente de que o
homem pecaria, mas esse foi o preço de conceder ao homem o livre-arbítrio. Ao
criar o homem com o livre-arbítrio, Deus também criou o potencial para o mal,
mas, até onde a defesa do livre-arbítrio vai, visto que o homem é
verdadeiramente livre, a culpa da realização deste potencial para o mal pode
ser lançada somente sobre o próprio homem. Aqueles que usam a defesa do
livre-arbítrio adicionariam que o potencial ou até mesmo a realização do mal
não é um preço tão alto para se conceder ao homem um livre-arbítrio genuíno.
Embora muitos cristãos professos usem a defesa do livre-arbítrio e para
algumas pessoas a explicação possa parecer razoável, essa é uma teodiceia
irracional e antibíblica — ela falha em responder o problema do mal e contradiz
a Escritura. Primeiro, essa abordagem somente posterga o tratamento do
problema, visto que transforma o debate de “por que o mal existe no universo de
Deus” para “por que Deus criou um universo com o potencial para tão grande
mal”. Segundo, os cristãos afirmam que Deus é onisciente, de forma que Ele não
criou o universo e a humanidade apenas estando ciente de que eles tinham o
potencial para se tornarem maus; antes, Ele sabia com certeza que eles se
tornariam maus. Assim, seja diretamente ou indiretamente, Deus criou o mal.[2]
Nós até podemos tentar distinguir entre mal natural e mal moral — mal
natural inclui desastres naturais tais como terremotos e enchentes, enquanto
que o mal moral refere-se às ações ímpias que as criaturas racionais cometem.
Agora, mesmo se a defesa do livre-arbítrio fornecer uma explanação satisfatória
para o mal moral, ela falha em tratar adequadamente o mal natural. Alguns
cristãos podem reivindicar que é o mal moral que leva ao mal natural. Contudo,
somente Deus tem o poder para criar uma relação entre os dois, visto que os
terremotos e as enchentes não têm relações necessárias com os assassinatos e
roubos, a menos que Deus o faça — isto é, a menos que Deus decida causar
terremotos e enchentes por causa dos assassinatos e roubos cometidos pelas Suas
criaturas. Assim, Deus novamente parece ser a causa última do mal, seja natural
ou moral.
Mesmo se o pecado de Adão tivesse trazido morte e decadência, não
somente à humanidade, mas também aos animais, a Escritura insiste que nenhum
pardal pode morrer à parte da vontade de Deus (Mt 10.29). Isto é, se há
qualquer relação entre o mal moral e o mal natural, a relação não é inerente
(como se algo fosse inerente à parte da vontade de Deus), mas, antes, é
soberanamente imposta por Deus. Mesmo o aparentemente insignificante não pode
ocorrer sem a vontade ativa e o decreto de Deus (não meramente sem a permissão
de Deus). Os cristãos não são deístas — nós não cremos que este universo
funciona por uma série de leis naturais que são independentes de Deus. A Bíblia
nos mostra que Deus está agora ativamente administrando o universo, de forma
que nada pode acontecer ou continuar a existir à parte do poder ativo e do
decreto de Deus (Cl 1.17; Hb 1.3). Se devemos usar o termo de alguma
forma, o que chamamos “leis naturais” são somente descrições de como Deus age
regularmente, embora Ele não esteja, de forma alguma, obrigado a agir dessa
maneira.
Os cristãos devem rejeitar a defesa do livre-arbítrio simplesmente
porque a Escritura rejeita o livre-arbítrio. Antes, a Escritura ensina que Deus
é o único que possui livre-arbítrio. Ele diz em Isaías 46.10: “O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade”. Por outro lado, a vontade do homem é sempre
escrava, ou do pecado ou da justiça: “Mas graças a Deus
que, embora tendo sido escravos do pecado, obedecestes de coração à forma de
doutrina a que fostes entregues. E libertos do pecado, fostes feitos escravos
da justiça” (Romanos
6.17-18). O livre-arbítrio não existe — ele é um conceito assumido por muitos
cristãos professos sem uma garantia bíblica.
Outra suposição popular é que a capacidade moral é o pré-requisito de
responsabilidade moral. Em outras palavras, a suposição é que, se uma pessoa é
incapaz de obedecer às leis de Deus, então, ela não pode ser moralmente
responsável de responder a estas leis, e, portanto, Deus não poderia e não os
puniria por desobedecer estas leis. Contudo, assim como a suposição de que o
homem tem livre-arbítrio, esta suposição de que a responsabilidade moral pressupõe
a capacidade moral é também antibíblica e injustificável.
Com referência aos incrédulos, Paulo escreve: “Porquanto
a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de
Deus, nem em verdade o pode ser” (Romanos
8.7). Se é verdade que a responsabilidade moral pressupõe a capacidade moral, e
Paulo declara que o pecador carece desta capacidade, então, segue-se que nenhum
pecador é responsável por seus pecados. Isto é, se um pecador é apenas um
pecador, se ele tem a capacidade de obedecer, mas se recusa a obedecer, e,
visto que Paulo diz que o pecador realmente carece da capacidade para obedecer,
então, segue-se que um pecador não é um pecador. Contudo, isso é uma
contradição, e é uma contradição que a Bíblia nunca ensina.
A Bíblia ensina que o não-cristão é um pecador e ao mesmo tempo ensina
que ele carece da capacidade para obedecer a Deus. Isso significa que o homem é
moralmente responsável, mesmo se lhe falta a capacidade moral. Isto é, o homem
deve obedecer a Deus mesmo se ele não o pode fazer. É pecaminoso para uma
pessoa o desobedecer a Deus, tenha ele ou não a capacidade para agir de outra
forma. Assim, a responsabilidade moral não é baseada na capacidade moral ou no
livre-arbítrio; antes, a responsabilidade moral é baseada na soberania de Deus
— o homem deve obedecer aos mandamentos de Deus porque Deus diz que o homem
deve obedecer, e se ele tem ou não a capacidade para obedecer, é irrelevante.
Em primeiro lugar, o livre-arbítrio é logicamente impossível. Se
descrevermos o exercício do livre-arbítrio como um movimento da mente em certa
direção, a questão que se levanta é: o que move a mente e por que ele move a
mente para onde ela é movida? Responder que o “eu” move a mente não responde a
pergunta, visto que a mente é o eu, e, portanto, a mesma pergunta permanece.
Por que a mente se move numa direção ao invés de outra? Se pudermos
traçar a causa de seus movimentos e direção aos fatores externos à própria
mente, fatores que, eles mesmos, influenciam a consciência, e dessa forma
influenciam e determinam a decisão, então, como esse movimento da mente é
livre? Se pudermos traçar a causa às disposições inatas de uma pessoa, então,
este movimento da vontade não é livre ainda, visto que, embora essas
disposições inatas influenciem decisivamente a decisão, a própria pessoa não
escolheu livremente essas disposições inatas em primeiro lugar.
O mesmo problema permanece se dissermos que as decisões de uma pessoa
são determinadas por uma mistura de suas disposições inatas com as influências
externas. Se a mente toma decisões baseadas em fatores não escolhidos pela
mente, então, essas escolhas nunca são livres no sentido em que elas são feitas
à parte do controle soberano de Deus — elas não são feitas livres de Deus. A
Escritura ensina que Deus não somente exerce controle imediato sobre a mente do
homem, mas Deus também determina absolutamente todas as disposições inatas e os
fatores externos relacionados com a vontade do homem. É Deus quem forma uma
pessoa no ventre, e é Ele quem arranja as circunstâncias externas pela Sua
providência.
Portanto, embora possamos afirmar que o homem tem uma vontade como uma
função da mente, de forma que a mente faz escolhas, essas nunca são escolhas
livres, porque tudo o que tem a ver com cada decisão foi determinado por Deus.
Visto que a vontade nunca é livre, nunca deveríamos usar a teodiceia do
livre-arbítrio quando tratando do problema do mal.
A SOBERANIA DE DEUS
Muitos cristãos professos se sentem
desconfortáveis com o ensino bíblico de que o homem não tem livre-arbítrio,
visto que o mesmo parece fazer Deus “responsável” pela existência e continuação
do mal. Assim, nesta seção, providenciaremos uma breve exposição do que a
Escritura ensina sobre o assunto, mostrando que afirmar a Escritura é rejeitar
a heresia do livre-arbítrio.
A Escritura ensina que a vontade de Deus determina todas as coisas. Nada
existe ou acontece sem Deus, não meramente permitindo, mas ativamente desejando
que exista ou aconteça:
“Eu anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que
ainda não sucederam; Eu digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha
vontade” (Isaías 46.10).
“Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em
terra sem a vontade de vosso Pai” (Mateus
10.29).
Deus controla não somente os eventos naturais, mas Ele controla também
todos os assuntos e decisões humanas:
“Bem-aventurado aquele a quem Tu escolhes, e fazes chegar a Ti, para que
habite em Teus átrios; nós seremos fartos da bondade da Tua casa e do Teu santo
templo” (Salmos 65.4).
"O Senhor fez todas as coisas para atender aos Seus próprios
desígnios, até o ímpio para o dia do mal” (Provérbios 16.4).
“O coração do homem planeja o seu caminho, mas o SENHOR determina os
seus passos” (Provérbios 16.9).
“Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; como, pois, entenderá o
homem o seu caminho?” (Provérbios 20.24).
“Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do SENHOR; Ele
o inclina a todo o Seu querer” (Provérbios
21.1).
“Visto que os seus dias estão determinados; Tu tens decretado o número
dos seus meses; e Tu lhe puseste limites, e não passará além deles” (Jó 14.5).
“E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a Sua
vontade Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem
possa estorvar a Sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Daniel 4.35).
“Antes se despediu deles, e prometeu: Se Deus quiser, outra vez
voltarei a vós. E navegou de Éfeso” (Atos
18.21).
“Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar,
segundo a Sua boa vontade” (Filipenses
2.13).
“Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá
passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que
acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um
pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor
quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo” (Tiago 4.13-15).
“Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque Tu
criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas” (Apocalipse 4.11).
Se Deus realmente determina todos os eventos naturais e assuntos
humanos, então, segue-se que Ele também decretou a existência do mal. Isto é o
que a Bíblia explicitamente ensina:
“E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou, quem fez o mudo,
ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não Sou Eu, o SENHOR?” (Êxodo 4.11).
“Quem pode falar e fazer acontecer, se o SENHOR não o tiver decretado?
Porventura não é da boca do Altíssimo que sai tanto o mal como o bem?” (Lamentações 3.37-38).
“Eu formo a luz, e crio as trevas; Eu faço a paz, e crio o mal; Eu, o
SENHOR, faço todas estas coisas” (Isaías
45.7).
“Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá
algum mal na cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?” (Amós 3.6).
O maior ato de maldade e injustiça moral na história humana é dito ter
sido ativamente executado por Deus através dos Seus agentes secundários:
“Todavia, foi da vontade do SENHOR esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando
a Sua alma se puser por expiação do pecado, verá a Sua posteridade, prolongará
os Seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará na sua mão” (Isaías 53.10).
“Porque verdadeiramente contra o Teu santo Filho Jesus, que Tu ungiste,
se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de
Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho haviam determinado
que se havia de fazer” (Atos 4.27-28).
Em todo caso, Deus decretou a morte de Cristo por uma boa razão, a
saber, a redenção dos Seus eleitos. Da mesma forma, Seu decreto para a
existência do mal é para um propósito digno de Sua glória. Os eleitos e os
réprobos são ambos criados para esta razão:
“Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas. Trazei meus filhos de
longe e minhas filhas das extremidades da terra — a todo aquele que é chamado
pelo meu nome, e que criei para minha glória, e que formei e fiz” (Isaías 43.6-7).
“Nele, digo, em quem também fomos escolhidos, havendo sido
predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o
conselho da Sua vontade; com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os
que primeiro esperamos em Cristo” (Efésios
1.11-12).
“E Eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei
glorificado em Faraó e em todo o seu exército, e saberão os egípcios que Eu sou
o SENHOR” (Êxodo 14.4).
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em
ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra...
E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira, e dar a conhecer o Seu poder,
suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para
que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de
misericórdia, que para glória já dantes preparou?” (Romanos 9.17,22-23).
Em Romanos 9 temos uma seção que derruba por terra a teoria do
livre-arbítrio, onde Paulo deixa claro como Deus predestina um indivíduo para a
salvação e outro para a perdição antes mesmo de terem nascido. Vamos nos ater a
estas passagens:
“Porque, não tendo eles [Jacó e Esaú] ainda nascido, nem tendo feito
bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não
por causa das obras, mas por Aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior
servirá ao menor. Como está escrito: ‘Amei a Jacó, e odiei a Esaú’.
Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois
diz a Moisés: ‘Me compadecerei de quem Eu quiser me compadecer, e terei
misericórdia de quem Eu quiser ter misericórdia’. Assim, pois, isto não depende
do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a
Escritura a Faraó: ‘Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu
poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra’. Logo, pois, [Ele]
se compadece de quem quer, e endurece a quem quer. Dir-me-ás então: ‘Por que
Ele ainda nos responsabiliza? Porquanto, quem tem resistido à Sua vontade?’
Mas, ó homem, quem és tu, para discutires com Deus? Porventura a coisa formada
dirá ao que a formou: ‘Por que me fizeste assim?’ Ou não tem o oleiro poder
sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para
desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira, e dar a conhecer o
Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a
perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos
de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós, a quem
também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (Romanos
9.11-24).
Baseados nas passagens acima, chegamos à seguinte conclusão:
Deus controla tudo o que existe e tudo o que acontece. Não há nada que
aconteça que Ele não tenha ativamente decretado — nem mesmo um simples
pensamento na mente do homem. Visto que isso é verdadeiro, segue-se que Deus
decretou a existência do mal. Ele não meramente o permitiu, como se algo
pudesse se originar e acontecer à parte de Sua vontade e do Seu poder, mas ativamente
decretou e criou o mal. Visto que temos mostrado que nenhuma criatura pode
fazer decisões completamente independentes, o mal nunca poderia ter começado
sem o decreto ativo de Deus, e não poderia continuar nem por um momento à parte
da vontade de Deus. Deus decretou o mal, no final das contas, para a Sua
própria glória, embora não seja necessário conhecer ou declarar esta razão para
defender o Cristianismo do problema do mal.
Todavia, aqueles que vêem que é completamente impossível desassociar
Deus da origem e continuação do mal, tentam distanciar Deus do mal dizendo que
Deus meramente “permitiu” o mal, e que Ele não causou nada dele. Contudo, visto
que a própria Escritura declara que Deus ativamente decretou tudo, e que nada
pode acontecer à parte da Sua vontade e do Seu poder, não faz sentido dizer que
Ele meramente “permite” algo — nada acontece por mera permissão de Deus.
Visto que “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17.28), num nível metafísico, é absolutamente
impossível fazer algo em independência de Deus. Sem Ele, uma pessoa não pode
nem mesmo pensar ou se mover. Como, então, o mal pode ser tramado e cometido em
total independência dEle? Como alguém pode ao menos pensar o mal à parte da
vontade e do propósito de Deus? Ao invés de tentar “proteger” Deus de algo que
Ele não precisa ser protegido, deveríamos reconhecer alegremente com a Bíblia
que Deus decretou ativamente o mal, e, então, tratar com o assunto sobre esta base.
O censo de Israel realizado por Davi fornece um exemplo do mal decretado
por Deus e realizado através dos agentes secundários:
“E a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi
contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá” (2 Samuel 24.1).
“Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar
Israel” (1
Crônicas 21.1).
Os dois versos referem-se ao mesmo incidente. Não há contradição se a
visão que está aqui sendo apresentada é verdadeira. Deus decretou que Davi
pecaria fazendo o censo, mas Ele fez com que Satanás realizasse a tentação como
um agente secundário.[3] Mais tarde, Deus puniu Davi por cometer
este pecado:
“E pesou o coração de Davi, depois de haver numerado o povo; e disse
Davi ao SENHOR: Muito pequei no que fiz; porém agora ó SENHOR, peço-te que
perdoes a iniquidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente.
Levantando-se, pois, Davi pela manhã, veio a palavra do SENHOR ao profeta Gade,
vidente de Davi, dizendo: Vai, e dize a Davi: Assim diz o SENHOR: Três coisas
te ofereço; escolhe uma delas, para que te faça. Foi, pois, Gade a Davi, e
fez-lhe saber; e disse-lhe: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra;
ou que por três meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três
dias haja peste na tua terra? Delibera agora, e vê que resposta hei de dar ao
que me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos
nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos
homens não caia eu” (2 Samuel 24.10-14).
Embora o mal do qual estamos falando seja deveras negativo, o fim
último, que é a glória de Deus, é positivo. Deus é o único que possui dignidade
intrínseca, e se Ele decide que a existência do mal irá servir, no final das
contas, para glorificá-lo, então, o decreto é, por definição, bom e
justificável. Alguém que pensa que a glória de Deus não é digna da morte e
sofrimento de bilhões de pessoas tem uma opinião muito alta de si mesmo e da
humanidade. A dignidade de uma pessoa pode ser derivada somente do Seu criador
ou lhe dada por Ele, e à luz do propósito para o qual o Criador lhe fez. Visto
que Deus é o único padrão de medida, se Ele pensa que algo é justificável,
então, este é, por definição, justificável. Os cristãos não deveriam ter
problemas em afirmar tudo isso, e aqueles que acham difícil aceitar o que a Escritura
explicitamente ensina deveriam reconsiderar seu compromisso espiritual para ver
se eles estão verdadeiramente na fé.
Muitas pessoas contestarão o direito e a justiça de Deus em decretar a
existência do mal para a Sua própria glória e propósito. Ao discutir a divina
eleição, na qual Deus escolhe alguns para salvação e condena todos os outros à
perdição, Paulo antecipa uma objeção similar, e escreve:
“Dir-me-ás então: ‘Por que Deus ainda nos responsabiliza? Pois, quem
pode resistir à Sua vontade?’ Mas, quem és tu, ó homem, para discutires com
Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: ‘Por que me fizeste
assim?’ Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um
vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos
9.19-21).
Efetivamente, Paulo está dizendo: “Certamente o Criador tem o direito de
fazer o que Ele quiser com as Suas criaturas. E, em primeiro lugar, quem é você
para fazer tal objeção?” Alguns objetam que o homem é maior do que um “pedaço
de barro”. Eu até mesmo já vi um escritor cristão professo fazer essa fútil
objeção. Primeiro, essa é uma analogia bíblica, e um cristão verdadeiro não irá
contestá-la. Mas, se alguém contestá-la, então, o debate se torna um diálogo
sobre a infalibilidade bíblica, que deve ser resolvido primeiro, antes de se
retornar a esta analogia. Visto que eu tenho estabelecido a infalibilidade
bíblica em outro lugar, a negação da infalibilidade bíblica não é uma opção
aqui. Segundo, se um homem é mais do que um pedaço de barro, então, Deus também
é algo mais do que um oleiro — Ele é infinitamente maior do que um oleiro. A
analogia é apropriada quando reconhecemos a linguagem analógica do autor
inspirado a dizer o que ela significa, isto é, Deus como Criador tem o direito
de fazer o que Ele quiser com as Suas criaturas. “Portanto, Deus tem misericórdia
de quem Ele quer, e Ele endurece a quem Ele quer” (Romanos 9.18).
Para uma pessoa ter dificuldade em aceitar que Deus decretou a
existência do mal, implica que ela encontra algo “errado” em Deus fazer tal
decreto. Contudo, qual é o padrão de certo e errado pelo qual esta pessoa julga
as ações de Deus? Se há um padrão moral superior a Deus, ao qual o próprio Deus
é responsável, e pelo qual o próprio Deus é julgado, então, este “Deus” não é
Deus de forma alguma; antes, este padrão maior seria Deus. Contudo, o conceito
cristão de Deus refere-se ao mais alto ser e padrão. Assim, não há, por
definição, nenhum mais alto. Em outras palavras, se há algo mais alto do que o
“Deus” que uma pessoa está argumentando contra, então, esta pessoa não está
realmente se referindo ao Deus cristão. Visto que este é o caso, não há padrão
mais alto do que Deus, ao qual o próprio Deus seja responsável e pelo qual o
próprio Deus seja julgado. Portanto, é logicamente impossível acusar Deus de
fazer algo moralmente errado.
Jesus diz que somente Deus é bom (Lc 18.19), de forma que toda “bondade”
em outras coisas pode ser somente derivada. A natureza de Deus define a própria
bondade, e, visto que nEle “não há mudança nem sombra de variação”
(Tiago 1.17), Ele é o único e constante padrão de
bondade. Não importa quão moral eu seja, ninguém pode me considerar o padrão
objetivo de bondade, visto que a palavra “moral” não tem sentido, a menos que
seja usada com relação ao caráter de Deus. Isto é, quão “moral” uma pessoa é
refere-se ao grau de conformidade de seu caráter com o caráter de Deus. Ao grau
em que uma pessoa pensa e age de acordo com a natureza e os mandamentos de
Deus, ele é moral. Diferentemente, não há diferença moral entre altruísmo e
egoísmo. Virtude e vício são conceitos sem significados; estupro e assassinato
não são crimes, mas eventos amorais.
Contudo, visto que Deus chama a Si mesmo de bom, e visto que Deus
definiu a bondade para nós revelando Sua natureza e bondade, o mal é, dessa
forma, definido como algo que é contrário à Sua natureza e aos Seus
mandamentos. Visto que Deus é bom, e visto que Ele é a única definição de
bondade, é bom também que Ele tenha decretado a existência do mal. Não há
padrão de bom e mal pelo qual possamos denunciar Seu decreto como errado ou
mal. Não estamos afirmando que o mal é bom — o que seria uma contradição — mas,
estamos dizendo que o decreto de Deus para a existência do mal é bom.
Hebreus 6.13 diz: “Quando Deus fez a promessa a Abraão, como
não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por Si mesmo”. Em outras palavras, não há ninguém a quem Deus precise
prestar contas, e não há corte a qual alguém possa arrastá-lo para lançar
acusações contra Ele. Ninguém julga Deus; antes, toda pessoa é julgada por Ele.
Outras passagens bíblicas relevantes incluem as seguintes:
“Se quiser contender com Ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá
responder. Ele é sábio de coração, e forte em poder; quem se endureceu contra
Ele e teve paz? Ele é o que remove os montes, sem que o saibam, e o que os
transtorna no seu furor. O que sacode a terra do seu lugar, e as suas colunas
estremecem. O que fala ao sol, e ele não nasce, e sela as estrelas. O que
sozinho estende os céus, e anda sobre os altos do mar. O que fez a Ursa, o
Órion, e o Sete-estrelo, e as recâmaras do sul. O que faz coisas grandes e
inescrutáveis; e maravilhas sem número. Eis que Ele passa por diante de mim, e
não o vejo; e torna a passar perante mim, e não o sinto. Eis que arrebata a
presa; quem lhe fará restituir? Quem lhe dirá: ‘Que é o que fazes’?” (Jó 9.3-12).
“Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argui
assim a Deus, responda por isso. Então Jó respondeu ao SENHOR, dizendo: ‘Eis
que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho à boca. Uma vez tenho
falado, e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei’. Então o
SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Cinge agora os teus lombos
como homem; Eu te perguntarei, e tu me explicarás” (Jó 40.2-8).
“Ai daquele que contende com o Seu Criador! o caco entre outros cacos
de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: ‘Que fazes’? ou a tua obra:
‘Não tens mãos’? Ai daquele que diz ao pai: ‘Que é o que geras’? E à mulher:
‘Que dás tu à luz’? Assim diz o SENHOR, o Santo de Israel, aquele que o formou:
Perguntai-me as coisas futuras; demandai-me acerca de meus filhos, e acerca da
obra das minhas mãos” (Isaías 45.9-11).
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de
Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus
caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu
conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado?
Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente.
Amém” (Romanos 11.33-36).
Visto que derivamos nosso próprio conceito e definição de bondade à
partir de Deus, acusá-lo de maldade seria como dizer que o bom é mal, o que é
uma contradição.
A SOLUÇÃO
Tendo demolido a popular, porém irracional e antibíblica
defesa do livre-arbítrio, examinaremos agora a resposta bíblica ao problema do
mal. Repitamos primeiro o argumento dos incrédulos:
1. O Deus cristão é
todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso,
então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso,
então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, o Deus cristão
não existe.[4]
O argumento encontra um obstáculo insuperável quando chegamos na
premissa (3), a saber, o não-cristão não pode encontrar uma definição de amor
que sustente essa premissa sem destruir o argumento. Isto é, por qual definição
de amor sabemos que um Deus todo-amoroso desejaria destruir o mal? Ou, por qual
definição de amor sabemos que um Deus todo-amoroso já teria destruído o mal?
Se esta definição de amor vem de fora da Bíblia, então, por que a
cosmovisão bíblica tem que respondê-la? Formar um argumento usando uma
definição não-bíblica de amor seria fazer o argumento irrelevante como um
desafio ao Cristianismo. Por outro lado, se tomamos a definição de amor da
Bíblia, então, aquele que usa este argumento deve mostrar que a própria Bíblia
define amor de uma forma que requer um Deus todo-amoroso destruir o mal, ou já
ter destruído o mal. A menos que o não-cristão possa defender com sucesso a
premissa (3), o argumento do problema do mal falha antes mesmo de terminarmos
de lê-lo.
Agora, se o não-cristão usa uma definição não-bíblica de amor na
premissa (1) , então, o argumento é uma falácia enganadora desde o início. Mas
se o não-cristão usa a definição bíblica de amor na premissa (1), e então
substitui por uma definição não-bíblica de amor na premissa (3), então, ele
comete a falácia do equívoco. Se é assim, então o máximo que seu argumento pode
fazer é apontar que ele tem uma definição não-bíblica de amor, mas seria
completamente irrelevante como um desafio ao Cristianismo.
Por outro lado, se ele tenta usar a definição bíblica de amor, então,
para seu argumento ser relevante, a própria Escritura teria que definir amor de
uma maneira que requeira Deus destruir o mal, ou já ter destruído o mal.
Contudo, embora a Escritura ensine que Deus é amoroso, ela também ensina que
existe mal no mundo, e que este mal está, no final das contas, debaixo do
controle completo e soberano de Deus. Portanto, a própria Escritura nega que
haja qualquer relação entre o amor de Deus e a existência do mal.
Para o argumento do problema do mal permanecer, o não-cristão deve
estabelecer a premissa: “O amor de Deus contradiz a existência do mal”, ou algo
com esse efeito. Mas a própria Escritura não afirma essa premissa, e se o não-cristão
tentar argumentar essa premissa com definições de amor e mal encontradas em sua
própria cosmovisão não-bíblica, então, tudo que ele consegue é mostrar que a
cosmovisão bíblica é diferente da cosmovisão não-bíblica. Nós já sabemos isso,
mas, o que acontece com o problema do mal? O não-cristão aponta para o ensino
escriturístico sobre o amor de Deus, e então, contrabandeia uma definição
não-bíblica de amor que requer que Deus destrua o mal, e, depois disso,
estupidamente se vangloria da “contradição” que ele produziu.
Se uma pessoa quer desafiar a Bíblia ou sustentar a Bíblia por causa do
que ela diz, então ela deve primeiro definir os próprios termos dela. De outra
forma, ela pode somente desafiar o que a Bíblia não diz, o que faz a objeção
irrelevante. O não-cristão deve demonstrar por que o amor de Deus
necessariamente implica que Ele deve ou que Ele deseje destruir o mal, ou que
esse amor de Deus necessariamente implica que Ele deveria ou que Ele desejaria
ter já destruído o mal.
Responder algo como “Porque um Deus amoroso desejaria aliviar o
sofrimento” não ajudaria em nada, visto que essa resposta apenas declara
novamente a premissa em diferentes palavras, de forma que a mesma pergunta
permanece. Por que um Deus amoroso deseja aliviar o sofrimento? Em primeiro
lugar, como alguém define o sofrimento? Se o não-cristão não pode definir amor ou
sofrimento, ou se ele não pode logicamente impor suas definições sobre o
cristão, então sua premissa equivale a dizer que um Deus com um atributo
indefinido X deve desejar destruir ou ter destruído um Y indefinido. Mas se ele
não pode definir nem X e nem Y, então, ele não tem premissa inteligível sobre a
qual construir um argumento inteligível contra o Cristianismo.
Outro tipo de resposta pode ser: “Porque Deus quer triunfar sobre o
mal”. Novamente, qual é a definição de “triunfar”? Se o próprio Deus é a causa
última do mal, e se Deus exerce total e constante controle sobre ele, então, em
que sentido Ele estaria “perdendo” do mal? Assim, seja o que for que um
não-cristão diga, ele encontra o mesmo problema, e é impossível para ele
estabelecer que o amor de Deus contradiz a existência do mal.
Antes, visto que a Bíblia ensina tanto sobre o amor de Deus como sobre a
realidade do sofrimento, é legítimo concluir que, da perspectiva bíblica, o
amor de Deus não implica necessariamente que Ele deva destruir o mal, ou que
Ele deveria já o ter destruído. Certamente, isso não pode ser assim à partir de
uma perspectiva não-bíblica, mas, novamente, isso somente mostra que a
cosmovisão bíblica diverge das cosmovisões não-bíblicas, o que já sabemos, e
que é a razão do debate. Mas o não-cristão ainda não nos deu uma objeção real e
inteligível.
Enquanto o não-cristão falhar em estabelecer a premissa (3), que o amor
de Deus contradiz a existência do mal, o cristão não está sob a obrigação de
tomar seriamente o problema do mal como um argumento contra o Cristianismo. De
fato, visto que o não-cristão falha em definir alguns dos termos-chave, ninguém
pode logicamente sequer entender o argumento — não há argumento, e não há real
objeção à resposta.
Se pararmos aqui, já teremos refutado o assim chamado problema do mal,
tendo mostrado que não há tal problema de maneira alguma. Contudo, apenas para
a discussão continuar, aceitaremos a premissa por ora. Isto é, por causa do
argumento, assumiremos que o amor de Deus, de alguma forma, contradiz a
existência do mal, enquanto guardamos em mente que isso é algo que a Escritura
nunca ensina, e que os não-cristãos nunca estabeleceram.
Agora, os não-cristãos argumentam que, dado a existência do mal, o Deus
cristão não pode logicamente existir. Em resposta, já mostramos que o
não-cristão não pode estabelecer a premissa de que um Deus todo-amoroso deve
necessariamente destruir ou desejar destruir o mal. Tendo dito isso, procedemos
agora para apontar que as premissas do argumento não levam necessariamente à
conclusão do não-cristão em primeiro lugar; antes, muitas conclusões diferentes
são possíveis:
EXPLICAÇÃO 1
1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus tem um bom propósito para o mal.
EXPLICAÇÃO 2
1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus eventualmente destruirá o mal.
Sem declarar imediatamente se pensamos que os argumentos acima são
válidos ou inválidos, o ponto é que, num argumento válido, as premissas devem
necessária e inevitavelmente conduzir à conclusão. Contudo, no argumento do
problema do mal, as premissas, de forma alguma, conduzem necessária e
inevitavelmente à conclusão. Portanto, o argumento do problema do mal é
inválido.
Ao invés de usar a realidade do mal para negar a existência de Deus, as
duas versões revisadas acima chegam a duas conclusões diferentes. Novamente, eu
não disse se essas duas versões revisadas são bons argumentos, e não disse que
as premissas, necessária e inevitavelmente, levam a essas duas conclusões. Antes,
tudo que estou tentando mostrar é que as premissas não levam necessária e
inevitavelmente à conclusão do não-cristão, e isso é suficiente para mostrar
que seu argumento é inválido.
Alguns não-cristãos dizem que se os cristãos reivindicam que Deus tem um
bom propósito para o mal, então os cristãos devem também declarar e defender
este propósito. Contudo, os não-cristãos nunca foram capazes de mostrar o porquê
dos cristãos terem o dever de declarar e defender esse propósito. O debate é
sobre se as premissas dadas levam, necessária e inevitavelmente, à conclusão do
não-cristão. Se há ou não um bom propósito para o mal, e se os cristãos podem
ou não declarar e defender esse propósito, é completamente irrelevante. A
Escritura deveras explica pelo menos uma parte do propósito de Deus para o mal,
mas, novamente, ele não é logicamente necessário ou relevante para o debate.
Há mais. Agora, o não-cristão argumenta que Deus não existe porque o mal
existe, e através deste ponto já refutamos o argumento. Contudo, podemos
adicionar que a existência do Deus cristão é, de fato, o pré-requisito lógico
para a existência do mal. Isto é, o mal não tem sentido e é indefinido sem um
padrão objetivo e absoluto de certo e errado, de bom e mal, e este padrão pode
ser somente o Deus cristão.
Quando o não-cristão afirma que o mal existe, o que ele quer dizer por
“mal”? Ele pode estar se referindo à avareza, ódio, assassinato, estupro,
terremoto, enchentes e coisas semelhantes. Contudo, sobre que base e por qual
padrão ele pode chamar essas coisas de males? Ele chama essas coisas de males
simplesmente porque ele as desaprova? Qualquer definição ou padrão de mal que
ele dê sem apelar ao Deus cristão e à Escritura cristã não serão bem-sucedidos
e ele será facilmente desmoronado.
Por exemplo, se o não-cristão reivindica que o assassinato é errado
porque ele viola o direito à vida da vítima, precisamos somente perguntar por
que a vítima tem algum direito à vida. Quem lhe deu este assim chamado direito?
O não-cristão? Quem disse que há algo como um direito, em primeiro lugar? Os
não-cristãos tentam muitos argumentos, mas todos eles têm sido expostos como
tolos e injustificáveis.[5]
Por outro lado, o cristão afirma que o assassinato é errado, imoral e
mal, porque Deus proíbe o assassinato: “Quem derramar o
sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o
homem conforme a sua imagem” (Gênesis 9.6). Deus explicitamente o desaprova quando Ele
diz: “Não assassinarás” (Êxodo 20.13 –
tradução original do grego Koiné). É consistente com a cosmovisão cristã dizer
que o assassinato é mal e que o assassino deve ser responsabilizado pelo
acontecido, mas o não-cristão nunca pode justificar a mesma reivindicação. Ele
não pode nem mesmo definir autoritariamente o assassinato.[6]
O não-cristão reivindica que o mal existe, e a partir desta base avalia
o que o Cristianismo diz sobre Deus. Ele usa algo que ele reivindica ser óbvio
para refutar algo que ele reivindica não ser óbvio. Contudo, a existência do
mal não é óbvia, de forma alguma, a menos que haja um padrão moral absoluto,
objetivo e universal, e que conheçamos de certo modo este padrão, de forma que
possamos fazer avaliações com ele. Visto que o não-cristão falha em estabelecer
tal padrão, e visto que ele falha em estabelecer como conheceremos tal padrão,
suas referências ao mal são sem sentido e ininteligíveis, e seus argumentos à
partir do problema do mal não têm efeito contra o Cristianismo. De fato, sobre
a base de sua cosmovisão, ele nem sequer sabe o que seus próprios argumentos
significam.
Se uma pessoa nega a existência de Deus, ela não tem base racional para
afirmar a existência do mal. Por necessidade lógica, nosso reconhecimento de
Deus precede nosso reconhecimento do mal. A menos que o Deus cristão seja
pressuposto de antemão, o mal continua indefinido. Quando o não-cristão
argumenta contra o Cristianismo usando o problema do mal, ele se torna um
terrorista intelectual, de forma que ele sequestra o absoluto moral do
Cristianismo no processo de argumentar contra o Cristianismo. Contudo, ele não
pode se referir a qualquer mal natural ou moral sem implicitamente reconhecer
um padrão pelo qual julga algo como mal. Se ele reconhece a existência do mal,
então, ele deve primeiro reconhecer a existência de Deus; mas se ele já
reconhece a existência de Deus, então, o argumento à partir do problema do mal
não tem sentido.
Certamente, o não-cristão não pode se render imediatamente a este ponto;
antes, ele provavelmente tentará oferecer alguma definição viável do mal para
recuperar seu argumento. Eu não posso providenciar as definições possíveis que
ele pode tentar propor, mas eu providenciei informação suficiente aqui, de
forma que qualquer pessoa pode refutar qualquer definição não-cristã proposta.
Se o cristão consistentemente demandar justificação para toda reivindicação e
definição não-cristã, ele sempre frustrará de forma bem sucedida qualquer
tentativa de construir um argumento contra o Cristianismo a partir da
existência do mal.[7]
Alguns não-cristãos têm chegado a perceber que o argumento à partir do
problema do mal não é estritamente válido, de forma que, embora eles continuem
desafiando o Cristianismo baseados na existência do mal, eles têm “suavizado”
sua reivindicação. Isto é, eles dizem que, embora a existência do mal não
contradiga logicamente a existência de Deus, a existência do mal pelo menos
provê uma forte evidência contra a existência de Deus ou a probabilidade da
existência de Deus. Assim, ao invés de chamar sua reivindicação de um caso lógico
contra a existência de Deus, eles chamam-na de um caso evidencial contra a
existência de Deus.[8]
De fato, todos os problemas que eu apontei com o caso “lógico”
permanecem no caso “evidencial”. O argumento ainda falha em estabelecer que o
amor de Deus contradiz a existência do mal, ou que o amor de Deus requer que
Ele destrua o mal, ou já ter destruído o mal. Ele ainda falha em definir os
termos cruciais. O que é amor? O que é mal? De fato, o argumento levanta
questões piores ao adicionar o conceito de “evidência” ao debate, visto que
agora eu demando diversas coisas adicionais: uma definição de evidência, um
padrão para determinar o que constitui evidência em favor ou contra algo, um
padrão para determinar a relevância e a força de qualquer evidência alegada, e
uma epistemologia para descobrir as coisas que são usadas como evidência.
Junto com o caso “evidencial”, algumas pessoas incluem a reivindicação
de que há muito mal “gratuito”, e que isso é evidência contra a existência de
Deus. Mas, novamente, o que é evidência? E quem decide o que é “gratuito”?[9] Por
qual padrão de necessidade decidimos que um evento mal é desnecessário? E
desnecessário para o quê? E por que ele deve ser necessário em primeiro lugar?
Na cosmovisão bíblica, quando Deus faz algo, isso é justificado, por definição,
simplesmente porque Ele decidiu assim fazer. Assim, o não-cristão não pode
argumentar contra o Cristianismo apelando aos eventos “injustificáveis”, visto
que ele deve primeiro refutar o Cristianismo antes que ele possa mostrar que
esses eventos são injustificáveis.
OUTRAS COSMOVISÕES
Não há razão para longas explanações ou
repetições inúteis, visto que o assunto é deveras tão simples como parece ser.
O argumento a partir do problema do mal, em algumas formas, é um dos argumentos
mais irracionais já inventados, mas ele tem enganado e perturbado muitas
pessoas por causa de seu apelo emocional. Em resposta, o cristão deve não
somente neutralizar o argumento, mas ele deve tomar a posição ofensiva sobre
este tópico contra o não-cristão.
Talvez porque o problema do mal seja mais frequentemente usado para
desafiar o Cristianismo, muitas pessoas esquecem de considerar se as
cosmovisões e religiões não-cristãs têm, adequada e coerentemente, respondido à
existência de mal. Os não-cristãos fornecem uma definição autoritativa do mal?
Sua definição de mal contradiz o que eles reivindicam sobre a física (mal natural)
e a psicologia (mal moral)? Eles podem explicar como e por que o mal começa e
continua? Eles podem sugerir uma solução para o mal e podem garantir que esta
solução será bem sucedida? Nenhuma cosmovisão, exceto a fé cristã, pode sequer
começar a responder a essas questões.
Da próxima vez que um não-cristão desafiá-lo com o problema do mal, ao
invés de ser pressionado no canto, você deve ser capaz de dar uma resposta
irrefutável, e então tomar a ofensiva e virar o argumento contra o
não-cristão (2Co 10.5):
“Eu
sou capaz de mostrar que a existência do mal não contradiz o amor de Deus ou a
existência de Deus. De fato, o próprio conceito de mal pressupõe a existência
do Deus cristão. Este Deus decretou a existência do mal para Sua própria
glória, e cada aspecto e ocorrência do mal está debaixo do Seu preciso
controle, não há padrão mais alto do que Deus para julgar este decreto como
errado. Um dia Ele banirá todos os pecadores para os tormentos sem fim no lago
de fogo e enxofre, de forma que cada ocorrência de assassinato, roubo, estupro
e até mesmo cada palavra que um homem tenha proferido, será julgada. Ele então
punirá justamente todos os pecadores que não creram em Cristo para salvação,
mas Seus escolhidos certamente serão salvos.
Mas, como você trata com o mal? Dada sua
cosmovisão, como você pode sequer ter um conceito significante e universal do
mal? Como você explica sua origem e continuação? Você pode oferecer uma solução
eficaz ou até mesmo segura para desmoronar o mal? Você pode apresentar as razões
universalmente aplicáveis e obrigatórias contra tais coisas como genocídio e
racismo? Como sua cosmovisão faz demandas morais sobre alguém que não a
subscreve? Dada sua cosmovisão, há justiça final e perfeita para alguém? Se
não, qual é sua solução ou explanação para isso? Como você pode definir justiça
em primeiro lugar? Por que uma pessoa de outra nação ou cultura deve reconhecer
seus assim chamados direitos?
Se você não pode dar respostas adequadas a essas
e milhares de outras perguntas sobre a base de sua cosmovisão e comprometimentos
intelectuais sem autocontradição, então, é evidente que a existência do mal
significa a destruição de sua cosmovisão, enquanto que ela não coloca nenhuma
ameaça contra a minha, de forma alguma. Você é um hipócrita se mencionar o
problema do mal como uma objeção ao Cristianismo”.
Embora muitas pessoas gostem de desafiar os
cristãos com o problema do mal, a verdade é que o Cristianismo é a única
cosmovisão na qual a existência do mal não cria um problema lógico. Todavia,
muitos cristãos professos são intimidados pelos argumentos não-cristãos. Isso
parcialmente ocorre não somente porque eles não aprenderam as refutações
lógicas contra esses argumentos, mas também porque eles algumas vezes concordam
com os não-cristãos, pelo menos no nível emocional. Mas, certamente, apenas
porque algo causa um distúrbio emocional em algumas pessoas, não significa que
cause algum desafio à própria fé cristã.
Agora, se o não-cristão é tão perturbado sobre a existência do mal, ele
pode sempre perguntar a um cristão sobre como depender de Cristo para salvação.
De outra forma, ele pode se submeter a um departamento de psiquiatria, onde ele
pode continuar miserável sob o cuidado profissional. Quanto aos cristãos, a
Escritura fornece a solução: “Tu conservarás em
paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti” (Isaías 26.3). Salmos 73.16-17 diz: “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso; até que
entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles”. Somente aceitando a cosmovisão cristã que uma
pessoa pode chegar a uma posição racional sobre a existência do mal, e somente
entrando no “santuário de Deus” que o assunto pode parar de ser “opressivo”. Somente
aqueles que são trazidos para perto de Deus podem entender suficientemente a
realidade do mal e reter a estabilidade emocional. A fé cristã é verdadeira e é
o único caminho para Deus e a salvação. Ela é imune aos ataques intelectuais.
Ela não pode ser desafiada com sucesso, mas somente estudada e obedecida.
– JP Padilha
_________________________________________
NOTAS:
[1] Às vezes, o argumento inclui o fato de que os cristãos afirmam que Deus é
também onisciente (conhece tudo) — se Deus conhece tudo, então, Ele sabe como
destruir o mal.
[2] A doutrina do “livre-arbítrio” é antibíblica e herética, e alguns
têm seguido essa doutrina até o seu próximo passo lógico ao dizer que, se o
homem é verdadeiramente livre, então Deus não pode realmente saber com certeza
o que o homem fará, negando, dessa forma, a onisciência de Deus. Contudo, ainda
assim, Deus saberia que é possível para o livre-arbítrio produzir males
extremos e horrendos, de forma que o mesmo problema permanece.
[3] O próprio Satanás é uma criatura, e, portanto, não tem
livre-arbítrio. Todas as suas ações e decisões são controladas por Deus.
[4] Certamente, pessoas diferentes podem apresentar formulações
diferentes do problema do mal, mas minha refutação se aplicará a todas elas.
[5] Para mais informações, vejam meus escritos sobre predestinação e os
eternos decretos de Deus.
[6] Por exemplo, o não-cristão nunca justifica, ao definir o
assassinato, a inclusão da matança de humanos, mas a exclusão da matança de
bactérias. Certamente, alguns advogados dos direitos dos animais consideram
assassinato o massacrar animais, mas não bactérias. Contudo, eles nunca
justificam a inclusão dos animais ou a exclusão das bactérias.
[7] O argumento se tornará, no final das contas, um amplo debate
pressuposicional.
[8] Algumas pessoas usam diferentes termos para fazer essa mesma
distinção.
[9] Sobre este ponto, até mesmo alguns filósofos profissionais
inclinam-se a um apelo à opinião popular. Isto é, eles reivindicam que “todo
mundo” sabe que certas coisas são más, e que certas coisas são males gratuitos.
Em outro contexto, esses mesmos filósofos criticariam tal apelo à opinião
popular para estabelecer uma premissa essencial — que eles se utilizam desta
tática aqui, me mostra que eles são estúpidos e desesperados. A resposta mais
óbvia é que é falacioso pensar que algo é verdadeiro apenas porque muitos ou mesmo
a maioria das pessoas pensa que seja verdadeiro.
Alguns filósofos argumentam que, se a maioria das pessoas pensa que há
males gratuitos, então, o peso da prova cai sobre o cristão, para o mesmo
mostrar que não há males gratuitos. Embora eu discorde que o peso da prova caia
sobre mim simplesmente porque eu nego a opinião popular, mesmo se caísse, eu
tenho mostrado que qualquer mal que Deus decrete é justificável por definição,
de forma que o peso da prova retorna ao não-cristão, que deve refutar este
ponto particular ou refutar o Cristianismo como um todo, e então o foco do
debate se torna um pressuposicional.
Além do mais, mesmo que o apelo à opinião popular fosse legítimo (embora
eu negue isso), eu demando provas de que realmente a opinião popular seja a de
que existem males gratuitos. Como o não-cristão pode estabelecer esta
reivindicação? Mesmo se ele pudesse realizar uma pesquisa empírica global, eu
já refutei o empirismo em outro momento. Se ele não pode fazer isso, então ele
deve mostrar também que, desde a origem da humanidade, tem sido a opinião
popular que há males gratuitos. Ele deve provar também que essa continuará a
ser a opinião popular em todas as gerações futuras. Se ele falha em fazer isso,
então, eu não tenho razão para aceitar sua reivindicação de que “todo mundo
sabe” que existe o mal ou o mal gratuito. Ele pensa que “todo mundo sabe”, mas
ele não sabe que “todo mundo sabe”; esta é sua opinião pessoal sobre a opinião
popular.
___________________________________________________
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O PROBLEMA DO MAL – Se Deus é bom, por que existe o mal? | JP Padilha
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