1 - COMO DEVEMOS INTERPRETAR A BÍBLIA?



Hermenêutica
é um vocábulo que os teólogos usam para designar a ciência da interpretação bíblica. É a peça fundamental da teologia. Na realidade, as principais correntes teológicas que afirmam ser cristãs (evangelicalismo, liberalismo e neo-ortodoxia) diferem amplamente por causa dos métodos hermenêuticos distintos usados para entender o que a Bíblia afirma.

Pentecostais e carismáticos tendem a fundamentar maior parte de seus ensinos em princípios hermenêuticos paupérrimos. Gordon D. Fee escreveu:

“Os pentecostais, a despeito de alguns excessos, são elogiados pela recuperação do brilho alegre, entusiasmo missionário e pela vida no “Espírito” da igreja. Porém, ao mesmo tempo, eles se destacam pela péssima hermenêutica... Em primeiro lugar, sua atitude em relação à Escritura inclui uma desconsideração geral para com a exegese científica e a hermenêutica cuidadosa e refletida. Na realidade, a hermenêutica não tem sido algo tipicamente pentecostal. A Escritura é a Palavra de Deus e tem de ser obedecida. Em lugar da hermenêutica científica, desenvolveu-se uma variante pragmática — obedeça ao que você entender no sentido literal; espiritualize, interprete como alegoria ou torne devocional o restante... Em segundo, é justo — e importante — observar que, em geral, a experiência dos pentecostais precede a hermenêutica. Em certo sentido, o pentecostal tende a fazer exegese de sua experiência”.(1)

Essa avaliação não procede de alguém hostil ao movimento pentecostal e carismático. Gordon Fee é pentecostal. Sua avaliação está correta; ele tem observado o problema de dentro do movimento, assim como muitos de nós o fazemos, embora não sejamos pentecostais.


Assista a um programa de televisão dos carismáticos e logo você perceberá evidências do que Fee está dizendo. Há alguns anos vi, horrorizado, o convidado de uma rede de televisão carismática explicar a “base bíblica” de seu ministério de “pensamento positivo”. “Meu ministério está plenamente baseado no versículo de minha vida, Mateus 19.26: ‘Para Deus tudo é possível’. Deus me deu esse versículo porque eu nasci em 1926.”

Evidentemente intrigado com o método de obtenção do “versículo da vida”, o apresentador do programa de entrevistas pegou uma bíblia e começou a folheá-la com euforia. “Nasci em 1934”, ele disse. “O versículo de minha vida deve ser Mateus 19.34. O que se lê ali?”. Então, descobriu que Mateus 19 tem apenas 30 versículos. Sem desanimar-se, ele pulou para Lucas 19 e leu o versículo 34: “Responderam: Porque o Senhor precisa dele”.

Emocionado, o apresentador exclamou: “Oh! o Senhor ‘precisa’ de mim! O Senhor precisa de ‘mim’!” Que versículo da vida maravilhoso! Nunca tive um versículo da vida, mas agora o Senhor me deu um. Obrigado, Jesus! Aleluia! O auditório começou a aplaudi-lo.

Naquele momento, a esposa do convidado do programa, que também havia lido o texto de Lucas 19, disse: “Espere! Você não pode usar este versículo. Ele se refere a um jumento!

Esse incidente nos diz muito a respeito da maneira indiscriminada com a qual alguns carismáticos tratam a Bíblia. Buscando “uma palavra do Senhor”, alguns brincam de “roleta bíblica”, abrindo ao acaso as páginas da Bíblia, à procura de algo que se aplique à provação ou necessidade pela qual estão passando. Quando acham um versículo, dizem: “O Senhor me deu um versículo”.

Essa não é a maneira de lidarmos com a Bíblia. Talvez você já tenha ouvido a história do homem que, procurando orientação para uma decisão importante, resolveu fechar os olhos, abrir a Bíblia, pôr ali o seu dedo e receber orientação do versículo sobre o qual estivesse o seu dedo. A primeira tentativa o trouxe a Mateus 27.5: “Retirou-se e foi enforcar-se”. Pensando que esse versículo não lhe era proveitoso, o homem decidiu tentar de novo. Dessa vez o seu dedo caiu em Lucas 10.37, destacando estas palavras de Jesus: “Vai e procede tu de igual modo”. Indisposto a desistir, o homem tentou mais uma vez. Dessa vez o seu dedo caiu sobre as palavras de Jesus em João 13.27: “O que pretendes fazer, faze-o depressa”.

Essa história (estou certo de que é espúria) ressalta um fato importante: procurar nas Escrituras significado além de seu contexto histórico, gramatical e lógico, é imprudente e potencialmente perigoso. É claro que alguém pode dar consistência a qualquer idéia ou ensino contido nas Escrituras se empregar como prova textos à parte de seu significado intencional. Essa é a mesma maneira como muitas seitas usam as Escrituras para estruturar suas falsas doutrinas.

A tarefa da hermenêutica consiste em determinar o significado de um texto em seu próprio contexto — obter o significado da própria Escritura, sem introduzir nelas as pressuposições de alguém.

A importância da interpretação bíblica diligente jamais será demasiadamente enfatizada. Interpretar a Bíblia de modo errado não é, em última análise, melhor do que não crer nela. Que proveito há em concordar que a Bíblia é a revelação de Deus, final e completa, e, depois, interpretá-la de modo errado? O resultado é o mesmo: o intérprete fica aquém da verdade de Deus. Interpretar a Escritura para que ela diga o que jamais tencionou dizer é um caminho certo para a divisão, o erro, a heresia e a apostasia.

No entanto, quão negligentemente o evangelicalismo contemporâneo trata a interpretação bíblica! Talvez você já esteve num daqueles “estudos bíblicos” em que todos se reúnem em círculo, e cada um compartilha sua opinião a respeito do versículo em questão. “Bem, para mim este versículo significa...” E, ao final da reunião, o que você observa é um aglomerado da ignorância de todos, bem como várias interpretações potenciais do versículo que talvez estejam todas erradas.

A verdade é: não importa o que um versículo significa para mim, para você ou para todos. O importante é o que o versículo realmente significa! Todo versículo tem um significado intrínseco, à parte de qualquer um de nós. Todo versículo possui um significado verdadeiro, quer já o tenhamos considerado, quer não. Cumpre ao estudante da Bíblia determinar o verdadeiro significado das Escrituras, entender o que Deus está afirmando no texto. Às vezes, o significado está bem evidente; às vezes, exige uma consideração mais detalhada do contexto. Admito que tenho me defrontado com passagens que não posso entender completamente. Mas permanece o fato de que cada palavra das Escrituras tem apenas o significado tencionado pelo autor inspirado, e a tarefa do intérprete consiste em determinar qual é esse significado.

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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