Quando e por que Deus usou milagres?


A maioria dos milagres registrados na Bíblia ocorreu em três períodos relativamente curtos: nos dias de Moisés e Josué, durante os ministérios de Elias e Eliseu e no tempo de Jesus e seus apóstolos.(17) Nenhum desses períodos estendeu-se por mais de cem anos. Cada um desses períodos testemunhou a proliferação de milagres em outras eras. Entretanto, mesmo nesses períodos, os milagres não eram a norma para o dia-a-dia. Os milagres realizados diziam respeito a homens que eram mensageiros extraordinários enviados por Deus — Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jesus e os apóstolos.

À parte desses três períodos, os acontecimentos sobrenaturais registrados nas Escrituras foram incidentes isolados. Nos dias de Isaías, por exemplo, o Senhor derrotou sobrenaturalmente o exército de Senaqueribe (2Rs 19.35-36), curou Ezequias e fez a sombra do sol retroceder (20.1-11). Nos dias de Daniel, Deus preservou Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha (Dn 3.20-26). Todavia, na maior parte do tempo, acontecimentos miraculosos semelhantes a esses não caracterizavam o modo de Deus lidar com seu povo.

É importante salientar que os “teólogos” carismáticos têm afirmado que o conceito das três eras de milagres não possui base bíblica. Jack Deere (ex-professor do Seminário Teológico de Dallas) é atualmente membro da equipe de John Wimber na igreja Vineyard, em Anaheim (ver Capítulo 6). Ele afirma ter ensinado anteriormente o esquema das três eras, mas agora crê em sua falta de substância bíblica. Deere declarou ter mudado de opinião quando uma pessoa o desafiou a respeito do assunto, e ele não pôde sustentar seu ponto de vista. Agora ele diz que milagres são encontrados em qualquer parte da Bíblia e cita a Criação, o Dilúvio, a torre de Babel, o chamado de Abrão e outros acontecimentos sobrenaturais e juízos divinos. Deere acha que essas eventos provam que sinais e maravilhas são cruciais no programa divino em cada época.(18)

Contudo, a maior parte dos eventos citados por Deere são atos divinos sobrenaturais sem qualquer agência humana. Nenhum deles se encaixa no tipo de milagre que Deere tenta defender. Catástrofes mundiais, sinais nos céus e acontecimentos apocalípticos não equivalem a milagres apostólicos. O argumento de Deere falha em não reconhecer essa distinção. Ele deseja listar todos os atos divinos sobrenaturais como apoio para o ministério ininterrupto de milagres apostólicos.(19)

A verdade é que, embora tenham havido três eras de milagres, as duas primeiras não se assemelharam à última. A era de Cristo e dos apóstolos foi sem igual. Nada na história da redenção aproximou-se dela no que concerne ao volume de milagres. Doenças foram banidas da Palestina. Demônios eram subjugados diariamente, e os mortos ressuscitados. A pujança e o alcance dessa era de milagres coloca-a bem acima das duas anteriores. Nunca houve nada semelhante em todo o tempo da pregação profética e do ministério de redação da Palavra de Deus no Antigo Testamento. Quando a verdade da Nova Aliança chegou — acompanhada das Escrituras que compõem o Novo Testamento —, todo o processo não durou mais do que cinqüenta anos; e Deus desencadeou sinais autenticadores como nunca fizera antes. Jamais houve uma época semelhante a essa, e não existem motivos para presumirmos sua repetição.


Ainda que o sobrenatural flua continuamente em todo o Antigo Testamento, milagres que envolviam a agência humana são extremamente raros. Escassos, principalmente, são curas e libertação de demônios. Essa é a razão por que o ministério de cura de Jesus exerceu tamanho efeito sobre os judeus. Nem mesmo seus maiores profetas demonstraram o tipo de poder que ele e seus discípulos possuíam — habilidade de curar qualquer pessoa e todas as pessoas (Lc 14.40; At 5.16).

Uma leitura dos relatos do Antigo Testamento mostra que, à parte das pessoas que já mencionamos — Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jesus e os discípulos —, o único indivíduo que realizava rotineiramente atos sobrenaturais era Sansão. Ele era uma exceção para quase todas as categorias de operadores de milagres. Não ensinou nenhuma grande verdade; de fato, não era pregador nem mestre. Sansão era infiel e imoral; seu único papel parece ter sido a preservação de Israel, e poder lhe foi concedido especificamente para essa tarefa. Nenhum outro personagem na História demonstrou poder físico igual ao dele.


Sansão não é um modelo de testemunho miraculoso que os carismáticos desejam ter. No entanto, seria mais provável Deus suscitar outro Sansão do que repetir a era apostólica.

É
claro que Deus pode intervir no fluxo da história de modo sobrenatural e quando quiser. No entanto, Ele resolveu limitar-se primariamente a três períodos de milagres bíblicos, com demonstrações muito raras entre os intervalos. No resto do tempo, Deus atuou por meio de sua providência.

Pelo menos três características dos milagres bíblicos ajudam-nos a entender a razão por que Deus agiu assim.

1. Os milagres introduziram novas eras de revelação.

Os três períodos de milagres foram épocas nas quais Deus concedeu revelação escrita — porções da Bíblia — em quantidades maiores. Aqueles que realizavam os milagres eram essencialmente os mesmos que anunciavam a era de revelação. Moisés escreveu os cinco primeiros livros da Bíblia. Elias e Eliseu deram início à era profética. Os apóstolos escreveram quase todo o Novo Testamento. Mesmo as raras maravilhas sobrenaturais ocorridas nas outras épocas estavam associadas a homens usados por Deus para compor a Escritura. A cura de Ezequias envolveu Isaías; e os três homens na fornalha eram companheiros do profeta Daniel.

Moisés realizou muitos milagres na tentativa de convencer faraó a deixar o povo de Israel partir. Aparentemente, os milagres acompanharam os israelitas desde saída do Egito e em toda a jornada pelo deserto. Quando a palavra de Deus escrita foi trazida a Moisés pela primeira vez, na outorga dos mandamentos no monte Sinai, o encontro de Moisés com Deus foi acompanhado por sinais tão amedrontadores — o fogo, a fumaça, a trombeta e a voz trovejante — que até Moisés sentiu medo (Hb 12.18-21).


Assim iniciou-se o primeiro período de revelação. Moisés registrou todo o Pentateuco, e Josué — sucessor de Moisés — escreveu o livro que leva seu nome. Outros escritos foram acrescentados de forma intermitente após a morte de Moisés e Josué. Samuel, por exemplo, provavelmente escreveu Juízes e 1 e 2 Samuel. Davi compôs a maior parte de Salmos, e Salomão produziu a maior parte da literatura sapiencial. No entanto, esses livros não foram acompanhados de grande demonstração de milagres como nos dias de Moisés e Josué.

O segundo maior conjunto de acontecimentos miraculosos acompanhou uma nova era de revelação bíblica — a era dos profetas do Antigo Testamento. Logo após o reinado de Salomão, a nação de Israel foi dividida entre o reino do Norte (Israel) e o reino do Sul (Judá). O reino do Norte deteriorou-se rapidamente por causa da idolatria, alcançando o nível mais baixo no reinado de Acabe. Nesse momento, Deus suscitou Elias e Eliseu. Durante a vida deles, o ofício profético foi estabelecido por alguns milagres assombrosos. Profetas que lhes sucederam compuseram todos os livros de Isaías até Malaquias.

Como já vimos, um período de quase quatrocentos anos de silêncio (no que concerne à revelação) estendeu-se até aos dias de Cristo. Ninguém profetizou, nem foram registrados milagres nos últimos dias da época do Antigo Testamento.

Então começou a época do Novo Testamento e o terceiro período de milagres. Nesse tempo — de 33 a 96 d.C. — Deus outorgou todo o Novo Testamento.

2. Os milagres autenticavam os mensageiros da revelação.

Todos os milagres cumpriram um propósito importante. Não eram apenas exibicionismo divino; corroboravam e autenticavam as reivindicações dos profetas de falarem em nome de Deus. Por exemplo, os milagres de Moisés confirmaram inicialmente a faraó, e depois aos israelitas, que Moisés falava por parte de Deus. A evidência dos milagres destacava a importância da lei escrita. Os milagres eram confirmações de que Deus estava falando.


Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jesus e os apóstolos, todos possuíam a capacidade de realizar sinais e maravilhas com freqüência. Esses sinais e maravilhas tinham o desígnio de convencer o povo de que Deus estava com esses homens e de que ELE falava por intermédio deles.

Em 1 Reis 17, Elias ressuscita o filho de uma viúva. Ele trouxe o menino do quarto, entregou-o à mãe e disse: “Vê, teu filho vive” (v. 23). Qual foi a resposta da mãe? “Nisto conheço agora que tu és homem de Deus e que a Palavra do Senhor na tua boca é verdade” (v. 24).

João 10 nos mostra que Jesus estava debatendo com os líderes religiosos dos judeus que o desafiaram: “Até quando nos deixarás a mente em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-o francamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito” (v. 24-25). Os milagres de Jesus serviam a um propósito: dar autenticidade a Ele mesmo e à sua mensagem.

No sermão do Dia de Pentecostes, Pedro disse à multidão que Jesus era um homem aprovado por Deus com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizara por intermédio dEle entre o povo (At 2.22). O mesmo tipo de poder pertencia aos apóstolos. Na primeira viagem missionária de Paulo, ele e Barnabé ministraram em Icônio “falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça concedendo que, pelas mãos deles, se fizessem sinais e prodígios” (At 14.3).

Nem todos os crentes receberam o poder de realizar milagres.


Victor Bugden observou corretamente:

“Quão freqüentemente as pessoas mencionam, de modo irrefletido, a igreja de Atos como uma igreja que realizava milagres! Entretanto, seria mais acertado falar sobre a igreja que tinha apóstolos que realizavam maravilhas. Os apóstolos foram proeminentes na ocorrência inicial do falar em outras línguas. Seus porta-vozes explicam o acontecimento à multidão e pregam um sermão poderoso. No fim do relato concernente ao Dia de Pentecostes, somos informados: “Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos” (At 2.43).

Outras passagens bíblicas confirmam isso: “Muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo” (At 5.12). “E toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios” (At 15.12)... “Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos”(2Co 12.12)”.(20)

Por meio desses milagres, Deus autenticou repetidas vezes os mensageiros de sua nova revelação — nos tempos de Moisés e Josué, Elias e Eliseu e Jesus e os apóstolos.

3. Os milagres chamavam a atenção para novas revelações.

Deus usou os milagres para atrair a atenção das pessoas às quais a mensagem era dirigida, para que tivessem certeza da procedência divina da mensagem. Assim, Deus podia dizer-lhes o que desejava que fizessem. Portanto, os milagres têm um propósito instrutivo que ultrapassa o efeito imediato do próprio milagre.


Por exemplo, os milagres realizados por Moisés no Egito tinham o objetivo de iluminar dois grupos de pessoas, os israelitas e os egípcios. Em Êxodo 7, lemos a respeito dos primeiros milagres de Moisés, e foi nessa ocasião que os israelitas começaram a crer no poder de seu Deus. Faraó era um caso à parte. Somente com a ocorrência da décima e mais terrível praga — a passagem do anjo da morte por sobre o Egito, para eliminar o primogênito de todas as casas egípcias — faraó deixou os israelitas partir.

Os milagres de Elias e Eliseu também foram eficazes para convencer crentes e incrédulos de que eles anunciavam a Palavra de Deus. Uma ilustração vívida desse ponto encontra-se em 1 Reis 18, quando Elias derrotou quatrocentos profetas de Baal diante de uma grande multidão de israelitas. A Bíblia diz: “O que vendo todo o povo, caiu de rosto em terra e disse: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus! Disse-lhes Elias: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. Lançaram mão deles; e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom e ali os matou” (18.39-40).

No Novo Testamento, milagres e sinais também foram usados para confirmar os crentes e convencer os incrédulos. Esse é o tema do evangelho de João, que foi escrito para “que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (Jo 20.31). Os milagres e sinais de Jesus foram registrados para que incrédulos cressem. Isso também é verdade a respeito dos milagres dos apóstolos (cf. At 5.12-14).

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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