O que tornou os apóstolos pessoas singulares?


Alguns carismáticos realmente crêem que os fenômenos vistos hoje provam que Deus está outorgando de novas revelações, comprovadas por novos milagres, pela instrumentalidade de apóstolos modernos. Toda essa afirmação ignora o papel da Bíblia e a função dos apóstolos. Eles foram homens especiais, separados para um papel exclusivo em uma era ímpar. Os apóstolos eram o fundamento da igreja em desenvolvimento (Ef 2.20). Esse fundamento é a base para a edificação da igreja e não pode ser estabelecido outra vez. Não podem existir apóstolos modernos.

Além disso, como vimos, os milagres eram peculiares aos apóstolos e aos colabores mais próximos deles. O cristão comum não possuía a capacidade de realizar sinais e maravilhas. Paulo afirmou isso em 2 Coríntios:

“Tenho-me tornado insensato; a isto me constrangestes. Eu de-via ter sido louvado por vós; porquanto em nada fui inferior a esses tais apóstolos, ainda que nada sou. Pois as credenciais do apostolado foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por sinais, prodígios e poderes miraculosos” (12.11,12).

Paulo estava defendendo seu apostolado diante dos crentes de Corinto, alguns dos quais duvidavam de sua autoridade apostólica. Se realizar milagres fosse uma experiência comum aos crentes, seria inútil Paulo tentar provar seu apostolado pela menção dos milagres que realizara. Torna-se óbvio que, mesmo na era apostólica, os cristãos eram incapazes de realizar sinais, maravilhas e atos poderosos. Visto que essas habilidades eram exclusivas dos apóstolos, Paulo podia usar sua experiência com sinais e maravilhas como prova de sua autoridade.

Como mensageiros da Palavra de Deus, os apóstolos tinham poderes miraculosos; e o mesmo tipo de poder foi concedido, às vezes, a pessoas comissionadas por eles, como Estêvão e Filipe (v. At 6). No entanto, esse poder não tinha caráter permanente. Desde o nascimento da igreja, no Dia de Pentecostes, nenhum milagre ocorreu sem a presença de um apóstolo ou de alguém diretamente comissionado por eles, conforme o registro de todo o Novo Testamento.

No Novo Testamento não encontramos nenhuma informação sobre milagres acontecendo aleatoriamente entre os cristãos. Mesmo a outorga miraculosa do Espírito Santo aos samaritanos (At 8), aos gentios (At 10) e aos seguidores de João Batista em Éfeso (At 19) ocorreu somente quando os apóstolos estavam presentes.

A Bíblia afirma reiteradamente que os apóstolos eram inigualáveis. No entanto, os carismáticos estão determinados a ressuscitar os dons e sinais apostólicos. Alguns até crêem que certos homens podem reivindicar o ofício apostólico hoje. Por exemplo, Earl Paulk ensina que certos indivíduos “ungidos” foram chamados para serem apóstolos.(23) Jack Deere está incerto a respeito de que o ministério apostólico está em atividade hoje, mas ele ministrou um workshop em Sidney (Austrália) no qual afirmou sua convicção de que o poder apostólico está próximo e de que a nova era apostólica será maior que a primeira.(24)

O conceito de que o ofício apostólico está em atividade hoje é coerente com o ensino carismático rudimentar. Portanto, Budgen escreveu corretamente: “Qualquer pessoa comprometida genuinamente com a crença de que todos os dons estão disponíveis em nossos dias deve, por questão de coerência, crer que Deus outorga apóstolos à igreja moderna”.(25)


Entretanto, a questão da autoridade apostólica tem causado alguns conflitos no movimento carismático — o que é compreensível. Quando pessoas que afirmaram ter recebido autoridade apostólica fazem profecias que não se cumprem, enunciam “palavras de conhecimento” que se mostram falsas e prometem curas que jamais se concretizam, essas alegações de autoridade apostólica devem ser questionadas.

Apesar disso, alguns líderes carismáticos insistem na herança da autoridade apostólica e anseiam praticar essa autoridade. Esse desejo conduz freqüentemente a abusos aterradores. Talvez o episódio mais notório seja o ocorrido na década de 1970, proveniente de um grupo de líderes carismáticos sediados em Fort Lauderdale. Conhecido pelo nome de movimento “Shepherding” (Pastoreio) ou “Discipleship” (Discipulado), esse grupo — influenciado pelo ensino de Ern Baxter, Don Basham, Bob Mumford, Derek Prince e Charles Simpson — concluiu que a Escritura exige submissão absoluta aos “líderes espirituais”. Como se podia esperar, diversos líderes usaram esse ensino para manter uma influência cruel e tirânica sobre o povo. Insistiam que as pessoas lhes submetessem todas as decisões — casamento, finanças e carreira pessoais. Homens inescrupulosos, passando por líderes espirituais, tiraram vantagem da credulidade das pessoas. Em conformidade com quaisquer seitas, vários desses líderes obtiveram domínio completo sobre a vida das pessoas. Agora, a maioria dos líderes carismáticos tenta distanciar-se da terminologia e das práticas dos piores extremistas. Os principais ensinos desse grupo sobrevive disfarçado com nomes semelhantes a church life (vida da igreja) e covenant life (vida pactual).(26)

Contraste esse tipo de liderança autoritária com o estilo dos apóstolos:

A autoridade era usada de maneira graciosa. Os apóstolos não se valiam de sua posição, nem vociferavam ordens, nem atraíam a atenção para si mesmos. Paulo parecia relutante ou embaraçado para exercitar suas prerrogativas. Isso emerge do capítulo final de 2 Coríntios, quando Paulo afirmou: “Portanto, escrevo estas coisas, estando ausente, para que, estando presente, não venha a usar de rigor segundo a autoridade que o Senhor me conferiu para edificação e não para destruir” (2Co 13.10).(27)

Podemos apresentar SEIS razões bíblicas pelas quais o ofício apostólico não é para hoje:

1.
A igreja está edificada sobre o fundamento apostólico.

Como já observamos antes, de modo sucinto, o ofício apostólico era um fundamento. Escrevendo aos crentes de Éfeso, Paulo afirmou que a igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20). Embora o ensino principal possa ser questionado, estudiosos de grego acreditam que a melhor tradução do texto seja “apóstolos/profetas”. Ambos os termos referem-se às mesmas pessoas; “apóstolos” refere-se ao ofício, e “profetas” à função.(28)

Quer essa interpretação seja correta, quer não, o versículo ensina com clareza que os apóstolos foram designados para ser o fundamento da igreja. Isto é, seu papel é dar base, apoio e direção — prover o alicerce da igreja recém-estabelecida. Eles foram os fundadores da igreja. Esse papel foi desempenhado por eles e, por definição, não pode ser repetido.


2.
Os apóstolos foram testemunhas oculares da ressurreição.

Quando documentava seu apostolado à igreja de Corinto, Paulo escreveu: “Porventura não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?” (1Co 9.1). Em 1 Coríntios 15.7-8, Paulo registra que o Cristo ressurreto foi visto por Tiago; em seguida, por todos os apóstolos e, finalmente, por ele mesmo.


Hoje, alguns carismáticos afirmam terem visto o Senhor ressurreto (ver Capítulo 1). Entretanto, essas afirmações jamais poderão ser comprovadas. Mas, no caso das aparições de nosso Senhor ressurreto registradas na Bíblia, torna-se claro que Ele apareceu poucas vezes, geralmente a grupos de pessoas, como os discípulos no cenáculo. Essas aparições acabaram quando houve a ascensão. A única exceção (cf. 1Co 15.8) foi o seu aparecimento a Paulo, que o viu no caminho de Damasco (At 9.1-9). Mesmo nessa ocasião, Paulo estava acompanhado por outras pessoas que viram a luz brilhante e reconheceram que ele ficara cego por causa de uma experiência inegavelmente sobrenatural. Esse foi o único aparecimento de Jesus posterior à sua ressurreição. Ele apareceu duas outras vezes (At 18.9; 23.11). Não há evidência fidedigna de seu aparecimento a qualquer outra pessoa desde o fim da era apostólica.

3. Os apóstolos foram escolhidos pessoalmente por Jesus Cristo.

Mateus 10.1-4 descreve a nomeação dos doze apóstolos. O mesmo acontecimento é narrado em Lucas 6.12-16. Mais tarde, Judas traiu o Senhor e suicidou-se, sendo substituído por Matias mediante o lançamento de sortes feito pelos apóstolos. Eles criam que Jesus controlaria providencialmente o sorteio e, conseqüentemente, a escolha (cf. Pv 16.33). Paulo teve sua experiência exclusiva com o Senhor a caminho de Damasco.


Jesus pode ter falado hebraico ou aramaico ao escolher os apóstolos (há divergência entre os eruditos sobre esse ponto). No entanto, se ele falou em hebraico, deve ter usado a palavra shaliach para designar “apóstolo”. Em hebraico, o shaliach é o substituto da pessoa que ele representa — o suplente, o representante que detém autoridade plena para agir em lugar de seu senhor. Os apóstolos foram designados por Jesus a fim de representá-lo dessa maneira.

É
verdade que outras pessoas são designadas “apóstolos” no Novo Testamento, como em 2 Coríntios 8.23; mas são designadas “apóstolos da igreja” — termo não técnico com um significado amplo. Uma coisa é ser apóstolo do Senhor, enviado pessoalmente por Jesus; outra coisa bem diferente é ser apóstolo da igreja, enviado pelo conjunto dos crentes.(29) Também não há, na Escritura, nenhum registro de milagre realizado pelos apóstolos da igreja.

Paulo deixou claro aos crentes da Galácia que tipo de apóstolo ele era: “Não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).

Os doze originais (com Matias no lugar de Judas) e Paulo receberam a comissão intransferível de revelar a doutrina e fundar a igreja. Quando as epístolas pastorais estabeleceram as bases para a liderança eclesiástica permanente, elas mencionaram presbíteros e diáconos, e jamais apóstolos.

4.
Os apóstolos eram confirmados por sinais miraculosos.

Pedro curou o homem coxo à entrada do portão do templo (At 3.3-11). Ele curou também outras pessoas (5.15,16) e ressuscitou Dorcas (9.36-42). Paulo trouxe Êutico de volta à vida depois de o rapaz ter caído e falecido (At 20.6-12). Além disso, ele foi picado por uma serpente venenosa e não sofreu danos (28.1-6). Como já afirmamos, mesmo na era apostólica nenhum milagre semelhante a esses foi realizado por outras pessoas além dos apóstolos ou homens comissionados por eles.


5. Os apóstolos tinham autoridade absoluta.

Os apóstolos tinham muito mais autoridade do que os outros profetas, cujas afirmações tinham de ser julgadas quanto à exatidão e à autenticidade (ver por exemplo 1Co 14.29-33). Quando os apóstolos falavam, não havia discussão. Eles já haviam sido reconhecidos como instrumentos da revelação divina. Em sua breve carta de advertência à igreja, Judas afirmou: “Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 17).

6. Os apóstolos têm um lugar de honra eterno e único.

Apocalipse 21 descreve a Nova Jerusalém. Parte dessa descrição afirma: “A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (v. 14). Os nomes dos doze apóstolos estão selados para sempre na muralha da Nova Jerusalém, no céu. (Os teólogos têm debatido se o décimo segundo lugar deve ser ocupado por Matias ou Paulo, ou, talvez, por ambos.) Seus nomes são únicos; seu ofício é exclusivo; seu ministério é ímpar; os seus milagres são inigualáveis. Os apóstolos foram, inquestionavelmente, um grupo especial; não tiveram sucessores. A era dos apóstolos e de seus feitos jaz para sempre no passado.


No início do século II, os apóstolos tinham falecido e as coisas haviam mudado. Alva McClain escreveu: “Quando a igreja surge no século II, a situação concernente aos milagres encontra-se tão modificada que parecemos contemplar outro mundo”.(30)

Samuel Green escreveu no Handbook of Church History (Manual de História Elesiástica):


“Quando entramos no século II, estamos, em grande medida, num mundo modificado. A autoridade apostólica não estava mais na comunidade cristã; os milagres realizados pelos apóstolos haviam cessado... Não podemos duvidar que havia um propósito divino em dividir os períodos seguintes à era da inspiração e dos milagres usando um marco tão amplo e definido”.(31)

A era apostólica foi singular e terminou. Isto é o que afirmam e testemunham, reiteradamente, a História, Jesus, a Teologia e o próprio Novo Testamento.

–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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