CONTRACAPA E COMENTÁRIOS INICIAIS



“Eu sei, pessoalmente, que não há nada no mundo que o corpo físico possa sofrer que se compare à desolação e à prostração da mente”. – Charles Spurgeon

A depressão afeta muitas pessoas, tanto pessoalmente quanto através da vida daqueles que amamos. Neste livro, vemos como o Príncipe dos Pregadores do século XIX, C. H. Spurgeon, lutou com a depressão. O fato de um pastor cristão tão proeminente ter vivenciado a depressão e dela ter falado tão abertamente, convida-nos à empatia com um companheiro sofredor. Porque este pastor e pregador saiu à luta com fé e dúvida, sofrimento e esperança, nós ganhamos um companheiro na jornada. O que ele encontrou de Jesus na escuridão pode nos servir de luz para as nossas próprias trevas.

“Este livro é um comentário detalhado e uma meditação sobre a experiência de Spurgeon. Ele nos abre um horizonte de esperança – sem explicações reducionistas, sem respostas mágicas. Leia-o e considere-o profundamente”.

–– David Powlison, Diretor Executivo da Christian Counseling Education Foundation.
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Quando se vê o heróico, o valente Sr. Não Abro Mão da Verdade, o altruísta, o apologeta engajado em assuntos importantes, o proclamador da Bíblia, a personalidade bem humorada e risonha e a cachoeira perene de literaturas edificantes que foi Charles Spurgeon, fica difícil imaginar tal perfil servir a uma personalidade tão freqüente e completamente imersa em dores e depressões, tanto mentais quanto espirituais. No entanto, Spurgeon, em sua plenitude, desde os primeiros anos até o fim de seus dias, conviveu com uma angústia sombria, constantemente pairando sobre os contornos de sua mente, que às vezes investia em ataques contra seu próprio ser. A forma como ele administrou tudo isso, pela graça de Deus, tanto para si mesmo como para os outros, é o que inspira tanto o conteúdo cativante quanto o estilo literário fascinante de Zack Eswine em A Depressão de Spurgeon. Por transbordar um conhecimento abrangente e profundo acerca da produção literária dos sermões de Spurgeon sobre o tema, este livro é para aqueles em tempos de trevas, para aquelas pessoas que procuram entender e ajudar aos que vivem tais tempos, e para aqueles que têm sofrido perdas que mudaram suas vidas por conta de sua incapacidade de escapar das garras de trevas tão perturbadoras.

–– Tom J. Nettles
Professor de Teologia Histórica em The Southern Baptist Theological Seminary, Louisville, Kentuchy.
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Zack Eswine, pregador, pastor e não-desconhecedor do sofrimento, assim como Spurgeon, mergulhou nas pregações desse homem do se´culo dezenove e em suas experiências de depressão para nos revelar um indivíduo como nós, vulnerável a todos os tipos de dificuldades e perdas na vida, lutando para compreender as grandes e perenes questões da bondade de Deus, da presença do mal e da fragilidade do corpo, da mente e das emoções. Neste tesouro rico e poético, há muito incentivo, conforto e ajuda prática a serem encontrados.

–– Richard Winter
Autor do livro “When Life Goes Dark: Finding Hope in the Midst of Depression”, Diretor do Conselho do Covenant Theological Seminary St. Louis, Missouri.
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Zack Eswine é um pastor com a mente de um acadêmico e o coração de um poeta. Sua sabedoria, que bebeu das lutas de Charles Spurgeon contra a depressão, é teologicamente profunda e pastoralmente lúcida.

Recomende este livro a qualquer pessoa que você conheça e que tenha se pergunta sobre depressão, ministério pastoral ou Deus.

–– Jason Byassee
Autor de “Discerning the Body: Searching for Jesus in the Word”, Pastor Senior da Boone United Methodist Church Boone, North Carolina.
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O rio da vida frequentemente flui através de pântanos de desânimo. Charles Spurgeon sabia muito bem disso. Conhecia a depressão. Conhecia o Deus de quem a vida flui. Repito o mesmo acerca de Zack Eswine neste livro excepcional, renovador e sóbrio. O livro é um comentário detalhado e uma meditação sobre a experiência de Spurgeon. Eswine aponta continuamente para a realidade de que, para Spurgeon, a depressão permanece sendo uma experiência intrinsecamente humana. Muitas vezes, em nossos dias, a depressão é reinterpretada como uma “coisa”, tornada um objeto restrito a um diagnóstico meramente médico e alienado de nossa condição humana. Este livro nos abre um horizonte de esperança – sem explicações reducionistas, sem respostas mágicas. Leia-o e o considere profundamente.

–– David Powlison
Diretor Executivo da CCEF
Editor Senior, Journal of Biblical Counseling
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“Sou o alvo de depressões de espírito tão assustadoras que espero que nenhum de vocês jamais tenha que passar por tais extremos de desgraça”.[1]


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"Cuidamos das doenças do corpo muito prontamente. Elas são muito dolorosas para nos permitir dormir em silêncio e logo nos impelem a procurar um médico ou cirurgião para nos curar. Oh, quem dera fôssemos assim tão atentos em relação às mais sérias feridas de nosso homem interior”.[2]

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“Eu sei, pessoalmente, que não há nada no mundo que o corpo físico possa sofrer que se compare à desolação e à prostração da mente”.[3]

Charles Haddon Spurgeon

CAPÍTULO 10: ATÉ QUE PONTO PODEMOS CRER NO PREMILENISMO FUTURISTA | John MacArthur

O que Harold Camping, Hal Lindsey e R. C. Sproul têm em comum? A despeito de suas divergentes posições no que diz respeito ao milênio, todos crêem que podem ser específicos no tocante ao tempo exato da vinda de Cristo, muito embora a Escritura advirta contra a especulação.

O amilenista Harold Camping predisse (em 1992) a segunda vinda de Cristo e o fim deste mundo como o conhecemos para o ano de 1994.[1] Sua última atualização da previsão (no ano de 2005) apontava para o dia 21 de maio de 2011.[2]

O premilenista Hal Lindsey também se arriscou nessa previsão, pelo menos duas vezes. Primeiro, ele previu 1988.[3]. Depois, sua possível data sugerida mudou para 2007.[4]

Até mesmo R. C. Sproul embarcou nessa onda [“profética”] de estabelecer datas para a vinda de Cristo, embora num retrospecto histórico. Sendo um preterista parcial ou moderado, ele aponta a segunda vinda de Cristo para o ano de 70 d.C. Porém, para permitir uma ressurreição geral posterior, ele de fato propõe uma terceira vinda de Cristo, num tempo indeterminado no futuro.[5]

De forma clara, os três ignoram as lições dos profetas do Antigo Testamento e da curiosidade insatisfeita dos apóstolos do Novo Testamento: não compete aos seres humanos o conhecimento preciso de datas e tempos nos quais ocorrerão os eventos proféticos do futuro. Pedro falou dos profetas do Antigo Testamento (1Pe 1.10-11):

“Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”.

Os apóstolos do Novo Testamento desejaram ouvir de Cristo sobre o tempo específico de sua Segunda Vinda (Mt 24.3,36; Mc 13.4,32):

“No monte das Oliveiras, achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: ‘Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século.

E Jesus lhes respondeu:

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai”
.

Compare ainda Mateus 24.42,44,50; 25.13; e Lucas 12.39-40,46, onde Cristo usa “hora” e “dia” no contexto de suas parábolas sobre a segunda vinda.

Não satisfeitos com a resposta de Cristo, aproximadamente sete semanas depois no monte das Oliveiras, imediatamente antes da partida do Messias para os céus, eles o indagaram novamente (At 1.6-7):

“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: ‘Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?’ Respondeu-lhes: “Não vos compete conhecer os tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade”.

Tendo abordado a pergunta inicial em termos bem precisos quanto ao tempo, Cristo agora usa expressões de tempo de longa duração num sentido mais geral.

O fator curiosidade se estende. Paulo escreve à igreja dos Tessalonicenses, que aparentemente o havia feito perguntas semelhantes com respeito aos profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo (1Ts 5.1-2). Ele responde:

“Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite”.

Nem os profetas, nem os apóstolos, muito menos a igreja primitiva, sabiam os tempos (cronos), as estações (kairós), o dia (hemera) e a hora (hora). No que diz respeito ao tempo específico (dia/hora), ou geral (tempos/épocas), ambos, Jesus e Paulo, ensinaram sobre a futilidade de tais esforços.

Assim sendo, se eles não sabiam, por que as pessoas em nossos dias insistem em especular? Seria por uma crônica das Escrituras, ou por uma terrível má interpretação da Bíblia ou mesmo por uma desobediência voluntária? Mas a resposta óbvia da Escritura é que não temos necessidade de conhecer o futuro com um nível de especificidade e, portanto, Deus não o revelou em sua Palavra.

Isto significa dizer que há mais incerteza no que diz respeito a tempos específicos do que certeza? Em uma palavra, sim – com respeito a um tempo previsível no futuro. Mas não no que diz respeito à caracterização da vinda de Cristo em si.

Ambos, Cristo e Paulo, são muito claros quanto à possibilidade de uma predição acurada com respeito à data do retorno de Cristo. O evento não pode ser especificamente projetado por tempo e/ou épocas. Não podemos e também não necessitamos saber sobre o tempo do segundo advento de Cristo em termos tão precisos. Portanto, evitemos a impossibilidade de predizer o que somente Deus sabe, mas não nos revelou.

Bem, se não podemos saber o tempo (específico ou geral) do retorno de Cristo, o que podemos saber com certeza? O que Deus descortinou nas Escrituras! A seguinte discussão esboça cinco certezas da visão Premilenista Futurista considerando a segunda vinda de Cristo.


A CERTEZA DO FATO

Esta certeza fundamenta-se no atributo da veracidade de Deus (Is 65.16) e na impossibilidade de Deus mentir (Tt 1.2). Portanto, toda palavra que Deus profere é verdadeira. Um silogismo básico valida esta conclusão: 1) A Escritura é a Palavra de Deus; 2) A Palavra de Deus é verdadeira; 3) Portanto, a Escritura é verdadeira.

Deus o Pai (Sl 119.142, 151, 160), Deus o Filho (Jo 14.6) e Deus o Espírito Santo (Jo 14.17; 15.26; 16.13) falam somente a verdade, toda a verdade, nada mais do que a verdade.

Para que ninguém duvide de que a Escritura repetidamente fala da natureza verdadeira de Deus, vamos meditar nesta curta declaração teológica sobre a veracidade de Deus:

A ênfase do Novo Testamento sobre a veracidade de Deus é mais pronunciada. É no Novo Testamento que lemos que Ele é o verdadeiro Deus, ou o Deus da verdade (Jo 3.33; 17.3; Rm 3.4; 1Ts 1.9); que Seus juízos são verdadeiros e justos (Rm 2.2; 3.7; Ap 15.3 e 16.7); que o conhecimento de Deus é o conhecimento da verdade (Rm 1.18-25). O Novo Testamento afirma que Cristo é a verdadeira luz (Jo 1.9), o verdadeiro pão (Jo 6.32) e a verdadeira vinha (Jo 15.1). É Cristo que traz o verdadeiro testemunho (Jo 8.14; Ap 3.14); seus juízos são verdadeiros (Jo 8.16); ele é ministro da verdade de Deus (Rm 15.8); ele é cheio de verdade (Jo 1.14); ele é a personificação da verdade (Jo 14.6; Ap 3.7 e 19.11). Ademais, ele fala a verdade de Deus (Jo 8.40-47). O Espírito Santo é repetidamente chamado de o Espírito da verdade (1Jo 5.7; 16.13). O Evangelho, ou a fé cristã, é chamada de A Palavra da Verdade (2Co 6.7; Ef 1.13; Cl 1.5; 2Tm 2.15 e Tg 1.18). O Evangelho é a verdade de Cristo (2Co 11.10) e o caminho da verdade (2Pe 2.2). Dos cristãos é dito que encontraram a verdade, ao passo que dos hereges e descrentes é dito que erraram o caminho da verdade (1Jo 2.27; 2Ts 2.13; Ef 5.9 e 1Jo 3.19). A Igreja é chamada de coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15).[7]

Agora, no que diz respeito aos seus planos futuros, Jesus disse aos discípulos (Jo 14.3): “Eu voltarei”.

Os anjos também disseram aos discípulos (At 1.11): “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Este Jesus que dentre vós foi elevado aos céus, Ele há de vir, do mesmo modo como o vistes subir”.

Paulo falou afirmativamente aos Tessalonicenses sobre a segunda aparição de Cristo (1Ts 5.23; confira também 2.19; 3.13; 4.15): “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo”.

Com base no triplo testemunho de Cristo, dos anjos e do apóstolo Paulo, podemos descansar no fato de que Jesus virá uma segunda vez. Mas, para além deste ponto, as várias expectativas proféticas diferem em grande medida. Somente o Premilenismo Futurista oferece certezas bíblicas consistentes.


A CERTEZA RELATIVA QUANTO AO TEMPO
Embora não possamos saber o tempo do retorno de Cristo em termos absolutos, o tempo relativo – ou seja, a sequência dos eventos – pode ser conhecido com certeza. Para uma ilustração dos detalhes concernentes à sequência de tempo relativo, consulte a tabela sobre o Premilenismo Futurista (p. 10).

Estas certezas maiores incluem:

● A era presente da Igreja (At 2 – Ap 3)
● Que o próximo grande evento profético é o arrebatamento da Igreja que precede a septuagésima semana de Daniel.
● Que os sete anos de tribulação e da ira de Deus, que caracteriza a septuagésima semana de Daniel (Ap 6-18), seguem o arrebatamento pretribulacional.
● Que ao fim da septuagésima semana de Daniel, Cristo vem à terra estabelecer seu reino (Ap 19) de acordo com as alianças e promessas incondicionais de Deus com o Israel nacional.
● Que Cristo então governará sobre o reino milenar (com mil anos de duração) prometido a Israel, sobre a terra, a partir de Jerusalém, assentado no prometido trono de Davi (Ap 20.4-6).


A CERTEZA DA CONDENAÇÃO ETERNA DE SATANÁS DEPOIS DO REINO DE MIL ANOS DE CRISTO SOBRE A TERRA
Não durante a era da Igreja, mas durante o reino de Cristo sobre Israel e sobre o mundo (Ap 20.4-6), Satanás será encarcerado (Ap 20.1-3). Mas ao fim do reinado de mil anos, o maligno receberá uma última oportunidade para enganar o mundo (Ap 20.7-8).

A rebelião final contra Deus e seu domínio resultará na morte de todos os anarquistas sob fogo enviado do céu (Ap 20.9) e Satanás lançado no lado de fogo por toda a eternidade (Ap 20.10).


A CERTEZA DO JULGAMENTO FINAL DE TODOS OS ÍMPIOS APÓS O REINO DE MIL ANOS DE CRISTO SOBRE A TERRA
Apocalipse 20.11-15, de modo breve, porém especificamente, relata o julgamento final após o governo do Messias sobre o mundo a partir de Jerusalém – o juízo do grande trono branco – onde todos os incrédulos de todos os tempos serão declarados culpados do pecado quando forem acusados pelo Justo Juiz e sentenciados a uma existência eterna no lago de fogo, na companhia de Satanás, a Besta e o Falso Profeta, banidos para sempre da presença de Deus (2Ts 1.3-10).


A CERTEZA DA ETERNIDADE FUTURA NA QUAL TODOS OS CRENTES HABITARÃO PARA SEMPRE APÓS O REINO DE MIL ANOS DE CRISTO SOBRE A TERRA
O que virá após tudo isto? Novos céus e nova terra (Ap 21.1). Esta expressão reflete a eternidade futura em todo seu glorioso esplendor (Ap 21.2–22.15).

Todas estas certezas se harmonizam com o Premilenismo Futurista, mas não se encaixam com o Amilenismo, nem com o Premilenismo histórico, e muito menos com o Posmilenismo. Todas estas características foram extraídas das Escrituras, no sentido de entendermos somente o que Deus tem revelado em Sua Palavra e nada além da Palavra. Estas verdades não foram impostas às Escrituras a partir de um sistema teológico preconcebido (como no caso da teologia da Aliança), como ocorre no Amilenismo, Premilenismo histórico e Posmilenismo.


UMA PALAVRA FINAL

Até que ponto podemos crer no Premilenismo Futurista? Na medida em que cremos na veracidade de Deus e de Suas promessas nas Escrituras!

Por isso, a próxima vez que alguém indagar: “O que você crê sobre o milênio?”, você não precisará mais empregar aquela resposta patética “Promilenar” ou “Panmilenar” mostrada no prefácio. Agora você pode responder confiante e convicto: “Creio nas certezas bíblicas do Premilenismo Futurista!” Estas certezas proféticas não devem apenas afetar suas crenças, mas também seu comportamento (2Pe 3.13-17,18).

“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dEle sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz... Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém”.

Assim, juntamente com o apóstolo João, desejemos com ardor a vinda do Messias: “Vem, Senhor Jesus” (Ap 22.20).


–– John MacArthur / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o Premilenismo Futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 10, Pág. 189-195

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

A VERDADE SOBRE OS SINAIS DOS TEMPOS | Dirley Pires


O Arrebatamento é o próximo evento profetizado a ocorrer segundo o calendário profético de Deus, mas não há e nem aparecerão sinais que indiquem que ele está próximo. Isto é verdade porque o Arrebatamento é iminente, o que significa que pode acontecer a qualquer momento. É impossível um evento iminente ter sinais. Se há sinais relacionados a um evento, então eles indicam que ele está perto ou distante e, portanto, não pode acontecer até que os sinais estejam presentes. Já que o Arrebatamento é descrito no Novo Testamento como um evento que pode acontecer a qualquer momento, não pode estar relacionado com qualquer sinal (veja 1 Co 1.7; 16.22; Fp 3.20; 4.5; 1 Ts 1.10; Tt 2.13; Hb 9.28; Tg 5.7-9; 1 Pd 1.13; Jd v.21; Ap 3.11; 22.7,12, 17, 20). 

Entretanto, isso não significa que não haverá sinais gerais para indicar que o final dos tempos está próximo. Existem sinais relacionados a outros aspectos do programa divino que nos fazem acreditar que esse tempo está chegado. Do mesmo modo, existem muitos sinais que anunciam o plano divino para Israel no fim dos tempos. No entanto, devemos ter cuidado com a maneira como os relacionamos a nós hoje. Já que os crentes de hoje vivem na era da Igreja, que terminará com Arrebatamento, os sinais proféticos relacionados a Israel não são cumpridos em nossos dias. Alguns estudiosos das profecias gostam de falar sobre como Deus está cumprindo dezenas de profecias atualmente. Mas isso não é verdade, pois as profecias que eles citam estão relacionadas com os eventos que ocorrerão durante a Tribulação. O mundo estava preparado para a Primeira Vinda de Cristo, e do mesmo modo estará preparado para os eventos que conduzirão à Segunda Vinda. O que Deus está fazendo é uma preparação, ou "montagem de cenário" do mundo para o período que é chamado de Tribulação. O Dr. John Walvoord explica:

Mas se não há sinais para o Arrebatamento em si, quais são as fontes legítimas que levam a crer que o Arrebatamento esteja próximo desta geração?

A resposta não é encontrada em nenhum dos eventos proféticos previstos antes do Arrebatamento, mas no entendimento dos eventos que os seguem. Assim como a história foi preparada para a Primeira Vinda de Cristo, ela está sendo preparada para os eventos que levam à Sua Vinda... Sendo assim, isto leva à conclusão inevitável de que o Arrebatamento pode estar animadoramente próximo.

–– Dirley Pires
FONTE: Ministério Escathos
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REFERÊNCIAS

Thomas Ice e Timothy Demy.
Profecias de A a Z.
Porto Alegre: Actual, 2003.

CAPÍTULO 9: A Igreja Primitiva Acreditava num Reino Milenar Literal | Nathan Busenitz

O testemunho dos pais da igreja, embora não seja autoritativo, é particularmente instrutivo em relação à forma como as primeiras gerações de cristãos entenderam o ensino dos apóstolos.[1] O seu testemunho é útil em muitas questões teológicas, incluindo a Escatologia. Se, como foi sugerido no capítulo 8, o Novo Testamento sustenta um futuro e terreno reino milenar, então esperaríamos que o Premilenismo fosse a visão predominante nos escritos dos pais da igreja primitiva. E é exatamente isso que encontramos.

Falando dos pais da igreja, o notável historiador do século XIX, Philip Schaff, escreveu:

O ponto mais marcante na Escatologia do período ante-Niceno [isto é, antes de 325 d.C.] é o proeminente quialismo, ou milenarismo, que é a crença em um reinado visível de Cristo em glória na Terra, com os santos ressuscitados, por mil anos, antes da ressurreição geral e do julgamento. Foi, aliás, não a doutrina da igreja estipulada em qualquer credo ou forma de devoção, mas uma opinião amplamente atual de mestres ilustres, como Barnabé, Papias, Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Metódio e Lactâncio.[2]

Outros estudiosos, inclusive não-premilenistas, reconheceram a importância da perspectiva premilenista na igreja primitiva pós-apostólica:

William Alger: Quase todos os primeiros pais da igreja acreditavam num milênio, um reino de Cristo na terra com seus santos por mil anos.[3]

William Masselink: A concepção quialista [pré-milenista] encontrou imediatamente aceitação na igreja cristã... A história apostólica nos mostra que muitos dos antigos pais da igreja eram inclinados a essa visão.[4]

Donald K. McKim: A Escatologia dos primeiros teólogos [Patrística] concernente ao reino de Deus é marcada pelo desenvolvimento do quialismo, um termo que se refere ao reinado de mil anos de Cristo (Ap 20.1-10) conectado com a sua segunda vinda, a ressurreição dos mortos e o julgamento final.[5]

Stanley Grenz: Na vizinhança de Éfeso, a localização das sete igrejas abordadas pelo livro do Apocalipse (hoje Turquia ocidental), uma desenvolvida tradição milenar partilha certas características com o Premilenismo moderno. Essa tradição foca nas bênçãos materiais que acompanhará o reino futuro de Cristo sobre a Terra física renovada após a ressurreição no final desta era.[6]

Roger E. Olson: Agostinho [no quarto século] desenvolveu o que veio a ser conhecido como amilenialismo, enquanto a maioria dos primeiros pais da igreja eram premilenistas.[7]

Christopher Rowland: O livro de Apocalipse oferece um exemplo de teologia que está no coração da mais antiga convicção cristã ao invés de ser marginal. Crenças no milênio ainda foram amplamente realizadas a partir do segundo século em diante, como é evidente nos escritos de Justino Mártir, Irineu, Hipólito, Tertuliano e Lactâncio.[8]

Resumindo a evidência histórica de uma perspectiva premilenista futurista, Leon J. Wood explicou:

Há um consenso geral entre os estudiosos de que a visão da igreja primitiva era premilenista. Ou seja, os cristãos afirmavam que Cristo reinaria sobre um reino terrestre literal por mil anos, assistido por santos arrebatados. Nenhum dos pais da igreja dos dois primeiros séculos são conhecidos por terem discordado dessa visão. Na sequência, pode ser listado como aqueles que favoreceram este ponto de vista: desde o primeiro século, Aristio, João o Presbítero, Clemente de Roma, Barnabé, Hermas, Inácio, Policarpo e Papias. A partir do segundo século, Potino, Justino Mártir, Melito, Hegisippus, Taciano, Irineu, Tertuliano e Hipólito.[9]

Neste capítulo, os escritos de alguns desses primeiros líderes cristãos serão brevemente pesquisados, permitindo-lhes expressar seus pontos de vista premilenistas em suas próprias palavras. Em seguida, será discutido o surgimento do Amilenismo na história da igreja primitiva.


AS PRIMEIRAS VOZES PREMILENISTAS
Um dos primeiros e mais importantes premilenistas na igreja primitiva foi Papias, bispo de Hierópolis (cerca de 60–135). Embora os escritos de Papias tenham sido perdidos, alguns de seus ensinamentos sobreviveram nos escritos de Irineu (cerca de 130–202) e Eusébio (cerca de 263–339). Em uma passagem prolongada, Irineu articula a posição escatológica de Papias:

A bênção que é predita [nas profecias] pertence sem dúvida aos tempos do reino, quando os justos irão ressuscitar dos mortos e do reino, e a criação que se renova e se liberta trará o orvalho do céu, e a fertilidade do solo, e a abundância de alimentos de todos os tipos. Assim, os anciãos, que viram João, o discípulo do Senhor, lembrarão de ouvi-lo dizer como o Senhor os usou para ensinar sobre aqueles tempos, dizendo: “Os dias estão chegando quando a vinha brotará, cada uma com também os frutos restantes, sementes e vegetação irão produzir em proporções semelhantes. E todos os animais que comem esse alimento tirado da terra virão estar em paz e harmonia uns com os outros, produzindo em completa submissão aos seres humanos”. Papias, bem como um antigo homem – aquele que ouviu João e era companheiro de Policarpo – dá um relato escrito destas coisas no quarto de seus livros.[10]

Eusébio, o historiador da Igreja do século IV, da mesma forma, registrou o ponto de vista premilenista de Papias. Em sua História Eclesiástica, Eusébio escreveu:

Este Papias, sobre quem que acabamos de discutir, reconhece que recebeu as palavras dos apóstolos por meio daqueles que tinham sido seus seguidores, e indica que ele próprio havia escutado Aristion e João o Presbítero. E, assim, ele os lembra pelos nomes, e em seus livros ele apresenta as tradições que eles repassaram... Entre essas coisas, ele diz que depois da ressurreição dos mortos, haverá um período de mil anos, durante o qual o Reino de Cristo existirá de forma tangível aqui nesta mesma terra.[11]

O testemunho de Papias é significativo, não só por causa da proximidade dos apóstolos, mas também porque é provável que as informações de Papias derivam diretamente do apóstolo João, ou, pelo menos, a partir das conversas diretas com João. Além disso, sua perspectiva reflete “a tradição cristã primitiva com base na sua herança judaica, bem como a tradição do ensino de Jesus e o Apocalipse de João, como parte integrante de seu retrato das glórias do porvir”.[12]

O proeminente apologista do século II, Justino (cerca de 100–165), também sustentou uma perspectiva premilenista. Justino é considerado “o mais importante dos apologistas gregos do segundo século e uma das personalidades mais nobres da literatura cristã primitiva”.[13] Depois de se converter ao cristianismo, dedicou sua vida à defesa da fé cristã. Ele ensinou em Éfeso e em outros lugares da Ásia Menor antes de se mudar para Roma, onde estabeleceu um centro de formação cristã.

Em seu Diálogo com o judeu Trifon, Justino enfatizou que ele interpretou as promessas milenares dos profetas do Antigo Testamento de uma forma literal:

Eu e outros, que somos cristãos de direito e de espírito em todos os pontos, estamos certos de que haverá uma ressurreição dos mortos e [um tempo de] mil anos em Jerusalém, que então será construída, adornada e ampliada, exatamente como os profetas Ezequiel, Isaías e muitos outros declaram... Temos percebido, por outro lado, que a expressão “O dia do Senhor é como mil anos” está relacionada com este assunto. E mais, havia um certo homem conosco, cujo nome era João, um dos apóstolos de Cristo, que profetizou, por meio de uma revelação feita diretamente a ele, que aqueles que acreditaram em nosso Cristo habitarão mil anos em Jerusalém; e que, posteriormente, o general, e, em suma, a ressurreição eterna e o julgamento de todos os homens teriam igualmente lugar [neste cenário].[14]

Opiniões semelhantes foram sustentadas por Irineu, bispo de Lyon, que foi mencionado anteriormente em conexão com Papias. Nascido na Ásia Menor, Irineu foi exposto aos ensinamentos de Policarpo (o discípulo de João) como um jovem rapaz. Mais tarde, ele se estabeleceu na parte ocidental do Império Romano, eventualmente sucedendo Potino como bispo de Lyon. Conhecido como um verdadeiro “pacificador”,[15] Irineu ajudou a resolver várias disputas inter-cristãs durante a sua vida, incluindo uma controvérsia sobre a data da Páscoa. No entanto, ele não permitiu que seu amor pela paz substituísse o seu amor pela verdade. Por esta razão, Irineu dedicou-se à refutação das heresias gnósticas, em última análise, produzindo uma obra de cinco volumes comumente chamada Contra as Heresias.

Comemorando sobre a posição escatológica de Irineu, o posmilenista Keith Mathison observou:

A Escatologia de Justino recebeu sua exposição mais desenvolvida no segundo século nos escritos de Irineu, bispo de Lyon. De acordo com Irineu, o fim da era atual será marcado por um reinado do Anticristo, que irá profanar o templo em Jerusalém por três anos e meio. Seu reinado será abreviado pelo retorno de Cristo, que irá lançá-lo para dentro do lago de fogo. Neste ponto, Cristo vai inaugurar a era milenar. Quando o Milênio acabar, haverá uma ressurreição geral, o julgamento final e a inauguração do estado eterno (Contra as Heresias, 5.30.4).[16]

Para citar Irineu, em suas próprias palavras:

Mas quando o Anticristo devastar todas as coisas neste mundo, ele reinará por três anos e seis meses, e sentará no templo de Jerusalém; e então o Senhor virá do céu, nas nuvens, na glória do Pai, lançando este homem e os que o seguem para o lago de fogo; mas trazendo para os justos os tempos do reino, isto é, o descanso, o sagrado sétimo dia; e restaurar a Abraão a herança prometida, o reino sobre o qual o Senhor declarou: “... muitos, vindo do Leste e do Oeste, sentarão com Abraão, Isaque e Jacó”.[17]

Em outro lugar, depois de citar uma série de profecias milenares do Antigo Testamento, Irineu concluiu:

Por todas estas e outras palavras foram, sem dúvida, falado em referência à ressurreição dos justos, que acontece após a vinda do Anticristo, e a destruição de todas as nações sob o seu governo; em que os justos reinarão na terra, já mais fortes aos olhos do Senhor.[18]

Como Justino, Irineu defendeu sua Escatologia Premilenista de ambos os ensinamentos dos apóstolos e das profecias do Antigo Testamento. Para aqueles que alegorizam profecias do Antigo Testamento, Irineu simplesmente comentou: “Se, no entanto, alguém se esforçar para alegorizar profecias desse tipo, eles não se acharão coerentes consigo mesmos em todos os pontos, e devem ser refutados pelo ensinamento de cada expressão em questão”.[19]

Outro premilenista dentre os pais da igreja é o famoso “Pai da Teologia Latina”, Tertuliano (cerca de 160–220). Pouco se sabe ao certo sobre a vida pré-cristã de Tertuliano, exceto que ele era filho de pais pagãos e recebeu uma excelente educação. Ele pode ter sido um advogado em Roma antes de se dedicar à Teologia, o que explicaria a terminologia jurídica Latina que muitas vezes ele cristianizou, formando assim a base para a Teologia Latina.

Uma das declarações mais claras de Tertuliano sobre Escatologia Premilenista é encontrada em seu tratado denunciando o herege Marcion. Lá, ele escreveu:

Nós confessamos que um reino terreno está prometido para nós, embora antes do céu, apenas em outro estado de existência; na medida em que será depois da ressurreição por mil anos na cidade divinamente construída de Jerusalém, “que desce do céu”, que o apóstolo chama também de “a nossa mãe de cima”, e, ao declarar que a nossa [politeuma], ou cidadania, está nos céus, assim, ele afirma claramente que ela é realmente uma cidade que está no céu. Nisso, tanto Ezequiel teve conhecimento como o apóstolo João contemplou.[20]

Em outros lugares, ele reiterou sua interpretação literal de Apocalipse 20. No Apocalipse de João, novamente, a ordem desse tempo é espalhada para fora para ver... que, após a prisão do diabo no abismo por um tempo, a prerrogativa abençoada da primeira ressurreição pode ser ordenada a partir dos tronos; e, então, novamente, após o lançamento do diabo no fogo, que o julgamento final e a ressurreição universal pode ser determinada a partir dos livros.[21]

Ao testemunho de Tertuliano poderíamos acrescentar, entre outros, as palavras de Lactâncio (cerca de 240–320). Em seu Institutos Divinos, que foi uma das primeiras tentativas de uma teologia sistemática na história da igreja, Lactâncio escreveu:

Mas Ele [Cristo], quando Ele destruir a injustiça e executar Seu grande julgamento, e ter recordado a vida dos justos, que viveram desde o início, serão comprometidos entre os homens por mil anos, e os regerá com apenas um comando... Sobre o mesmo tempo, também o príncipe dos demônios, que é o inventor de todos os males, deve ser amarrado com correntes, e poderá ser preso durante os mil anos do governo celestial em que a justiça reinará no mundo, de modo que ele não poderá inventar nenhum mal contra o povo de Deus. Depois de Sua vinda, os justos serão recolhidos de toda a terra, e o julgamento será concluído, a cidade sagrada será plantada no meio da terra, onde o próprio Deus, o Construtor, possa habitar junto com o justo, e governar.[22]

Em outros lugares, Lactâncio foi igualmente explícito:

Portanto, a paz sendo feita e todo o mal reprimido, o justo Rei e Conquistador irá instituir um grande julgamento sobre a terra com respeito aos vivos e aos mortos, e vai entregar todas as nações em sujeição aos justos que estiverem vivos, e vai elevar os justos mortos para a vida eterna, e Ele mesmo vai reinar com eles na terra, e vai construir a cidade santa, e este reino dos justos será por mil anos.[23]

Lactâncio ensinou que, após o término dos mil anos, o diabo será libertado e mais uma vez organizará a rebelião dos incrédulos. Uma vez que a revolta é esmagada e os inimigos de Deus destruídos, o estado eterno será introduzido e os crentes “devem ser sempre engajados diante do Todo-Poderoso... e servi-lo para sempre”.[24]

Embora este seja apenas um breve levantamento de alguns dos pais da igreja premilenistas, isto é suficiente para estabelecer o argumento, ou seja, que a Escatologia Premilenista prosperou [unanimemente] nas primeiras gerações da Igreja Primitiva. Com base em seu entendimento de ambos, a profecia do Antigo Testamento e o ensino apostólico, esses pais da igreja estavam convencidos de que Cristo voltaria à Terra vitoriosamente e estabeleceria o Seu reino em Jerusalém, durante mil anos.


A ASCENSÃO DO AMILENISMO
Como vimos no capítulo 7, os estudiosos amilenistas reconhecem prontamente que uma simples leitura dos profetas do Antigo Testamento leva a uma visão Premilenista Futurista. O capítulo 8 explicou que Cristo e os apóstolos nunca rejeitaram essas expectativas milenares, mas as afirmou como certas. Não é surpreendente, então, descobrir que o Premilenismo foi a visão escatológica predominante da igreja primitiva. É especialmente significativo perceber que esta visão escatológica floresceu na Ásia Menor – a região onde o apóstolo João havia ministrado e onde o livro do Apocalipse foi escrito.

Mas tudo isso levanta uma questão importante: Se o Premilenismo é ensinado no Antigo Testamento, afirmado no Novo e amplamente adotado na história da Igreja Primitiva, como então o Amilenismo se desenvolveu, de modo que ele se tornou a posição da maioria da igreja durante a Idade Média?

Os estudiosos têm sugerido pelo menos quatro fatores que contribuíram para o aumento do [pobre] Amilenismo – a visão que realmente tomou forma nos séculos III e IV. Os primeiros dois fatores – a hermenêutica alegórica e dualismo platônico – estão conectados, e entraram na igreja através da influência da filosofia e da cultura grega popular. Essa influência foi particularmente forte em Alexandria, Egito, onde ele primeiro afetou o ensino rabínico judaico antes da época de Cristo. Como Rick Bowman e Russel L. Penney explicam: “Este tipo de interpretação alegórica pode ser visto na época de Platão quando o hedonismo flagrante das divindades foi interpretado simbolicamente, a fim de torná-los aceitáveis. Incapaz de conciliar seus pontos de vista com a interpretação literal das Escrituras, comentaristas antigos judeus começaram a alegorizá-las. Os rabinos de Alexandria, Egito, começaram a ensinar alegoricamente, a fim de combater a crítica gentílica do Antigo Testamento”.[25] Esta abordagem rabínica teve um grande impacto sobre a igreja. O historiador Roger Olson observa a conexão: “O padrão de Alexandria tinha sido estabelecido no tempo de Cristo pelo teólogo judeu e estudioso bíblico Filo, que acreditava que as referências literais e históricas das Escrituras Hebraicas eram de menor importância. Ele procurou descobrir e explicar significados alegóricos ou espirituais das narrativas bíblicas... Muitos pensadores cristãos tomaram emprestado as estratégias [mirabolantes] hermenêuticas de Filo, e que não era mais verdadeiro nem mesmo em Alexandria”.[26]

Não é surpreendente, pois, descobrir que a oposição inicial ao Premilenismo saiu de Alexandria.[27] “O primeiro adversário proeminente [de um milênio literal] foi Clemente de Alexandria [cerca de 150-215], que tinha sido influenciado pela filosofia idealista platônica e tinha adotado o método alegórico grego de interpretação das Escrituras”.[28] O discípulo de Clemente, Orígenes de Alexandria, carregou ainda mais as opiniões de seu professor, popularizando a hermenêutica alegórica. Como Paulo Benware explica, “Orígenes (185-254 d.C.) e outros estudiosos em Alexandria foram grandemente influenciados pela filosofia grega e tentaram integrar essa filosofia com a teologia cristã. Incluído na filosofia grega estava a idéia de que essas coisas que eram materiais e físicas eram inerentemente más. Influenciado por este pensamento, esses estudiosos alexandrinos concluíram que um reino terreno de Cristo com as suas muitas bênçãos físicas seria algo mal”.[29]

De posse de uma hermenêutica alegórica, intérpretes alexandrinos foram capazes de explicar textos do Antigo Testamento que, tomados literalmente, apontam para um reino terreno milenar. Devido à influência da filosofia grega (dualismo platônico), eles estava ansiosos para minimizar as bênçãos materiais prometidas pelos profetas e reinterpretá-las como realidades espirituais. “Conforme o gnosticismo (e uma interpretação tradicional) do dualismo platônico, o corpo e inferior à alma, em valor, e mais geralmente o mundo material é inferior ao mundo imaterial”.[30] A compreensão espiritual do reino milenar foi considerada mais filosoficamente aceitável. Assim, pontos de vista premilenistas foram rejeitados, uma vez que eles foram baseados em uma interpretação literal das promessas do Antigo Testamento. Como o amilenista William Masselink reconhece: “A filosofia gnóstica [dualista] deste período e da escola de Alexandria, com suas interpretações alegóricas das Escrituras, foram também um grande detrimento para o progresso do quialismo”.[31]

Uma terceira contribuição para o desenvolvimento do Amilenismo (ou, pelo menos, à rejeição do Premilenismo) foi uma crescente oposição por parte dos cristãos para com judeus incrédulos. “Como a animosidade dos judeus para com os cristãos continuou e tornou-se cada vez mais claro que os judeus não acreditavam em Cristo, muitos cristãos começaram a ver os judeus como seus inimigos”.[32] Esta animosidade contribuiu para o declínio do Premilenismo, especialmente quando apologistas judeus argumentaram que Jesus não poderia ter sido o Messias desde que as promessas milenares ainda não haviam sido literalmente cumpridas através dEle. Assim, Andrew Chester, falando da igreja primitiva, observa:

É precisamente o fato de que a gloriosa transformação da terra ainda não tomou lugar que faz a reivindicação messiânica cristã vulnerável aos ataques dos judeus, enquanto, simultaneamente, as fontes judaicas e cristãs compartilham claramente a mesma tradição e passagens das Escrituras, e são, em muitos aspectos, difíceis de serem distinguidos um do outro. Por isso, é a estreita ligação entre as posições judaicas e cristãs que é submetida à polêmica por opositores cristãos do quialismo, como Orígenes, a fim de estabelecer a posição cristã como distintiva e se livrar do materialismo bruto.[33]

Ao espiritualizar as promessas milenares, Orígenes e outros tentaram defender o cristianismo de seus oponentes judeus, diferenciando ainda mais a sua escatologia a partir dos ensinamentos do judaísmo.[34]

Uma quarta contribuição para o desenvolvimento da teologia do Amilenismo foi a mudança sociopolítica significativa que ocorreu no Império Romano entre os séculos I e IV. A queda de Jerusalém em 70 d.C. e a revolta de Bar Kochba em 135 parecia indicar que Deus já não tinha quaisquer planos para Israel como uma nação. Em seguida, no quarto século, o início de um reino cristão em Roma, sob o reinado de Constantino, foi interpretado por muitos como o cumprimento das promessas milenares. Como resultado, o Premilenismo – que prevaleceu na Igreja Primitiva – foi agora completamente eclipsado. Citemos novamente o historiador Philip Schaff:

Em Alexandria, Orígenes se opôs ao quialismo como um sonho judeu e espiritualizou a linguagem literal dos profetas... Mas o golpe esmagador veio da grande mudança na condição social e nas perspectivas da igreja na era de Nicéia. Depois que o cristianismo, ao contrário de todas as expectativas, triunfou no Império Romano e foi abraçado pelos Césares, o reino milenar, em vez de ser ansiosamente esperado e considerado objeto de oração, começou a ser datado a partir da primeira aparição de Cristo ou a partir da “conversão” de Constantino e da queda do paganismo, e deve ser considerado como realizado na glória do Estado-Igreja Imperial dominante.[35]

Assim, as tentativas de defender a doutrina de um reino milenar literal de Cristo estavam viciadas em grande parte pela “conversão” do imperador Constantino... e, a cessação da perseguição, em conseqüência da mudança completa de sua atitude oficial em relação ao cristianismo. No gozo de patrocínio imperial, parecia evidente para muitos que o reino havia chegado e que bênçãos milenares preditas pelos profetas eram para se tornar a posse do povo de Deus aqui e agora. Na verdade, Eusébio, o pai da história Igreja, declarou especificamente que o reino já havia chegado.[36]

Com a nação judaica em baixa e um império cristão com sede em Roma, muitos crentes não acharam necessário olhar para frente, para um futuro reino messiânico na terra.


AGOSTINHO, O PAI DO AMILENISMO
A oposição ao Premilenismo Futurista ganha terreno no terceiro século e início do quarto, principalmente devido aos motivos listados acima. No entanto, foi Agostinho (354-430) quem estabeleceu, de fato, o Amilenismo da igreja medieval. Embora tivesse, inicialmente, se inclinado em direção à perspectiva Premilenista, o Bispo de Hipona, em última instância, rejeitou-a porque sentiu que havia promovido carnalidade através da sua ênfase em bênçãos materiais em um reino terreno. Como observa Keith Mathison:

No início de sua vida cristã, Agostinho havia sido atraído para o milenarismo (Premilenismo), porém, mais tarde o rejeitou. Sua rejeição, ao que parece, foi em grande parte devido a algumas das versões excessivamente carnais do milenarismo que eram correntes em sua época. Ele mudou de posição e adotou, de vez, uma abordagem simbólica para o vigésimo capítulo de Apocalipse. Na Cidade de Deus, Agostinho ensina que a primeira ressurreição mencionada em Apocalipse 20 é uma ressurreição espiritual, a regeneração de pessoas mortas espiritualmente (20.6). Em contraste com o Premilenismo, ele ensina que a segunda ressurreição ocorre na segunda vinda de Cristo, e não mil anos depois.[37]

As conclusões teológicas de Agostinho também foram influenciadas pela hermenêutica alegórica e filosofia grega de Alexandria:

Embora Orígenes e outros começassem a questionar a visão premilenista, foi Agostinho quem sistematizou e desenvolveu o Amilenismo como uma alternativa ao Premilenismo. Como Orígenes, Agostinho tinha sido educado na filosofia grega e não poderia escapar de sua influência, o que o levou a ver o Premilenismo com suspeita, entendendo-a como uma visão que promoveu um tempo de gozo carnal... A atitude de Agostinho, bem como a sua teologia, desde então tem dominado grande parte da igreja. Além disso, ele descobriu nos métodos alegóricos de interpretação de Orígenes uma ferramenta útil para contornar os ensinamentos de certas passagens milenares. Com isto, Agostinho veio a rejeitar a idéia de Premilenismo no reino terrestre de Cristo, que havia sido realizada na igreja durante vários séculos [desde os primórdios da igreja].[38]

Agostinho afirma suas razões para rejeitar o Premilenismo em A Cidade de Deus. Lá ele escreve: “Este parecer [de um futuro milênio literal depois da ressurreição] pode ser permitido se propor um único deleite espiritual aos santos durante este espaço (e nós já fomos da mesma opinião); mas vendo as provas deste documento, que afirma que os santos, após esta ressurreição, devem fazer nada além de deleitarem-se com banquetes carnais, onde o elogio deve exceder tanto a modéstia e a medida, este é bruto e apto para ninguém, mas os homens carnais para acreditar. Mas, os que são realmente e verdadeiramente espirituais se chamam aqueles desta opinião quialista”.[39] Do ponto de vista premilenista moderno, as razões de Agostinho para rejeitar uma compreensão literal da profecia milenar parece trivial.[40] No entanto, o que se poderia pensar dos méritos relativos às conclusões de Agostinho, ninguém questiona a influência que sua mudança de espírito provocou na história da igreja. Embora houvesse ainda alguns defensores do Premilenismo no século V,[41] “a derrota final do quialismo no Ocidente deve-se a Agostinho, que, em sua Cidade de Deus identificou o milênio com a história da Igreja na Terra e declarou que, para aqueles que pertencem à verdadeira Igreja, a primeira ressurreição já passou”.[42]

A Escatologia de Agostinho tornou-se o padrão para a igreja medieval no Ocidente. Como Millard Erickson aponta: “Os três primeiros séculos da igreja foram provavelmente dominados pelo que chamaríamos hoje de Premilenismo, mas, no século IV, um donatista africano chamado Tyconius propôs uma visão competitiva. Embora Agostinho fosse um adversário dos donatistas, ele adotou o ponto de vista de Tyconius do milênio. Esta interpretação dominou o pensamento escatológico em toda a Idade Média”.[43] De fato, uma forma modificada da Escatologia Amilenista de Agostinho (aquele em que o reino de Deus na terra foi igualado com a Igreja Católica Romana)[44] tornou-se tão dominante que alguns teólogos medievais foram aos extremos para suprimir o Premilenismo. “Não só a perspectiva anti-milenarista se tornou o padrão para a ortodoxia; começando com o Concílio de Éfeso no quinto século e durante a Idade Média, os líderes da igreja buscaram suprimir o milenarismo. Eles promoveram esta campanha até ao ponto de alterar os escritos de premilenistas entre os primeiros Pais da Igreja, como Irineu”.[45]

Mais de mil anos depois de Agostinho, quando a Reforma inrrompeu a cena, os reformadores magistrais mantiveram uma escatologia anti-Premilenista – algo que eles herdaram da igreja medieval.[46 Embora distantes do verdadeiro cristianismo a partir da instituição do papado,[47] Lutero e Calvino, no entanto, rejeitaram [lamentavelmente] o Premilenismo totalmente – vendo-o como uma corrupção[48] perigosa que havia sido descartada há muito tempo pela igreja.[49] Esta rejeição é particularmente irônica no caso de Calvino, como foi discutido no capítulo 7, pois ele se opôs à hermenêutica alegórica de Orígenes.[50] No entanto, foi a partir dessa hermenêutica alegórica que o Amilenismo inicialmente se desenvolveu na história da igreja.


A AFIRMAÇÃO DA HISTÓRIA DA IGREJA

Está fora de escopo deste capítulo discutir a história da Escatologia desde a Reforma até o presente. Nosso objetivo aqui é duplo: (1) Demonstrar que o Premilenismo era a visão predominante entre os primeiros pais da igreja e (2) dar uma explicação plausível para que se possa entender [de forma histórica e honesta] a razão do crescimento do Amilenismo tal como se desenvolveu nos séculos III e IV da história da igreja. Para reiterar um ponto feito no início: A história não é autoritária como o é a Escritura, mas ela pode [também] afirmar a posição Premilenista, indicando que as primeiras gerações de cristãos, em geral, interpretaram o testemunho apostólico através de uma lente Premilenista – uma visão [bíblica e sensata] em que um futuro de mil anos do reino messiânico sobre a terra era esperado pelos primeiros cristãos. O Premilenismo, como pode ser constatado, não é um desenvolvimento recente. Pelo contrário, é o mais antigo ponto de vista escatológico na história da igreja. Essa realidade acrescenta enorme credibilidade à posição Premilenista Futurista.


–– Nathan Busenitz / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o Premilenismo Futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 9, Pág. 171-184

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

ECUMENISMO: A ESTRANHA ALIANÇA ENTRE PAULO JUNIOR E HERNANDES DIAS LOPES – UM ALERTA AOS CRISTÃOS | JP Padilha

“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?... Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e Eu vos receberei; e Eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” (2Coríntios 6.14-18).

Esta passagem dá expressão a uma exortação divina para os que pertencem a Cristo para manterem-se afastados de todas as associações íntimas com os ímpios. Ele expressamente os proíbe de entrar em alianças com os não-convertidos. Ele definitivamente proíbe os filhos de Deus que andem de mãos dadas com os mundanos. É uma advertência aplicável a todas as fases e áreas das nossas vidas – religiosa, doméstica, social, comercial. E nunca, talvez, houve um momento em que mais necessitamos pressionar os cristãos do que agora. Os dias em que vivemos são marcados pelo "espírito de compromisso" (ecumenismo).

Por todos os lados vemos misturas profanas, alianças ímpias, jugos desiguais. Muitos cristãos professos parecem estar tentando descobrir quão perto do mundo podem andar e ainda ir para o céu. Estamos totalmente convencidos de que há um total descaso para com este mandamento, pois é um mandamento, mas tem sido tratada como uma mera “sugestão” ou “questão secundária”, largamente responsável pelo baixo nível que agora prevalece, de modo geral, entre os cristãos, tanto individual como coletivamente.

A desobediência nesse ponto é uma certa preventiva para a devoção real e de todo o coração a Cristo. Ninguém pode ser um seguidor desacorrentado do Senhor Jesus e, ao mesmo tempo e de alguma forma, “preso” aos Seus inimigos. Ele pode ser uma pessoa verdadeiramente salva, mas o testemunho da sua vida, o testemunho de seu caminhar, não vai honrar e glorificar a Cristo.

“Não vos prendais em jugo desigual”. Isto se aplica em primeiro lugar a nossas relações religiosas ou eclesiásticas. Quantos cristãos são membros das chamadas “igrejas”, onde muita coisa está acontecendo e que eles sabem que está acontecendo em desacordo direto com a Palavra de Deus.
[1]

“Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Pois, como haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem vocês julgar os que estão dentro? Deus julgará os de fora” (1Coríntios 5.11-13).

Amados, vocês precisam entender que expôr e denunciar cadáveres pentecostais e gnósticos, tais como Valdemiro Santiago e Silas Malafaia, é fácil e quase sempre inútil, uma vez que estes são feiticeiros declarados e não representam perigo para as genuínas ovelhas de Cristo. O Pentecostalismo durou cerca de 100 anos sob a placa de igreja cristã e, atualmente, é reconhecida como uma instituição apóstata por qualquer cristão iniciante. Só permanecem no Pentecostalismo aqueles que estão entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração (Ef 4.18). Meu filho mais velho tem 3 aninhos e já discerne os ardis do diabo. Ele já percebe que todas aquelas maluquices da TV Gospel provém de Satanás. - "Papai, olha lá o bicho...!".

Todavia, uma nova seita tem pairado sobre os telhados da igreja de Cristo, e ela tem carregado o nome de "igreja protestante reformada", quando, na verdade, não é. É por isso que precisamos, com urgência, julgar aqui dentro e não lá fora. A Igreja de Deus está doente; os tempos são maus e aqueles que são omissos prestarão contas a Deus por cada momento de silêncio diante da heresia (Tt 3.10-11).

Não existe nada mais fácil do que conquistar os aplausos do mundo. Se fosse esse o meu objetivo, meu ambiente virtual estaria lotado de seguidores, curtidas e carinhas felizes; eu estaria rodeado de sorrisos amarelos, elogios encantadores e tapinhas nas costas. Meu nome seria “gente boa” ou “homem piedoso”, e não “louco” e “neo-puritano”, como tenho sido chamado pejorativamente pelos mundanos e sincretistas da igreja moderna e relativista. Todavia, sempre que sinto o cheiro da bajulação humana, faço uma profunda introspecção a fim de examinar meu cristianismo e detectar onde tenho vacilado. Quando o mundo começa a sorrir para mim, tenho convicção plena de que minha pregação e conduta não tem sido agradável ao meu Deus em algum nível ou aspecto. E é isto que pretendo comunicar ao Pr. Paulo Junior nesse momento, o qual admiro e acompanho desde que amadureci na fé. O fato é que, ao se misturar com um dos maiores falsos mestres da igreja reformada atual, a saber, HERNANDES DIAS LOPES, consequentemente o amado Pr. Paulo Junior (do qual não me esqueço em minhas orações e continuo acompanhando) tem se deixado levar pelo ecumenismo religioso que reina em nosso país. Tenho esperança de que com esta publicação verdadeiramente protestante (pois o próprio termo denota aquilo que não mais é praticado: O PROTESTO) as ovelhas tenham seus olhos abertos para a verdade e comecem a desenvolver o discernimento que vem do alto, a fim de provar os espíritos (homens) se realmente procedem de Deus.

Não é de hoje que venho denunciando hereges e falsos pastores em nosso meio, e a minha tentativa de alertar as ovelhas quanto ao facínora carismático Hernandes Dias Lopes tem sido ignorada pela maioria dita reformada (o que não é surpresa para mim, uma vez que “maioria” não é sinônimo de “cristianismo”). Tentei entrar em contato com o ministério Defesa do Evangelho a fim de alertá-los, porém, sem sucesso em minhas admoestações. Sendo assim, uma breve DESCRIÇÃO dos fatos que norteiam os corredores da igreja tradicional brasileira é suficiente para tapar a boca de carniceiros que, em nome da paz e da união entre o justo e o profano, me caluniam e maldizem sem nenhuma base lógica para suas cavilações em defesa de seus papas evangélicos.

Sem mais delongas, tecerei abaixo uma dentre milhões das incongruências da política desavergonhada da igreja institucionalista brasileira, de forma clara, direta e enumerada. Primeiro, citarei um trecho da pregação de Paulo Junior onde ele condena retamente o dízimo imposto pela igreja herética aos cristãos sob o uso incorreto das Escrituras. Em segundo lugar, citarei apenas um trecho (o mais sutil) de um livro de Hernandes Dias Lopes ensinando e impondo exatamente a prática condenada pelo Pr. Paulo Junior. Por último, mostrarei ao leitor a estranha e absurda aliança entre os dois pregadores, postando, por ora, os links de vídeos e referências que provam o atual jugo desigual entre o Pr. Paulo Junior e Hernandes Dias Lopes.

1. O PROTESTO DE PAULO JUNIOR CONTRA OS FALSOS PREGADORES

Prestemos atenção ao que um dos [no máximo] 5 pastores que admiro nesse país diz em seu sermão ao protestar contra os falsos profetas da atualidade. Dentre vários trechos que eu poderia acrescentar, achei desnecessário citar muitos, para que os verdadeiros cristãos tenham a coragem de avaliar por si mesmos todo o contexto. Assim declara mui corretamente o Pr. Paulo Junior, em seu sermão “Provai os Pregadores”:

“O R.R. Soares [apenas um dos exemplos] afirma que “quem não dá o dízimo não pode ser salvo” porque 1Coríntios 6.10 diz que “nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os “LADRÕES”, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os ROUBADORES herdarão o reino de Deus” (1Coríntios 6:10); e aí ele vai para Malaquias 3.8: “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: ‘Em que te roubamos?’ Nos dízimos e nas ofertas” (Malaquias 3.8). [Ou seja, conforme a heresia do R.R. Soares]: ‘Quem não dá dízimos e ofertas é LADRÃO. O ladrão, segundo 1Coríntios 6.10, vai para o inferno. Então, quem não dá dízimo é LADRÃO e quem é LADRÃO vai para o inferno’. Ou seja, a expiação [segundo R.R. Soares] não é feita pelo sangue; é feita pelo dízimo. HERESIA! HERESIA!!! Sai... não vê... desligue a TV... anuncie para todo o mundo: “ISSO É HERESIA!”. Onde já se viu ensinar isso, gente? Então a salvação é comprada? A salvação vale 10% do que você ganha? Salmos 49.8 diz: ‘A Redenção da sua alma é caríssima’. Ninguém pode pagar!

Todo pastor, pregador ou livro, que distorce uma verdade clara da Escritura NÃO É DE DEUS! (...) Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve (1Jo 4.5). ‘Confissão positiva’, ‘teologia da prosperidade’, ‘auto-ajuda’, ‘triunfalismo’...!

Qual é o público dele? “Do mundo são; por isso falam da parte do mundo e o mundo os ouve” (1João 4.5)! Sabe quem é o público dele? – CHOQUEM – sabe quem é o público dos FALSOS PROFETAS? Os bodes. Não há uma ovelha genuína de Cristo lá. São BODES! Joio! ‘O mundo os ouve’... o público deles são os NÃO-REGENERADOS!

... Mas... pode haver conversão lá? Pode. Pode ter algum salvo lá? Pode. Pode ter gente salva lá? PODE! Porém, ela pode permanecer salva lá? NÃO! ABSOLUTAMENTE NÃO! Por que? O próprio texto [1Jo 4] explica: “Maior é o que está em voz...” (v. 4). Se houver uma conversão lá, o Espírito de Deus vai arrancá-lo de lá e vai integrá-lo no corpo místico de Cristo, que é a Igreja de Cristo”. [ênfase minha]

–– Pr. Paulo Junior
- Sermão: “Provai os Pregadores”
- Página: Defesa do Evangelho (YouTube)
- Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=rtAGq_AhrkY&t=1506s

2. UMA DAS MAIS CONHECIDAS HERESIAS DE HERNANDES DIAS LOPES

“A quarta desculpa [para não pagar o dízimo] é a justificativa sentimental: ‘Eu não sinto que devo entregar o dízimo’. Pagar o dízimo não é uma questão de sentimento, mas de obediência. O crente vive pela fé e fé na Palavra. Não posso chegar diante do gerente e dizer que não sinto vontade de pagar a dívida no banco. Não posso encher o meu carrinho de compras no supermercado e depois dizer para o caixa: ‘Eu não sinto vontade de pagar essa dívida’.

Apropriar-se do dízimo é desonestidade, é ROUBO, é apropriar-se do que não nos pertence. Enganam-se aqueles que sonegam o dízimo porque julgam que Deus não bate à sua porta para cobrar nem manda seu nome para o SPC do céu. A Bíblia diz que de Deus não se zomba, aquilo que o homem semear, isso ceifará. A retenção do dízimo provoca a MALDIÇÃO DIVINA e a ação devastadora do DEVORADOR (aqui ele faz referência à Malaquias 3.8-11).

A quinta desculpa é a justificativa da consciência: ‘Eu não sou dizimista, mas dou oferta’. Dízimo é DÍVIDA, oferta é presente. Primeiro você PAGA A DÍVIDA, depois dá o presente. Não posso ser honesto com uma pessoa se devo a ela DEZ MIL REAIS, e chego com um presente de quinhentos reais, visando com isso, QUITAR A DÍVIDA. Deus requer fidelidade.

A sexta desculpa é a justificativa política: ‘A igreja não administra bem o dízimo’. Deus mandou que eu trouxesse todos os “dízimos” à Casa do Tesouro, mas não me nomeou fiscal do dízimo”.

–– Hernandes Dias Lopes
- Livro: “DINHEIRO: A Prosperidade que vem de Deus” – Pág. 94

3. CONTRADIÇÃO: A UNIÃO ENTRE PAULO JUNIOR E HERNANDES DIAS LOPES

- Paulo Junior cita Hernandes Dias Lopes como um pregador fiel, bom teólogo, referência de doutrina e, portanto, diferente de homens como R.R. Soares:

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=xLebyPadtC8

- Mais declarações bajuladoras em que Paulo Junior se refere a Hernandes Dias Lopes como referência doutrinária e fidelidade às Escrituras:

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=_7brGQrw6tQ

- Hernandes Dias Lopes pregando na igreja de Paulo Junior (sinto até uma dor no peito):

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=fHpfijFOLtw

CONCLUSÃO:

Eu poderia fazer milhares de outras citações, tecer milhares de outras fontes de livros, vídeos e sermões contraditórios entre os mesmos, em especial vídeos e citações de HDL amaldiçoando os cristãos que não pagam o dízimo ao BAAL que ele serve. São muitos materiais e eu poderia me dedicar por dias nesse protesto em forma de alerta. No entanto, por ora, não vejo necessidade. Quem é de Deus ouve a Deus. Quem não é de Deus ignora a verdade e lança pedras sobre os que bradam o genuíno evangelho e condenam as obras infrutuosas das trevas.

Eu espero, minimamente, que minhas palavras sejam julgadas com reta justiça e sob a base da Escritura. Julguem entre vocês o que a Bíblia estabelece em relação a um dos milhares de exemplos que eu poderia citar aqui hoje.

“Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

–– JP Padilha
___________________________________________
NOTA:
[1] Arthur W. Pink / Um Chamado à Separação

BÍBLIA VS. TEOLOGIA DA PROSPERIDADE | Elizabete Andrade & JP Padilha


"Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão" (1 Timóteo 6:8-11).

De fato houve a generosidade cristã na igreja primitiva. Os crentes eram desapegados de seus bens materiais. A explicação mais coerente para isso (a Bíblia não diz) é o fato de que eles esperavam a volta de Cristo para aqueles dias (1Ts 4.13-18; 5.1-10). Tesouros, imóveis, dinheiro... para nada serviriam. Aquele é um excelente exemplo para nós.

A diferença para o atual momento é que, naquele tempo, os bens doados eram divididos entre todos os da congregação. Com a corrupção do sistema religioso, os bens e dinheiro doados servem para o sustento desse sistema, que subsiste em si mesmo: “Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade” (Atos
 4: 34-35). Isso não ocorre hoje.

Devemos ter muito cuidado com heresias que batem à nossa porta. Temos por princípio que somente a Escritura pode ser a nossa verdade de fé. Digo que tenham cuidado, mesmo quando alguém cita a Palavra de Deus. Muitos manejam-na maliciosamente para defender seus interesses. Pedro não enriqueceu, tornando-se um multimilionário com tantos bens arrecadados. Tampouco fundou ele uma religião, usando os bens arrecadados para pregar a Palavra.

Quem sustentava a igreja? Muitos defensores da “Lei do Dízimo” dizem que se não houver tomada de dízimos do povo o evangelho não avança. Para eles, certamente, o que sustenta a obra de Deus é o dinheiro (mesmo não havendo nenhuma correlação entre dízimo e dinheiro na Bíblia). Se isso fosse uma boa árvore, certamente não haveria fruto mau: “Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mateus
 7: 18).

Somente a Escritura é a Palavra inspirada de Deus e a única verdade inerrante para a Doutrina (ensino normativo) dos cristãos.

Artigo completo sobre “Dízimo” aqui: A VERDADE SOBRE O DÍZIMO

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Elizabete Andrade JP Padilha
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Estejamos, pois, com o coração voltado para as coisas do alto (Cl 3.1-15) a fim de que, como genuína Noiva de Cristo, estejamos ataviados em santidade para o nosso encontro com o Senhor nos ares. (JP Padilha)

O PROBLEMA DO MAL | Vincent Cheung


INTRODUÇÃO
Uma das objeções mais populares, porém sobreestimada, contra o Cristianismo, é o assim chamado “problema do mal”. A objeção reivindica que, o que o Cristianismo afirma sobre Deus é logicamente irreconciliável com a existência do mal. Aqueles que fazem esta objeção reivindicam que eles sabem, com certeza, que o mal existe, e, visto que isto é incompatível com o Deus cristão, então segue-se que não há Deus, ou isto mostra, no mínimo, que o que o Cristianismo afirma sobre Deus é falso.

Usando o problema do mal, os incrédulos têm conseguido confundir muitos cristãos professos, e parece que muitos daqueles que reivindicam ser cristãos estão, eles mesmos, perturbados pela existência do mal, ou pela quantia de mal neste mundo. Alguns crentes conseguem fornecer respostas plausíveis que não são totalmente convincentes, enquanto muitos outros simplesmente chamam a existência do mal de um mistério. Contudo, até onde a Escritura trata do assunto, visto que algo foi revelado, os cristãos não têm o direito de chamá-lo de um "mistério” no sentido de algo que está oculto. Simplesmente porque não podemos entender tudo sobre a existência do mal, não significa que devemos ignorar o que a Escritura claramente revela sobre ele.

Por outro lado, as respostas meramente plausíveis [dos opositores] são insuficientes quando a Bíblia fornece uma resposta infalível e uma defesa invencível. No que se segue, veremos que a existência do mal não apresenta nenhum desafio ao conceito cristão de Deus, ou a qualquer aspecto do Cristianismo. Na verdade, são as cosmovisões não-cristãs que não podem fazer sentido da existência do mal, se é que elas podem ter um conceito do mal.

O PROBLEMA
Os cristãos afirmam que Deus é onipotente (todo-poderoso) e oni-benevolente (todo-amoroso). Nossos oponentes argumentam que, se Deus é todo-poderoso, então Ele possui a capacidade de acabar com o mal, e se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com o mal; [1] contudo, visto que o mal ainda existe, isto significa que Deus não existe, ou pelo menos significa que as coisas que os cristãos afirmam sobre Ele são falsas. Isto é, mesmo que Deus exista, visto que o mal também existe, Ele não pode ser tanto todo-poderoso como todo-amoroso, mas os cristãos insistem que Ele é tanto todo-poderoso como todo-amoroso; portanto, o Cristianismo deve ser falso.

Aqueles que usam este argumento contra o Cristianismo podem formulá-lo de maneiras diferentes, mas, a despeito da forma precisa em que o argumento é tomado, o ponto é que os cristãos não podem afirmar todos os atributos divinos, pois assim fazer seria logicamente incompatível com o problema do mal. E se este é o caso, então, o Cristianismo é falso. Embora os cristãos tenham agonizado com este assim chamado “problema do mal” por séculos, o argumento é extremamente fácil de refutar; ele é uma das objeções mais estúpidas que já vi, e mesmo como criança eu o consideraria um argumento tolo. Muitas pessoas têm inquietações com a existência do mal, não porque o mesmo possua qualquer desafio lógico ao Cristianismo, mas porque eles são sobrepujados pelas emoções que o assunto gera, e estas fortes emoções desqualificam efetivamente o nível mínimo de julgamento e inteligência que eles normalmente exibem.

Agora, visto que os oponentes do Cristianismo reivindicam que o problema do mal é um argumento lógico contra o Cristianismo, em resposta precisamos somente mostrar que a existência do mal não contradiz logicamente o que o Cristianismo ensina sobre Deus. Embora a Escritura também responda suficientemente aos aspectos emocionais deste assunto, não é nossa responsabilidade apresentar e defender estas respostas dentro do contexto do debate lógico. De fato, os problemas emocionais que as pessoas têm com a existência do mal e sua falta de respostas a estes problemas são totalmente consistentes com o que a Escritura ensina. Assim, nos focaremos em responder à existência do mal como um desafio lógico.

LIVRE-ARBÍTRIO
Muitos cristãos favorecem a “defesa do livre-arbítrio” ao responder o problema do mal. No contexto das narrativas bíblicas, esta abordagem declara que, quando Deus criou o homem, Ele lhe concedeu o livre-arbítrio — um poder para fazer decisões independentes, até mesmo se rebelar contra o seu Criador. Certamente Deus estava ciente de que o homem pecaria, mas este foi o preço de conceder ao homem o livre-arbítrio. Ao criar o homem com o livre-arbítrio, Deus também criou o potencial para o mal, mas, até onde a defesa do livre-arbítrio vai, visto que o homem é verdadeiramente livre, a culpa da realização deste potencial para o mal pode ser lançada somente sobre o próprio homem. Aqueles que usam a defesa do livre-arbítrio adicionariam que o potencial ou até mesmo a realização do mal não é um preço tão alto para se conceder ao homem um livre-arbítrio genuíno.

Embora muitos cristãos professos usem a defesa do livre-arbítrio, e a algumas pessoas a explicação possa parecer razoável, esta é uma teodicéia irracional e anti-bíblica — ela falha em responder o problema do mal, e contradiz a Escritura. Primeiro, esta abordagem somente posterga o tratamento do problema, visto que transforma o debate de “por que o mal existe no universo de Deus” para “por que Deus criou um universo com o potencial para tão grande mal”. Segundo, os cristãos afirmam que Deus é onisciente, de forma que Ele não criou o universo e a humanidade apenas estando ciente de que eles tinham o potencial para se tornarem maus; antes, Ele sabia com certeza que eles se tornariam maus. Assim, seja diretamente ou indiretamente, Deus criou o mal. [2]

Nós podemos distinguir entre mal natural e mal moral — mal natural inclui desastres naturais tais como terremotos e enchentes, enquanto que o mal moral refere-se às ações ímpias que as criaturas racionais cometem. Agora, mesmo se a defesa do livre-arbítrio fornecer uma explanação satisfatória para o mal moral, ela falha em tratar adequadamente o mal natural. Alguns cristãos podem reivindicar que é o mal moral que leva ao mal natural; contudo, somente Deus tem o poder para criar uma relação entre os dois, visto que os terremotos e as enchentes não têm relações necessárias com os assassinatos e roubos, a menos que Deus o faça — isto é, a menos que Deus decida causar terremotos e enchentes por causa dos assassinatos e roubos cometidos pelas Suas criaturas. Assim, Deus novamente parece ser a causa última do mal, seja natural ou moral.

Mesmo se o pecado de Adão tivesse trazido morte e decadência, não somente à humanidade, mas também aos animais, a Escritura insiste que nenhum pardal pode morrer à parte da vontade de Deus (Mateus 10:29). Isto é, se há qualquer relação entre o mal moral e o mal natural, a relação não é inerente (como se algo fosse inerente à parte da vontade de Deus), mas, antes, é soberanamente imposta por Deus. Mesmo o aparentemente insignificante não pode ocorrer sem, [não meramente a permissão], mas principalmente sem a vontade ativa e o decreto de Deus. Os cristãos não são deístas — nós não cremos que este universo funciona por uma série de leis naturais que são independentes de Deus. A Bíblia nos mostra que Deus está agora ativamente administrando o universo, de forma que nada pode acontecer ou continuar a existir à parte do poder ativo e do decreto de Deus (Colossenses 1:17; Hebreus 1:3). Se devemos usar o termo de alguma forma, o que chamamos “leis naturais” são somente descrições de como Deus age regularmente, embora Ele não esteja, de forma alguma, obrigado a agir dessa maneira.

Os cristãos devem rejeitar a defesa do livre-arbítrio simplesmente porque a Escritura rejeita o livre-arbítrio; antes, a Escritura ensina que Deus é o único que possui livre-arbítrio. Ele diz em Isaías 46:10, “
O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade”. Por outro lado, a vontade do homem é sempre escrava, ou do pecado ou da justiça: “Mas graças a Deus que, embora tendo sido escravos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E libertos do pecado, fostes feitos escravos da justiça” (Romanos 6:17-18). O livre-arbítrio não existe — ele é um conceito assumido por muitos cristãos professos sem uma garantia bíblica.

Outra suposição popular é que a capacidade moral é o pré-requisito de responsabilidade moral. Em outras palavras, a suposição é que, se uma pessoa é incapaz de obedecer às leis de Deus, então, ela não pode ser moralmente responsável de responder a estas leis, e, portanto, Deus não poderia e não os puniria por desobedecer estas leis. Contudo, assim como a suposição de que o homem tem livre-arbítrio, esta suposição de que a responsabilidade moral pressupõe a capacidade moral é também anti-bíblica e injustificável.

Com referência aos incrédulos, Paulo escreve, “
Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode ser” (Romanos 8:7). Se é verdade que a responsabilidade moral pressupõe a capacidade moral, e Paulo declara que o pecador carece desta capacidade, então, segue-se que nenhum pecador é responsável por seus pecados. Isto é, se um pecador é apenas um pecador, se ele tem a capacidade de obedecer, mas se recusa a obedecer, e, visto que Paulo diz que o pecador realmente carece da capacidade para obedecer, então, segue-se que um pecador não é um pecador. Contudo, isto é uma contradição, e é uma contradição que a Bíblia nunca ensina.

A Bíblia ensina que o não-cristão é um pecador, e ao mesmo tempo ensina que ele carece da capacidade para obedecer a Deus. Isto significa que o homem é moralmente responsável, mesmo se lhe falta a capacidade moral; isto é, o homem deve obedecer a Deus mesmo se ele não o pode fazer. É pecaminoso para uma pessoa o desobedecer a Deus, tenha ele ou não a capacidade para agir de outra forma. Assim, a responsabilidade moral não é baseada na capacidade moral ou no livre-arbítrio; antes, a responsabilidade moral é baseada na soberania de Deus — o homem deve obedecer aos mandamentos de Deus porque Deus diz que o homem deve obedecer, e se ele tem ou não a capacidade para obedecer, é irrelevante.

Em primeiro lugar, o livre-arbítrio é logicamente impossível. Se descrevermos o exercício do livre-arbítrio como um movimento da mente em certa direção, a questão que se levanta é: o que move a mente e por que ele move a mente para onde ela é movida? Responder que o “eu” move a mente não responde a pergunta, visto que a mente é o eu, e, portanto, a mesma pergunta permanece.

Por que a mente se move numa direção ao invés de outra? Se pudermos traçar a causa de seus movimentos e direção aos fatores externos à própria mente, fatores que, eles mesmos, influenciam a consciência, e dessa forma, influenciam e determinam a decisão, então, como este movimento da mente é livre? Se pudermos traçar a causa às disposições inatas de uma pessoa, então, este movimento da vontade não é livre ainda, visto que, embora estas disposições inatas influenciem decisivamente a decisão, a própria pessoa não escolheu livremente estas disposições inatas em primeiro lugar.

O mesmo problema permanece se dissermos que as decisões de uma pessoa são determinadas por uma mistura de suas disposições inatas com as influências externas. Se a mente toma decisões baseadas em fatores não escolhidos pela mente, então, estas escolhas nunca são livres no sentido em que elas são feitas aparte do controle soberano de Deus — elas não são feitas livres de Deus. A Escritura ensina que Deus não somente exerce controle imediato sobre a mente do homem, mas Deus também determina absolutamente todas as disposições inatas e os fatores externos relacionados com a vontade do homem. É Deus quem forma uma pessoa no ventre, e é Ele quem arranja as circunstâncias externas pela Sua providência.

Portanto, embora possamos afirmar que o homem tem uma vontade como uma função da mente, de forma que a mente faz escolhas, estas nunca são escolhas livres, porque tudo o que tem a ver com cada decisão foi determinado por Deus. Visto que a vontade nunca é livre, nunca deveríamos usar a teodicéia do livre-arbítrio quando tratando do problema do mal.

A SOBERANIA DE DEUS
Muitos cristãos professos se sentem desconfortáveis com o ensino bíblico de que o homem não tem livre-arbítrio, visto que o mesmo parece fazer Deus “responsável” pela existência e continuação do mal. Assim, nesta seção, providenciaremos uma breve exposição do que a Escritura ensina sobre o assunto, mostrando que afirmar a Escritura é rejeitar a heresia do livre-arbítrio.

A Escritura ensina que a vontade de Deus determina todas as coisas. Nada existe ou acontece sem Deus, não meramente permitindo, mas ativamente desejando que exista ou aconteça:

Eu anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; Eu digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade (Isaías 46:10).

Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai (Mateus 10:29).

Deus controla não somente os eventos naturais, mas Ele controla também todos os assuntos e decisões humanas:

Bem-aventurado aquele a quem Tu escolhes, e fazes chegar a Ti, para que habite em Teus átrios; nós seremos fartos da bondade da Tua casa e do Teu santo templo (Salmos 65:4).

O SENHOR fez tudo para seus próprios fins; sim, até o ímpio para o dia do mal (Provérbios 16:4).

O coração do homem planeja o seu caminho, mas o SENHOR determina os seus passos (Provérbios 16:9)

Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR; como, pois, entenderá o homem o seu caminho? (Provérbios 20:24).

Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; Ele o inclina a todo o seu querer (Provérbios 21:1)

Visto que os seus dias estão determinados; Tu tens decretado o número dos seus meses; e Tu lhe puseste limites, e não passará além deles (Jó 14:5).

E todos os moradores da terra são reputados em nada, e segundo a Sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem possa estorvar a Sua mão, e lhe diga: Que fazes? (Daniel 4:35).

Antes se despediu deles, e prometeu: Se Deus quiser, outra vez voltarei a vós. E navegou de Éfeso (Atos 18:21)

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade (Filipenses 2:13).

Eia agora vós, que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos a tal cidade, e lá passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos; Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece. Em lugar do que devíeis dizer: Se o Senhor quiser, e se vivermos, faremos isto ou aquilo (Tiago 4:13-15)

Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua vontade são e foram criadas (Apocalipse 4:11)

Se Deus realmente determina todos os eventos naturais e assuntos humanos, então, segue-se que Ele também decretou a existência do mal. Isto é o que a Bíblia explicitamente ensina:

E disse-lhe o SENHOR: Quem fez a boca do homem? Ou, quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não Sou Eu, o SENHOR? (Êxodo 4:11).

Quem pode falar e fazer acontecer, se o SENHOR não o tiver decretado? Porventura não é da boca do Altíssimo que sai tanto o mal como o bem? (Lamentações 3:37-38).

Eu formo a luz, e crio as trevas; Eu faço a paz, e crio o mal; Eu, o SENHOR, faço todas estas coisas (Isaías 45:7).

Tocar-se-á a trombeta na cidade, e o povo não estremecerá? Sucederá algum mal na cidade, sem que o SENHOR o tenha feito? (Amós 3:6).

O maior ato de maldade e injustiça moral na história humana é dito ter sido ativamente executado por Deus através dos Seus agentes secundários:

Todavia, foi da vontade do SENHOR esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará na sua mão (Isaías 53:10)

Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que Tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho haviam determinado que se havia de fazer (Atos 4:27-28).

Em todo caso, Deus decretou a morte de Cristo por uma boa razão, a saber, a redenção dos Seus eleitos. Da mesma forma, Seu decreto para a existência do mal é para um propósito digno de Sua glória. Os eleitos e os réprobos são ambos criados para esta razão:

Direi ao norte: Dá; e ao sul: Não retenhas. Trazei meus filhos de longe e minhas filhas das extremidades da terra — a todo aquele que é chamado pelo meu nome, e que criei para minha glória, e que formei e fiz. (Isaías 43:6-7).

Nele, digo, em quem também fomos escolhidos, havendo sido predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade; Com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo (Efésios 1:11-12).

E Eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, e saberão os egípcios que Eu sou o SENHOR... (Êxodo 14:4)

Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra... E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira, e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da Sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou...? (Romanos 9:17, 22-23).

Baseados nas passagens acima, chegamos à seguinte conclusão:

Deus controla tudo o que existe e tudo o que acontece. Não há nada que aconteça que Ele não tenha ativamente decretado — nem mesmo um simples pensamento na mente do homem. Visto que isto é verdadeiro, segue-se que Deus decretou a existência do mal; Ele não meramente o permitiu, como se algo pudesse se originar e acontecer à parte de Sua vontade e do Seu poder, [mas ativamente decretou e criou o mal]. Visto que temos mostrado que nenhuma criatura pode fazer decisões completamente independentes, o mal nunca poderia ter começado sem o decreto ativo de Deus, e não poderia continuar nem por um momento à parte da vontade de Deus. Deus decretou o mal, no final das contas, para a Sua própria glória, embora não seja necessário conhecer ou declarar esta razão para defender o Cristianismo do problema do mal.

Todavia, aqueles que vêem que é completamente impossível desassociar Deus da origem e continuação do mal, tentam distanciar Deus do mal dizendo que Deus meramente “permitiu” o mal, e que Ele não causou nada dele. Contudo, visto que a própria Escritura declara que Deus ativamente decretou tudo, e que nada pode acontecer à parte da Sua vontade e do Seu poder, não faz sentido dizer que Ele meramente “permite” algo — nada acontece por mera permissão de Deus.

Visto que “
nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28), num nível metafísico, é absolutamente impossível fazer algo em independência de Deus. Sem Ele, uma pessoa não pode nem mesmo pensar ou se mover. Como, então, o mal pode ser tramado e cometido em total independência dEle? Como alguém pode ao menos pensar o mal, à parte da vontade e do propósito de Deus? Ao invés de tentar “proteger” Deus de algo que Ele não precisa ser protegido, deveríamos reconhecer alegremente com a Bíblia que Deus decretou ativamente o mal, e então, tratar com o assunto sobre esta base.

O censo de Israel realizado por Davi fornece um exemplo do mal decretado por Deus e realizado através dos agentes secundários:

E a ira do SENHOR se tornou a acender contra Israel; e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a Judá (2 Samuel 24:1).

Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel (1 Crônicas 21:1).

Os dois versos referem-se ao mesmo incidente. Não há contradição se a visão que está aqui sendo apresentada é verdadeira. Deus decretou que Davi pecaria fazendo o censo, mas Ele fez com que Satanás realizasse a tentação como um agente secundário. [3] Mais tarde, Deus puniu Davi por cometer este pecado:

E pesou o coração de Davi, depois de haver numerado o povo; e disse Davi ao SENHOR: Muito pequei no que fiz; porém agora ó SENHOR, peço-te que perdoes a iniqüidade do teu servo; porque tenho procedido mui loucamente. Levantando-se, pois, Davi pela manhã, veio a palavra do SENHOR ao profeta Gade, vidente de Davi, dizendo: Vai, e dize a Davi: Assim diz o SENHOR: Três coisas te ofereço; escolhe uma delas, para que ta faça. Foi, pois, Gade a Davi, e fez-lho saber; e disse-lhe: Queres que sete anos de fome te venham à tua terra; ou que por três meses fujas de teus inimigos, e eles te persigam; ou que por três dias haja peste na tua terra? Delibera agora, e vê que resposta hei de dar ao que me enviou. Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu (2 Samuel 24:10-14).

Embora o mal do qual estamos falando seja deveras negativo, o fim último, que é a glória de Deus, é positivo. Deus é o único que possui dignidade intrínseca, e se Ele decide que a existência do mal irá servir, no final das contas, para glorificá-lo, então, o decreto é, por definição, bom e justificável. Alguém que pensa que a glória de Deus não é digna da morte e sofrimento de bilhões de pessoas tem uma opinião muito alta de si mesmo e da humanidade. A dignidade de uma pessoa pode ser derivada somente do Seu criador ou lhe dada por Ele, e à luz do propósito para o qual o Criador lhe fez. Visto que Deus é o único padrão de medida, se Ele pensa que algo é justificável, então, este é, por definição, justificável. Os cristãos não deveriam ter problemas em afirmar tudo isto, e aqueles que acham difícil aceitar o que a Escritura explicitamente ensina, deveriam reconsiderar seu compromisso espiritual, para ver se eles estão verdadeiramente na fé.

Muitas pessoas contestarão o direito e a justiça de Deus em decretar a existência do mal para a Sua própria glória e propósito. Ao discutir a divina eleição, na qual Deus escolhe alguns para salvação e condena todos os outros, Paulo antecipa uma objeção similar, e escreve:

Dir-me-ás então: ‘Por que Deus ainda nos responsabiliza? Pois, quem pode resistir à Sua vontade?’ Mas, quem és tu, ó homem, para discutires com Deus? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: ‘Por que me fizeste assim’? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Romanos 9:19-21)

Efetivamente, Paulo está dizendo, “Certamente o Criador tem o direito de fazer o que Ele quiser com as Suas criaturas. E, em primeiro lugar, quem é você para fazer tal objeção?” Alguns objetam que o homem é maior do que um “pedaço de barro”; eu até mesmo já vi um escritor cristão professo fazer esta fútil objeção. Primeiro, esta é uma analogia bíblica, e um cristão verdadeiro não irá contestá-la. Mas se alguém contestá-la, então, o debate se torna um diálogo sobre a infabilidade bíblica, que deve ser resolvido primeiro, antes de se retornar a esta analogia. Visto que eu tenho estabelecido a infabilidade bíblica em outro lugar, a negação da infabilidade bíblica não é uma opção aqui. Segundo, se um homem é mais do que um pedaço de barro, então, Deus também é algo mais do que um oleiro — Ele é infinitamente maior do que um oleiro. A analogia é apropriada quando reconhecemos a linguagem analógica do autor inspirado a dizer o que ela significa, isto é, Deus como Criador tem o direito de fazer o que Ele quiser com as Suas criaturas. “
Portanto, Deus tem misericórdia de quem Ele quer, e Ele endurece a quem Ele quer” (Romanos 9:18).

Para uma pessoa ter dificuldade em aceitar que Deus decretou a existência do mal, implica que ela encontra algo “errado” em Deus fazer tal decreto. Contudo, qual é o padrão de certo e errado pelo qual esta pessoa julga as ações de Deus? Se há um padrão moral superior a Deus, ao qual o próprio Deus é responsável, e pelo qual o próprio Deus é julgado, então, este “Deus” não é Deus de forma alguma; antes, este padrão maior seria Deus. Contudo, o conceito cristão de Deus refere-se ao mais alto ser e padrão. Assim, não há, por definição, nenhum mais alto. Em outras palavras, se há algo mais alto do que o “Deus” que uma pessoa está argumentando contra, então, esta pessoa não está realmente se referindo ao Deus cristão. Visto que este é o caso, não há padrão mais alto do que Deus, ao qual o próprio Deus seja responsável e pelo qual o próprio Deus seja julgado. Portanto, é logicamente impossível acusar Deus de fazer algo moralmente errado.

Jesus diz que somente Deus é bom (Lucas 18:19), de forma que toda “bondade” em outras coisas pode ser somente derivada. A natureza de Deus define a própria bondade, e visto que nEle “
não há mudança nem sombra de variação” (Tiago 1:17), Ele é o único e constante padrão de bondade. Não importa quão moral eu seja, ninguém pode me considerar o padrão objetivo de bondade, visto que a palavra “moral” não tem sentido, a menos que seja usada com relação ao caráter de Deus. Isto é, quão “moral” uma pessoa é refere-se ao grau de conformidade de seu caráter com o caráter de Deus. Ao grau em que uma pessoa pensa e age de acordo com natureza e os mandamentos de Deus, ele é moral. Diferentemente, não há diferença moral entre altruísmo e egoísmo; virtude e vício são conceitos sem significados; estrupo e assassinato não são crimes, mas eventos amorais.

Contudo, visto que Deus chama a Si mesmo de bom, e visto que Deus definiu a bondade para nós revelando Sua natureza e bondade, o mal é, dessa forma, definido como algo que é contrário à Sua natureza e aos Seus mandamentos. Visto que Deus é bom, e visto que Ele é a única definição de bondade, é bom também que Ele tenha decretado a existência do mal. Não há padrão de bom e mal pelo qual possamos denunciar Seu decreto como errado ou mal. Não estamos afirmando que o mal é bom — o que seria uma contradição — mas, estamos dizendo que o decreto de Deus para a existência do mal é bom.

Hebreus 6:13 diz, “
Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por Si mesmo”. Em outras palavras, não há ninguém a quem Deus precise prestar contas, e não há corte a qual alguém possa arrastá-lo para lançar acusações contra Ele. Ninguém julga Deus; antes, toda pessoa é julgada por Ele. Outras passagens bíblicas relevantes incluem as seguintes:

Se quiser contender com Ele, nem a uma de mil coisas lhe poderá responder. Ele é sábio de coração, e forte em poder; quem se endureceu contra Ele e teve paz? Ele é o que remove os montes, sem que o saibam, e o que os transtorna no seu furor. O que sacode a terra do seu lugar, e as suas colunas estremecem. O que fala ao sol, e ele não nasce, e sela as estrelas. O que sozinho estende os céus, e anda sobre os altos do mar. O que fez a Ursa, o Órion, e o Sete-estrelo, e as recâmaras do sul. O que faz coisas grandes e inescrutáveis; e maravilhas sem número. Eis que Ele passa por diante de mim, e não o vejo; e torna a passar perante mim, e não o sinto. Eis que arrebata a presa; quem lha fará restituir? Quem lhe dirá: ‘Que é o que fazes’? (Jó 9:3-12).

Porventura o contender contra o Todo-Poderoso é sabedoria? Quem argüi assim a Deus, responda por isso. Então Jó respondeu ao SENHOR, dizendo: ‘Eis que sou vil; que te responderia eu? A minha mão ponho à boca. Uma vez tenho falado, e não replicarei; ou ainda duas vezes, porém não prosseguirei’. Então o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Cinge agora os teus lombos como homem; Eu te perguntarei, e tu me explicarás (Jó 40:2-8).

Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: ‘Que fazes’? ou a tua obra: ‘Não tens mãos’? Ai daquele que diz ao pai: ‘Que é o que geras’? E à mulher: ‘Que dás tu à luz’? Assim diz o SENHOR, o Santo de Israel, aquele que o formou: Perguntai-me as coisas futuras; demandai-me acerca de meus filhos, e acerca da obra das minhas mãos (Isaías 45:9-11).

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que lhe seja recompensado? Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente. Amém (Romanos 11:33-36).

Visto que derivamos nosso próprio conceito e definição de bondade à partir de Deus, acusá-lo de maldade seria como dizer que o bom é mal, o que é uma contradição.

A SOLUÇÃO
Tendo demolido a popular, porém irracional e anti-bíblica, defesa do livre-arbítrio, examinaremos agora a resposta bíblica ao problema do mal. Repitamos primeiro o argumento dos incrédulos:

1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, o Deus cristão não existe. [4]

O argumento encontra um obstáculo insuperável quando chegamos na premissa (3), a saber, o não-cristão não pode encontrar uma definição de amor que sustente esta premissa sem destruir o argumento. Isto é, por qual definição de amor sabemos que um Deus todo-amoroso desejaria destruir o mal? Ou, por qual definição de amor sabemos que um Deus todo-amoroso já teria destruído o mal?

Se esta definição de amor vem de fora da Bíblia, então, por que a cosmovisão bíblica tem que respondê-la? Formar um argumento usando uma definição não-bíblica de amor seria fazer o argumento irrelevante como um desafio ao Cristianismo. Por outro lado, se tomamos a definição de amor da Bíblia, então, aquele que usa este argumento deve mostrar que a própria Bíblia define amor de uma forma que requer um Deus todo-amoroso destruir o mal, ou já ter destruído o mal. A menos que o não-cristão possa defender com sucesso a premissa (3), o argumento do problema do mal falha antes mesmo de terminarmos de lê-lo.

Agora, se o não-cristão usa uma definição não-bíblica de amor na premissa (1) , então, o argumento é uma falácia enganadora desde o início. Mas se o não-cristão usa a definição bíblica de amor na premissa (1), e então substitui por uma definição não-bíblica de amor na premissa (3), então, ele comete a falácia do equívoco. Se é assim, então o máximo que seu argumento pode fazer é apontar que ele tem uma definição não-bíblica de amor, mas seria completamente irrelevante como um desafio ao Cristianismo.

Por outro lado, se ele tenta usar a definição bíblica de amor, então, para seu argumento ser relevante, a própria Escritura teria que definir amor de uma maneira que requeira Deus destruir o mal, ou já ter destruído o mal. Contudo, embora a Escritura ensine que Deus é amoroso, ela também ensina que existe mal no mundo, e que este mal está, no final das contas, debaixo do controle completo e soberano de Deus. Portanto, a própria Escritura nega que haja qualquer relação entre o amor de Deus e a existência do mal.

Para o argumento do problema do mal permanecer, o não-cristão deve estabelecer a premissa, “O amor de Deus contradiz a existência do mal”, ou algo com este efeito. Mas a própria Escritura não afirma esta premissa, e se o não-cristão tentar argumentar esta premissa com definições de amor e mal encontradas em sua própria cosmovisão não-bíblica, então, tudo que ele consegue é mostrar que a cosmovisão bíblica é diferente da cosmovisão não-bíblica. Nós já sabemos isto, mas, o que acontece com o problema do mal? O não-cristão aponta para o ensino escriturístico sobre o amor de Deus, então, contrabandeia uma definição não-bíblica de amor que requer que Deus destrua o mal, e depois disto, estupidamente se vanglória da “contradição” que ele produziu.

Se uma pessoa quer desafiar a Bíblia ou sustentar a Bíblia por causa do que ela diz, então ela deve primeiro definir os próprios termos dela; de outra forma, ele pode somente desafiar o que a Bíblia não diz, o que faz a objeção irrelevante. O não-cristão deve demonstrar porque o amor de Deus necessariamente implica que Ele deve ou que Ele deseje destruir o mal, ou que ele necessariamente implica que Ele deveria ou que Ele desejaria ter já destruído o mal.

Responder algo como, “Porque um Deus amoroso desejaria aliviar o sofrimento”, não ajudaria em nada, visto que esta resposta apenas declara novamente a premissa em diferentes palavras, de forma que a mesma pergunta permanece. Por que um Deus amoroso deseja aliviar o sofrimento? Em primeiro lugar, como alguém define o sofrimento? Se o não-cristão não pode definir amor ou sofrimento, ou se ele não pode logicamente impor suas definições sobre o cristão, então sua premissa equivale a dizer que um Deus com um atributo indefinido X deve desejar destruir ou ter destruído um Y indefinido. Mas se ele não pode definir nem X e nem Y, então, ele não tem premissa inteligível sobre a qual construir um argumento inteligível contra o Cristianismo.

Outro tipo de resposta pode dizer, “Porque Deus queria triunfar sobre o mal”. Novamente, qual é a definição de “triunfar”? Se o próprio Deus é a causa última do mal, e se Deus exerce total e constante controle sobre ele, então, em que sentido Ele estaria “perdendo” do mal? Assim, seja o que for que um não-cristão diga, ele encontra o mesmo problema, e é impossível para ele estabelecer que o amor de Deus contradiz a existência do mal.

Antes, visto que a Bíblia ensina tanto sobre o amor de Deus como sobre a realidade do sofrimento, é legítimo concluir que, da perspectiva bíblica, o amor de Deus não implica necessariamente que Ele deva destruir o mal, ou que Ele deveria já o ter destruído. Certamente, isto não pode ser assim à partir de uma perspectiva não-bíblica, mas novamente, isto somente mostra que a cosmovisão bíblica diverge das cosmovisões não-bíblicas, o que já sabemos, e que é a razão do debate. Mas o não-cristão ainda não nos deu uma objeção real e inteligível.

Enquanto o não-cristão falhar em estabelecer a premissa (3), que o amor de Deus contradiz a existência do mal, o cristão não está sob a obrigação de tomar seriamente o problema do mal como um argumento contra o Cristianismo. De fato, visto que o não-cristão falha em definir alguns dos termos-chave, ninguém pode logicamente sequer entender o argumento — não há argumento, e não há real objeção à resposta.

Se pararmos aqui, já teremos refutado o assim chamado problema do mal, tendo mostrado que não há tal problema de maneira alguma. Contudo, apenas para a discussão continuar, aceitaremos a premissa por ora; isto é, por causa do argumento, assumiremos que o amor de Deus, de alguma forma, contradiz a existência do mal, enquanto guardamos em mente que isto é algo que a Escritura nunca ensina, e que os não-cristãos nunca estabeleceram.

Agora, os não-cristãos argumentam que, dado a existência do mal, o Deus cristão não pode logicamente existir. Em resposta, já mostramos que o não-cristão não pode estabelecer a premissa de que um Deus todo-amoroso deve necessariamente destruir ou desejar destruir o mal. Tendo dito isto, procedemos agora para apontar que as premissas do argumento não levam necessariamente à conclusão do não-cristão em primeiro lugar; antes, muitas conclusões diferentes são possíveis:

EXPLICAÇÃO 1
1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus tem um bom propósito para o mal.

EXPLICAÇÃO 2
1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus eventualmente destruirá o mal.

Sem declarar imediatamente se pensamos que os argumentos acima são válidos ou inválidos, o ponto é que num argumento válido, as premissas devem necessária e inevitavelmente conduzir à conclusão. Contudo, no argumento do problema do mal, as premissas, de forma alguma, conduz necessária e inevitavelmente à conclusão. Portanto, o argumento do problema do mal é inválido.

Ao invés de usar a realidade do mal para negar a existência de Deus, as duas versões revisadas acima chegam a duas conclusões diferentes. Novamente, eu não disse se estas duas versões revisadas são bons argumentos, e não disse que as premissas, necessária e inevitavelmente, levam a estas duas conclusões; antes, tudo que estou tentando mostrar é que as premissas não levam necessária e inevitavelmente à conclusão do não-cristão, e isto é suficiente para mostrar que seu argumento é inválido.

Alguns não-cristãos dizem que se os cristãos reivindicam que Deus tem um bom propósito para o mal, então os cristãos devem também declarar e defender este propósito. Contudo, os não-cristãos nunca foram capazes de mostrar o porquê os cristãos devem declarar e defender este propósito. O debate é sobre se as premissas dadas levam, necessária e inevitavelmente, à conclusão do não-cristão. Se há ou não um bom propósito para o mal, e se os cristãos podem ou não declarar e defender este propósito, é completamente irrelevante. A Escritura deveras explica pelo menos uma parte do propósito de Deus para o mal, mas novamente, ele não é logicamente necessário ou relevante para o debate.

Há mais. Agora, o não-cristão argumenta que Deus não existe porque o mal existe, e através deste ponto já refutamos o argumento. Contudo, podemos adicionar que a existência do Deus cristão é, de fato, o pré-requisito lógico para a existência do mal. Isto é, o mal não tem sentido e é indefinido sem um padrão objetivo e absoluto de certo e errado, de bom e mal, e este padrão pode ser somente o Deus cristão.

Quando o não-cristão afirma que o mal existe, o que ele quer dizer por “mal”? Ele pode estar se referindo a avareza, ódio, assassinato, estupro, terremoto, enchentes e coisas semelhantes. Contudo, sobre que base e por qual padrão ele pode chamar estas coisas de males? Ele chama estas coisas de males simplesmente porque ele as desaprova? Qualquer definição ou padrão de mal que ele dê sem apelar ao Deus cristão e à Escritura cristã não serão bem-sucedidos e será facilmente desmoronado.

Por exemplo, se o não-cristão reivindica que o assassinato é errado porque ele viola o direito à vida da vítima, precisamos somente perguntar por que a vítima tem algum direito à vida. Quem lhe deu este assim chamado direito? O não-cristão? Quem disse que há algo como um direito, em primeiro lugar? Os não-cristãos tentam muitos argumentos, mas todos eles têm sido expostos como tolos e injustificáveis. [5]

Por outro lado, o cristão afirma que o assassinato é errado, imoral e mal, porque Deus proíbe o assassinato: “
Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem” (Gênesis 9:6); Deus explicitamente o desaprova quando Ele diz, “Não matarás” (Êxodo 20:13). É consistente com a cosmovisão cristã dizer que o assassinato é mal e que o assassino deve ser responsabilizado pelo acontecido, mas o não-cristão nunca pode justificar a mesma reivindicação. Ele não pode nem mesmo definir autoritariamente o assassinato. [6]

O não-cristão reivindica que o mal existe, e a partir desta base avalia o que o Cristianismo diz sobre Deus. Ele usa algo que ele reivindica ser óbvio para refutar algo que ele reivindica não ser óbvio. Contudo, a existência do mal não é óbvia, de forma alguma, a menos que haja um padrão moral absoluto, objetivo e universal, e que conheçamos de certo modo este padrão, de forma que possamos fazer avaliações com ele. Visto que o não-cristão falha em estabelecer tal padrão, e visto que ele falha em estabelecer como conheceremos tal padrão, suas referências ao mal são sem sentido e ininteligíveis, e seus argumentos à partir do problema do mal não têm efeito contra o Cristianismo. De fato, sobre a base de sua cosmovisão, ele nem sequer sabe o que seus próprios argumentos significam.

Se uma pessoa nega a existência de Deus, ele não tem base racional para afirmar a existência do mal; por necessidade lógica, nosso reconhecimento de Deus precede nosso reconhecimento do mal. A menos que o Deus cristão seja pressuposto de antemão, o mal continua indefinido. Quando o não-cristão argumenta contra o Cristianismo usando o problema do mal, ele se torna um terrorista intelectual, de forma que ele seqüestra o absoluto moral do Cristianismo no processo de argumentar contra o Cristianismo. Contudo, ele não pode se referir a qualquer mal natural ou moral sem implicitamente reconhecer um padrão pelo qual julga algo como mal. Se ele reconhece a existência do mal, então, ele deve primeiro reconhecer a existência de Deus; mas se ele já reconhece a existência de Deus, então, o argumento à partir do problema do mal não tem sentido.

Certamente, o não-cristão não pode se render imediatamente a este ponto; antes, ele provavelmente tentará oferecer alguma definição viável do mal para recuperar seu argumento. Eu não posso providenciar as definições possíveis que ele pode tentar propor, mas eu providenciei informação suficiente aqui, de forma que qualquer pessoa pode refutar qualquer definição não-cristã proposta. Se o cristão consistentemente demandar justificação para toda reivindicação e definição não-cristã, ele sempre frustrará de forma bem sucedida qualquer tentativa de construir um argumento contra o Cristianismo à partir da existência do mal. [7]

Alguns não-cristãos têm chegado a perceber que o argumento à partir do problema do mal não é estritamente válido, de forma que, embora eles continuem desafiando o Cristianismo baseados na existência do mal, eles têm “suavizado” sua reivindicação. Isto é, eles dizem que, embora a existência do mal não contradiga logicamente a existência de Deus, a existência do mal pelo menos provê uma forte evidência contra a existência de Deus, ou a probabilidade da existência de Deus. Assim, ao invés de chamar sua reivindicação de um caso lógico contra a existência de Deus, eles chamam-no de um caso evidencial contra a existência de Deus.[8]

Mas isto não tem sentido — é apenas um modo enganador de dizer que eles não tem nenhum argumento. De fato, todos os problemas que eu apontei com o caso “lógico” permanecem no caso “evidencial”. O argumento ainda falha em estabelecer que o amor de Deus contradiz a existência do mal, ou que o amor de Deus requer que Ele destrua o mal, ou já ter destruído o mal. Ele ainda falha em definir os termos cruciais. O que é amor? O que é mal? De fato, o argumento levanta questões piores ao adicionar o conceito de “evidência” ao debate, visto que agora eu demando diversas coisas adicionais: uma definição de evidência, um padrão para determinar o que constitui evidência em favor ou contra algo, um padrão para determinar a relevância e a força de qualquer evidência alegada, e uma epistemologia para descobrir as coisas que são usadas como evidência.

Junto com o caso “evidencial”, algumas pessoas incluem a reivindicação de que há muito mal “gratuito”, e que isto é evidência contra a existência de Deus. Mas novamente, o que é evidência? E quem decide o que é “gratuito”? [9] Por qual padrão de necessidade decidimos que um evento mal é desnecessário? E desnecessário para o que? E por que ele deve ser necessário em primeiro lugar? Na cosmovisão bíblica, quando Deus faz algo, isto é justificado, por definição, simplesmente porque Ele decidiu assim fazer. Assim, o não-cristão não pode argumentar contra Cristianismo apelando aos eventos “injustificáveis”, visto que ele deve primeiro refutar o Cristianismo antes que ele possa mostrar que estes eventos são injustificáveis.

OUTRAS COSMOVISÕES
Não há razão para longas explanações ou repetições inúteis, visto que o assunto é deveras tão simples como parece ser. O argumento à partir do problema do mal, em algumas formas, é um dos argumentos mais irracionais já inventados, mas ele tem enganado e perturbado muitas pessoas por causa de seu apelo emocional. Em resposta, o cristão deve não somente neutralizar o argumento, mas ele deve tomar a posição ofensiva sobre este tópico contra o não-cristão.

Talvez porque o problema do mal seja mais freqüentemente usado para desafiar o Cristianismo, muitas pessoas esquecem de considerar se as cosmovisões e religiões não-cristãs têm, adequada e coerentemente, respondido à existência de mal. Os não-cristãos fornecem uma definição autoritativa do mal? Sua definição de mal contradiz o que eles reivindicam sobre a física (mal natural) e a psicologia (mal moral)? Eles podem explicar como e por que o mal começa e continua? Eles podem sugerir uma solução para o mal, e podem garantir que esta solução será bem sucedida? Nenhuma cosmovisão, exceto a fé cristã, pode sequer começar a responder estas questões.

Da próxima vez que um não-cristão desafiá-lo com o problema do mal, ao invés de ser pressionado no canto, você deve ser capaz de dar uma resposta irrefutável, e então tomar a ofensiva e virar o argumento contra o não-cristão (2Co 10:5):

“Eu sou capaz de mostrar que a existência do mal não contradiz o amor de Deus ou a existência de Deus. De fato, o próprio conceito de mal pressupõe a existência do Deus cristão. Este Deus decretou a existência do mal para Sua própria glória, e cada aspecto e ocorrência do mal está debaixo do Seu preciso controle, não há padrão mais alto do que Deus para julgar este decreto como errado. Um dia Ele banirá todos os pecadores para os tormentos sem fim no inferno, de forma que cada ocorrência de assassinato, roubo, estupro e até mesmo cada palavra que um homem tenha proferido, será julgada. Ele então punirá justamente todos os pecadores que não creram em Cristo para salvação, mas Seus escolhidos certamente serão salvos.

Mas, como você trata com o mal? Dada sua cosmovisão, como você pode sequer ter um conceito significante e universal do mal? Como você explica sua origem e continuação? Você pode oferecer uma solução eficaz ou até mesmo segura para desmoronar o mal? Você pode apresentar as razões universalmente aplicáveis e obrigatórias contra tais coisas como genocídio e racismo? Como sua cosmovisão faz demandas morais sobre alguém que não a subscreve? Dada sua cosmovisão, há justiça final e perfeita para alguém? Se não, qual é sua solução ou explanação para isso? Como você pode definir justiça em primeiro lugar? Porque uma pessoa de outra nação ou cultura deve reconhecer seus assim chamados direitos?

Se você não pode dar respostas adequadas a estas e milhares de outras perguntas sobre a base de sua cosmovisão e comprometimentos intelectuais sem auto-contradição, então, é evidente que a existência do mal significa a destruição de sua cosmovisão, enquanto que ela não coloca nenhuma ameaça contra a minha, de forma alguma. Você é um hipócrita se mencionar o problema do mal como uma objeção ao Cristianismo”.


Embora muitas pessoas gostem de desafiar os cristãos com o problema do mal, a verdade é que o Cristianismo é a única cosmovisão na qual a existência do mal não cria um problema lógico. Todavia, muitos cristãos professos são intimidados pelos argumentos não-cristãos. Isto parcialmente ocorre não somente porque eles não aprenderam as refutações lógicas a estes argumentos, mas também porque eles algumas vezes concordam com os não-cristãos, pelo menos no nível emocional. Mas certamente, apenas porque algo causa um distúrbio emocional em algumas pessoas, não significa que cause algum desafio à própria fé cristã.

Agora, se o não-cristão é tão perturbado sobre a existência do mal, ele pode sempre perguntar a um cristão sobre como depender de Cristo para salvação; de outra forma, ele pode se submeter a um departamento de psiquiatria, onde ele pode continuar miserável sob o cuidado profissional. Quanto aos cristãos, a Escritura fornece a solução: “
Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti” (Isaías 26:3). Salmos 73:16-17 diz: “Quando pensava em entender isto, foi para mim muito doloroso; até que entrei no santuário de Deus; então entendi eu o fim deles”. Somente aceitando a cosmovisão cristã que uma pessoa pode chegar a uma posição racional sobre a existência do mal, e somente entrando no “santuário de Deus” que o assunto pode parar de ser “opressivo”. Somente aqueles que são trazidos para perto de Deus podem entender suficientemente a realidade do mal e reter a estabilidade emocional. A fé cristã é verdadeira e é o único caminho para Deus e a salvação. Ela é imune aos ataques intelectuais. Ela não pode ser desafiada com sucesso, mas somente estudada e obedecida.

– Vincent Cheung
SOLI DEO GLORIA
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NOTAS:

1 - Às vezes o argumento inclui o fato de que os cristãos afirmam que Deus é também onisciente (conhece tudo) — se Deus conhece tudo, então, Ele sabe como destruir o mal. 
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2 - A doutrina do “livre-arbítrio” é anti-bíblica e herética, e alguns têm seguido a doutrina até o seu próximo passo lógico, ao dizer que se o homem é verdadeiramente livre, então Deus não pode realmente saber com certeza o que o homem fará, negando dessa forma a onisciência de Deus. Contudo, ainda assim, Deus saberia que é possível para o livre-arbítrio produzir males extremos e horrendos, de forma que o mesmo problema permanece.

3 - O próprio Satanás é uma criatura, e, portanto, não tem livre-arbítrio. Todas as suas ações e decisões são controladas por Deus. 
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4 - Certamente, pessoas diferentes podem apresentar formulações diferentes do problema do mal, mas minha refutação se aplicará a todas elas. 
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5 - Para mais informações, vejam meus escritos sobre apologéticas e éticas. 
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6 - Por exemplo, o não-cristão nunca justifica, ao definir o assassinato, a inclusão da matança de humanos mas a exclusão da matança de bactérias. Certamente, alguns advogados dos direitos dos animais consideram assassinato o massacrar animais, mas não bactérias; contudo, eles nunca justificam a inclusão dos animais ou a exclusão das bactérias. 
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7 - O argumento se tornará, no final das contas, um amplo debate pressuposicional. Para mais informação sobre isto, veja meu livro Presuppositional Confrontations
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8 - Algumas pessoas usam diferentes termos para fazer esta mesma distinção. 
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9 - Sobre este ponto, até mesmo alguns filósofos profissionais inclinam-se a um apelo à opinião popular. Isto é, eles reivindicam que “todo mundo” sabe que certas coisas são más, e que certas coisas são males gratuitos. Em outro contexto, estes mesmos filósofos criticariam tal apelo à opinião popular para estabelecer uma premissa essencial — que eles se utilizam desta tática aqui, me mostra que eles são estúpidos e desesperados. A resposta mais óbvia é que é falacioso pensar que algo é verdadeiro apenas porque muitos ou mesmo a maioria das pessoas pensam que seja verdadeiro.

Alguns filósofos argumentam que se a maioria das pessoas pensa que há males gratuitos, então, o peso da prova cai sobre o cristão, para o mesmo mostrar que não há males gratuitos. Embora eu discorde que o peso da prova caia sobre mim simplesmente porque eu nego a opinião popular, mesmo se caísse, eu tenho mostrado que qualquer mal que Deus decrete é justificável por definição, de forma que o peso da prova retorna ao não-cristão, que deve refutar este ponto particular ou refutar o Cristianismo como um todo, e então o foco do debate de torna um pressuposicional (veja meu livro Presuppositional Confrontations).

Além do mais, mesmo que o apelo à opinião popular fosse legítimo (embora eu negue isto), eu demando provas de que realmente a opinião popular seja a de que existem males gratuitos. Como o não-cristão pode estabelecer esta reivindicação? Mesmo se ele pudesse realizar uma pesquisa empírica global, eu já refutei o empirismo em outro lugar. Se ele não pode fazer isto, então ele deve mostrar também que, desde a origem da humanidade, tem sido a opinião popular que há males gratuitos. Ele deve provar também que esta continuará a ser a opinião popular em todas as gerações futuras. Se ele falha em fazer isto, então, eu não tenho razão para aceitar sua reivindicação de que “todo mundo sabe” que existe o mal ou o mal gratuito. Ele pensa que “todo mundo sabe”, mas ele não sabe que “todo mundo sabe”; esta é sua opinião pessoal sobre a opinião popular. 
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QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?

Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....