MALTRAPILHO, DESCONHECIDO E FORA DOS PADRÕES | JP Padilha



Os fariseus eram os maiores teólogos da época de Jesus. As escolas rabínicas eram sempre lotadas porque ali estavam os doutores da lei, bem vestidos, eloquentes e de banho tomado. Mas havia um homem que provocava insônia em todos eles. Seu nome era João Batista. Um homem completamente fora dos padrões da religião oficial de Israel. Um homem vestido com pele de animal toda uma vida, cujo a aparência era desprezível e seu porte hostil. Vivia isolado no deserto e se alimentava de insetos. Quando aparecia para anunciar a vinda do Salvador, sua pregação era INSUPORTÁVEL aos ouvidos dos homens, assim como seu mau cheiro devido à desolação em que se submeteu. Um dia os fariseus decidiram perguntar-lhe quem era ele para criticar seus métodos de lavagem cerimonial e hipocrisia disfarçada de piedade. A resposta de João Batista foi esta: "Eu irei lhes dizer quem eu NÃO sou".

João Batista apontou e condenou o pecado de Herodes, o governador da Judeia, que estava em adultério porque se uniu a uma mulher divorciada. Essa mulher era esposa de seu irmão Felipe (Mt 14.3-4). Preste atenção nisso. João apontou o dedo na fuça de um governador em público. Observe a coragem, ousadia e intrepidez de João Batista e compare esse servo de Deus com os que se dizem “pregadores do evangelho” hoje. João Batista não tinha medo de apontar o pecado, nem de repreender os mestres e poderosos. Com efeito, João Batista não se enquadra na abordagem pacifista e carismática dos "profetas" do nosso século, em nenhum nível e em nenhum aspecto.

O resultado é que, diferentemente da mulher samaritana (Jo 4.15-18) e da mulher judia que também havia cometido adultério e se arrependido (Jo 8.11), o ódio de Herodias contra o profeta cresceu em seu coração. Herodias não abandonou o seu pecado. Ela escolheu outro caminho – matar um servo de Deus, pensando que assim calaria suas palavras.

João Batista foi punido com a morte por ter uma visão bíblica do casamento. Teve sua cabeça arrancada por não fazer parte de uma elite religiosa que visava o lucro pessoal e político; que valorizava mais as suas tradições do que a Palavra de Deus; que vivia de aparências. João Batista não dobrou seus joelhos diante da diplomacia acadêmica. Ele cumpriu com fidelidade sua missão de profeta na terra.

–– JP Padilha

Quem pode batizar uma pessoa? | Mario Persona



Sua dúvida é se apenas um pastor, bispo ou apóstolo pode batizar alguém, ou se isso pode ser feito por qualquer pessoa.

Primeiro vamos esclarecer alguns equívocos, pois acredito que você esteja falando de "pastor", "bispo" e "apóstolo" como geralmente esses títulos são usados dentro das denominações religiosas. Vamos tentar esquecer esses cargos que os homens inventaram e buscar na Palavra de Deus a explicação para esses dons e ofícios.

Apóstolos não existem mais. Leia aqui 
"Como saber se um apóstolo é genuíno?"

Bispos eram os anciãos responsáveis pelos cristãos em uma cidade, não em uma denominação. Eram sempre mais de um. Leia mais aqui: 
"Quem pode ser chamado bispo?"

Pastor é um dom, não um dirigente de congregação ou alguém que fez uma faculdade de teologia. Leia aqui: 
"Devemos obedecer aos pastores?"

Respondendo a sua pergunta, sim, qualquer pessoa pode batizar outra, porque não é quem batiza ou quem é batizado que importa, mas o batismo em si e em nome de quem, com com que autoridade, isso é feito. O Senhor deu essa ordenança aos doze apóstolos e isso incluiu até mesmo Judas, aquele que era falso.

Em Atos 2 diz "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas". Se considerarmos que a igreja estava começando e eram nesse tempo apenas 12 apóstolos (Matias estava agora no lugar de Judas), se os apóstolos conseguissem batizar uma pessoa a cada 5 minutos seriam necessárias 21 horas para batizarem todas essas pessoas. O mais provável é que muitos irmãos tenham feito isso.

A idéia de que apenas alguém que ocupe algum "cargo" ou tenha uma determinada formação é que pode batizar não passa de invenção humana, provavelmente para concentrar o poder nas mãos de poucos líderes.

O argumento de que quem batiza precisa ter um certo preparo para o batismo ser válido também cai por terra se considerarmos que boa parte dos escândalos que vemos hoje na cristandade vem justamente de líderes religiosos. Se considerássemos inválidos os batismos praticados por aqueles que caem em contradição ou escândalos, ou que depois se revelam até mesmo incrédulos ou lobos em pele de ovelhas, seria preciso rebatizar os cristãos o tempo todo. Mas a Palavra de Deus ensina que há um só batismo.

Quando uma pessoa batiza usando a fórmula "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", ou "em nome de Jesus" no sentido da autoridade recebida daquele que instituiu o batismo, ela está se valendo de uma autoridade delegada, como ocorre com um embaixador durante a vigência de sua embaixada. Se o embaixador depois morre, encerra seu tempo de serviço ou até mesmo nega sua cidadania, os atos que praticou enquanto estava investido daquela autoridade continuam valendo.

Leia mais sobre o batismo aqui: 
"O que significa o batismo?"

–– Mário Persona

Livro: A ORDEM DE DEUS, por Bruce Anstey


DICA DE LIVRO INDISPENSÁVEL PARA QUEM DESEJA SER LIBERTO DO DENOMINACIONALISMO RELIGIOSO E APRENDER A COMO CONGREGAR DE FORMA BÍBLICA:

"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8.32). Qual verdade? Ela vos libertará do quê?

Eu nunca havia entendido por quê tantas denominações surgiram após o século III, todas revindicando o nome de "Igreja Correta", mas cada uma com uma doutrina distinta e sob o comando de pequenos papas, sempre coroados sob o nome de "mestres", "pastores", "reverendos", "pais", etc. Até que um dia eu entrei no site "A ORDEM DE DEUS", de Mario Persona. Esse blog foi feito por ele com o objetivo de agilizar o processo de liberação da tradução dos trechos do livro "A Ordem de Deus", de Bruce Anstey.

Hoje o livro está disponível de graça no blog. Quando eu li esse livro, fui liberto de um sistema satânico em cujo "crentes" do mundo todo estão presos... amarrados... acorrentados.

Finalmente entendi onde Deus queria chegar comigo. Finalmente, estou livre de um sistema diabólico - o Denominacionalismo Religioso. Finalmente eu entendi que eu jamais poderia me encaixar em nenhuma dessas instituições heréticas, uma vez que estou cativo à Palavra de Deus e não consigo (nem poderia) me prender às algemas de uma seita cheia de filiais e correligionários: a seita dos fariseus, a qual Cristo combateu arduamente e nos avisou a respeito dela. Essa seita continua persuadindo a maioria da população mundial sob o nome de religião. E a maioria delas revindicam o nome de "Igreja de Cristo", mas não passam de instituições humanas que sempre irão entrar em conflito com as Escrituras. O Denominacionalismo não tem nenhuma correlação com a Palavra de Deus. Ele não suporta o peso da doutrina dos apóstolos. Presbiterianas, Batistas (tanto pentecostais como tradicionais), Católica Romana, Mundial, Universal, deus é Amor, etc; todas elas engajadas numa guerra ideológica em que ambas brigam por mentiras diferentes, mas que, ainda assim, continuam sendo mentiras.

Qual dentre esses templos e denominações ficará de pé? Cristo responde: Nenhum (Mc 13.1,2; Mt 18.20; Hb 10.19-20; 13.13).

Não existe "desigrejado". Se você é nova criatura em Cristo, já é um membro do CORPO DE CRISTO, e ninguém pode lhe arrebatar das mãos dEle. O fato é que Deus não ordenou ninguém a instituir denominações.

Cristo disse para congregarmos EM SEU NOME (Mt 18.20), não no TEMPLO.

"Saiamos, pois, a Ele fora do arraial, levando o Seu vitupério" (Hebreus 13:13).

Baixe este livro e seja liberto desse fardo que colocaram sobre você: "A ORDEM DE DEUS", de Bruce Anstey. Traduzido por Mario Persona.

–– JP Padilha
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Site "A ORDEM DE DEUS" no link abaixo:
https://aordemdedeus.blogspot.com/

Link para download direto:
http://3minutos.s3.amazonaws.com/ebook/a-ordem-de-deus-bruce-anstey.pdf

As Doutrinas que professo foram inventadas no século 19? | Mário Persona


Você disse que assistiu vídeos e leu artigos de pessoas dizendo que essas doutrinas que eu e outros irmãos congregados somente ao nome do Senhor professamos, tipo arrebatamento, Igreja diferente de Israel, cidadania celestial, não-existência de um clero, dispensações etc., teriam sido inventadas só no século 19. Segundo esses vídeos e artigos elas nunca teriam sido ensinadas pelos pais da igreja, escolásticos medievais, reformadores protestantes e muitos outros comentaristas.

Realmente, elas não foram mesmo ensinadas por todos esses que você citou e que se situam na história no período que veio depois do tempo dos apóstolos. Existe um princípio importante ao qual pouca gente dá atenção e que foi ensinado pelo próprio Senhor Jesus. Talvez as pessoas fiquem tão concentradas no assunto ali, que era o do divórcio, que deixem passar o princípio. Existem coisas que na Bíblia são ensinadas por mandamento direto, outras que estabelecem um princípio que pode ser aplicado para diferentes questões. É o caso de Mateus 19:3-5:

"Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?"

A pergunta dos judeus tinha a ver com repúdio e divórcio, algo que Deus tinha feito vista grossa por causa da dureza do coração dos israelitas, mas Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares indicando o que eu chamaria de "princípio do princípio", ou seja, como era isso no princípio? Então se você quiser entender algo das Escrituras não convém recorrer aos autores e comentaristas do período que sucedeu ao dos apóstolos, e nem mesmo ao que os reformadores disseram, mas ir à fonte, "no princípio", que é justamente a doutrina dos apóstolos.

Minha filha, que mora nos Estados Unidos, decidiu vir ao Brasil com seu marido e filhos para levá-los conhecer Alto Paraíso de Goiás, o lugar onde ela foi concebida e também passou seu primeiro ano e meio de vida. Quando ela nasceu morávamos num sítio onde tínhamos feito uma casa, horta, aprisco, e algumas benfeitorias. Conseguimos chegar ao local, mas qual não foi minha surpresa ao descobrir que a casa não era a mesma que eu havia construído Havia outra a uns duzentos metros da original. A original tinha desaparecido.

Os moradores dessa casa tinham alugado o sítio de alguém, que tinha comprado o sítio da pessoa a quem originalmente eu tinha vendido. Um desses novos donos tinha minha casa por causa de uma infiltração no alicerce, e não só demoliu, como também passou uma máquina de terraplenagem no local para não deixar o terreno limpo para eventualmente plantar algo ali. Deu um bom trabalho descobrir alguns resquícios de alicerce e pedaços de blocos de concreto do lugar onde antes fora minha casa e agora era pasto.

Traçando na memória os limites da construção pedi para minha filha ficar bem no lugar onde tinha sido o quarto onde ela foi concebida, para registar o lugar do planeta onde há quase quarenta anos ela tinha passado a existir.

Se eu dissesse a você que o sítio onde eu morava tinha uma casa branca e mais algumas coisas, e você fosse até lá visitar, voltaria dizendo que o sítio não é nada daquilo que descrevi. Então quando alguns falam que essas doutrinas teriam sido inventadas é porque o que visitou foi o que fizeram com "o sítio" os moradores que vieram depois.

As doutrinas não foram inventadas no século 19, elas foram resgatadas. Elas sempre estiveram na doutrina dos apóstolos, como também estava a doutrina da justificação pela fé que Lutero e outros resgataram no século 16, só que os "donos do sítio" passaram com o trator por cima delas, demolindo algumas e cobrindo-as com o entulho de seus dogmas e tradições.

Quando os reformadores desentulharam a doutrina da justificação pela fé não existiam denominações, mas ao passarem a ser perseguidos pela Igreja Católica Apostólica Romana eles se abrigaram em países onde seus reis eram inimigos de Roma. Esses reis aproveitaram a oportunidade e foram criadas as igrejas nacionais, como Igreja da Suíça, Igreja da Hungria, Igreja da França, Igreja da Holanda, Igreja da Escócia e Igreja da Inglaterra (Anglicana), algumas independentes, outras tão sujeitas ao estado que têm o rei como cabeça da igreja.

É o caso da Inglaterra até hoje, onde a Rainha Elizabeth traz, dentre outros, o pomposo título de "Suprema Cabeça da Igreja da Inglaterra". Em certo sentido a história estava apenas se repetindo. Os reformadores se abrigaram sob a proteção de diferentes reis, fazendo da igreja uma subordinada do estado, mas isso já tinha acontecido séculos antes, quando os cristãos receberam de braços abertos o Imperador Constantino que os livrou das perseguições dos imperadores romanos que vieram antes dele.

Constantino tinha o poder de convocar concílios e participar deles. Ele disse aos bispos de então: "Vocês são bispos cuja jurisdição se limita à igreja, mas eu também sou um bispo ordenado por Deus para cuidar daqueles que estão fora da igreja". Qualquer bom entendedor saberia o que isto significava. Ele era a cabeça, não só da igreja, mas também os pagãos de seu reino. Foi assim que nasceu a Igreja Católica Romana no ano 325, quando Constantino convocou o Concílio de Niceia. Pinturas posteriores retratam Constantino em um lugar de destaque e cercado por bispos.

Se a Igreja Católica buscou, não apenas nos apóstolos, mas principalmente nos chamados "primeiros pais da Igreja", os bispos que vieram depois dos apóstolos, a fonte de suas doutrinas, o mesmo fizeram depois os reformadores. Estes, embora tenham desenterrado do entulho católico romano a doutrina da justificação pela fé e descartado outras inventadas pela igreja de Roma, se apegaram igualmente aos ensinos dos "primeiros pais".

Esses escreveram muitas coisas, mas não falaram dessas verdades resgatadas no século 19. Por que não? Porque Paulo avisou que seria assim, que ele partiria, que entrariam lobos no rebanho e homens que iriam distorcer a verdade para angariar discípulos. Não que todos fossem lobos, mas numa época quando a perseguição era constante, ficava fácil descartar algumas doutrinas consideradas de menor importância para apaziguar as diferentes facções que já começavam a surgir entre os cristãos. Paulo escreveu:

"Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um. Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados." (At 20:32).

Será que Paulo teria dito aos anciãos de Éfeso para que buscassem a verdade em alguém que viesse depois dos apóstolos? Não. A segurança deles estaria em buscá-la no Senhor e na Palavra de sua graça. A primeira geração logo após os apóstolos já começaria a arregaçar as mangas para dar início à terraplenagem do que tinha sido originalmente "a casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade." (1 Tm 3:15).

Mas já nos últimos dias do apóstolo Paulo na terra, por ocasião de sua segunda e última carta a Timóteo, o mesmo Paulo já descreve uma "casa de Deus" bem diferente. Não podia mais ser identificada como "coluna e firmeza da verdade", mas como "uma grande casa [onde] não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra." (2 Tm 2:20). Sim, já era um abrigo de vasos para desonra e de lá para cá só piorou. 

Quando você entende o caráter profético das sete cartas de Apocalipse, descobre que a primeira carta, que é escrita a Éfeso que representa o período imediatamente posterior à partida dos apóstolos, já fala daquela igreja como tendo abandonado o "primeiro amor" (Ap 2:4). Entre eles já havia homens "que a si mesmos se declaram apóstolos e não são" (Ap 2:2), e nem poderiam ser, porque certamente não tinham sido escolhidos pelo Senhor e andado com ele. Pedro e Judas também avisaram que entrariam esses que passariam a corroer a sã doutrina com suas heresias. (2 Pedro 2 e Judas 1).

Se continuar lendo as sete cartas de Apocalipse 2 e 3 irá identificar diferentes estágios da degradação do testemunho na terra até chegar a Filadélfia, que se destaca por fazer justamente o que o apóstolo ensinou que deviam ter feito desde o princípio: guardar a Palavra.

Portanto, não procure aprender verdades dos "pais da igreja" porque muitas foram demolidas por eles mesmos, que também construíram outras doutrinas que não passam no crivo das Sagradas Escrituras. Se quiser mesmo julgar o que eu e muitos irmãos costumamos dizer, que aprendemos de outros, principalmente de irmãos do século 19, volte ao princípio, às Escrituras, aos ensinos dos apóstolos, e verá que está tudo lá.

Se em poucas décadas meu sítio foi todo alterado e ficou irreconhecível até para mim, que viu seus dias no princípio, imagine o que fizeram com a doutrina dada à igreja depois de dois mil anos! E nem é preciso ir tão longe, pois já no tempo de Paulo ele fala de Himeneu e Fileto, que estava desviando a fé de alguns afirmando que a ressurreição já tinha acontecido. Depois vieram os que iriam negar a divindade de Cristo, outros sua ressurreição corpórea e assim por diante.

Portanto é um erro basear doutrinas naquilo que diziam os chamados “pais da igreja” ou “doutores da igreja”, bispos e autores dos primeiros séculos. Por mais coisas acertadas que possam ter ensinado, muitos erros vieram da pena desses mesmos homens. Além de Agostinho de Hipona, havia Ambrósio, Tomás de Aquino, Atanásio de Alexandria, Jerônimo, João Crisóstomo, Clemente de Alexandria, Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Tertuliano, e outros.

Estes perderam de vista o caráter celestial, e não terreno, da Igreja, o que pode ser facilmente percebido na verdade dispensacional contida nas Escrituras. Até hoje os seguidores da Teologia do Pacto não discernem a diferença entre Israel e Igreja e atribuem a esta promessas que foram dadas ao povo terreno de Deus. Todavia, a vocação, ou chamado, da Igreja é celestial, o assento que lhe foi reservado é celestial, suas bênçãos, cidadania, esperança, herança e até mesmo seu combate são todos celestiais.

Quando isso foi perdido de vista os cristãos passaram a buscar um lugar e posição no mundo, fazendo da Igreja a principal conquistadora e opressora dos povos. A desculpa era de que o mundo precisaria ser conquistado pelo evangelho, sua população convertida e tudo deixado pronto para Cristo voltar e reinar. Porém não entendiam outra verdade preciosa, também resgatada no século 19, que era a da diferença entre o arrebatamento da Igreja e seu encontro com o Senhor nos ares, e a vinda de Cristo à terra para estabelecer seu reino.

Com o tempo a Igreja começou a se achar senhora dos cristãos e Cristo foi passado para um segundo plano em termos de autoridade. Não era mais ao Senhor e sua Palavra que os cristãos deviam se sujeitar, mas aos dogmas da "igreja" — entenda-se por "igreja" aqui um colegiado de homens e seus dogmas. De um povo em submissão ao Senhor, fizeram dos cristãos um povo em submissão a uma "senhora".

–– Mario Persona

Como Paulo podia esperar o arrebatamento se ele sabia que iria morrer? | Mário Persona


Você questionou a esperança da vinda do Senhor para buscar sua Igreja como algo imediato, e o fato de eu ter dito que em 1 Tessalonicenses 4 Paulo se incluía entre os que aguardavam pelo arrebatamento a qualquer momento. Se Paulo, e também Pedro, foram avisados depois que morreriam, como poderiam esperar pelo arrebatamento?

É importante que você entenda que a esperança do cristão não está na esperança, não está nos eventos proféticos. A esperança do cristão está na Pessoa da qual a profecia fala: Cristo. “Porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” (Ap 19:10). Não esperamos a esperança; esperamos a Cristo. Mas o que seria esperar a esperança? Seria esperar pelo cumprimento da promessa da vinda do Senhor para nos buscar no arrebatamento, o que é um foco errado.

Não devemos colocar nossa esperança na esperança ou promessa. A nossa esperança tem o foco na Pessoa, porque se a esperança do cristão for a promessa de que Cristo vem nos buscar a qualquer momento, ele estará pensando em si mesmo, nas vantagens que obteria com essa vinda, no seu desejo de sair desse mundo e se livrar de seus compromissos e dificuldade, e não necessariamente naquilo que é também o desejo do Senhor.

Quando Jesus orou pelos seus, ele disse, “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” (Jo 17:24). Percebe que o desejo dele era estar com os seus onde ele estivesse, independente do lugar? O desejo dele são os seus, e o desejo dos seus deveria ser somente ele.

Não tenho dúvidas de que quando Paulo escreveu a primeira Epístola aos Tessalonicenses ele estava se colocando entre eles, com uma mesma esperança imediata de se encontrar a qualquer momento com o Senhor nos ares. Ele incluía a si mesmo nessa esperança. Isso fica bem claro no versículo 17 do capítulo 4 de 1 Tessalonicenses, ao dizer: “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.”. A expressão “nós, os que ficarmos, seremos arrebatados” não deixa dúvida quanto à sua certeza.

Pedro devia pensar o mesmo, mas então descobrimos que dez anos mais tarde ele seria avisado que iria morrer, como ele próprio diz em 2 Pedro 1:14: “Sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, como também nosso Senhor Jesus Cristo já mo tem revelado.”. Aí surge a questão que gerou sua dúvida: Se Pedro estava sendo avisado de que iria morrer, então ele não poderia ter esperando pelo arrebatamento a qualquer momento.  A carta de Paulo aos Tessalonicenses foi escrita no ano 52 ou 54 e a segunda carta de Pedro no ano 64, ou cerca de dez anos depois.

Paulo também foi avisado de que iria morrer, quando em 2 Timóteo 4:6-8 diz: “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.”. Paulo teria escrito esta segunda epístola a Timóteo entre os anos 61 e 65, mais ou menos na mesma época em que Pedro foi avisado de que morreria.

Considerando tudo isso, e que Paulo teria dito no capítulo 4 de 1 Tessalonicenses que estaria entre os arrebatados, e isso no final do ano 52, como ficaria essa esperança de que o Senhor poderia voltar a qualquer momento? Isto porque hoje sabemos que nos dez anos seguintes ao que Paulo escreveu aos Tessalonicenses, se incluindo entre os que aguardavam, isso não aconteceria, pois tanto ele quanto Pedro deixariam de esperar pelo arrebatamento para esperar pela morte.

Vale aqui uma observação: Um crente em Cristo, quando é avisado pelo médico que irá morrer nas próximas horas, deixa de esperar pelo Senhor? Não, porque o foco de sua esperança não muda, apenas o meio de sua realização. O Senhor esperado no arrebatamento será o mesmo Senhor que eventualmente venha buscá-lo pela morte. É como aquela garantia quando você compra um carro: um ano ou dez mil quilômetros, o que ocorrer antes. Foi por isso que eu disse que a esperança de Paulo, de Pedro e de qualquer cristão deve ser no Senhor, e não na esperança, independente se esta se realize em "um ano ou dez mil quilômetros".

Podemos aplicar a mesma indagação e raciocínio quando lemos as sete cartas às sete igrejas de Apocalipse capítulos 2 e 3. Quem hoje lê e entende que elas têm também um caráter profético, revelando sete estágios sucessivos do testemunho cristão na terra através dos tempos, poderia igualmente indagar: Se João estivesse escrevendo o livro de Apocalipse na certeza de que Jesus poderia voltar a qualquer momento para leva-lo no arrebatamento, como poderia conciliar essa esperança com o fato de que a igreja ainda passaria séculos na terra e por diferentes estágios?

João provavelmente leu a epístola aos Tessalonicenses e tinha a mesma esperança de Paulo e de Pedro, de ser tirado da terra a qualquer momento no arrebatamento, pois esta é a esperança que convém aos santos. Quando Pedro e Paulo morreram muitos tinham escutado aquela mesma exortação de Paulo aos Tessalonicenses, de que Cristo viria a qualquer momento, entenderam que para Paulo ou Pedro essa expectativa tinha perdido o efeito. O arrebatamento não tinha se cumprido para Pedro e Paulo, porque para eles restaria agora aguardar a ressurreição, que foi a primeira parte da revelação que o Espírito Santo havia dado a Paulo.

Mas se atentar bem verá que tanto uma como a outra parte da profecia não foi dada para mortos, pois eles já estão com o Senhor, mas para os vivos. Primeiro para que não ficassem tristes pelos que já partiram, e depois para que eles próprios ficassem na expectativa da vinda do Senhor no arrebatamento a qualquer momento, pois essa expectativa continuava valendo para os vivos.

"Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor." (1 Ts 4:13-17).

Percebe a cláusula da promessa? “Nós, os que ficarmos vivos”. Então esta não vale para mortos, porque para estes o que vale é a promessa da ressurreição dos versículos anteriores.

Quanto às sete cartas de Apocalipse, é provável que nem mesmo João, que recebeu a revelação, entendesse perfeitamente o que escrevia, pois escrevia de um ponto de observação diferente daquele em que estamos hoje quando lemos essas cartas. O foco da esperança de João — Cristo — continuava o mesmo, e a esperança também, de ir ao encontro do Senhor a qualquer momento estando vivo. Como a promessa era para os vivos, e ele estava vivo, ela valia para ele também até o momento de sua morte, caso esta ocorresse antes.

O fato de João escrever sem entender o que escrevia não deve ser motivo de espanto, pois nem todos profetas entendiam o que escreviam. Pedro escreveu sobre isso:

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pe 1:10-12).

O mesmo aconteceu quando Deus deu a Daniel uma profecia no último capítulo de seu livro e disse: “E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo... Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim.” (Dn 12:4-12). Daniel morreria antes de entender o que significava a profecia que ele próprio tinha recebido, pois ela tinha sido selada ou fechada para um tempo posterior.

Algo semelhante acontece quando Pedro indaga do Senhor o que seria de João, e o Senhor mostra que existem coisas que são individuais no modo de Deus tratar com cada um: “E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?” (Jo 21:20-23).

Provavelmente Pedro nunca soube o que Jesus quis dizer com aquilo, mas hoje temos o privilégio de saber que a João seria dada a revelação do Apocalipse, que fala das coisas, do "até que eu venha" que Jesus mencionou. A revelação foi dada a João em três partes: "Escreve as coisas [1] que tens visto, [2] e as que são, [3] e as que depois destas hão de acontecer." (Ap 1:19). "As coisas que tens visto" incluíam primeiramente a visão que ele teve do Senhor como o Filho do Homem em roupagem de Juiz, e também tudo o que lhe foi revelado em forma de visão carregada de elementos simbólicos, a maioria deles indecifráveis para João.

As coisas "que são" eram aquelas que João podia ver em seu tempo, como eram as sete igrejas físicas da Ásia que ele talvez até tivesse visitado e poderiam estar passando por dificuldades que poderiam ser atendidas pelas exortações dadas a cada uma. Mas a João e aos de seu tempo, o entendimento do caráter profético dessas igrejas não estava disponível como para nós está, por não se tratar mais de profecia, mas de história.

A terceira parte da revelação, que é porção que para nós ainda não está totalmente aberta ao entendimento, começa no primeiro versículo do capítulo 4: "Depois destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.". Nós desfrutamos dessa parte e até podemos compreender muitas coisas pela direção do Espírito e pela comparação com outras Escrituras, mas nem tente calcular o número da besta, porque os que estiverem na terra nesse tempo é que saberão discernir.

Portanto é neste sentido que João ficaria até a vinda de Jesus para reinar, conforme o Senhor dissera a Pedro no capítulo 21 do Evangelho de João, pois é o livro de Apocalipse, que João escreveu, o desfecho de tudo o que disseram os profetas do Antigo Testamento acerca do "testemunho de Jesus (que) é o espírito de profecia" (Ap 19:10).

Outra exemplo de profecia não entendida no momento em que foi revelada, mas só depois de cumprida, é o que Jesus diz em Marcos 9:1: “Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que vejam chegado o reino de Deus com poder.” Os discípulos não precisaram esperar muito para entender aquilo, pois não demorou para três deles serem introduzidos numa fresta no tempo e contemplarem a Cristo transfigurado em glória com dois de seus santos numa visão do que seria o Reino. Mas mesmo ali Pedro parece não ter compreendido o que viam.

"E seis dias depois Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João, e os levou sós, em particular, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles; e as suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra os poderia branquear. E apareceu-lhes Elias, com Moisés, e falavam com Jesus.” (Mc 9:2-4).

Quando vemos essas coisas, ao invés de pensarmos em falhas ou erros das Escrituras, devemos entender que AQUELE que é nossa esperança permanece firme, independente da maneira como seremos levados a ele. E deve ser assim, pois desde a revelação do mistério, feita a Paulo no capítulo 4 da carta aos Tessalonicenses e também em 1 Coríntios 15, um cristão podia aguardar para qualquer momento o seu Senhor vir buscá-lo e seu corpo ser transformado.

"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados." (1 Ts 4:16-17; 1 Co 15:51-52).

Outra dificuldade que os apóstolos passavam quando o Senhor lhes ensinavam nos Evangelhos é que, embora muita coisa tinha a ver pessoalmente com eles naquele momento, outras tinham a ver com eles, mas não pessoalmente, e sim como representando um remanescente judeu que ainda irá surgir.

Por exemplo, quando o Senhor lhes dizia: “Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.” (Mt 19:28). Eles pensavam que isso aconteceria ainda no período de vida deles, mas hoje sabemos que não, que ainda viria um período de mais de dois mil anos da Igreja na terra antes da manifestação do Reino. Este é o segredo da profecia: nós não enxergamos a imagem toda, apenas parte dela. Alguém definiu a profecia como alguém olhando do pico de uma montanha a paisagem no horizonte. Ele vê muitos picos de muitas montanhas, mas não consegue ver os imensos vales existentes entre elas.

Deus nos dá um foco e nos dá uma certeza e nos dá uma Pessoa, que é Cristo, em quem concentrarmos a nossa esperança. Mas, como acontecia com os discípulos naquele momento dos Evangelhos, eles eram representantes de um remanescente que viria depois, que seria levantado muito tempo depois. Por isso, quando no versículo 34 de Lucas 18 lemos que “eles nada disto entendiam, e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia”, percebemos que muitas coisas que eles escutavam só iriam entender depois, quando o Espírito Santo viesse habitar neles e dar o entendimento dessas coisas. Jesus avisou que seria assim: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.” (Jo 16:12-13).

Mas ainda que muitas coisas eles iriam entender mais tarde, outras continuariam para eles uma incógnita, pois ainda não teria chegado o momento certo para que entendessem. Por exemplo, hoje olhamos para trás e sabemos que as sete cartas ás sete igrejas de Apocalipse capítulos 2 e 3 representam sete períodos da história da cristandade.

A epístola é a mesma que os primeiros cristãos leram, mas é aí que entra o aspecto dinâmico da profecia. No mesmo sentido, a experiência que Saulo teve no caminho para Damasco, quando o Senhor lhe apareceu, era uma única e mesma experiência. Mas repare que a cada vez que ela é contada alguma coisa muda ou é acrescentada.

"E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu.  E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9:3-4).

"Ora, aconteceu que, indo eu já de caminho, e chegando perto de Damasco, quase ao meio-dia, de repente me rodeou uma grande luz do céu. E caí por terra, e ouvi uma voz que me dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 22:6-7).

"Ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões."(At 26:13-14).

Percebeu que "um resplendor de luz do céu" virou "uma grande luz do céu" e finalmente "uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol" ? Essa é a maravilha da profecia, que produz em nós uma apreciação cada vez maior, como foi a apreciação crescente que Paulo teve da experiência de sua conversão. "A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." (Pv 4:18).  

Por causa desse aspecto dinâmico da profecia e de como ela se apresenta para cada pessoa vivendo em cada momento da história é que hoje podemos olhar para trás e sabermos que estamos vivendo no último período das sete cartas de Apocalipse, que é o que representa a carta de Laodiceia. Esse período começou por volta da metade do século 19, logo depois do período que equivale a Filadélfia, quando foram restauradas muitas verdades que estavam enterradas em séculos de erros doutrinários católicos e protestantes.

Então na metade do século 19 mais uma vez entrou  a ruína por meio de divisões, abandono de verdades preciosas e introdução de má doutrina. Por isso desde a metade do século 19 podemos dizer que vivemos todos no período de Laodiceia, a última fase do testemunho cristão na terra. De nosso privilegiado ponto de observação podemos olhar para trás e dizer: “Ah então é assim, foi isso que aconteceu”.

Lemos em Lucas 18:31: “E, tomando consigo os doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém, e se cumprirá no Filho do homem tudo o que pelos profetas foi escrito”. Os discípulos devem ter pensado que era naquele momento que os romanos seriam expulsos da terra e Cristo estabeleceria o seu Reino. Mas então vem, na sequência, “pois há de ser entregue aos gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido; e, havendo-o açoitado, o matarão; e ao terceiro dia ressuscitará.” (Lc 18:32-33). Pronto, agora eles já não entendiam mais nada, “e esta palavra lhes era encoberta, não percebendo o que se lhes dizia.” (Lc 18:34). Naquele momento não lhes era possível entender isso, mas haveria um momento quando entenderiam.

Mesmo quando Jesus usa o verbo “salvar” para seus discípulos nos Evangelhos, essa não é sempre a salvação no sentido eterno que hoje conhecemos, mas uma salvação no contexto judaico, a salvação do corpo. Isto porque a esperança do judeu era a de habitar na terra, e seria preciso que ele estivesse vivo e a salvo em seu corpo natural para poder entrar no reino de Cristo na terra.

É bom lembrar que “Reino” não é sinônimo de “céu”. Quando o ladrão na cruz disse, “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23:42), ele estava pensando no Reino terrestre de Cristo e em sua manifestação aqui na terra. Porém o Senhor lhe respondeu, “Em verdade te digo que hoje estarás comigo...” — no Reino? Não. — “... no Paraíso.” (Lc 23:43), algo que para o malfeitor convertido não fazia muito sentido porque aquele não era ainda seu momento de entender as coisas celestiais.

Nos versículos 28 ao 30 do capítulo 18 de Lucas temos algo que valia para os discípulos naquele momento, valeria depois para os cristãos em sua própria época, e irá valer também para o remanescente judeu que irá se levantar depois do arrebatamento da Igreja. Ali Pedro comenta: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. E ele [Jesus] lhes disse: Na verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus, que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna.”

Hoje, quando viajamos para pregar o evangelho e visitar irmãos, descobrimos que temos muitas casas, muitos pais, muitos filhos, muitos irmãos, muitas irmãs nos lugares por onde passamos. São aqueles que são de Cristo e que nos recebem, nos hospedam, nos dão alimento para o corpo e para o espírito. No momento que Jesus fez essa revelação ela pode não ter feito muito sentido para Pedro e os outros discípulos.

Outra coisa importante de se entender neste contexto é que a profecia é muito mais ampla do que a visão estreita com a qual nós olhamos para ela. É o caso de quando ela fala do cristão em conexão com a manifestação de Cristo, que é quando ele vem para estabelecer o seu Reino na terra. Alguém poderia perguntar: “Estamos esperando pela manifestação de Cristo ou pelo arrebatamento da Igreja que acontecerá pelo menos sete anos antes?”. Na verdade estamos esperando pela manifestação de Cristo, porque esta é a esperança dele também.

Existe um versículo em 1 Coríntios 1:7-8 que diz assim: “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo.”. Existem outras passagens também que falam do dia de Cristo, e isso relacionado não exatamente a judeus ou ao remanescente, mas a cristãos. O que nós temos a ver com o dia de Cristo?

Tudo, pois na realidade quando o Senhor vier no arrebatamento para tirar a Igreja da terra, para Cristo a história ainda não terá terminado. Considerando que nós temos essa intimidade, essa conexão tão grande com ele, não aguardamos apenas pelo encontro com ele no arrebatamento, pois se assim fosse seria um sentimento egoísta, como se nosso único interesse estivesse em resolver o nosso problema aqui e nem querer saber do que virá.

Mas a agenda de nosso Senhor não se limita a isso. Ela ainda inclui o dia em que ele virá em majestade, poder e glória para reinar nesse mundo. Se é este o anseio de nosso Senhor, deve ser também este o anseio de cada crente, ainda que nós saibamos que pelo menos sete anos antes de isso acontecer nós seremos tirados da terra. É preciso lembrar que a Igreja não é o único povo que ele ama, mas tem também Israel, ao qual ele irá cumprir todas as promessas que fez no Antigo Testamento e se encontram em suspense. O apóstolo Paulo fala disso em Romanos:

"Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, E desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha aliança com eles, Quando eu tirar os seus pecados." (Rm 11:25-27).

Uma vez alguém perguntou se minha meta é ir para o céu, e respondi que não. Não é o céu que almejo. Então dei um exemplo assim: Digamos que eu fosse gerente do Teatro Municipal de São Paulo, onde ira acontecer um grande evento de dois dias com a apresentação de um cantor famoso na primeira noite. Um amigo meu fica sabendo desse evento, sabe que sou gerente ali, e me liga pedindo para eu conseguir um ingresso para o evento do Teatro Municipal. Respondo que sim, que já consegui o ingresso para a segunda noite do evento no Teatro. Mas não é isso que meu amigo quer, pois o Teatro Municipal ou qualquer evento ali sem o seu cantor predileto não serve.

Assim deve ser também a expectativa do cristão, não de ser tirado da terra a qualquer momento, não de entrar no céu a qualquer momento, mas de estar com Cristo. Estar com Cristo, porque se Cristo não estiver no céu o que iríamos fazer ali? É a Pessoa de Cristo que esperamos, não algum evento  ou lugar. “O testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19:10). Não é o testemunho do evento do arrebatamento, o testemunho da Igreja, o testemunho da libertação dos judeus, nada disso é o ponto central da minha esperança, mas Jesus, em qualquer que seja o testemunho.

Em toda a Bíblia é Cristo sempre o centro, e a Cristo que os cristãos são congregados quando ao nome do Senhor. Portanto é na expectativa de Cristo que o cristão deve viver, independente se vai levar dez minutos ou dez anos para vê-lo, não importa, pois será no momento em que ele virá nos buscar para com ele subirmos, depois com ele descermos para estabelecer o seu Reino, depois com ele seguirmos por toda a eternidade.

Alguém me perguntou se estaria errado desejar a morte, e respondi que muitos santos na Bíblia desejaram a morte em momentos de grande estresse, mas nem por isso atentaram contra a própria vida. Desejar a morte é um desejo egoísta, é não se interessar em saber a razão de o Senhor querer que estejamos aqui, e qual o serviço ou testemunho que ele tem para nós.

Se nossa expectativa for a morte e ressurreição, ou a transformação de nosso corpo no arrebatamento, porque com isso iremos nos livrar de nossos problemas, dores e aflições terrenas, essa expectativa será demasiadamente rasa, será egocêntrica. Estaremos dizendo: “O importante sou eu, o meu bem estar, a minha vida”. Mas deveríamos dizer como Paulo dizia:

“Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé.” (Fp 1:20-25).

Assim como Paulo, minha expectativa deve que o viver é Cristo e o morrer lucro, ou seja, se meu viver for de alguma utilidade quero viver para Cristo, mas caso contrário quero partir para estar com Cristo, pois isso é ainda melhor.

–– Mario Persona 

Não sou um "Desigrejado". Você que é um Judaizado | JP Padilha


A Bíblia ensina que os Cristãos congregavam no TEMPLO? | Mário Persona



Você indicou um vídeo de um pastor que diz que é um erro cristãos não congregarem em um templo, pois lá em Atos 2:46 diz que eles “perseverando unânimes todos os dias no templo”. Segundo ele, apesar de os primeiros cristãos também serem vistos congregando em casas, eles não faziam da adoração no lar um substituto para a adoração no Templo. Nas palavras desse pastor, "quem não entender isso sofre de algum grau de analfabetismo funcional".

Quem acha que é possível entender a Bíblia com tudo junto e misturado cai em erros assim. Vai achar que, por encontrar os discípulos nos Evangelhos adorando a Deus no Templo, e fazendo isso até nos primeiros dias da história da Igreja, deverá imitá-los. Mas fazer isso é não entender que o Templo de Jerusalém — e não alguma construção católica ou protestante — era o único lugar de adoração autorizado pelo Senhor para Israel.

Os primeiros cristãos continuariam fazendo assim por inércia, até que Paulo recebesse a revelação do que é a Igreja e eles entendessem que o lugar já não seria mais o Templo físico que estava em Jerusalém, mas o Nome do Senhor. Pela doutrina revelada a Paulo entenderiam que havia agora três classes de pessoas no mundo: "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos [gentios], nem à igreja de Deus." (1 Co 10:32).

Mas antes até que essas coisas viessem à luz Jesus já havia anunciado um momento de ruptura com aquela ordem de coisas, quando disse à mulher samaritana: "Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." (Jo 4:21-24).

Essa ruptura seria depois cimentada pela revelação do que é a Igreja, dada inicialmente ao apóstolo Paulo, e também por epístolas como aos Gálatas e Hebreus. Isso além de eventos indicando que devia ser assim, como a permissão de Deus para que os cristãos fossem afugentados de Jerusalém pela perseguição desencadeada com a morte de Estêvão (veja Atos 11:19) e o Templo fosse destruído no ano 70. 

Acredito que falte a esse pastor do vídeo que você indicou o entendimento que me faltaria se eu socorresse um acidentado e tentasse reconstruir seu corpo. Por não ser médico eu acabaria costurando os órgãos no lugar errado, na ordem errada e para cumprirem funções erradas. O resultado seria um corpo bem ao estilo Frankenstein. Assim são as denominações existentes na cristandade, e é assim que muitos de seus ministros tentam explicar a Bíblia, sorteando os versículos que mais lhe agradam.

Paulo instruiu Timóteo assim: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Tm 2:15). A versão de J. N. Darby, se traduzida para o português, ficaria assim: “Esforça-te diligentemente para apresentar-te aprovado a Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, cortando com precisão a palavra da verdade”. Nesta versão a imagem que temos é de um bisturi nas mãos de um hábil médico separando os órgãos corretamente segundo seu lugar, posição e função.

A primeira edição da Bíblia em inglês, publicada em 1535 por iniciativa do Rei Tiago da Inglaterra, ou “King James”, trazia um prefácio de Miles Coverdale que trazia um conselho semelhante: “Será de grande auxílio para entenderes as Escrituras se atentares, não apenas para o que é dito ou escrito, mas de quem e para quem, com que palavras, em que época, onde, com que intenção, em quais circunstâncias, e considerando o que vem antes e o que vem depois”.

Então não se pode querer entender a Bíblia como um saco de versículos que você sacode, mistura, e tira dali uma passagem qualquer para embasar uma doutrina. Como escreveu Coverdale, é preciso saber “de quem e para quem... onde, com que intenção, em quais circunstâncias” aquela passagem apareceu ali.

Quando aprendemos História do Brasil a professora começou falando de Cabral e do descobrimento, e não da Operação Lava-Jato, e isso para não ficar dúvida de que Cabral ela estava falando. Assim também a revelação de Deus foi progressiva e dada em etapas, e até mesmo quando Jesus andou aqui ele deixou claro que não tinha contado a história toda a seus discípulos. Ele disse: “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” (Jo 16:12-14). Disto já dá para perceber a insanidade que é alguém achar que pode entender a Bíblia lendo apenas o que Jesus ensinou nos Evangelhos.

A carta aos Hebreus fala da revelação incompleta recebida pelos profetas do Antigo Testamento: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.” (Hb 1:1). Em alguns casos o próprio entendimento dos profetas era incompleto até para coisas que lhes havia sido reveladas. Eles liam e não entendiam, como aconteceu com Daniel: “Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim.”(Dn 12:8-9). Daniel tinha em mãos uma mensagem criptografada que ele próprio não poderia ler e entender.

Pedro fala de algo parecido: “Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir. Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pe1:10-12).

Quando chegamos em Atos dos Apóstolos encontramos a igreja recém formada, mas não compreendida pelos próprios discípulos sobre os quais o Espírito Santo desceu em línguas como que de fogo. Pedro tem ali uma revelação de que em parte aquilo era semelhante à profecia feita em Joel 2:28. Mas tudo indicava que ele estava se referindo apenas à semelhança, porque não vemos que naquele momento tenham aparecido “prodígios em cima, no céu; e sinais em baixo na terra, sangue, fogo e vapor de fumo”, e nem se converteu o sol em trevas “e a lua em sangue” (At 2:16-20; Jl 2:28-31).

Portanto naquele estágio da revelação de Deus nos primeiros capítulos de Atos nem Pedro sabia muitas coisas, como logo ficaria comprovado no episódio com Cornélio. Ele não fazia ideia de que as chaves que recebera do Senhor nos Evangelhos serviriam para introduzir os gentios e samaritanos, além dos judeus que acabavam de ser acrescentados à Igreja em Atos 2. Enquanto isso Deus estaria preparando um vaso escolhido para receber o que faltava ser revelado dos mistérios de Deus. “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel.” (At 9:15). Paulo depois diria:

“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios; se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; como me foi este mistério manifestado pela revelação, como antes um pouco vos escrevi; por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas; a saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho; do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder. 

A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, a mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus.”
 (Ef 3:1-10).

Percebe agora a razão de não ser possível entender a Bíblia apenas sacudindo um saco de versículos e tirando aquele que bem entender? Existe uma ordem, e o Livro de Atos é exatamente isso, atos ou ações dos apóstolos e da Igreja ao longo de seu período inicial, incluindo falhas e reajustes, como aconteceu no caso da distribuição de alimentos.

No capítulo 2 os primeiros cristãos “estavam juntos, e tinham tudo em comum, e vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister.” (At 2:44:45). Aquilo era uma iniciativa deles, mas não durou porque logo o egoísmo se fez presente: “Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.” (At 6:1). A partir daí os apóstolos precisaram decidir como organizar aquilo, mostrando que eles viviam um tempo de transição. Por isso tomar de um versículo isolado em Atos 2 para afirmar que cristãos devem adorar em um templo é não entender isso.

Para começar, só havia um Templo instituído por Deus e qualquer judeu estava proibido de adorar ou oferecer sacrifícios em outro lugar que não fosse no Templo de Jerusalém. Sinagogas não eram templos e nem lugares de adoração, mas escolas de judaísmo onde os judeus liam e aprendiam as Escrituras. Se os primeiros discípulos ainda frequentavam o Templo de Jerusalém em Atos 2 era por não entenderem o que era a Igreja, e isso porque Paulo precisava antes se converter e receber a revelação do "mistério" para poder explicar. E se encontramos alguns indo às sinagogas depois disso, um leitor atento saberá que iam lá pregar o evangelho aos judeus, e não congregar com os judeus.

Acredito que já deu para você entender a dificuldade daquele pastor em entender a razão de encontrarmos os primeiros cristãos visitando o Templo de Jerusalém. As faculdades de teologia das diferentes vertentes denominacionais preparam seus ministros segundo o "corpo doutrinário", que é a expressão que os pastores usam para a doutrina que caracteriza cada denominação. É esse "corpo doutrinário" que irá definir como deve ser o entendimento da Bíblia naquela instituição religiosa em particular. Quando se tratar de uma instituição que prega obras da Lei, creio que o nome mais adequado para o "corpo doutrinário" seria "cadáver doutrinário", pois a doutrina de Paulo deixa muito claro que a letra da Lei só podia matar, e não dar vida, por isso a chama de "ministério da morte".

"Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra... [Deus] nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória, como não será de maior glória o ministério do Espírito?" (Rm 7:5-6; 2 Co 3:6-8).

Por isso, ainda que diferentes ministros de diferentes denominações possam argumentar que tudo o que está em seu "corpo doutrinário" veio da Bíblia, fica óbvio que cada uma sorteou as passagens que melhor se encaixassem numa doutrina já determinada pelos fundadores ou pelo poder central daquela denominação. O resultado é uma cristandade cheia de monstros doutrinários ao estilo Frankenstein, que inegavelmente foram montados com passagens bíblicas costuradas entre si, mas completamente fora de seu lugar e da função que Deus determinou para elas.

Hoje entendo melhor o que um irmão da Califórnia, que já está com o Senhor, queria dizer quando se referia a algum "Seminário Teológico", ou "Theological Seminary" em inglês, como "Theological Cemetery" ou "Cemitério Teológico". O som do trocadilho funciona melhor no inglês.

–– Mario Persona 

QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?

Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....