TRICOTOMISMO – A ESTRUTURA DO HOMEM SEGUNDO A BÍBLIA | JP Padilha



Ao abrirmos a Bíblia vemos muitos versículos que falam do corpo, da alma e do espírito do homem. Mas a pergunta que não se cala é esta: “Existe diferença entre espírito e alma, ou essas duas partes do ser humano são sinônimos?” É certo que o homem é composto de corpo e alma. Todavia, em certos casos o termo "espírito" é acrescentado em alguns versículos mais concisos da Bíblia. Também sabemos que tanto a alma como o espírito são colocados em contraste ao corpo para significar a parte incorpórea do homem. Existe, porém, uma distinção entre alma e espírito. A alma é empregada para expressar a imortal parcela moral do ser humano, e é usada algumas vezes para significar "pessoa", como no versículo em Gênesis 46.26 que diz: "Todas as almas que vieram com Jacó ao Egito". Também temos outros exemplos, tais como: "Oito almas se salvaram" (1 Pedro 3.20); "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18.4). Jamais vemos a palavra “espírito” sendo usada para designar o pecado do homem, visto que o nosso espírito batalha contra a carne a partir do momento em que nos tornamos cristãos (Gl 5.17).

A palavra hebraica, normalmente traduzida como "alma", é "nephesh". Em muitas passagens ela é traduzida como "vida", como em Jonas 1.14: "...não pereçamos por causa da vida deste homem". No Novo Testamento a mesma palavra grega é usada tanto para alma como para vida: "Porque aquele que quiser salvar a sua 'vida' (ou 'alma') perde‑la‑á, e quem perder a sua 'vida' (ou 'alma') por amor de mim, achá‑la‑á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua 'alma' (ou 'vida')? ou que dará o homem em recompensa da sua 'alma' (ou 'vida')?".

A alma, distinta do espírito, é onde se encontram os apetites e desejos. O homem rico disse: "E direi à minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come, bebe e folga" (Lucas 12.19). Naquela noite sua "alma" foi pedida. A salvação da alma não pode ser separada da salvação da pessoa.

O espírito é distintamente a parte mais elevada do homem. Ele identifica a consciência, a individualidade, e distingue o homem das criaturas inferiores na criação. Deus soprou nas narinas do homem o sopro da vida, e assim o homem foi colocado em um relacionamento com Deus, e não pode ser verdadeiramente feliz separado dEle, tanto na existência presente como eternamente. As mesmas palavras usadas no original hebraico e grego para "espírito" são também as que são usadas constantemente para o Espírito de Deus ou Espírito Santo, sendo também usadas para anjos, no sentido de espíritos, e para os espíritos maus.

A Palavra de Deus é afiada, e capaz de dividir a alma e o espírito de um homem, embora possa não ser fácil para a mente humana perceber esta divisão. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12).

O apóstolo Paulo rogou pelos Tessalonicenses para que tanto o espírito (o qual é provavelmente mostrado como o lugar em que Deus opera), como também a alma e o corpo pudessem ser santificados: “E, agora, que o Deus da paz os torne santos em todos os aspectos, e que o espírito, a alma e o corpo de vocês sejam mantidos irrepreensíveis até a volta de nosso Senhor Jesus Cristo. Aquele que os chama fará isso acontecer, pois ele é fiel (1 Tessalonicenses 5.23-24).

Na epístola aos Hebreus lemos dos "espíritos" dos justos aperfeiçoados; seu lugar é com Deus por meio da redenção. A palavra ali significa, aparentemente, a pessoa separada do seu corpo.

Havendo o cristão recebido o Espírito Santo como uma fonte de vida em Cristo, ele é exortado a orar com o espírito, cantar com o espírito (1Co 14.15) e andar no Espírito (Gl 5.16), de forma que em alguns casos torna‑se difícil distinguir entre o Espírito de Deus e o espírito do cristão.

A propósito, 1 Coríntios 14.15 é mais uma base bíblica para a tricotomia humana: “Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente (ou alma); cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente (ou alma)”.

– JP Padilha
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Devemos obedecer aos "pastores"? | Mario Persona



Sua terceira pergunta é acerca de obedecer à autoridade e faz referência a Hebreus 13.17. Mas eu pergunto: o que é um pastor? Alguém mais apressado poderia responder que se trata de um homem que estuda em uma faculdade de teologia, tira um diploma e é ordenado por uma determinada igreja ou denominação, recebendo assim uma congregação para pastorear, onde ele será o líder e os demais serão os membros. De certa maneira, a mesma resposta poderia descrever tanto um pastor protestante como um padre católico. Mas será que encontramos isso nas Escrituras?

Pastor é um dom dado pelo próprio Senhor (Efésios 4.11). Nenhuma escola, homens, ou organização, pode fazer de alguém um pastor segundo a Bíblia. É um dom como é o evangelista e o mestre (ou doutor). Vemos a ordem dos dons claramente indicada em Atos 11 onde os evangelistas pregam o evangelho (vers.19‑20), pessoas crêem (vers. 21), recebem um irmão com o dom de pastor (vers. 22‑24) que os reúne como faz o pastor às ovelhas, cuidando delas e exortando‑as a permanecerem unidas ao Pastor que é Cristo. Vem, então, a necessidade de alimento mais sólido para aquelas almas e Paulo (além do próprio Barnabé) vai exercer o dom de mestre ou doutor (vers. 25‑26) ensinando‑os.

Portanto, o pastor que a Bíblia manda que obedeçamos não é uma pessoa que ocupa um cargo ordenado por homens, mas um homem que tem um dom dado por Cristo. Se me faço membro de uma denominação, evidentemente terei que obedecer aquele homem que foi colocado pela denominação como autoridade. Mas a partir do momento que compreendo que todo o sistema está errado, e me aparto dele obedecendo 2 Timóteo 2.19, para me reunir somente ao nome do Senhor, irei reconhecer que há irmãos dotados pelo Senhor (que não levam sobre si títulos) mas que demonstram ter um cuidado especial pelo rebanho. Devo então obedecê-los nos moldes de Hebreus 13.17, porque são irmãos que o próprio Senhor colocou para cuidarem do rebanho.

– Mario Persona
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A DOUTRINA ACERCA DA SALVAÇÃO | Marcos Granconato



“Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo da tua paz”. – Agostinho de Hipona, Confissões X:27

INTRODUÇÃO

No anseio de cumprir a ordem de Jesus de evangelizar o mundo inteiro, os cristãos frequentemente falam sobre a salvação em suas conversas com os não crentes. Isso, às vezes, gera certa confusão, pois os incrédulos não entendem o que significa a afirmação de que o pecador precisa ser salvo. Por isso, é preciso que o discípulo de Jesus tenha em mente noções bem claras acerca da soteriologia bíblica, caso queira falar de forma mais eficaz acerca das boas-novas que deve proclamar.

Basicamente, salvação é o livramento da punição eterna do pecado (no momento em que se crê em Cristo), do poder escravizante do pecado (na medida em que o cristão cresce em santidade) e da presença maligna do pecado (quando o homem redimido estiver enfim com o Senhor). Esse livramento só é obtido pela fé em Cristo como o Filho de Deus que morreu pelos pecados da humanidade, mas ressuscitou dentre os mortos para justificação de todo o que crê (Jo 3.16; Rm 4.25).

A salvação, em sua plena consumação, abrange a alma do crente que é levada ao céu quando chega a morte (At 7.59; Fp 1.23) e o seu corpo que será revestido de incorruptibilidade ao tempo da ressurreição ou do arrebatamento da igreja (1Co 15.51-55; 2Co 5.1-8; 1Ts 4.16-17).

Neste capítulo serão brevemente expostos os diferentes aspectos que compõem a doutrina da salvação, conforme apresentada na Bíblia.

A PREDESTINAÇÃO

Os verbos “predestinar” e “predeterminar” traduzem a palavra grega proorízo. Predestinar é destinar de antemão e se trata de uma ação de Deus que abrange todos os eventos (At 4.27-28). No campo da soteriologia, a Bíblia afirma que Deus predestinou os crentes para serem conforme a imagem de seu Filho e que o resultado final disso será a glorificação deles (Rm 8.29-30).

Deus também predestinou os crentes para a adoção de filhos. Isso teve como única causa a livre escolha do Senhor, realizada segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.5,11).

O propósito último da predestinação dos crentes é o louvor da gloriosa graça de Deus (Ef 1.6).

A ELEIÇÃO

A eleição (Gr. eklogé / eleitos, Gr. eklektoí) diz respeito ao ato livre e soberano de Deus de escolher aqueles que, sem mérito algum, serão alvos efetivos da sua graça salvadora (Rm 9.14-24; 11.3-8).

O ato divino de eleger os que seriam salvos ocorreu na eternidade, antes da fundação do mundo (Ef 1.4), e foi realizado conforme a graça e a livre determinação do Senhor (2Tm 1.9; 1Pe 1.1-2), e não de acordo com qualquer fator positivo que ele, porventura, tenha visto previamente no homem (Rm 9.11,16; 11.5-6). De fato, a eleição não busca homens dignos, mas sim produz homens dignos (Cl 1.12), fazendo deles veículos de bênçãos (Mc 13.20) e protegendo-os do engano (Mt 24.24).

O Novo Testamento enfatiza que não há nenhuma injustiça da parte de Deus em seu ato de eleger quem ele quer para a salvação (Rm 9.13-20).

Ao contrário do que dizem, a eleição não desestimula o evangelismo. Em vez disso, essa doutrina encoraja a pregação da fé (At 18.9-10), uma vez que afirma que os eleitos, cedo ou tarde, atenderão à mensagem das boas-novas (Jo 10.16; At 13.48; 1Ts 1.4-5; 2Ts 2.13-14) e que os escolhidos que estão dispersos serão, com certeza, reunidos num só corpo, cumprindo enfim o plano infalível de Deus (Mt 24.31; Jo 11.51-52).

A AQUISIÇÃO

Deus comprou (Gr. agorázo) ou adquiriu (Gr. peripoiéo) o crente para si e o preço que pagou foi o sangue de seu próprio Filho. Como um escravo que foi adquirido por precioso valor, o cristão agora pertence a Cristo, sendo servo dele para sempre (At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; Ap 5.9).

A LIBERTAÇÃO

De acordo com Gálatas 3.10-11, todas as pessoas estão debaixo da maldição da lei, sendo consideradas condenáveis diante de Deus em virtude de sua transgressão. O crente, porém, foi liberto (Gr. vb. exagorázo) dessa maldição, pois Cristo o substituiu na cruz, fazendo-se, ele próprio, maldição em lugar do pecador (Gl 3.13).

Cristo também libertou o crente do fardo da Lei a fim de que o homem salvo não viva como um escravo oprimido, mas desfrute do status de filho de Deus por adoção (Gl 4.5-6).

A REDENÇÃO

No conceito de redenção (Gr. lytrosis – Hb 9.12 / apolytrosis – Rm 3.24; Ef 1.7) está embutida a ideia de livrar por meio do pagamento de um resgate (Gr. lytron – Mt 20.28). Por meio do pagamento realizado por Cristo na cruz, os crentes foram resgatados (Gr. vb. lytróo) da iniquidade (Tt 2.14) e da maneira vazia de viver (1Pe 1.18).

A redenção do crente tem também um aspecto futuro, adquirindo o sentido de livramento da presente realidade marcada pelo pecado e seus efeitos (Rm 8.23; Ef 1.14; 4.30).

A VOCAÇÃO

A vocação (Gr. klesis / aquele que é chamado, Gr. kletós, vb. kaléo) de que se trata aqui é o chamado especial que o Senhor dirige unicamente aos eleitos (Rm 1.6; 8.28,30; 1Co 7.17-24; Ef 4.1,4; Cl 3.15; Hb 3.1). Trata-se de um convite diferente do chamado geral, dirigido a todas as pessoas (Mt 11.28; 22.14), uma vez que a vocação salvífica é eficaz e sempre conduz o eleito a Cristo (1Tm 6.12; Jd 1). Essa vocação especial é baseada unicamente na graça de Deus, sem que o homem chamado tenha mérito algum (2Tm 1.9).

A resposta positiva à vocação salvífica é garantida porque esse chamado, uma vez que é dirigido somente aos eleitos, é acompanhado pela obra de convencimento do Espírito Santo que, com paciência e docilidade, atua no coração do indivíduo até que ele entenda e aceite a mensagem cristã (At 16.14).

Frise-se que essa obra eficaz de vocação e convencimento não é realizada em cada ser humano (Rm 11.4; 1Co 1.23-26), do contrário todos os homens seriam salvos, hipótese que, como é sabido, jamais se cumprirá (Mt 25.46; 2Ts 1.9).

Assim, conforme dito, somente os eleitos são objeto do chamado gracioso (Rm 8.28-30; 2Ts 2.13-14). Estes, ainda que possam resistir à ação de Deus em sua vida durante algum tempo, no fim fatalmente se rendem à voz de Cristo e, ansiando por ele, curvam-se aos seus pés cheios de fé, arrependimento e gratidão (Jo 10.16). Os demais, porém, são deixados na incredulidade ou punidos com endurecimento ainda maior (Is 63.17; Jo 12.37-40; Rm 1.24-28; 9.17-18; 11.7-10; 2Ts 2.11).

O chamado eficaz é necessário porque, segundo a Bíblia, nenhuma pessoa pode se voltar para Deus ou para Cristo sem que primeiro o Senhor realize nela uma obra sobrenatural, inclinando-a para a verdade, para a obediência e para a fé (Lm 5.21; Ez 36.25-27; Jo 6.44,65; Fp 2.13).

Deve-se ainda notar que a vocação salvífica se constitui na prova de que a salvação de um indivíduo depende primariamente da vontade e da ação de Deus (Mt 11.27; Jo 1.13; 5.21; Tg 1.18). A salvação pertence a ele (Jn 2.9) e sem a sua iniciativa ninguém poderá ser liberto da incredulidade (Jo 6.37; Ef 2.8).

O PERDÃO

Na esfera da soteriologia, perdoar (Gr. charízomai / perdão, Gr. áfesis, vb. afíemi) é o ato de Deus que consiste em cancelar toda a dívida que o pecador tem com ele (Cl 2.13), deixando-o livre para prosseguir, sem qualquer cobrança (Veja-se uma ilustração disso em Mateus 18.23-27).

Esse perdão salvífico é único e ocorre ao tempo da conversão (At 10.43). Nesse aspecto, é diferente do perdão que, diversas vezes ao longo da jornada cristã, Deus concede ao crente que confessa seus pecados (1Jo 1.9).

O perdão salvador de Deus só é possível porque Cristo sofreu as consequências do pecado (Ef 1.7; 4.32).

A JUSTIFICAÇÃO

Justificar (Gr. dikaióo) é declarar justo ou livre de culpa e de castigo. Assim, a justificação (Gr. dikaíosis) é o ato judicial de Deus, baseado na obra de Cristo, mediante o qual ele atribui justiça ao homem que deposita sua confiança em Jesus, livrando-o da condenação decorrente da culpa do pecado (At 13.38-39; Rm 3.21-24; 5.1; 8.1,30,33-34; Fp 3.9; Tt 3.5-7).

Obviamente, a justificação abrange o perdão (Rm 4.6-8), mas vai além desse conceito, pois não somente cancela os pecados do homem que crê, mas também atribui a ele a justiça de Cristo realizada na cruz (Rm 5.18; 2Co 5.21).

A justificação é imediata, ou seja, ocorre no exato momento em que o homem passa a ter fé em Cristo (Rm 4.5).

A RECONCILIAÇÃO

Reconciliação (Gr. katallagé, vb. katallásso) é o restabelecimento da paz entre Deus e o homem. Por causa do pecado, o relacionamento entre ambos foi rompido (Is 59.2; Tg 4.4). Cristo, porém, sofreu em seu corpo, pela morte, as consequências dessa inimizade (Cl 1.21-22 – aqui consta o verbo apokathístemi, restaurar). Agora, quem crê nele é reconciliado com Deus, sendo salvo da sua ira (Jo 3.36; Rm 5.9-11). Assim, a reconciliação ocorre por meio de Cristo e abrange o perdão dos pecados (2Co 5.18-19).

A mensagem que anuncia a disposição de Deus em reconciliar o homem consigo, mediante Jesus, é o cerne das boas-novas pregadas pelos apóstolos, sendo essa a mensagem que faz do evangelista um embaixador de Deus (2Co 5.20).

A reconciliação que ocorre no momento da conversão é única e definitiva. Porém, há um aspecto da reconciliação que é mais dinâmico e que envolve repetição. Trata-se das situações em que o crente vê seu relacionamento com Deus ser abalado por causa do pecado pessoal. Nesses momentos a orientação bíblica é que o cristão busque, pelo arrependimento e obediência, a restauração da comunhão que foi rompida (2Co 5.20).

A ADOÇÃO

O termo “adoção” (Gr. huiothesía) é usado para descrever a posição que o crente ocupa diante de Deus, desfrutando dos direitos e privilégios de filho.

Por causa da adoção, o cristão deixa de ser como um escravo que vive debaixo do medo e começa a participar de um relacionamento com o Senhor marcado por intimidade e segurança (Rm 8.15; Gl 4.5-6). Também pela adoção, o homem se vê livre do jugo escravizante da lei e entra para a condição de herdeiro de Deus (Rm 8.17; Gl 4.7).

A adoção é garantida na predestinação feita pelo Pai (Ef 1.5), é efetivada na conversão ao Filho (Jo 1.12) e é testificada no coração pelo Espírito (Rm 8.16).

A REGENERAÇÃO

Basicamente, regenerar (Gr. anagennáo / regeneração, Gr. palingenesia,) significa gerar de novo. Não se trata, portanto, de uma mera reforma na vida de alguém, mas sim de um novo nascimento que ocorre na esfera espiritual (Jo 3.3-6; 1Pe 1.3,23; 1Jo 3.9) e cuja origem está em Deus.

Conforme o ensino de Jesus, ser regenerado é nascer “da água e do Espírito” (Jo 3.5). Essa expressão evoca a Nova Aliança mencionada em Ezequiel 36.25-27. Dessa passagem se depreende que nascer “da água e do Espírito” é ser purificado dos pecados e habitado pelo Espírito Santo (Tt 3.5-6).

Note-se que a regeneração é um ato soberano de Deus. É somente por sua vontade e poder que alguém nasce de novo (Jo 1.13; Tg 1.18). Aliás, a palavra traduzida como “de novo” em João 3.3 (Gr. ánothen), também significa “do alto”, indicando que a causa primária da regeneração é celeste e não terrena.

A VIVIFICAÇÃO

A Bíblia ensina que o homem incrédulo está morto em meio a delitos e pecados. Ocorrendo, porém, a fé em Cristo, o pecador é ressuscitado, recebendo vida espiritual (Ef 2.1,5) e perdão (Cl 2.13).

Ao ser vivificado (Gr. vb. syzoopoiéo, ser vivificado com), o crente é, de certa maneira, elevado à esfera celeste, onde desfruta de privilégios e bênçãos em sua nova associação com o Cristo ressurreto (Ef 1.3; 2.6).

A RECRIAÇÃO

O cristão é o prenúncio presente da nova criação futura (Ap 21.5). De fato, a Bíblia diz que quem está em Cristo é parte da nova criação (Gr. kainé ktísis) de Deus. O efeito disso é que o homem assim recriado abandona concepções e cosmovisões mundanas (1Co 2.16; 2Co 5.16-17) e, na prática, se vê comprometido com as boas obras, assim definidas segundo os padrões de Deus (Ef 2.10; 4.23-24).

Nessa recriação, a imagem de Deus no homem, que foi pervertida pelo pecado desde o Éden, entra num processo dinâmico e glorioso de restauração (2Co 3.18; Cl 3.10).

A PRESERVAÇÃO

A doutrina da preservação é também conhecida como doutrina da perseverança dos santos. Grosso modo, essa doutrina ensina que aqueles que Deus escolheu por sua graça jamais poderão perder a salvação, ainda que estejam sujeitos a quedas e até a desvios temporários.

Uma das bases para essa doutrina está na afirmação de que a salvação abrange uma sequência de ações de Deus que começa na eternidade passada e se conclui com a glorificação perene no futuro (Rm 8.29-30). Considerando a soberania e o poder de Deus, essa sequência não pode ser frustrada ou interrompida.

De fato, no texto de Romanos 8.29-30, vê-se que a corrente da salvação mostra seu elo inicial quando Deus conhece de antemão e predestina aqueles a quem decide alcançar. Em seguida, ele chama e justifica essas pessoas, glorificando-as finalmente.

Evidentemente, não há como quebrar esse processo, estando a salvação garantida, inclusive, pelo selo do Espírito que é o penhor da herança eterna (Ef 1.13-14).

Ademais, é absurdo conceber o Deus da Bíblia como um ser incapaz, que predestina alguém para salvar, chama-o e o justifica, mas no fim não consegue glorificá-lo. Aliás, indo precisamente contra essa ideia, a Bíblia afirma que é pelo poder de Deus que os crentes são guardados para a salvação (Jo 10.28-29; 1Ts 5.23-24; 1Pe 1.5; 5.10; Jd 24-25).

Outra base para a doutrina da preservação está no conceito de novo nascimento. Jesus ensinou que o homem salvo é aquele que nasceu de novo pela fé nele, podendo agora ver o reino celeste (Jo 3.3). Sabe-se também que quem nasce de novo se torna filho de Deus (Jo 1.12-13; 1Jo 5.1). Evidentemente, para perder essas bênçãos, o crente teria que “desnascer”. E mais: se quisesse recuperá-las teria de nascer de novo de novo! Ora, essas possibilidades não existem nas Escrituras. Nascer de novo ou ser regenerado, tornando-se filho de Deus, é experiência única e, infalivelmente, resulta na salvação do crente (Gl 3.26-29).

A doutrina da preservação dos santos também se sustenta na afirmação de que a salvação não pode ser anulada pelo pecado individual do crente. Em 1Coríntios 5.1-5, Paulo fala de um crente que tinha envolvimento sexual com a mulher do próprio pai. Era um pecado tão grave que ele diz não ser comum nem mesmo entre os pagãos (v.1), devendo esse homem ser “entregue a Satanás” (v.5), o que significa ser expulso da igreja (v.13). Isso, porém, não fez com que aquele homem perdesse a salvação. Na verdade, Paulo diz que a disciplina poderia trazer a destruição do corpo, mas que o espírito daquele homem seria salvo (v.5). Ademais, em 1João 2.1, é ensinado que se algum crente pecar, isso não gera sua condenação eterna, mas sim sua defesa, feita por um “Advogado junto ao Pai: Jesus Cristo, o justo”.

Finalmente, é importante observar que a segurança do homem salvo é testificada pelo próprio Espírito Santo em seu interior (Rm 8.15-16).

Outros textos que falam da segurança do crente são os seguintes: João 6.37-40; Romanos 5.8-10; 8.33-39; 1Coríntios 1.7-8; 3.15; Efésios 4.30; Filipenses 1.6 e Hebreus 7.25.

ATENÇÃO!
A salvação não pode ser atribuída a pessoas que professaram temporariamente a fé. Várias passagens bíblicas falam de pessoas que, participando da comunhão dos crentes, testemunharam e até experimentaram bênçãos maravilhosas, caindo, em seguida, na apostasia completa e definitiva (Hb 6.4-6). Não é correto, porém, dizer que essas pessoas perderam a salvação. Na verdade, elas NUNCA foram salvas (1Jo 2.19). Isso é evidente porque na Parábola do Semeador Jesus ensinou que a prova da fé salvadora é a perseverança (Mt 13.1-23). Quem não persevera NUNCA foi de fato salvo (1Ts 5.23-24; Hb 10.39; 1Pe 5.10; 1Jo 5.4-5).

A SANTIFICAÇÃO

Basicamente, santificação (Gr. hagiasmós) é a separação de algo por Deus para o seu uso. Quando relacionada à salvação do homem, a santificação pode ser posicional e experimental.

Santificação posicional: É a fase instantânea da santificação que tem lugar no momento em que a pessoa aceita Cristo como Salvador (1Co 6.11). Nesse instante, o homem passa a ocupar o status de santo diante de Deus, ou seja, é considerado separado para pertencer a ele e para servi-lo.

Santificação experimental: É a fase progressiva da santificação (Rm 6.19,22; 2Co 7.1; 1Ts 4.3-7; Hb 12.14). Começa no momento da conversão e segue se desenvolvendo até o dia da glorificação (Fp 1.6). O texto de 2Coríntios 3.18 diz que o cristão é transformado de um grau de glória em outro, sendo aperfeiçoado em santidade.

A GLORIFICAÇÃO

A glorificação (Gr. vb. doxázo) diz respeito à consumação da salvação do crente (Rm 8.17-18,21,30; 1Pe 5.4). Na glorificação o salvo entra para um estado de total livramento do pecado e dos seus efeitos, passando a habitar com o Senhor para sempre (Cl 3.4; 1Jo 3.2).

Essa fase abrange não somente a entrada da alma no céu (Lc 23.43; At 7.59; Fp 1.22-23), mas também, em sua realização completa, na ressurreição, o recebimento de um corpo transformado, totalmente livre de corrupção e sobre o qual a morte não tem poder (Rm 8.23; 1Co 15.42-43,51-54; 2Co 5.1-4).

O ambiente definitivo em que a glorificação será desfrutada é a nova terra que o Senhor há de criar (Ap 21.1-4).

COMO SER SALVO

A salvação ocorre pela fé em Cristo (Jo 3.16-18; Rm 1.16-17; Ef 2.8-9). Essa fé é precedida pela pregação, é acompanhada pelo arrependimento e é seguida de perseverança e frutos. Se não for assim, será uma fé falsa e logo deixará de existir.

Base bíblica para a pregação como fator que precede a fé: Lucas 16.31; João 17.20; Romanos 10.13-17; 1Coríntios 1.21; Efésios 1.13; 2Timóteo 3.14-15; Tiago 1.18,21; 1Pedro 1.23.

Base bíblica para o arrependimento como fator que acompanha a fé: Mateus 21.28-32; Marcos 1.15; Atos 2.37-41; 3.19; 11.18.

Base bíblica para a perseverança e os frutos como fatores que decorrem da fé: 1Tessalonicenses 1.3-10; Hebreus 10.39; 1Pedro 1.5; 1João 5.4-5.

A fé salvadora é a aceitação de Cristo conforme ele é apresentado nas Escrituras (Jo 1.12; At 8.37; 1Jo 5.10-12), isto é, como o Filho de Deus que veio ao mundo para morrer pelos pecados, tendo depois ressuscitado dentre os mortos (Rm 10.9; 1Co 15.3-4). Essa fé implica o abandono de qualquer outro caminho para ser salvo e a dependência plena e exclusiva da obra completa de Cristo (At 4.12; Gl 2.16; Fp 3.7-9).

A fé mediante a qual alguém é salvo tem origem sobrenatural (Ef 2.8; Fp 1.29; Hb 12.2) e, por isso, perdura e frutifica. Essa é a fé dos eleitos (Tt 1.1).

Quando a fé é apenas uma anuência intelectual ou uma reação emocional, ela se mostra improdutiva e logo desaparece (Mt 13.20-22). Essa é a fé morta que nada produz, pouco perdura e a ninguém salva (Jo 2.23-25; 12.42-43; Tg 2.14,17,26).

CUIDADO! VENENO!

Arminianismo
: O ensino bíblico que afirma que o crente não perde a salvação é chamado tecnicamente de doutrina da perseverança dos santos. Trata-se de um dos temas principais defendidos pela teologia reformada. Dentro do protestantismo, a vertente que se opõe à doutrina da perseverança dos santos é o arminianismo, sistema idealizado pelo teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609). Entre outras coisas, o arminianismo nega a fórmula “uma vez salvo, salvo para sempre”. Ainda que esse modelo tenha sido condenado pelo Sínodo de Dort (1618-1619), muitas igrejas evangélicas modernas o adotam, sendo possível encontrar seus expoentes entre batistas (eventualmente), assembleianos (principalmente) e presbiterianos (surpreendentemente). O perigo do arminianismo, considerado sob esse aspecto, é que faz a segurança do crente depender de seu esforço próprio. No final das contas, a salvação acaba sendo devida à dedicação e empenho do homem em vez de ser pela fé somente. Na prática, as igrejas que ensinam a perda da salvação exigem que o crente desviado conserte sua vida e volte para a igreja se quiser ser “salvo de novo”. A implicação lógica é que, de acordo com essa concepção, a “segunda” (ou terceira, ou quarta!) salvação ocorre pelas obras, ainda que os arminianos nem sempre estejam dispostos a assumir essa conclusão.

Catolicismo Romano: Enquanto o Novo Testamento ensina que a justiça de Deus é imputada ao homem no momento em que ele crê em Cristo (justiça imputada ou atribuída – Rm 5.1), o romanismo ensina que a justiça de Deus é infundida na pessoa aos poucos, na medida em que ela obedece aos ensinos da igreja católica (justiça infusa). Assim, na doutrina papista, o indivíduo só descobre se foi justificado quando comparecer diante de Deus e o Senhor avaliar se, ao longo da vida, aquela pessoa acumulou a justiça necessária para desfrutar da visão beatífica. Os católicos creem que a fé em Cristo abrange a adesão completa aos ensinos e regras da igreja. É precisamente a adesão a isso tudo que tornará um homem justificado ou não. Se ocorrer da obediência de alguém não ser suficiente para a sua entrada no reino do céu, ele será enviado ao purgatório, a fim de passar por um castigo temporário e, uma vez purificado, obter a justiça que falta para a sua salvação. De acordo com a doutrina romanista, rezas, missas e obras de penitência em favor dos mortos auxiliam a reduzir o tempo no purgatório. Não há nada na Escritura que ensine essas coisas, mas os romanistas não se incomodam com isso, posto que consideram sua tradição no mesmo pé de igualdade que a Bíblia em termos de autoridade.

Sinergismo: O termo sinergismo vem do grego e denota a ideia de trabalho conjunto. Os sinergistas creem, assim, que a salvação do pecador é obra de Deus, mas que o homem coopera com ele, fazendo sua parte. Os arminianos são considerados sinergistas, pois acreditam que o ser humano trabalha em conjunto com Deus para ser salvo na medida em que decide, de si mesmo, depositar sua fé em Cristo e perseverar nos caminhos dele. Porém, de um modo geral, qualquer crença que afirma que o indivíduo precisa “fazer sua parte” para ser salvo pode ser considerada uma crença sinergista. O oposto do sinergismo é o monergismo, proposto pela teologia reformada ou calvinista. Essa concepção ensina que somente o Senhor opera na salvação do homem. Para os monergistas, mesmo a fé e a perseverança do crente são obras de Deus na vida de seus eleitos.

Universalismo: O universalismo entende que, ao final, todos serão salvos. Alguns universalistas ensinam que isso será precedido por um período de juízo aplicado aos maus, mas que de forma nenhuma esse juízo será eterno. O primeiro teólogo de destaque a divulgar ideias universalistas foi Orígenes de Alexandria (c. 185-253). Segundo ele, toda a realidade criada, inclusive a angélica, caminha no rumo da apocatástase, ou seja, da plena reconciliação com Deus por meio de Cristo. Karl Rahner, John A. T. Robinson e John Hick são os proponentes mais destacados do universalismo atual. O “inclusivismo soteriológico”, como o universalismo é também chamado, encontra apoio na teologia do processo, no teísmo aberto e em outras vertentes do cristianismo tanto protestante quanto católico romano.

Aniquilacionismo: De acordo com essa visão, não existe nenhuma dimensão além e, depois da morte, o homem simplesmente apodrece. Ligada a essa concepção, mas com contornos menos radicais, está o condicionalismo ou a doutrina da imortalidade condicional, segundo a qual a imortalidade é uma dádiva de Deus concedida a todos os homens, mas só poderão retê-la aqueles que preencherem a condição de crer em Cristo. Assim, para os condicionalistas, os que rejeitam o Salvador serão aniquilados, caindo na inexistência completa. Os condicionalistas geralmente aceitam a possibilidade de um período indefinido de sofrimento no inferno, antes da total aniquilação do ímpio. A noção de um inferno eterno e literal, porém, de acordo com essa concepção, deve ser recusada, pois, segundo entendem, essa ideia não se harmoniza com o conceito de um Deus justo que vencerá definitivamente o mal.

Espiritismo: Para os espíritas a salvação é o livramento do espírito humano da realidade material em que está preso. Esse livramento ocorre por meio do processo de reencarnação, pelo qual o espírito evolui passando por vários ciclos de existência no plano material. A aceleração desse processo de livramento ocorre por meio de boas obras. O ensino acerca do pecado e da morte expiatória de Cristo, bem como as doutrinas da salvação pela fé, da ressurreição dos mortos, do reino celeste e do inferno, não fazem nenhum sentido dentro da concepção espírita, não havendo qualquer ponto de semelhança entre esse modelo religioso e o cristianismo bíblico.

– Marcos Granconato | Pequeno Manual de Doutrinas Básicas – 5ª edição (antiga)
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CAPÍTULO 10 – A DOUTRINA ACERCA DAS ÚLTIMAS COISAS (Escatologia)



“A Deus, o arquiteto das eras, lhe pareceu bem fazer-nos participantes de confiança do seu plano para o futuro, e revelou seu propósito e seu programa com detalhes na Palavra”. – J. Dwight Pentecost, Prefácio de Things to come

INTRODUÇÃO

Muitos crentes ficam confusos acerca dos eventos que Deus determinou que tomassem lugar no futuro. Isso não é sem motivo. Com efeito, a Bíblia apresenta certa obscuridade no tocante a essas questões, o que fez com que surgissem posições escatológicas distintas mesmo entre os teólogos mais sérios e zelosos.

Ainda assim, é inegável que existem certos elementos que claramente compõem o quadro bíblico escatológico, sendo aceitos pela maior parte dos estudiosos da Palavra como eventos preditos na Bíblia. É verdade que os estudiosos nem sempre estão de acordo quanto à ordem cronológica que esses eventos irão seguir. Porém, mesmo em meio a essa divergência, é perfeitamente possível delinear os contornos de uma escatologia bíblica saudável, nutrindo a firme esperança de um final glorioso para a história, no qual Deus reinará absoluto e será “tudo em todos” (1Co 15.28).

Neste capítulo serão expostos os eventos principais que a Bíblia aponta como componentes do plano de Deus para o futuro. Esses eventos estão dispostos aqui na ordem em que ocorrerão, segundo a posição teológica adotada neste livro (premilenismo pretribulacionista).

O ARREBATAMENTO DA IGREJA

O arrebatamento é o primeiro de uma série de eventos que tomarão lugar na história como cumprimento de predições bíblicas. O texto clássico que trata desse assunto é 1Tessalonicenses 4.13-18. Segundo esse texto, o arrebatamento da igreja acontecerá da seguinte forma:

Os mortos em Cristo: Os crentes em Jesus que já morreram ressuscitarão e subirão ao céu com corpos glorificados (1Co 15.20-23; 1Ts 4.16). É bom destacar que as almas dos crentes que morrem vão imediatamente para o céu (Lc 16.22-23; 23.41-43; 2 Co 5.6-8; Fp 1.23). Seus corpos, contudo, jazem sem vida na sepultura e, afinal, se desfazem. Por ocasião do arrebatamento, porém, os corpos dos crentes mortos serão vivificados outra vez (Jó 19.25-27) e eles serão arrebatados para estar para sempre com Cristo.

Os crentes vivos: Logo após a ressurreição dos crentes em Jesus que já morreram, os crentes que estiverem vivos subirão juntamente com eles para o encontro com o Senhor nos ares (1Ts 4.17). Eles também terão seus corpos glorificados (1Co 15.50-54; 2Co 5.1-5).

Após isso tudo, a igreja comparecerá diante do Tribunal de Cristo (Rm 14.10; 1Co 3.10-15; 2Co 5.10) para, finalmente, receber os galardões (Lc 14.14; 1Co 4.5; 2Tm 4.8; Ap 22.12).

IMPORTANTE!
COMO SERÁ O CORPO RESSURRETO? – O corpo da ressurreição será o mesmo corpo atual, composto de carne e ossos (Jó 19.26-27; Lc 24.39). Prova disso é que Jesus ressuscitou no mesmo corpo que tinha quando foi sepultado (Mc 16.6; Lc 24.2-3; Jo 20.3-8) e a ressurreição dos crentes será semelhante à sua ressurreição (1Co 15.20,23,49). A diferença entre o corpo atual e o ressurreto é que este último não poderá se deteriorar nem morrer (Lc 20.35-36; 1Co 15.42). Esse é o significado da palavra “incorruptibilidade” presente em algumas traduções da Bíblia (1Co 15.53-54). Quanto à aparência desse corpo, será a mesma que a atual. Nesse sentido, deve-se lembrar que o Cristo ressurreto só não foi reconhecido imediatamente por alguns discípulos porque o Senhor lhes fechou os olhos (Lc 24.15-16). Acerca da idade que o corpo da ressurreição aparentará, a Bíblia não dá nenhuma informação.

OBSERVAÇÃO: O autor desta publicação do livro em PDF discorda que a Bíblia não tenha informações de como serão os corpos dos crentes ressurretos no arrebatamento aos céus. Vamos entender melhor isso. Em primeiro lugar, a Bíblia diz que todos os salvos ressuscitarão à semelhança de Jesus (Gn 5.1; Rm 6.5-6), isto é, em um corpo humano. Provavelmente nossos corpos aparentarão o corpo de Jesus, que morreu na idade de seu completo desenvolvimento biológico, o que se dá por volta dos 30 anos. Em segundo lugar, Deus criou Adão adulto. Portanto, as crianças também ressuscitarão com o corpo de um adulto e não serão transformadas em "anjinhos barrocos". É um grande erro dizer que crianças que morreram foram transformadas em "anjinhos" ou "estrelinhas". Esse tipo de pensamento espúrio relega o ser humano a uma condição inferior àquela que Cristo tem reservada para Ele.

No seu livro “Acontecimentos Proféticos”, Bruce Anstey explica o seguinte: “Os santos celestiais serão como o Senhor no aspecto moral (1Jo 3.2) e também fisicamente (Fp 3.21). Assim como o Senhor estará no "orvalho de Tua mocidade", eles também serão restaurados à primavera da vida (Sl 110.3). Os santos idosos, cujas faculdades físicas e mentais estiverem arruinadas, serão todos restaurados à força e ao vigor de seus corpos ressuscitados. Nunca mais verão corrupção (1Co 15.42-57; 2Co 5.1-4). Do mesmo modo como foram feitos à semelhança do Senhor moral e fisicamente, os santos celestiais terão as capacidades de seus corpos glorificados imensamente incrementadas. Estarão aptos a visitar a terra, subindo e descendo por toda ela em um instante (Lc 24.30-35), e passarão através de objetos sólidos como paredes, etc. (Lc 24.36-43; Jo 20.19-29). Porém, não terão os atributos de onisciência, onipresença ou onipotência, os quais pertencem somente a Deus”. Para mais informações sobre isso e também sobre todo o aspecto escatológico, recomendo o livro “Acontecimentos Proféticos”, de Bruce Anstey. Este livro pode ser encontrado de graça no formato PDF e em vários outros, como também pode ser comprado no formato impresso. – JP Padilha

A GRANDE TRIBULAÇÃO

Logo após o arrebatamento da Igreja, começará a “grande tribulação” ou a “septuagésima semana de Daniel”, o período de “angústia para Jacó” (Jr 30.7). Jesus falou sobre a grande tribulação em Mateus 24.4-30, dizendo que será um período de muita aflição, engano e apostasia que precederá imediatamente a sua vinda.

A Bíblia também ensina que a grande tribulação vai durar sete anos (Dn 9.27), sendo três anos e meio de falsa paz (1Ts 5.2-3) e três anos e meio de dores (Dn 7.25; 12.1,7,11; Ap 11.2-3; 12.6,14; 13.5). É por esse tempo que o anticristo estará atuando de maneira poderosa sobre toda a terra (Dn 7.7-8,11,19-27; Mt 24.15; 2Ts 2.3-12; Ap 13.1-8).

Mesmo sendo um tempo de engano, opressão e sofrimento, a graça salvadora de Deus será atuante durante a grande tribulação. De fato, a oposição severa do anticristo não impedirá que multidões se convertam e recebam a redenção que Cristo oferece (Ap 7.9-14).

A maior parte dos eventos que tomarão lugar no período da grande tribulação está registrada em Apocalipse 6-19.

A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

Ao fim do período da tribulação, o Senhor Jesus voltará para estabelecer o seu reino milenar neste mundo (Mt 24.30; Lc 21.25-28). A segunda vinda de Cristo será um evento histórico que todos poderão testemunhar (At 1.11; Ap 1.7).

Abaixo são enumerados fatos importantes que tomarão lugar quando o Senhor Jesus voltar:

1. Os crentes virão junto com Cristo. Uma possível base para essa afirmação é Apocalipse 19.11-14.
2. O anticristo que estará atacando Jerusalém com seus exércitos será derrotado (Zc 12.1-8; 14.1-15; Lc 21.20; 2Ts 2.8), sendo então lançado no lago de fogo, junto com o falso profeta (Ap 19.15-21).
3. Satanás será preso por mil anos (Ap 20.1-3).
4. Os judeus se arrependerão e crerão em Cristo (Zc 12.9-13 cp. Jo 19.36-37; Mt 23.39; Rm 11.25-27), entrando então no reino para desfrutar finalmente da terra que lhes foi dada (Ez 28.25-26).
5. Os santos do Antigo Testamento e os crentes mortos na tribulação ressuscitarão para reinar com Cristo durante os mil anos (Jó 19.25-27; Is 26.19; Dn 12.2-3,13; Ap 20.4-6).
6. As nações serão reunidas para julgamento e os gentios salvos que estiverem vivos serão separados para entrar no reino milenar (Mt 24.30-31,36-41; 25.31-34,41).

O MILÊNIO

A segunda vinda de Cristo inaugurará o período de mil anos durante os quais ele reinará na terra em cumprimento às promessas feitas a Davi (2Sm 7.10-16; Lc 1.32-33; Ap 20.4). Durante esse período Satanás estará preso (Ap 20.1-3) e a terra desfrutará de paz e justiça (Is 2.1-5; 11.6-9; Zc 14.9).

A partir da análise bíblica, tudo indica que no reino milenar pessoas ressurretas conviverão com indivíduos ainda não ressurretos. Isso não deve causar espanto, pois os episódios que seguiram a ressurreição de Cristo mostram que essa convivência é perfeitamente possível (Mt 28.9-10; Lc 24.28-31,39-43; Jo 21.1-14).

Assim, no milênio estarão os crentes que serão arrebatados antes da tribulação e que voltarão com Cristo (Ap 19.11-14), os santos do Antigo Testamento que ressuscitarão (Dn 12.13), os salvos da tribulação que também ressuscitarão (Ap 20.4-6) e os salvos de Israel e das nações que não terão passado ainda pela morte (Mt 25.31-34). Esses últimos, sendo pessoas comuns, ainda não ressurretas, viverão vidas normais, trabalhando, constituindo família e estando sujeitos à morte, ainda que em idade bastante avançada (Is 65.18-25).

Sendo assim, novos indivíduos nascerão durante o milênio e, ainda que o temor do Senhor predomine nas novas gerações (especialmente, talvez, de judeus. Cf. Is 65.23), é certo que entre as nações surgirão pessoas com inclinações naturais, nutrindo disposições contrárias ao grande Rei. Isso abrirá as portas para o evento que é descrito a seguir.

A REVOLTA FINAL

Conforme Apocalipse 20.7-10, ao fim do milênio Satanás será solto e sairá seduzindo as nações para que se rebelem contra o Rei. Ele encontrará corações propensos à revolta e formará um exército que atacará a cidade santa.

Um fogo do céu, contudo, destruirá a todos e Satanás será finalmente lançado no lago de fogo e enxofre onde já terão sido lançados o anticristo e o falso profeta.

O GRANDE TRONO BRANCO

Esta expressão se refere ao conhecido “Juízo Final”. Depois da última revolta, um trono será firmado para julgar os incrédulos mortos de todas as eras (Ap 20.11-15). Será, assim, a ocasião em que serão julgados os que não tiveram parte na primeira ressurreição (Ap 20.5). Estes serão julgados e condenados a passar a eternidade no lago de fogo.

É bem provável que as pessoas que morreram durante o milênio, salvas ou não, também ressuscitem para o juízo do grande trono branco, já que a Bíblia não aponta nenhuma outra ocasião em que a ressurreição dessas pessoas possa ocorrer.

O NOVO CÉU E A NOVA TERRA

O juízo final marcará o fim de uma era, pondo termo à presente criação (2Pe 3.10-13). Após sua realização, haverá novos céus e nova terra, com bênçãos infindas para os salvos e tormento constante para os perdidos (Ap 21.1-8).

CUIDADO! VENENO!

Teologia do Processo e Teísmo Aberto: A teologia do processo entende a realidade como um processo do qual Deus faz parte, influenciando e também sofrendo influências. Nesse processo, Deus respeita o livre-arbítrio das pessoas e tenta convencê-las a fazer o que ele almeja. Porém, não pode coagir ninguém, de modo que tudo o que lhe resta é desejar que as coisas ocorram como ele gostaria que ocorressem. Quando os bons desejos de Deus não se cumprem e suas tentativas de persuasão se revelam infrutíferas, ele sofre e se coloca ao lado daqueles que também padecem por causa das decisões más. Sendo alguém que apenas tenta influenciar o curso do universo, Deus não conhece o futuro, pois este depende das decisões ainda indefinidas de outros agentes que ele não pode obrigar em nenhum sentido. O teísmo aberto segue nessa mesma direção, ensinando igualmente que Deus jamais desrespeita o livre-arbítrio do homem. A partir daí, seus proponentes negam que Deus predeterminou o futuro, pois, segundo entendem, se ele o fizesse, então o homem não teria liberdade de fato. Assim, também no teísmo aberto Deus sequer conhece o futuro, posto que este nunca foi fixado por ele de antemão. É dessa forma que Deus se “abriu”, limitando sua soberania, a fim de que o homem seja o real construtor da história.

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ÍNDICE –  
PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS BÁSICAS | Marcos Granconato

CAPÍTULO 9 – A DOUTRINA ACERCA DOS ANJOS (Angelologia)


“Assim, pois, de maneira alguma e em tempo algum, os espíritos que chamamos anjos começaram por ser trevas. No mesmo instante em que Deus os criou foram luz; criados, não para serem ou viverem simplesmente, mas ainda iluminados para viverem vida feliz e sábia”. – Agostinho de Hipona, Cidade de Deus, XI:XI

INTRODUÇÃO

Contrariando as previsões dos racionalistas dos séculos XVIII e XIX, o homem pós-moderno tem um profundo interesse pelo universo espiritual. Infelizmente, porém, por causa da ignorância bíblica, esse interesse, via de regra, produz construções equivocadas, baseadas em mitos e superstições vazias.

É o caso das ideias gerais que as pessoas de hoje nutrem acerca dos anjos. Livros e revistas aparecem vez por outra tratando desse assunto e discursos são pronunciados acerca do tema até com certa vivacidade, despertando o interesse de um público enorme. Contudo, as conclusões que muitas vezes são apresentadas pelos “mestres” deste mundo raramente se harmonizam com a doutrina cristã sobre o assunto, uma vez que não se baseiam na Bíblia e, quando a Palavra de Deus é eventualmente citada para corroborar alguma proposição, seu texto é geralmente distorcido para atender aos interesses do expoente.

Diante desse cenário, este capítulo pretende oferecer elementos com os quais o crente possa construir uma angelologia verdadeiramente bíblica com que possa evitar e corrigir os desvios modernos. Ademais, uma vez que esse tema, conforme será visto, aparece na Bíblia inúmeras vezes, fica fora de dúvida que sua análise merece consideração especial.

TERMINOLOGIA

Anjos aparecem na Bíblia do princípio ao fim (Gn 3.24; Ap 22.16). São mencionados 325 vezes em 33 dos 66 livros. Só o Apocalipse os menciona 76 vezes.

Os termos que a Bíblia usa para se referir aos anjos são os seguintes:

Malak: Mensageiro, anjo (109 vezes no AT). Pode se referir a um profeta (Ml 1.1), mas geralmente se aplica a anjos.
Querubim: Singular Chetub. Significado incerto. Talvez sugira alguém que está perto de Deus, ministrando a ele, ou alguém admitido em sua presença (Gn 3.24; Êx 25.18s; Ez 1.5s; 10.15s; 28.12s).
Serafim: Possivelmente vem de uma raiz hebraica que significa “consumir com fogo” (Is 6.2,6).
Angelos: Mensageiro, anjo (186 vezes no NT).
Outros nomes: “Filhos de Deus” (Jó 1.6; 2.1); “seres celestiais” (Sl 89.6); “santos/assembleia dos santos” (Sl 89.5-7; Dn 4.13; Zc 14.5); “milícia celestial” (Lc 2.13); “santas miríades” (Jd 14).

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE OS ANJOS

Informação: São espirituais (invisíveis, mas podem tomar forma).
Base bíblica: Gn 18.2; Ez 9.2; Hb 1.14.

Informação: Foram criados perfeitos.
Base bíblica: Jó 38.7; Sl 148.2-5; Cl 1.16.

Informação: São seres pessoais.
Base bíblica: 2Sm 14.20; Ez 28.16-17; Lc 15.10; Ap 22.7-8.

Informação: Têm poderes extraordinários.
Base bíblica: 2Sm 24.17; Sl 103.20; Mt 26.53; Ap 20.1-3.

Informação: Pertencem a diferentes classificações.
Base bíblica: Dn 10.13s; 12.1; Lc 1.19; 1Ts 4.16; Cl 1.16; Jd 9.

Informação: São seres que não se casam.
Base bíblica: Mt 22.30.

Informação: São imortais.
Base bíblica: Lc 20.36.

Informação: São inumeráveis.
Base bíblica: Hb 12.22; Ap 5.11.

Observação: A Bíblia se refere aos anjos usando o pronome masculino. Contudo, segundo o entendimento de alguns, há uma única exceção em Zacarias 5.9. É questionável, porém, se o que é descrito nesse texto é uma visão angélica.

A NATUREZA MORAL DOS ANJOS

Todos os anjos foram criados santos por Deus (Jó 38.4-7). Contudo, a Bíblia diz que muitos se rebelaram contra o Criador, tornando-se definitivamente maus (2Pe 2.4; Jd 6).

Desde os tempos antigos foi aceito pelos grandes teólogos da igreja que os anjos que guardaram seu estado original foram confirmados em bondade, uma vez que as Escrituras os apresentam associados ao serviço permanente de louvor e a eventos do porvir (Sl 103.20; Mt 25.31; Mc 8.38). Além disso, os anjos bons não podem cair porque foram eleitos (1Tm 5.21).

Acerca dos anjos maus, também chamados de demônios, a Bíblia diz que muitos deles estão em prisão, reservados para juízo (2Pe 2.4; Jd 6). Isso, porém, talvez não signifique que eles estejam confinados num lugar. A menção da prisão (tártaro, abismo, trevas, correntes) pode ser apenas uma referência à situação em que se encontram, aguardando o juízo de Deus. Seja como for, é certo que há muitos anjos maus em plena atividade neste mundo (Ef 6.12).

No futuro, anjos maus serão derrotados por Miguel e seus anjos (Ap 12.7-8) e junto com o diabo, serão lançados à terra, onde provavelmente vão atuar de modo intenso durante a Grande Tribulação (Ap 12.9,12). As Escrituras também ensinam que os anjos maus serão julgados pelos crentes (1Co 6.3), não havendo esperança de salvação para eles (Hb 2.16). Com efeito, no fim todos serão lançados no fogo eterno (Mt 25.41).

O MINISTÉRIO DOS ANJOS

Os anjos realizam o ministério de adorar e servir ao Senhor (Sl 103.20; Is 6.2s; Dn 7.10; Ap 5.11-13; 19.1s), jamais aceitando adoração para si mesmos (Ap 22.8-9). Em seu serviço a Deus, eles atuam na história da salvação trazendo mensagens, instruindo e guiando os homens (Mt 1.20; 2.13; Lc 1.11-38; 2.8-15; At 10.3-5). Os anjos também atuam como instrumentos na aplicação do juízo divino contra os maus (Gn 19.13; 2Sm 24.16; 2Rs 19.35; Mt 13.39; At 12.23; Ap 20.1-3).

Talvez a tarefa principal dos anjos neste mundo seja ministrar aos crentes (Hb 1.14). O modo exato como isso é feito não é esclarecido nas Escrituras.

O Novo Testamento ainda dá indícios de que as crianças são, de alguma forma, beneficiadas pelo ministério dos anjos (Mt 18.10), que os salvos recebem amparo angélico em face da morte (Lc 16.22) e que os anjos têm um interesse intenso pelo maravilhoso tema da salvação do homem (1Pe 1.12).

ATENÇÃO!
A quem se refere a expressão “O anjo do Senhor”? – Esse personagem é mencionado em Gênesis 16.7; Juízes 2.1; Zacarias 3.1-6, entre outros. Geralmente os teólogos afirmam que a expressão se refere a uma Cristofania, ou seja, uma manifestação da segunda pessoa da Trindade (Jesus) ao tempo do VT. Porém, as conexões apontadas nem sempre são conclusivas e o assunto é aberto a debates.

SATANÁS

O termo “Satanás” aparece em 7 livros do AT e é citado por todos os autores do NT. Vem do hebraico (satan) e significa “adversário”. O verbo relacionado a esse substantivo tem o sentido de “ficar em emboscada” ou “opor-se”. No NT essa palavra aparece 36 vezes. Satanás é também chamado de “diabo” (Gr. diábolos. Ocorre 33 vezes no NT), vocábulo que significa “caluniador” e/ou “difamador”.

Com base na Vulgata Latina (tradução de Jerônimo) que traduz “estrela da manhã”, em Isaías 14.12, como lucifer (portador da luz – Veja-se 2Co 11.14), Satanás passou a ser chamado pelos teólogos antigos de Lúcifer. No NT ele recebe as designações de Belzebu, o maioral dos demônios (Mt 12.24 – Em alguns manuscritos “senhor das moscas”), maligno (Mt 13.38), Belial (2Co 6.15), tentador (Mt 4.3; 1Ts 3.5), inimigo (Mt 13.28-29), homicida e pai da mentira (Jo 8.44), deus deste século (2Co 4.4), príncipe da potestade do ar (Ef 2.2), príncipe deste mundo (Jo 12.31; 14.30; 16.11) e Abadom (no hebraico) ou Apoliom (no grego). Esses dois últimos termos significam “destruidor” ou “exterminador” e servem para identificar o “anjo do abismo” ou o rei dos demônios (Ap 9.11).

O texto de Apocalipse 12.7-10 fornece outras designações para Satanás (grande dragão, antiga serpente, sedutor de todo o mundo, acusador de nossos irmãos, etc.). Essas designações revelam muito do seu caráter e se relacionam a diferentes aspectos da sua obra.

A ORIGEM E A QUEDA DE SATANÁS

Satanás é um anjo criado por Deus que posteriormente caiu de sua posição e estado original. Geralmente é aceito que as palavras de Isaías 14.12-15 e de Ezequiel 28.11-19 foram dirigidas aos reis de Babilônia e de Tiro, respectivamente, mas que, de forma indireta, dizem respeito a Satanás. Assim, pode-se afirmar o seguinte:

• Satanás foi criado perfeito (Ez 28.12,15).
• Satanás tinha uma posição elevada (Is 14.12; Ez 28.14).
• Satanás se ensoberbeceu (Is 14.13-14; Ez 28.15-17; 1Tm 3.6).
• Satanás foi deposto de sua elevada posição (Is 14.15; Ez 28.16-19).

Satanás é: Um anjo mau (Ez 28.15); astuto (2Co 2.11; Ef 6.11-12); poderoso (2Co 11.14; 2Ts 2.9); atuante em todo o mundo (Ap 20.3).

Satanás NÃO é: Um deus mau (Tg 2.19); onisciente (Jó 1.9-11); onipotente (Lc 10.18; 2Co 2.11); onipresente (Jó 1.7).

A OBRA DE SATANÁS E DOS DEMÔNIOS

Satanás é o tentador por excelência (Mt 4.1-11; 1Tm 3.6-7). Ele também confunde, engana (2Co 11.3,13-15; Ap 20.3) e vive em busca de alguém para destruir (1Pe 5.8; Ap 12.17). No uso de sua sagacidade (2Co 2.10-11), ele induz à imoralidade (1Co 7.5), semeia o joio (Mt 13.39) e incita a perseguição contra o povo de Deus (Ap 2.10). Por causa de sua terrível crueldade, Satanás muitas vezes é usado por Deus como um instrumento de disciplina para seus servos (2Co 12.7), bem como para os crentes rebeldes e os apóstatas (1Co 5.5; 1Tm 1.20).

O quadro que segue mostra outros aspectos da obra de Satanás:

PASSADO: Deu origem ao pecado (Ez 28.15; Gn 3.1-13).

PRESENTE (com relação aos crentes e incrédulos):
Oprime (Jó 2.7; At 10.38); causa a morte (Hb 2.14); tenta (1Ts 3.5); ilude (2Tm 2.26); inspira ideais iníquos (At 5.3).

PRESENTE (com relação aos incrédulos): Tome posse (Jo 13.27); cega o entendimento (2Co 4.4); dissipa o evangelho (Mc 4.15); produz ministros do mal (Mt 13.25,38-39).

PRESENTE (com relação aos crentes): Faz oposição (1Ts 2.18); acusa (Ap 12.9-10).

FUTURO: Dará poder ao Anticristo (2Ts 2.9-10).

Satanás tem acesso ao trono de Deus (Jó 1.6; 2.1; Zc 3.1-6; Lc 22.31; Ap 12.7-10), reina sobre a hierarquia dos demônios (Mt 25.41; Ef 6.12; Ap 12.7) e também sobre este mundo (Lc 4.5-6; 2Co 4.3; Ef 2.1-3; 1Jo 5.19-20).

Quanto aos demônios, a Bíblia ensina que eles:

1. Creem em Deus e têm temor dele (Tg 2.19).
2. Conhecem Jesus (Mc 1.24).
3. Sabem de sua condenação (Mt 8.29).
4. Opõem-se aos propósitos de Deus (Dn 10.10-14).
5. Promovem o culto de si mesmos (1Co 10.20-21).
6. Têm suas próprias doutrinas e as divulgam (1Tm 4.1-3).
7. Realizam grandes feitos miraculosos (Ap 16.13-14).
8. Alguns, muito poderosos, enganam as nações (Dn 10.13; Is 24.21; Ap 16.13-14).
9. Afligem e atacam os crentes (2Co 12.7; Ef 6.11-12).
10. Podem causar doenças (Mt 9.33).
11. Podem possuir pessoas (Mc 5.2).
12. Podem possuir animais (Mc 5.13).

É preciso destacar que, mesmo sendo contrários a Deus e inimigos do seu povo, Satanás e seus anjos muitas vezes são instrumentos que cumprem os decretos do Senhor (Gn 3.15; 1Sm 16.14; 1Rs 22.23; 2Cr 18.18-21; 2Co 12.7-10).

O DESTINO DE SATANÁS

No futuro, Satanás será expulso dos lugares celestiais (Ap 12.9). Ele será aprisionado no abismo e solto somente ao final de mil anos (Ap 20.1-9). Por fim, Satanás será lançado no lago de fogo (Ap 20.10).

O CRENTE EM RELAÇÃO A SATANÁS

• Deve revestir-se da armadura de Deus (Ef 6.11-18).
• Deve ser prudente e se autodominar, a fim de evitar a criação de circunstâncias propícias à atuação do adversário (2Co 2.10-11; Ef 4.27).
• Deve trabalhar para livrar os que caíram na armadilha do diabo (2Tm 2.25-26).
• Deve resistir ao diabo (Mt 4.10; At 5.3; 1Tm 5.15; Tg 4.7; 1Pe 5.8-9).

Resistir a Satanás significa fazer uso das grandes verdades da Palavra de Deus na luta contra ele. Portanto, para resisti-lo é necessário conhecer a Bíblia e as doutrinas nela ensinadas. Foi dessa maneira que Jesus enfrentou Satanás durante a tentação no deserto (Mt 4.1-11). É bom lembrar também que naquela ocasião Jesus estava cheio do Espírito (Lc 4.1), sendo esta também uma condição necessária para vencer o inimigo.

Em Apocalipse 12.11 encontram-se as três causas principais da vitória total do crente sobre Satanás, a saber: o sangue do Cristo (cf. Hb 2.14-15), o testemunho firme e corajoso e a perseverança mesmo em face da morte.

CUIDADO! VENENO!

Testemunhas de Jeová e Adventismo:
As Testemunhas de Jeová acreditam que o arcanjo Miguel era Jesus antes de se encarnar e que ele retomou essa designação após a ressurreição. Os Adventistas do Sétimo Dia pensam da mesma forma, mas não negam a divindade de Jesus como fazem as Testemunhas de Jeová. O livro de Hebreus reprova qualquer forma de identificação de Jesus com um anjo (Hb 1.4-14).

Mormonismo: Ensina que o arcanjo Miguel é Adão e que ele ajudou Javé a criar o mundo. Dentro do mormonismo existe também a figura do anjo Moroni, central para a sua doutrina. De acordo com o Livro de Mórmon, Moroni foi um profeta que, após a morte, virou anjo e mostrou a Joseph Smith o local onde estavam certas placas de ouro cobertas com inscrições. Essas placas, uma vez traduzidas, formaram o Livro de Mórmon. Moroni, quando homem, foi filho de Mórmon, o profeta que organizou as placas. O mormonismo ensina a possibilidade de o homem se tornar divino passando antes pelo estado angélico, como ocorreu com Moroni.

Catolicismo Romano: Ensina que, desde o nascimento, Deus envia um anjo para proteger cada pessoa ao longo da vida. A partir de 1670, o dia 2 de outubro passou a celebrar a Festa do Anjo da Guarda de cada indivíduo. Os católicos também veneram os anjos realizando festas em sua homenagem e dirigindo orações a Miguel, Gabriel e Rafael. Cidades e países sob a influência católica adotam esses seres como seus santos padroeiros. Ao que tudo indica, a angelolatria se infiltrou na igreja cristã a partir das seitas gnósticas, cujos adeptos, desde o período formativo desses movimentos heréticos, praticavam o culto dos anjos (Cl 2.18), tentando inseri-lo na prática da espiritualidade cristã.

Evangelicalismo popular: Tende a atribuir quaisquer males e até os mais simples desconfortos à ação de demônios e criam estratégias (inclusive o uso de amuletos), orações e palavras de ordem para refreá-los e combatê-los. A partir de Daniel 10.10-13 alguns evangélicos concluem que orar em voz alta pode ser perigoso, pois os demônios, tomando conhecimento do conteúdo das súplicas, poderiam frustrá-las. Seguindo na esteira do antigo paganismo, também adotam a ideia de que os demônios atuam em territórios específicos, sendo, assim, “espíritos territoriais”. A base que usam para essa crença são textos como Daniel 10.13 e Marcos 5.9-10 (cp. Lc 8.31). Daí a prática de fazer passeatas e rodear cidades e regiões reivindicando esses espaços para Jesus.

“Há dois erros nos quais nossa raça pode incorrer no tocante aos demônios. Um é não acreditar na sua existência. Outro é acreditar e sentir um interesse excessivo e doentio por eles”. – C. S. Lewis

Esoterismo e Nova Era: Define os anjos como mensageiros e intermediários da “Grande Mente Cósmica” que é composta por tudo e é um com tudo (panteísmo). Os anjos são capazes de proteger pessoas, raças e até nações e também têm poder para criar novas realidades. Os mestres esotéricos e de Nova Era ensinam que as pessoas têm anjos particulares cujos nomes podem ser descobertos (geralmente por meio da data de nascimento do indivíduo) e com quem podem se relacionar até o ponto de se fundirem com essas entidades. Nessas buscas, é fomentado o uso de velas, orações e pedidos por escrito. O contato mais desejável com esses seres, porém, se dá por meio da “expansão da consciência” que viabiliza visões angélicas e até o acesso ao mundo dos anjos, tudo com o objetivo de conhecer mistérios espirituais e obter auxílio ou livramento.


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CAPÍTULO 10 – A DOUTRINA ACERCA DAS ÚLTIMAS COISAS (Escatologia)

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PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS BÁSICAS | Marcos Granconato

CAPÍTULO 8 – A DOUTRINA ACERCA DA IGREJA (Eclesiologia)



“Porque a Igreja não tem outro Rei senão Jesus Cristo. Porque a igreja não deve ingerir-se na política do mundo, tirar desta a sua própria inspiração nem apelar para suas espadas, suas prisões, seus tesouros. Porque a Igreja vencerá pelas forças espirituais que Deus depositou em seu seio, e, acima de tudo, pelo reinado de seu Chefe adorável. Porque a Igreja não deve contar com tronos terrenos nem triunfos efêmeros, mas que a sua marcha se assemelhe à do Rei: da manjedoura para a cruz; da cruz para a coroa!” – J. H. Merle D’ Aubigné, História da Reforma do décimo-sexto século, Vol. VI , p. 247

INTRODUÇÃO

Uma das doutrinas mais negligenciadas dentro do cristianismo é a eclesiologia, ou seja, o ensino bíblico acerca da comunidade da fé, sua natureza, relevância, deveres e propósito.

Essa falta de conhecimento tem gerado prejuízos enormes para a causa do Mestre. Desprovidos de conceitos claros, os crentes têm dado o título de igreja a grupos que nem de longe se ajustam ao que realmente o Corpo de Cristo é e, então, têm se associado com esses grupos. Além disso, sem diretrizes acerca do modo como a igreja deve funcionar, comunidades cristãs inventam formas estranhas de louvor, de disciplina e de culto, fazendo com que o nome “igreja” seja associado com práticas baderneiras, com crendices toscas e com excessos inaceitáveis.

Como se não bastasse, a falta de conhecimento da eclesiologia bíblica tem sido acompanhada por uma crítica severa contra qualquer tipo de comunidade cristã formalmente organizada. Essa crítica afirma que as igrejas locais são absolutamente dispensáveis para quem quer adorar a Deus e que, na verdade, essas instituições são somente instrumentos nas mãos de uma minoria que se deleita em oprimir e explorar pessoas de boa-fé.

Todos esses desvios podem ser facilmente evitados pelos crentes que conhecem o ensino cristão sobre a igreja. Além disso, o crente que entende a eclesiologia bíblica saberá não somente fugir dos erros que tentam desfigurar a igreja de Deus, mas também se sentirá motivado a se comportar de modo santo dentro dela.

O SIGNIFICADO DE IGREJA

A palavra “Igreja” vem do termo grego ekklesía, que significa “assembleia”. Juntando esse sentido básico com outras informações dadas pelo Novo Testamento, é possível definir a Igreja da seguinte forma:

A Igreja é a comunidade dos crentes em Cristo (Ef 1.1), comprada, fundada, protegida, edificada e dirigida por ele (Mt 16.18; At 20.28). Ela se reúne para cultuar o Deus trino (At 13.1-2), sustentar com firmeza a verdade revelada (1Tm 3.15), observar as ordenanças do Senhor (batismo e ceia), nutrir uma amorosa, edificante e pura comunhão entre os irmãos (At 2.42-47) e proclamar a salvação ao mundo (1Pe 2.9), tudo com o propósito final de promover a glória de Deus (Ef 3.21).

A Igreja, para efeito de estudo, pode ser definida em termos de organismo e organização. Como organismo, a Igreja é o corpo místico de Cristo, do qual ele é a cabeça e os crentes são os membros (1Co 12.12-13). Na qualidade de organização, a então “igreja local” é um grupo de crentes reunidos com os propósitos mencionados na definição acima.

QUATRO RESSALVAS

• A Igreja bíblica não tem um templo considerado como lugar sagrado (At 20.20; Rm 16.5; 1Co 3.16-17; 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.22; Cl 4.15; 1Pe 2.5).
• Nem todas as comunidades evangélicas são igrejas no sentido bíblico (Mt 7.21-23).
• Nenhuma “igreja local” pode se apresentar como a única verdadeira (Jo 14.6).
• Nenhuma “igreja local” pode se apresentar como a melhor entre todas as demais (Ap 3.17).

DISTINÇÕES COMUNS

Igreja local e Igreja universal: A primeira designação diz respeito a uma comunidade de crentes que se reúne numa localidade específica. A segunda designação se refere geralmente aos crentes em Cristo espalhados por todo o mundo.

Igreja visível e Igreja invisível: A primeira designação refere-se à igreja local. A segunda designação aponta para a igreja universal.

Igreja militante e Igreja triunfante: A primeira é a igreja que ainda batalha neste mundo. A segunda, o conjunto de crentes que já está com Cristo na glória celeste.

OS SÍMBOLOS DA IGREJA

O corpo: É símbolo que denota a unidade dos membros da Igreja e a diversidade das suas funções no corpo de Cristo (Rm 12.4-5).

O casal: Simboliza a união singular e indissolúvel da Igreja com Cristo (Ef 5.31-32).

OS PROPÓSITOS DA IGREJA

O propósito da Igreja se divide em dois aspectos: o imediato e o final.

O propósito imediato: Esse aspecto do propósito da Igreja envolve o testemunho que ela deve dar a este mundo acerca da verdade, seja por meio da evangelização direta ou da vida de cada membro (1Pe 2.9).

O propósito final: Nesse aspecto a Igreja cumpre o propósito eterno de Deus para a história, ou seja, a sua glória. Por meio da Igreja, Deus será eternamente glorificado (Ef 1.6,12,14; 2.6-7).

A SUBLIMIDADE DA IGREJA

O NT destaca a sublimidade da Igreja por meio do ensino de diversas verdades relativas a ela. A lista abaixo mostra algumas dessas verdades:

1. Ela é edificada e protegida por Cristo (Mt 16.18).
2. Ela foi comprada por Deus com o sangue de Cristo (At 20.28).
3. Ela é herdeira com Cristo (Rm 8.17).
4. Ela é defendida por Deus, sendo livre de qualquer acusação (Rm 8.31-34).
5. Ela é digna de ser protegida e de que se padeça por ela (2Co 11.28; Cl 1.24; 1Tm 5.16).
6. Ela é formada por pessoas santificadas por Cristo (1Co 1.2).
7. Ela é o corpo de Cristo (Ef 1.22; Cl 1.18).
8. Ela é, num sentido figurado e misterioso, o “complemento” de Cristo (Ef 1.22-23).
9. Ela é o veículo especial por meio do qual Deus torna sua sabedoria conhecida pelos principados e pelas potestades (Ef 3.10).
10. Ela é objeto do amor e do cuidado especial de Cristo (Ef 5.25-27).
11. Ela é a casa do Deus vivo e o sustentáculo da verdade (1Tm 3.15).
12. Ela é descrita com termos altamente honrosos e sublimes (1Pe 2.9).
13. Ela é supervisionada e disciplinada por Cristo (Ap 1.12-13,20; 2.1,5).

OBSERVAÇÃO: O autor desta edição do livro em PDF não concorda com a ideia de que os dons ministeriais devem ser tratados como posições de liderança sobre a Igreja de Deus. Os dons de ministério não designam posições de CLÉRIGOS acima dos demais crentes do Corpo de Cristo. É por esta razão que eu, como autor da publicação do livro em PDF, recomendo o livro “A ORDEM DE DEUS”, de Bruce Anstey, para entender melhor sobre os vários dons de ministério na Igreja de Deus e por que devemos ter em mente que quem lidera a Igreja é Cristo (a cabeça da Igreja) e quem dirige a adoração em uma assembleia é o próprio Espírito Santo. Este livro de Bruce Anstey pode ser encontrado de graça em PDF no google ou no formato impresso para quem deseja compra-lo. – JP Padilha

AS ORDENANÇAS DADAS À IGREJA

Por “ordenanças” se entende as duas instituições que Cristo deixou para seus seguidores observar, a saber: o batismo e a ceia. As ordenanças simbolizam verdades cristãs ligadas à salvação. Portanto, se o praticante desses atos não tiver provado as verdades que eles simbolizam, sua observância não terá nenhum valor.

O BATISMO

O batismo é obrigatório a todo aquele que aceitou Jesus Cristo como seu salvador, pois o próprio Senhor o ordenou (Mt 28.19-20). Essa ordenança tem quatro objetivos:

• A profissão pública de fé (1Pe 3.21).
• A identificação do batizando com os demais discípulos de Jesus (Mt 28.19).
• A representação da lavagem espiritual (At 22.16 cp. 1Co 6.11).
• A representação da morte do crente para o pecado, seu sepultamento com Cristo e sua ressurreição para uma nova vida (Rm 6.1-4; Cl 2.12).

A forma de batismo praticada no Novo Testamento é a total imersão do crente na água (Mc 1.9-11; Jo 3.23; At 8.36-39). “Desta forma, creio eu, autor desta publicação em PDF, que devemos imitar os primeiros cristãos em sua forma de batizar, isto é, por imersão do crente na água” (JP Padilha).

O batismo infantil não é ensinado na Bíblia, uma vez que, antes de ser batizado, o indivíduo deve crer (At 2.41; 8.36-38). É preciso destacar finalmente que, diferente do que algumas seitas ensinam, o batismo não é necessário à salvação (Lc 23.39-43; 1Co 1.14-17).

A CEIA DO SENHOR

A ceia do Senhor é um memorial que recorda o sacrifício de Cristo (1Co 11.24-25), memorial este celebrado em meio a uma realidade espiritual que transcende a experiência regular da igreja, na medida em que proporciona aos crentes uma cumplicidade mais plena com o próprio Senhor presente de forma intensa no momento da celebração (1Co 10.16-17).

Jesus instituiu a ceia pouco antes de sua paixão (1Co 11.23-26). Cada elemento tem um significado: o pão partido simboliza o corpo de Cristo que foi ferido; o vinho é símbolo do seu sangue vertido na morte em favor dos pecadores.

A ceia do Senhor tem um propósito tríplice:

• Comemoração (1Co 11.24-25).
• Comunhão (1Co 10.16-17).
• Comunicação (1Co 11.26).

Todo o crente tem o dever de participar da ceia, sendo exigido dele que não o faça indignamente a fim de não se tornar réu do corpo e do sangue de Jesus (1Co 11.27-30). O contexto de 1Coríntios 11 mostra que participar da ceia indignamente é, basicamente, comer e beber nutrindo desprezo e desconsideração pelos irmãos (1Co 11.18,20-22,33-34).

QUATRO VISÕES DISTINTAS

Transubstanciação
– Catolicismo romano: Os elementos da Ceia se transformam na carne e no sangue do Senhor (Mt 26.26; Jo 6.53-57).

Consubstanciação – Luteranismo: A carne e o sangue de Cristo literais estão presentes na Ceia junto com os elementos (Mt 26.26; Jo 6.53-57).

Presença Espiritual – Calvinismo: Cristo está presente de forma espiritual nos elementos da Ceia (1Co 10.16).

Memorial – Zuinglianismo: Os elementos da Ceia recordam o sacrifício de Cristo (Jo 6.52 cf. 63; 1Co 11.24-25).

A DISCIPLINA NA IGREJA

A Igreja tem como um dos seus deveres aplicar a disciplina conforme ensinada no Novo Testamento. Essa prática consiste na expulsão da pessoa disciplinada seguida do rompimento da comunhão dos crentes com ela. Dada sua severidade, a disciplina só pode ser aplicada quando a pessoa se mostra incorrigível, recusando se arrepender e abandonar o pecado. Se em casos assim não houver a expulsão, toda a igreja ficará maculada pelo pecado do membro rebelde (1Co 5.6).

O Novo Testamento contempla dois modelos de processo disciplinar eclesiástico:

Trifásico: É o processo descrito em Mateus 18.15-17 no qual três etapas precisam ser superadas antes da efetiva excomunhão do pecador. Esse processo deve ser aplicado a casos de pecados que, ao tempo do início do processo, são conhecidos somente por um indivíduo da igreja ou por uma pequena minoria. Havendo arrependimento em qualquer das etapas, o processo termina sem que haja expulsão e o pecador arrependido recebe, então, o perdão dos que o exortaram.

Monofásico: É o processo descrito em 1Coríntios 5.1-5,9-11. Nesses casos, a obstinação do pecador se configura de pronto e a expulsão ocorre imediatamente, tão logo a igreja possa se reunir para operá-la. Também há uma orientação específica para o caso de pecados de presbíteros (1Tm 5.19-20). OBS: “Isso não significa que o presbítero está em posição diferente de qualquer outro crente que está em pecado” (JP Padilha). Nessa hipótese, pode haver repreensão na presença de todos. Em todo o caso, o resultado da obstinação do crente que permanece em pecado dentro de uma assembleia será sempre a excomunhão, ou seja, a expulsão do pecador rebelde e contumaz.

Os objetivos da disciplina eclesiástica são os seguintes:

• Cumprir as ordens de Deus acerca do modo como sua igreja deve lidar com a rebeldia.
• Colocar o ofensor sob a mão punitiva de Deus (1Co 5.4-5) e longe do amparo dos irmãos (Mt 18.17; 1Co 5.9-11) a fim de que, sendo fustigado por tudo isso, enfim se arrependa (2Co 2.6-11).
• Manter a pureza da igreja (1Co 5.6-8).
• Gerar temor nos demais irmãos (At 5.11; 1Tm 5.20).
• Evitar o juízo que Deus traz sobre a igreja que tolera o mal em seu meio (Ap 2.14-16,20-23).

POR QUE É FUNDAMENTAL QUE O CRENTE FAÇA PARTE DE UMA CONGREGAÇÃO LOCAL E SE REÚNA REGULARMENTE COM SEUS IRMÃOS?

1. Porque cerca de metade do Novo Testamento foi escrita tendo em vista especificamente o ensino, a correção e o encorajamento de igrejas locais, mostrando a extrema importância que o Espírito Santo confere à comunidade dos crentes.
2. Porque só assim o crente poderá zelar pela pureza da igreja em processos disciplinares (Mt 18.17; 1Co 5.3-5).
3. Porque a espiritualidade cristã é baseada na Trindade que é marcada por perfeita comunhão, amor e amizade (Jo 17.11,20-22).
4. Porque a união dos crentes expressa na adoração conjunta e na alegre e amorosa comunhão fornece o contexto em que Deus age trazendo mais pessoas à salvação (At 2.42-47).
5. Porque o Espírito Santo invariavelmente fala à sua igreja e atua sobre ela nos momentos em que está reunida em oração e culto (At 4.31; 13.1-3).
6. Porque a igreja, tendo sido comprada por preço altíssimo, precisa ser amparada, nutrida e protegida, sendo certo que a participação de crentes comprometidos ajudará na realização dessa tarefa (At 20.28).
7. Porque longe do convívio eclesiástico, os dons espirituais que o crente recebeu com vistas à edificação dos santos não poderão ser exercitados e ele será como um membro paralisado no corpo de Cristo que se enfraquecerá por causa dessa inércia (Rm 12.4-8; 1Co 12.4-27).
8. Porque sem estar na igreja o cristão não poderá obedecer as ordens de admoestar, amar, socorrer e suportar seus irmãos (Rm 12.10; 15.14; Gl 5.13; Ef 4.2,32; 5.21; Cl 3.13, 16, 1Ts 4.18; 5.11; Hb 3.13; Tg 5.16; 1Jo 3.23).
9. Porque a Ceia do Senhor não pode ser celebrada fora do convívio dos irmãos (1Co 10.17; 11.33).
10. Porque o desprezo pela igreja é censurado na Bíblia (1Co 11.22).
11. Porque Deus não habita somente no corpo do crente, mas também na congregação dos santos, realizando ali uma obra especial de edificação (Ef 2.20-22).
12. Porque é dentro do contexto coletivo cristão que o crente é fortalecido em seu interior e recebe capacitação para compreender melhor o amor de Cristo sendo, então, dominado por Deus (Ef 3.14-19).
13. Porque é na igreja local que o crente é equipado para o serviço santo por meio do ministério de homens que Deus estabeleceu (Ef 4.11-16).
14. Porque Deus ordena o louvor coletivo como parte da sua adoração e não apenas o louvor individual (Cl 3.16).
15. Porque a igreja é a única “instituição” que protege e sustenta a verdade neste mundo, o que aumenta o dever do crente de zelar pelo fortalecimento e bom funcionamento dela (1Tm 3.15).
16. Porque a Bíblia ordena que o crente não deixe de se congregar e a desobediência a essa ordem é considerada apostasia (Hb 10.25; 1Jo 2.19).
17. Porque a comunhão com os irmãos é um dos resultados de andar na luz (1Jo 1.7).

CUIDADO! VENENO!

Romanismo:
Entende que a Igreja Católica Romana é a única instituição verdadeiramente fundada por Cristo e herdeira dos apóstolos, cujos sucessores são todos os seus bispos, em especial o papa. Este é o chefe da igreja e sucessor de Pedro. Segundo a visão romanista, somente a Igreja Católica detém a totalidade dos meios necessários à salvação, o que inclui os sacramentos (principalmente a eucaristia) que santificam, purificam e transformam os fiéis. Na visão católica menos radical, alguns elementos da verdade podem estar eventualmente presentes em outras comunidades cristãs, mas somente a igreja romana detém o depósito integral da fé e o poder exclusivo de interpretar corretamente a Bíblia. Segundo os romanistas, Maria, sendo mãe de Jesus, é também a mãe da igreja que deve, assim, venerá-la como concebida sem pecado, eternamente virgem e assunta ao céu em corpo e alma. A eclesiologia romanista abrange também uma estrutura altamente hierarquizada que, em ordem decrescente, é composta por papa (a quem, desde o Concílio Vaticano I, em 1870, se atribui infalibilidade em questões de fé e moral), cardeais, patriarcas, arcebispos, bispos, padres e diáconos. Todo o clero católico (excetuando os diáconos) é celibatário.

Igreja emergente: Trata-se de um movimento evangélico surgido no final do século XX que se propõe a apresentar ao mundo uma igreja aberta aos conceitos da pós-modernidade e livre dos “rígidos” padrões éticos, doutrinários e funcionais propostos pela Igreja bíblica. Os expoentes do modelo eclesiástico emergente defendem, portanto, uma tolerância maior no diálogo entre a igreja e a sociedade pluralista presente, propondo um discurso cristão menos “radical”, uma pregação evangelística menos exclusivista, uma visão ética mais flexível e tolerante, uma liberdade mais ampla de expressões cultuais e um diálogo conciliador com outras religiões.

OBSERVAÇÃO: O autor desta publicação do livro em PDF discorda de vários pontos apelativos sobre “congregar”, ou seja, sobre pontos apelativos para que alguém se filie a uma denominação religiosa que se denomina como “igreja”. Mais uma vez, a respeito da DISCIPLINA NA IGREJA e também sobre a posição do “sacerdócio de todos os crentes” em contraste com a ideia de “líderes acima dos demais cristãos” dentro da assembleia, eu indico o livro “A ORDEM DE DEUS”, de Bruce Anstey. Não é bíblico que haja um líder humano dentro de uma assembleia cristã, nem que alguém tenha que se filiar a uma instituição denominacional para que seja membro do Corpo de Cristo. Por esta razão, deixei de mencionar parte deste capítulo (8) onde os apelos para se congregar em “qualquer lugar” para “ser salvo” são descritos. Ademais, isso não significa que eu, autor da publicação deste livro em PDF, seja contra o ato de se reunir entre irmãos. Pelo contrário, apenas NÃO me posiciono de forma a dizer aos irmãos que “a congregação dos santos é fator determinante para a salvação de alguém”. O livro “A ORDEM DE DEUS”, de Bruce Anstey, está disponível no google em vários formatos de graça, incluindo PDF, e também no formato impresso para compra. – JP Padilha

Continua em: 
CAPÍTULO 9 – A DOUTRINA ACERCA DOS ANJOS (Angelologia)

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PEQUENO MANUAL DE DOUTRINAS BÁSICAS | Marcos Granconato

QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?

Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....