Suicídio, arrependimento e morte segundo a Bíblia | JP Padilha


Minha Confissão de Fé se chama SOLA SCRIPTURA. Portanto, enquanto ela disser que somente a blasfêmia contra o Espírito Santo é imperdoável, assim me posicionarei. Do mesmo modo, enquanto ela (a Bíblia) assegurar que Deus é PODEROSO para operar o arrependimento em um homem com seu pescoço pendurado em uma corda, seja em milésimos de segundo ou por meia hora de agonia, manterei firme a convicção de que, ainda que um eleito atire contra a própria cabeça, DEUS tem poder para preservar seus miolos por quanto tempo Ele desejar, a fim de santificar o pecador antes de tomar o seu espírito.

A título de introdução, é necessário que o leitor tenha em mente que as próximas palavras que serão ditas aqui não se tratam de uma defesa em favor do pecado do "suicídio" (auto-homicídio), mas sim de um alerta quanto à suficiência e inerrância das Escrituras. A tríade que envolve o tema é: 1) - Suicídio é um pecado imperdoável? 2) - O arrependimento de alguém pode ser sondado no coração por outro homem? 3) - Como a Bíblia lida com a obra da salvação e quais os desdobramentos que isso traz para o tema?

Iniciemos com algumas ponderações primordiais acerca da soteriologia bíblica nas palavras de Miguel Núñez:

"Esse tem sido um dos temas mais controversos ao longo dos anos, e que lamentavelmente muitos têm respondido de uma maneira emocional e não através da análise bíblica. Aqueles de nós que crescemos no catolicismo sempre ouvimos que o suicídio é um pecado mortal que irremediavelmente envia a pessoa para o inferno. Para muitos que têm crescido com essa posição, é impossível despojar-se dessa ideia.

Outros têm estudado o tema e, depois de fazê-lo, concluem que nenhum cristão seria capaz de acabar com sua própria vida. Há outros que afirmam que um cristão poderia cometer suicídio, mas perderia a salvação. E ainda outros pensam que um cristão poderia cometer suicídio em situações extremas, sem que isso o conduza à condenação.

Em essência temos, então, quatro posições:

- Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno (posição Católica Tradicional).

- Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria.

- Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação.

- Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação.

A primeira dessas quatro posições foi basicamente a única crença até a época da Reforma, quando a doutrina da salvação (Soteriologia) começou a ser melhor estudada e entendida. Nesse momento, tanto Lutero como Calvino concluíram que eles não podiam afirmar categoricamente que um cristão não poderia cometer suicídio e/ou o que se suicidava iria ser condenado. Na medida em que a salvação das almas foi sendo analisada em detalhes, muitos dos reformadores começaram a fazer conclusões, de maneira distinta, sobre a posição que a Igreja de Roma tinha até então.

No fim das contas, a pergunta é: O Que a Bíblia diz?

Começamos mencionando aquelas coisas que sabemos de maneira definitiva a partir da revelação de Deus:

● O ser humano é totalmente depravado (primeiro ponto do TULIP calvinista). Com isso, não queremos dizer que o ser humano é tão mal quanto poderia ser, mas que todas as suas capacidades estão manchadas pelo pecado: sua mente ou intelecto, seu coração ou emoções, e sua vontade.

● O cristão foi regenerado, mas mesmo depois de ter nascido de novo, devido à permanência da natureza carnal, continua com a capacidade de cometer qualquer pecado, com a exceção do pecado imperdoável.

● O pecado imperdoável é mencionado em Marcos 3:25-32 e outras passagens, e a partir desse contexto podemos concluir que esse pecado se refere à rejeição contínua da ação do Espírito Santo na conversão do homem. Outros, a partir dessa passagem citada, atribuem a Satanás as obras do Espírito de Deus. Obviamente, em ambos os casos está se fazendo referência a uma pessoa incrédula.

● De maneira particular, queremos destacar que o cristão é capaz de tirar a vida de outra pessoa, como fez o Rei Davi, sem que isso afete a sua salvação.

● O sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros (Colossenses 2:13-14, Hebreus 10:11-18).

O anterior implica que o pecado que um cristão cometerá amanhã foi perdoado na cruz, onde Cristo nos justificou, e fomos declarados justos sem de fato sermos, e o fez como uma só ação que não necessita ser repetida no futuro. Na cruz, Cristo não nos tornou justificáveis, mas justificados (Romanos 3:23-26, Romanos 8:29-30).

A SALVAÇÃO E O ATO DO SUICÍDIO

1. Dentro do movimento evangélico existe um grupo de crentes, a quem já aludimos, denominados Arminianos, que diferem dos Calvinistas em relação à doutrina da salvação. Uma dessas diferenças, que não é a única, gira em torno da possibilidade de um cristão poder perder a salvação. Uma grande maioria nesse grupo crê que o suicídio é um dos pecados capazes de tirar a salvação do crente. Nós, que afirmamos a segurança eterna do crente (Perseverança dos Santos), não somos daqueles que acreditam que o suicídio ou qualquer outro pecado eliminaria a salvação que Cristo comprou na cruz.

2. Tanto na posição Calvinista como na Arminiana, alguns afirmam que um cristão jamais cometerá suicídio. No entanto, não existe nenhum versículo ou passagem bíblica que possa ser usado para categoricamente afirmar essa posição.

3. Alguns, sabendo disso, defendem sua posição indicando que na Bíblia não há nenhum suicídio cometido pelos crentes, enquanto aparecem vários casos de personagens não crentes que acabaram com suas vidas. Com relação a essa observação, gostaria de dizer que usar isso para estabelecer que um cristão não pode cometer suicido não é uma conclusão sábia, porque estamos fazendo uso de um “argumento de silêncio”, que na lógica é o mais débil de todos. Há várias coisas não mencionadas na Bíblia (centenas ou talvez milhares) e se fizermos uso de argumentos de silêncio, estamos correndo o risco de estabelecer possíveis verdades nunca reveladas na Bíblia. Exemplo: não aparece um só relato de Jesus rindo; a partir disso eu poderia concluir que Jesus nunca riu ou não tinha capacidade para rir. Seria esse um argumento sólido? Obviamente não.

4. Gostaríamos de enfatizar que, se alguém que vive uma vida consistente com a fé cristã comete suicídio, teríamos que nos perguntar, antes de ir mais além, se realmente essa pessoa evidenciava frutos de salvação (não por obras, mas pela fé e doutrina), ou se sua vida era mais uma religiosidade do que qualquer outra coisa. Eu acho que, provavelmente, esse seria o caso da maioria dos suicídios dos chamados cristãos.

Apesar disso, cremos que, como Jó, Moisés, Elias e Jeremias, os cristãos podem se deprimir tanto a ponto de quererem morrer. E se esse cristão não tem um chamado e um caráter tão forte como o desses homens, pensamos que pode ir além do mero desejo e acabar tirando a própria vida. Nesse caso, o que Deus decretar que aconteça pode representar parte da disciplina de Deus na vida desse cristão por ele não ter feito uso dos meios da graça dentro do corpo de Cristo, proporcionados por Deus para a ajuda de seus filhos.

Muitos acreditam, como já mencionamos, que esse pecado cometido no “último momento” não proveu OPORTUNIDADE PARA O ARREPENDIMENTO, e é isso o que termina “roubando-lhe” a salvação ao suicidar-se. Eu quero que o leitor faça uma pausa nesse momento e questione o que aconteceria se ele morresse nesse exato momento, se ele pensa que morreria livre de pecado. A resposta para essa pergunta é evidente: NÃO! Ninguém morre sem pecado, porque não há nenhum instante em nossas vidas em que o ser humano está completamente livre do pecado. Em cada momento de nossa existência há pecados em nossas vidas dos quais não estamos nem sequer apercebidos, e outros que nem conhecemos, mas que nesse momento não temos nos dirigido ao Pai para buscar seu perdão, simplesmente porque o consideramos um pecado menos grave, ou porque estamos esperando pelo momento apropriado para ir orar e pedir tal perdão.

A realidade sobre isso é que, quando Cristo morreu na cruz, ele pagou por nossos pecados passados, presentes e futuros, como já dissemos. Portanto, o mesmo sacrifício que cobre os pecados que permanecerão conosco até o momento de nossa morte é o que cobrirá um pecado como o suicídio.

A Palavra de Deus é clara em Romanos 8:38 e 39:

“Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”.

Note que o texto diz que “nenhuma outra coisa criada”. Esta frase inclui o próprio crente. Notemos também que essa passagem fala que “nem as coisas do presente, nem do porvir”, fazendo referência às situações futuras que ainda não vivemos. Por outro lado, João 10:27-29 nos fala que ninguém pode nos arrebatar da mão de nosso Pai, e Filipenses 1:6 diz que “aquele que começou a boa obra em vós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”.

CONCLUSÃO:

● Se estabelecemos que o cristão é capaz de cometer qualquer pecado, por que não conceber que potencialmente ele poderá cometer o pecado do suicídio?

● Se estabelecemos que o sangue de Cristo é capaz de perdoar todo pecado, ele não cobriria esse outro pecado?

● Se o sacrifício na cruz nos tornou perfeitos para sempre, como diz o autor de Hebreus (7:28, 10:14), não seria isso suficiente para afirmarmos que nenhum pecado rouba a nossa salvação?

● Se até Moisés chegou a desejar que Deus lhe tirasse a vida, devido à pressão que o povo exerceu sobre ele, não poderia um paciente esquizofrênico ou na condição de depressão extrema, que não tenha a força de caráter de um Moisés, atentar contra a sua própria vida de maneira definitiva?

● Se não somos Deus e não temos nenhuma maneira de medir a conversão interior do ser humano, poderíamos afirmar categoricamente que alguém que deu testemunho de cristão durante sua vida, ao cometer suicídio, realmente não era um cristão?

● Baseados na história bíblica e na experiência do povo de Deus, poderíamos concluir que o suicídio entre crentes provavelmente é uma ocorrência extraordinariamente rara, devido à ação do Espírito Santo e aos meios de graça presentes no corpo de Cristo.

Pensamos que o suicídio é um "pecado grave" porque atenta contra a vida humana. Mas já estabelecemos que um crente é capaz de eliminar a vida humana, como o fez Davi. Se eu posso fazer algo contra alguém, como não conceber que posso fazê-lo contra mim mesmo? Essa é a nossa posição.

Como você pode ver, não é tão fácil estabelecer uma posição categórica sobre o suicídio e a salvação. Tudo o que podemos fazer é raciocinar através de verdades teológicas claramente estabelecidas, a fim de chegar a uma provável conclusão sobre um fato não estabelecido de forma claramente definitiva. Portanto, quanto mais coerentemente teológico for meu argumento, mais provável será a conclusão que eu chegar".[1]

RESSALVAS E CONSIDERAÇÕES FINAIS 

 A pergunta certa leva a uma proximidade maior da resposta bíblica (pois nos baseamos na Bíblia e nos calamos com ela). Qual pergunta deve ser feita quando um crente se suicida? A pergunta mais sensata é: "É possível que Deus tenha operado o ARREPENDIMENTO DOS PECADOS no coração de um suicida (incluindo o ato suicida) antes da morte o tragar? Já fora provado que sim. Neste caso, temos quatro considerações finais:

1 - O suicídio não é um pecado imperdoável.

2 - Não somos oniscientes e, portanto, não podemos fazer afirmações peremptórias acerca de qual suicida foi preservado em santidade entre a espada e a morte.

3 - Um crente nominal pode estar no inferno após o suicídio, enquanto um pagão, ao se suicidar, pode ser despertado para o evangelho que havia ouvido há anos.

4 - Sansão cometeu dois pecados: Vingança pessoal e suicídio (Juízes 16:28-30). Deus o perdoou por ambos (Hebreus 11:1-2, 32-34).

Uma breve aplicação da hermenêutica a respeito do estado psicológico e emocional de Sansão naquelas circunstâncias, sob a análise de uma hermenêutica cuidadosa, irá surpreender a muitos. Se o leitor ainda não o fez, sugiro que o faça. Sansão estava no ÁPICE da ignomínia e da depressão. Sua condição moral, psicológica, emocional, física, social... era PERTURBADORA. Todavia, alguém pode me questionar: "Mas quem disse que Deus o salvou?" E eu replico: "O Novo Testamento inclui Sansão na lista de exemplos de FÉ GENUÍNA -- a Bíblia diz que ele era um eleito do Senhor.

APLICANDO A SOLA SCRIPTURA EM JUÍZES 16:28-30

“Então Sansão clamou ao SENHOR, e disse: Senhor DEUS, peço-te que te lembres de mim, e fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue dos filisteus, pelos meus dois olhos. Abraçou-se, pois, Sansão com as duas colunas do meio, em que se sustinha a casa, e arrimou-se sobre elas, com a sua mão direita numa, e com a sua esquerda na outra. E disse Sansão: Morra eu com os filisteus. E inclinou-se com força, e a casa caiu sobre os príncipes e sobre todo o povo que nela havia; e foram mais os mortos que matou na sua morte do que os que matara em sua vida”. (Juízes 16:28-30)

Mais uma vez devemos voltar nossa atenção para a distinção entre texto “normativo” e texto “descritivo”. O texto bíblico sobre Sansão NÃO é normativo. Não se trata de uma passagem que estabelece regras e padrões acerca do pecado, e muito menos uma afirmativa de que o suicídio seja um pecado imperdoável ou não. Sendo assim, estamos diante de um texto DESCRITIVO. Isto é, Sansão tomou quatro atitudes antes de se matar:

1. Sansão pediu a Deus que se lembrasse dele (v. 28a).
2. Sansão pediu a Deus que lhe fortalecesse [fisicamente] mais uma última vez (v. 28b).
3. O pedido de Sansão foi motivado unicamente pelo desejo de vingança contra os filisteus (v. 28c).
4. O desejo de vingança de Sansão se deu exclusivamente pela perda de seus dois olhos (v. 28d).

Ironicamente, encontramos no Antigo Testamento o 6º mandamento "não matarás". Esta lei não significa a proibição de toda morte, como por exemplo no caso de um juiz que executa uma sentença penal; e, Sansão era exatamente um juiz colocado em Israel por DEUS para executar a morte dos que oprimiam o Seu povo. Ou seja, sua função era MATAR. Estaria a Bíblia se contradizendo? Não! Pode-se perceber que a palavra hebraica usada no sexto mandamento é "Rasah", que significa "matar sem motivo”, “fora da lei" ou por “vingança pessoal”, e não “Harag” (matar alguém).

Tendo em mente que a força e significado do verbo original do sexto mandamento é “Rasah“, que significa “ASSASSINAR", a pergunta que devemos fazer é se Sansão foi motivado a matar segundo a “justiça” ou motivado pela “vingança pessoal”. Neste caso, o texto inspirado responde por si mesmo no verso 28: “Então Sansão clamou a Deus, e disse: ...fortalece-me agora só esta vez, ó Deus, para que de uma vez me vingue dos filisteus, pelos meus dois olhos” (Juízes 16:28). Esse é o princípio da hermenêutica irrefutável; ou seja, a Bíblia responde a si mesma e não pode ser submetida a interpretações especulativas ou contraditórias a ela.

Portanto, Sansão dá detalhes descritivos do POR QUE de sua atitude ----> "Para que me VINGUE dos filisteus pelos meus dois olhos". Não há uma linha sequer em que o autor inspirado indique que Sansão se matou por outro motivo, senão este – vingança pessoal. Sansão, nestas circunstâncias, não está matando para cumprir seu papel como juiz de Israel.

Devo salientar ainda, por dever de ofício, que estamos aqui defendendo a INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS e não o ato pecaminoso do suicídio, claramente cometido por Sansão. O suicídio é, de fato, um pecado. Porém, Deus preservou Sansão entre os santos (Hb 11:1-2, 32-34), cumpriu Seu propósito contra os inimigos de Seu povo e se CALOU diante de suposições acerca do “arrependimento” de Sansão. Ponto. O que passar disso é mera especulação. Todavia, negar que o autor inspirado está dizendo que Sansão *se matou* é negar a própria Palavra inspirada; é passar por cima da suficiência da Palavra e jogar a inerrância das Escrituras na lata do lixo a fim de legitimar [desonestamente] a teoria romanista de que o "auto-homicídio" é imperdoável diante de Deus.

Dizer que nem todo suicida vai para o inferno não é estimular o suicídio. Suicídio é pecado. É, de fato, um grande sinal de perdição. O fato é que, como cristão temente a Deus, não posso, nem seria seguro para mim, dizer o que a Bíblia não revela. A Bíblia diz que o único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. PONTO. É até aqui que ela vai. Onde ela se cala, eu me calo.

Admito não compreender como um cristão genuíno, por mais perturbado que esteja mentalmente, pode dar cabo de sua própria vida. Mas o fato de não compreender como isso funciona não me dá o direito de acrescentar um só til à Palavra inspirada (Gl 1:6-10; 1Co 4:6; Ap. 22:18).

Minhas pernas tremem pelos pastores e líderes que tem afirmado que todo suicida está condenado. Sim. Eles não parecem demonstrar temor diante de Deus. Quando alguém me pergunta se este ou aquele suicida foi para o inferno, minha resposta é um sonoro "NÃO SEI". Por que? Porque o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência (Pv 9:10). O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; porém, os loucos desprezam a sabedoria e a instrução, e não temem nem tremem ao colocar palavras na boca de Deus, ensinando e fazendo afirmações peremptórias acerca do que Deus nunca disse nem revelou (Jr 23:30-32; Pv 1:7).

O maior pecado, segundo o meu parecer, está nos lábios dos que acrescentam ou minimizam qualquer vírgula à Escritura. Ai deles! Pois quanto a estes sim, a Bíblia aponta como MALDITOS (Gl 1:6-10; Dt 12:32; Mt 15:9; 1Tm 4:1-2; 2Tm 4:3-4).

Há muita coisa na Bíblia a se considerar. Mas, em nenhum dos casos examinados encontraremos brecha para um ato suicida deliberado e egoísta. As motivações do suicida tem muito a dizer sobre ele, bem como sua consciência derradeira, entre a corda e o pescoço (como no caso de Sansão). Trata-se de uma linha tênue que contém histórias que só poderiam ser contadas por quem vivenciou a tragédia.

“Eu sei, pessoalmente, que não há nada no mundo que o corpo físico possa sofrer que se compare à desolação e à prostração da mente".[2]

JP Padilha
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: 
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
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NOTA:
[1] - Miguel Núñez / "Ao Cometer Suicídio, o Cristão Perde a Salvação?"
[2] - Charles Spurgeon / "A Depressão de Spurgeon", por Zack Eswine.

O significado de "Mundo" na Bíblia | JP Padilha


“Deus amou ao ‘mundo’ de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”
(João 3.16).

A maioria das pessoas olha para esse versículo e acha que Deus ama todo o mundo, ou seja, cada indivíduo do mundo, sem exceção. Isso é um terrível engano de Satanás e uma forma de distorcer a visão correta do que Deus nos revela em Sua santa Palavra. Na verdade, Deus não ama a todos os indivíduos do mundo, nem tampouco poderia, visto que Ele salva a todos quantos Ele ama, e ninguém dentre os Seus amados escolhidos pode ser arrebatado de Suas mãos (Jo 10.26-30). Se Deus amasse a todos os indivíduos do mundo, certamente todos seriam salvos, pois Ele não é mentiroso, nem débil, nem fraco. Deus salva a quem Ele ama e ponto final. Então, como explicar esta incógnita de João 3.16? E as outras passagens que citam o termo “Mundo”?

A palavra “Kosmos” (Mundo) aqui, em João 3.16, se refere aos escolhidos, e não a cada indivíduo do mundo. O próprio contexto responde à indagação que poderia ser feita com relação a isso. Indivíduos do mundo todo são salvos, mas não todos os indivíduos do mundo. A passagem está dizendo que Deus ama indivíduos do mundo todo (de todas as tribos, nações, etnias, etc.). Quando a Bíblia diz que não há acepção de pessoas, ela está se referindo ao fato de que Deus não escolheu os salvos com base no país ou nação onde eles nasceram, ou em sua descendência, ou em qualquer mérito pessoal. Se por um lado não há acepção de pessoas, por outro há EXCEÇÃO de pessoas! Por exemplo, se interpretássemos "mundo" como "cada indivíduo do mundo" em João 3.16, teríamos que aplicar o mesmo sentido em 1 João 5.19 – “Todo o mundo está no maligno” --, e então teríamos um grande e terrível paradoxo. Todavia, a Bíblia não contém paradoxos. Ela não contradiz a si mesma. Quando João diz que “todo o mundo está no maligno”, ele está claramente dizendo que todo o mundo, fora do círculo de crentes em Jesus Cristo, está no maligno. Ele está se referindo ao mundo dos descrentes/perdidos, não ao mundo dos crentes.


Ainda que não possamos ter todo o entendimento da língua grega, a Bíblia contém passagens com explicações amplas que nos fornecem o significado de “mundo” em toda a Escritura. Sem um método histórico-gramatical consistente na interpretação da Bíblia, fica impossível entender a palavra "mundo" em toda a Escritura, pois essa palavra pode significar VÁRIAS coisas em toda a Escritura.

Segue abaixo uma lista de significados de “Kosmos” (Mundo) que, mesmo para aqueles que não são “expert” em grego, fica fácil de entender apenas pelo seu contexto gramatical:

1 - "Kosmos" é usado para definir o Universo como um todo:

Atos 17.24 – “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra”.

2 - "Kosmos" é usado para definir a Terra:

João 13.1 – "Ora, antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. Na Bíblia, a frase “Passar deste mundo” significa “deixar esta terra”.

Efésios 1.4 – “Como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo”. Essa expressão significa “antes da terra ser fundada” (cf. Jó 38.4).

3 - "Kosmos" é usado para definir o sistema mundial:

João 12.31 – “Agora, é o juízo deste mundo; agora, será expulso o príncipe deste mundo”. Confira também Mateus 4.8 e 1 João 5.19.

4 - "Kosmos" é usado para definir toda a raça humana:

Romanos 3.19 – “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”. Aqui sim nós vemos a palavra “mundo” sendo usada para se referir a cada indivíduo do mundo, pois é dito na Bíblia que todos nós nascemos debaixo da ira de Deus (cf. Romanos 3). A menos que Deus partisse em resgate de alguns, todos os homens estariam condenados.

5 - "Kosmos" é usado para definir a humanidade com exceção dos crentes; isto é, para se referir somente aos descrentes/perdidos:

João 15.18 – “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim”. Os crentes não “odeiam” a Cristo, de forma que “o mundo” aqui significa o mundo dos descrentes em contraste com os crentes que amam a Cristo.

Romanos 3.6 – “E, se a nossa injustiça for causa da justiça de Deus, que diremos? Porventura será Deus injusto, trazendo ira sobre nós? (Falo como homem.) De maneira nenhuma; de outro modo, como julgará Deus o mundo?”. Aqui vemos outra passagem onde “o mundo” não pode significar “você, eu e cada pessoa da humanidade”, pois os crentes não serão “julgados” por Deus (cf. João 5.24). Sendo assim, aqui também é o “mundo dos descrentes” que está sendo mencionado.

6 - "Kosmos" é usado para definir os gentios (nós, que não somos de Israel) em contraste com os judeus (que são israelitas: povo terrenal de Deus):

Romanos 11.12 – “E, se a sua (de Israel) queda é a riqueza do mundo, e a sua (de Israel) diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude (de Israel)!”. Note como a primeira menção ao mundo é definida pela riqueza que ele adquiriu por meio de uma nação em especial: Israel. Aqui, novamente, “o mundo” não pode significar toda a humanidade porque o texto faz distinção entre a nação de Israel e o restante da humanidade, que é o mundo fora de Israel!

7 - Finalmente, "Kosmos" é usado para se referir somente aos crentes/salvos – tanto da Igreja de Deus como do Israel de Deus (Jo 1.29; 3.16,17; 6.33; 12.47; 1Co 4.9; 2Co 5.19). Desta vez, deixarei que o leitor abra sua Bíblia e seja abençoado com sabedoria e entendimento. Basta uma simples leitura e o discernimento do Espírito Santo para que toda a dúvida acerca do tema seja aniquilada.

A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO GRAMATICAL


Interpretar uma passagem gramaticalmente requer que sigamos as regras gramaticais exigidas pelo texto sagrado e que reconheçamos as nuances do hebraico e grego.

Por exemplo, quando Paulo escreve que Deus já havia feito Sua escolha entre Jacó e Esaú antes mesmo de eles terem nascido, antes mesmo de terem feito bem ou mal a alguém (Rm 9.11), as regras gramaticais atestam categoricamente que Deus não escolhe as pessoas pelas suas obras, mas as escolhe incondicionalmente para as boas obras, as quais Ele mesmo preparou para que Seus escolhidos pratiquem (Ef 2.10), e isso está em perfeita harmonia com todo o contexto apresentado pela Escritura a respeito da escolha de Deus em salvar alguns e condenar outros soberanamente, antes mesmo que o mundo existisse. Em outras palavras, o apóstolo Paulo claramente aponta para o fato de que o homem não pode se queixar quando Deus faz Suas escolhas, e que Deus faz o que bem entender com Suas criaturas, sem nada precisar perguntar a elas (Rm 9.13-24).

A Palavra de Deus não traz dúvidas, mas respostas. O Deus da Palavra não é um Deus de confusão e nunca traz confusão para nossa mente (1Co 14.33).

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–– JP Padilha / O Evangelho sem Disfarces
–– Fonte 1: Página 
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Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....