Capítulo Dez - De que vale estar congregado ao nome do Senhor?


PERGUNTA: Vale a pena estar congregado ao nome do Senhor?


RESPOSTA: Às vezes podemos nos perder no lamaçal da busca pela verdade em relação à questão de estar congregado ao nome do Senhor, e acabarmos indagando se realmente vale a pena tudo isso. Podemos ser tentados a jogar tudo para o alto em frustração e dizer: “Afinal, que importância há?”. Entendemos que possa ser frustrante, mas existe uma boa resposta para isso. Devo ao irmão David Graham o favor de ter dado a resposta a esta questão. Ele disse que a resposta é, na verdade, tripla:

Primeiro, Deus quis que existisse um testemunho para o nome de Cristo neste mundo. A vontade de Deus era que os cristãos estivessem congregados para a adoração e o ministério em redor da Pessoa de Seu Filho.

Segundo, o Senhor Jesus tem prazer em ver os Seus congregados em torno de Si para desfrutar da companhia deles. O Salmo 50:5 indica isto na forma de princípio, ainda que esteja se referindo aos crentes judeus em um dia futuro. Ali diz: “Congregai os meus santos, os que comigo fizeram aliança”.

Terceiro, o Senhor quer que o Seu povo tenha o prazer todo especial de estar onde Ele está no meio, pois é um privilégio estar ali. Ao experimentarmos isso, diremos como Pedro: “Senhor, bom é estarmos aqui” (Mt 17:4).

Estas coisas deveriam ser suficientes para que desejássemos buscar o lugar que Ele escolheu para a reunião cristã e sermos encontrados ali em Sua presença. É esta a vontade de Deus.

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Capítulo Nove - Os irmãos atuais são sectários comparados aos do século 19?


PERGUNTA: Por que no século 19 os irmãos recebiam todos os cristãos para partirem o pão, mas os irmãos de hoje não fazem o mesmo? A impressão que dá é que se desviaram da verdade e se tornaram sectários.


RESPOSTA: Creio que é importante entender um pouco da história dos “Irmãos”. A restauração da verdade que ocorreu no século 19 não aconteceu em questão de dias ou meses, mas levou anos. Os primeiros irmãos que se congregavam simplesmente para partir o pão ainda não tinham considerado a necessidade da recepção de alguém à mesa do Senhor, e por isso não existiam ainda princípios neste sentido. Foi só quando ocorreu o problema de Bethesda (a divisão dos “Irmãos Abertos” em 1845-48) que entenderam que seria preciso tomar cuidado ao receberem pessoas em comunhão, em especial aquelas que viessem do grupo divergente. Portanto, é um erro tentar se apoiar na prática dos irmãos naqueles primeiros dias como modelo para o funcionamento da assembleia hoje.

Para alguns, congregar sobre o fundamento do “um só corpo” (Ef 4:3), como professamos fazer, significa que deveríamos receber todos os membros do corpo de Cristo. Para esses, recusar a comunhão com qualquer verdadeiro crente seria negar a posição que assumimos. Em um mundo perfeito poderíamos receber todos os verdadeiros crentes, mas, como já foi mencionado, vivemos hoje nos derradeiros dias do testemunho da igreja na terra, e a ruína é grande. Muitos crentes estão vivendo em erro doutrinário ou pecado moral, e as Escrituras nos dizem que essas pessoas não devem ser recebidas. Não receber tais pessoas em obediência às Escrituras não é negar a verdade do um só corpo.

O principal pensamento relacionado ao “um só corpo” é a unidade. Efésios 4:3-4 diz: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. Há um só corpo”. Guardar a unidade do corpo é trabalho e responsabilidade de Deus, mas guardar a unidade do Espírito é nossa responsabilidade. O Senhor queria que expressássemos esta unidade que existe no corpo na forma em que congregamos com os irmãos para adoração e ministério. Isto nós fazemos no partir do pão, quando partimos um só pão, e nos assuntos relacionados à comunhão e disciplina na assembleia. Em suma, onde quer que existam pessoas na face da terra congregadas nesse terreno, elas agirão juntas
administrativamente e nas questões relacionadas a todos os aspectos da comunhão. Portanto, quando dizemos que estamos congregados “no terreno” do um só corpo, queremos dizer que procuramos expressar na prática esta unidade que já existe. Não significa que iremos automaticamente receber todos os crentes independentemente de como eles estejam andando. Congregar sobre o terreno do um só corpo não é a mesma coisa que congregar com todos os membros do um só corpo. Talvez fique mais claro se dissermos que estamos congregados sobre o princípio da unidade do corpo.

DEVE EXISTIR CUIDADO NA RECEPÇÃO

O cuidado para a glória do Senhor, no que diz respeito a quem introduzimos na comunhão, é algo quase inexistente hoje na cristandade. Todavia, a Bíblia ensina que a assembleia deve ser cuidadosa em não receber à comunhão alguém que talvez esteja envolvido com o mal, seja um mal moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local é responsável por julgar o mal em seu meio, excomungando os malfeitores (1 Co 5:12), então naturalmente se entende que ela deve ser cuidadosa com o quê ou quem traz para o seu meio.

Alguém disse corretamente que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta e nem deve ter uma comunhão fechada, mas uma comunhão protegida. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo que não tenha impedimento de acordo com a disciplina bíblica. Embora todo cristão tenha o direito de estar à mesa do Senhor, nem todo cristão tem o privilégio de estar ali, pois alguém pode ser privado desse privilégio por seu envolvimento com algum tipo de mal.

QUEM DECIDE QUEM DEVERIA ESTAR EM COMUNHÃO?

É
importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. Isto é algo que compete à Palavra de Deus. A razão é que a mesa não é dos irmãos, a mesa é do Senhor (1 Co 10:21). As preferências e gostos pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A decisão vem totalmente da Palavra de Deus. Quando não existir um motivo bíblico para recusar a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já tiver sido batizado, for são na fé e piedoso em seu andar, não existe motivo para ser rejeitado. O nível de conhecimento das Escrituras não é um critério neste sentido.

Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, as Escrituras dizem: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas” (Rm 14:1).


Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém é são na fé e piedoso em seu andar. Quanto maior a confusão no lugar de onde a pessoa tiver saído em meio ao testemunho cristão, maior a dificuldade de se tomar uma decisão. Se for este o caso, então agir com sabedoria pode significar pedir à pessoa que tem o desejo de estar em comunhão que aguarde. Isto não significa que a assembleia esteja afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia até ser o caso, porém os irmãos podem estar indecisos quanto a isso e por esta razão devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, uma vez que são eles os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que recebem em comunhão. As Escrituras ensinam: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios” (1 Tm 5:22). Este versículo fala da comunhão pessoal com alguém individualmente, mas o princípio é amplo o suficiente para guiar os santos na comunhão coletiva à mesa do Senhor. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão de cristãos onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.

OS TESTEMUNHOS PESSOAIS NÃO SERIAM SUFICIENTES?

Outro importante princípio relacionado a este assunto e que precisa ser compreendido é que a assembleia, biblicamente falando, não faz coisa alguma baseada no que diz apenas uma testemunha. Tudo o que se refere à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio:

Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra” (2 Co 13:1). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho. As pessoas naturalmente costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como as próprias Escrituras afirmam: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos” (Pv 16:2). E também: “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória” (Jo 7:18). Por isso pode ser preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde. Assim que os irmãos na assembleia local conheçam melhor a pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá ser recebida com base no testemunho desses.

Este é um princípio que encontramos em todas as Escrituras. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse; “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31). Em seguida ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos que testificavam dele como sendo o Messias, o Senhor advertiu os judeus de que chegaria um tempo quando eles, como nação, receberiam um falso messias (o Anticristo) sem testemunhas. Ele disse: “Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis” (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho.

Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a igreja no princípio tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Apesar de tudo o que ele dissera aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal ser verdade, ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que então já era o testemunho de duas pessoas, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo “andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo” (At 9:28).

COLOCANDO A PROFISSÃO DE FÉ DA PESSOA À PROVA

Outro princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz ser cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Em 2 Timóteo 2:19 diz que “qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade”. Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não apartar-se da iniquidade, seu modo de agir não condiz com sua profissão de fé. Isto é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho cristão, quando o que não falta são doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos. Um exemplo disso pode ser visto em figura em 1 Crônicas 12:16-18. Naquele tempo Davi era o rei rejeitado de Israel, e à medida que pessoas de várias tribos de Israel entendiam o erro que tinha sido rejeitá-lo, elas iam a ele e o reconheciam como o verdadeiro rei de Israel. Quando os da tribo de Benjamim (a tribo do rei Saul) foram a Davi, ele colocou a profissão de fé deles à prova. Ao ficar comprovado que sua confissão era genuína, e eles demonstraram verdadeiramente estar ao lado de Davi, a Palavra de Deus nos diz que “Davi os recebeu”.

Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mal que ela traz em seu ensino. (Compare 2 Jo 1:9-11 e Rm 16:17-18). Não falamos aqui das diferenças de opinião que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da fé cristã. As Escrituras dizem: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Rm 15:5-7). Se alguém que professasse má doutrina fosse recebido, como se poderia dizer que a assembleia estaria concorde e “a uma boca” glorificando a Deus? Os irmãos na assembleia estariam dizendo uma coisa e essa pessoa dizendo outra. O resultado seria confusão. Paulo disse aos Coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Co 1:10).

Quando a questão envolve pecado eclesiástico, é preciso paciência e discernimento para identificar isso em alguém. Existe uma diferença entre alguém estar associado ao erro clerical por ignorância e uma pessoa ativamente envolvida e promovendo tal erro. Um crente que talvez ignore a ordem bíblica para a adoração e o ministério cristão pode querer partir o pão à mesa do Senhor vindo de uma denominação criada por homens e onde seja adotada uma ordem clerical. Ainda que essa pessoa esteja associada ao erro eclesiástico, ela não está envolvida com o mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por sua piedade no andar e professar sã doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tenha se desligado formalmente de sua associação com aquela denominação.

A questão é: quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna mal eclesiástico? Cremos que a resposta é simplesmente quando a vontade da pessoa está envolvida nisso. Para detectar essa vontade é preciso que a assembleia tenha um discernimento sacerdotal. Em casos assim a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer a opinião que Ele tem a respeito do assunto. Em condições normais os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, esperando e confiando que Deus estaria trabalhando em seu coração e que ela iria abandonar o lugar de onde veio após ter participado da ceia do Senhor, continuando, a partir daí, congregada com aqueles reunidos ao nome do Senhor.

Isto é ilustrado em figura em 2 Crônicas 30-31. Ezequias permitiu que o povo de Judá, e também alguns das dez tribos separadas, participassem da Páscoa e adorassem ao Senhor no divino centro em Jerusalém. Depois de fazerem isso, eles voltaram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens sejam condescendentes com a idolatria; estamos falando apenas do princípio encontrado ali). O que é interessante notar neste caso é que Ezequias não lhes falou para agirem assim! Aquilo foi uma resposta vinda de seus corações pelo simples fato de terem estado na presença do Senhor em Jerusalém. Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser aceito. Como assinalou J. N. Darby, uma pessoa assim não estaria sendo honesta com nenhuma das partes. Ele também afirmou que a degradação e a corrupção aumentam cada vez mais no testemunho cristão, ficando cada vez mais difícil colocar em prática este princípio. À medida que os dias se tornarem mais sombrios será necessário um discernimento cada vez maior. Atualmente algo assim só tem acontecido esporadicamente.

Outra figura do Antigo Testamento ilustra o cuidado no recebimento à comunhão. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino neste mundo onde o Senhor havia colocado o Seu Nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia um grande perigo representado pelos inimigos em redor. Consequentemente, eles não abriam os portões para permitir que as pessoas entrassem na cidade “até que o sol aqueça” [literalmente ‘ao meio-dia’] (Ne 7:1-3). Eles se certificavam de não existir qualquer vestígio de sombras em redor antes de permitir que as pessoas entrassem na cidade. Até que chegasse aquela hora, eles faziam com que as pessoas que desejassem entrar na cidade aguardassem. À medida que a escuridão na cristandade aumenta nestes últimos dias é preciso tomar este tipo de cuidado na recepção de pessoas à comunhão. Você encontra o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 (“os porteiros”).

TIAGO 2:1-4 NÃO É UM MODELO PARA A IGREJA

Aqueles que insistem numa recepção aberta na assembleia gostam de apontar para Tiago 2:1-4 como prova de que a igreja primitiva não fazia qualquer escrutínio na recepção, como os irmãos hoje fazem. A conclusão deles é que tal prática não estaria em conformidade com as Escrituras. A passagem de Tiago diz:

Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas. Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje, e atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado, porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?” (Tg 2:1-4).


Este é o clássico exemplo de se raciocinar a partir de uma premissa e interpretação falsas de uma passagem das Escrituras. Tiago não está falando da assembleia cristã, mas de uma sinagoga judaica! A palavra “ajuntamento” ou “reunião” no versículo 2, dependendo da versão da Bíblia, deveria ser traduzida corretamente como “sinagoga” (como aparece nas versões Almeida Revista e Atualizada e em inglês na versão de J. N. Darby). Estes versículos nada têm a ver com a prática da assembleia. A passagem está se referindo a um homem rico e outro pobre que visitam a sinagoga. Não existe aí qualquer menção de que eles sequer fossem crentes! Certamente ninguém iria defender a ideia de que incrédulos deveriam ser recebidos à mesa do Senhor.

O assunto do qual Tiago está falando é o modo como devemos tratar as pessoas, independente de estarem elas salvas ou perdidas. O fato de ele mencionar crentes frequentando a sinagoga judaica demonstra que naqueles primeiros dias os convertidos do judaísmo ainda não tinham se afastado do sistema judaico (Atos 21:20). Sendo eles cristãos judeus, ainda não estavam firmados na completa luz do cristianismo do modo como ela seria revelada depois através do ministério de Paulo. A epístola aos Hebreus ainda não tinha sido escrita, a qual ensina que os cristãos devem se separar do judaísmo (Hb 13:9-14). A verdade é que até ali nenhuma das outras epístolas do Novo Testamento havia ainda sido escrita.

Ao contrário do que alguns possam afirmar, a igreja primitiva era cuidadosa na recepção de pessoas à comunhão. Isto é visto no modo como eles lidaram com Saulo de Tarso (At 9:26-28). Apolo, por sua vez, precisou de uma carta de recomendação ao viajar para a Acaia (At 18:27-28). Isto demonstra que ele não teria sido recebido sem uma carta. Febe também precisou de uma carta semelhante ao viajar para Roma (Rm 16:1-2). Veja 1 Timóteo 5:22: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos”. Além do mais, Paulo disse a Timóteo que este andasse “com os que, de coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22). Como alguém poderia discernir isto em alguém sem passar um tempo para conhecer a pessoa? Se a assembleia é responsável em tirar o mal de seu meio (1 Co 5), obviamente ela deve ser cuidadosa a respeito do quê ou de quem traz para seu meio. Portanto existe a necessidade de cuidado na recepção de pessoas à comunhão.

RESUMINDO: A verdade estava em processo de ser redescoberta nos primeiros dias da história dos “Irmãos”. No início, J. N. Darby e os que congregavam com ele tiveram, por assim dizer, um olho aberto para a verdade. Houve então um desenvolvimento no entendimento e isto pode ser percebido em seus escritos. Mais tarde ele escreveria a W. Kelly, que estava compilando seus textos, lembrando-lhe do cuidado que precisava ter naquela tarefa. Ele escreveu: “Entendo que algumas anotações exigem revisão, mas não me oponho a que sejam publicadas como anotações se isto for útil. Até mesmo meus sermões contêm coisas que eu hoje não aceitaria. Algumas das publicações mais antigas precisariam ter recebido uma ou duas observações quando passei a ter mais luz sobre o assunto, mas é melhor não alterá-las”.

Um dos assuntos sobre os quais eles receberam “mais luz” foi o da recepção à mesa do Senhor. O problema ocorrido em Bethesda foi o que os levou a isso. Daí em diante eles passaram a ser mais cuidadosos ao receberem pessoas à comunhão. Portanto, não é válido apontar para a prática adotada pelos irmãos nos primeiros dias do século 19 como um modelo para a assembleia hoje.

Continua em: 
Capítulo Dez - De que vale estar congregado ao nome do Senhor?

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Capítulo Oito - O que fazer se a assembleia tomar uma decisão errada?


PERGUNTA: O que fazer se uma assembleia tomar uma decisão injusta e errada?


Antes de tentarmos responder deveríamos ser muito cuidadosos em chamar de erradas ou maléficas certas decisões tomadas pela assembleia. Pode ser que os irmãos tenham agido sobre princípios bíblicos que nós desconheçamos. Neste caso, embora acreditemos que eles estejam errados, o erro na verdade será nosso.

Por outro lado é possível que as coisas tenham sido conduzidas de maneira errônea e a assembleia tenha tomado a decisão errada. Supondo que seja esta a premissa da pergunta, tentaremos respondê-la de acordo.

RESPOSTA: Se algo assim tiver ocorrido, quero dizer, se a assembleia tiver tomado uma decisão errada, sempre existe um recurso.

Primeiro, podemos levar o assunto em oração diretamente ao Senhor, a Ele que é a Cabeça da igreja. Ele pode exercitar as consciências dos que estão naquela localidade até fazer com que corrijam sua decisão.

Segundo, o Senhor pode levantar profetas na assembleia local ou enviá-los de outras assembleias para lançar luz à consciência daquela assembleia para que a decisão errada possa ser corrigida (2 Co 2:4; Ap 2:13; 2 Cr 24:19-22; Jz 9:5-21).

Terceiro, se aquela assembleia local se recusar a lidar com o seu erro, depois de isso ter sido mostrado a ela de forma conclusiva e em conformidade com a Palavra de Deus, aquela decisão pode ser repudiada por outra assembleia agindo em nome do corpo como um todo. Os irmãos da outra assembleia simplesmente fariam uma comunicação formal
de que a assembleia que está incorrendo no erro já não está mais sobre o verdadeiro terreno da igreja de Deus. Esta responsabilidade é mostrada nas palavras do Senhor às sete igrejas na Ásia (Ap 2-3). Ele considerou “o anjo” (os líderes responsáveis) de cada assembleia responsável por todos os erros que foram permitidos ali. Mas cada mensagem termina com as palavras “O que o Espírito diz às igrejas” (plural). Isto demonstra que, embora cada assembleia seja responsável em lidar com o mal em seu meio, existe uma responsabilidade corporativa da parte das outras assembleias no que diz respeito àquela questão, quando a assembleia local não trata o problema. O Senhor não fala na passagem como isto deve ser feito, mas simplesmente mostra que existe uma responsabilidade corporativa da parte das outras assembleias.

Este princípio é magnificado ao considerarmos a figura em Deuteronômio 13. Se o mal fosse encontrado em alguém numa cidade na terra, a cidade na qual a pessoa vivia deveria “apedrejá-la” até à morte (vers. 6-11). O apedrejamento nos fala da participação da consciência de todos em uma assembleia local que está engajada no julgamento de um ímpio em seu meio. Se fosse descoberto que uma cidade tinha em seu meio um mal não julgado, então as outras cidades na terra deviam agir para a glória de Deus e julgar aquela cidade. Ela devia ser destruída e transformada para sempre em uma pilha de entulho (vers. 12-18). Isto demonstra que existia uma responsabilidade coletiva da parte das cidades em Israel em eliminar o mal que havia na terra. Em figura, isto nos fala da assembleia que é comprovadamente injusta sendo repudiada pelas outras assembleias que têm comunhão com ela, como se não mais estivesse reunida sobre o verdadeiro terreno da igreja.

Como já foi mencionado, a remoção de um candeeiro em uma localidade é algo que o Senhor não faz rapidamente. É só depois de muita insistência e de ter sido dado tempo para que se arrependessem que o Senhor irá levantar outra assembleia para repudiar aquela que está no erro. Deste modo, evidentemente, a decisão errada que a assembleia repudiada mantinha deixa de ter efeito. Enquanto isso, até que uma assembleia chegue ao ponto de agir para a glória de Deus em uma determinada questão (repudiando a assembleia envolvida), nosso papel é o de nos sujeitarmos à decisão e esperar em Deus. Mencionamos isto para demonstrar que existe um recurso contra o abuso de autoridade nas questões administrativas.

É
importante notar que as Escrituras nunca nos instruem a tentarmos resolver individualmente nós mesmos as questões, ou a agirmos de forma independente quando uma decisão de assembleia nos parecer equivocada; algo assim seria o contrário de procurar “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). A ação independente de indivíduos em questões coletivas numa decisão de assembleia sempre é condenada pelas Escrituras (Dt 17:12; Nm 15:30-31). Coisas assim só servem para abrir a porta para o inimigo dividir e espalhar o rebanho. Existe uma maneira divinamente indicada para lidar com este tipo de problema, e devemos segui-la a fim de manter a ordem.

Infelizmente muitos cristãos caem neste erro. Eles pensam que não podem se sujeitar a algo que acreditam ser injusto e incompatível com as Escrituras. Acham que estarão comprometendo uma boa consciência. Alguns irão até dizer: “Eu devo obedecer primeiro ao Senhor, e não aos irmãos!”. Mas isso é uma ilusão. Se o Senhor pode aguardar até que a decisão seja retificada, por que nós não podemos fazer o mesmo? Uma assembleia que cometa um erro em suas responsabilidades administrativas ainda tem o Senhor em seu meio até que ela seja formalmente repudiada. J. N. Darby disse: “Por que falar de obedecer primeiro ao Senhor e depois à igreja? Como fazer isso supondo que o Senhor esteja na igreja? Trata-se meramente de estabelecer um julgamento privativo em oposição ao julgamento da assembleia reunida ao nome de Cristo conforme a Sua promessa (se não for o caso de uma assembleia congregada ao nome de Cristo, então nada tenho a dizer). Isso nada mais é do que dizer: ‘Sozinho eu me considero mais sábio do que os que estão congregados’. Eu rejeito completamente a ideia de obedecer primeiro a Cristo e depois à igreja por ser algo totalmente sem fundamento bíblico”. Falando do mesmo assunto, ele declarou: “Portanto, a questão toda não passa de um mero sofisma que denuncia o desejo de dar livre expressão à vontade própria, com base na confiança de que o julgamento feito por uma pessoa seja superior a tudo o que já tenha sido julgado”.

É
importante entender que a assembleia foi investida da autoridade do Senhor para agir em Seu Nome durante a Sua ausência, e devemos nos submeter às suas ações como sendo a autoridade final. Em Mateus 18:18-20, ao tratar de certa questão, o Senhor disse: “Dizei-o à igreja”. Então ele passou a falar da autoridade da igreja para agir em Seu nome, ao dizer: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu”. Um exemplo desse ligar é encontrado em 1 Coríntios 5:11-13; um exemplo do desligar aparece em 2 Coríntios 2:6-10. [N. do T.: O ‘ligar’ e ‘desligar’ tem o sentido de tomar uma decisão e depois revogá-la; não é meramente no sentido de ‘ligar’ ou ‘desligar’ alguém da comunhão].

Todavia, o fato de ter sido dado à assembleia autoridade para agir para a glória de Deus não significa que suas ações sejam infalíveis. J. N. Darby escreveu um artigo muito proveitoso neste sentido, com o título de “Confounding Authority With Infallibility” (“Confundindo Autoridade com Infalibilidade”). Ali ele demonstra que é possível que uma assembleia ligue algo que esteja errado, e mesmo assim aquilo será ligado no céu -- ao menos até a ação poder ser retificada. Muitos ficam confusos com isto. Não conseguem entender como uma decisão errada poderia ser ‘ligada no céu’. Todavia o fato de ela ter sido ‘ligada no céu’ não significa necessariamente que ela tenha sido aprovada pelo céu. Significa simplesmente que o céu reconhece a decisão. O céu pode não estar contente com a decisão tomada pela assembleia, mas a endossa. A assembleia foi revestida da autoridade do Senhor para agir por Ele em Sua ausência de forma representativa; trata-se de uma extensão de Sua autoridade na terra. Ainda que seja possível uma assembleia usar erroneamente da autoridade do Senhor, mesmo assim a autoridade continua sendo dEle.


Podemos entender melhor este princípio em uma família. No artigo de Darby, "Confundindo Autoridade com Infalibilidade", ele menciona o fato de, na família, os pais terem recebido de Deus autoridade, e mesmo assim não serem infalíveis. Todos na família devem se sujeitar àquela autoridade. Um pai pode disciplinar um filho por engano, mas ainda assim sua autoridade é válida e o dever de todos na família é se submeterem.

É
assim que é mantida a ordem em um lar. Quando ficasse claro que o pai cometera um erro, o normal seria ele reconhecer seu erro pedindo humildemente desculpas e fazendo as correções necessárias. O mesmo ocorre com um policial: ele possui autoridade para prender alguém, mas já que o policial não é infalível, é possível que ele venha a cometer erros. Porém sua ação continua a ter validade e a pessoa presa não tem alternativa senão aceitá-la, até que se prove que a ação foi errada. Se as autoridades civis não fossem assim, não haveria qualquer ordem no governo e estaríamos vivendo em um estado de anarquia. Darby também escreveu: “Em uma centena de situações a obediência pode ser obrigatória apesar de não haver infalibilidade. Caso contrário, como você pode facilmente constatar, não haveria qualquer ordem no mundo... Se não existisse obediência em casos em que não há infalibilidade e se não houvesse qualquer submissão ao que foi decidido, a vontade própria não teria fim e seria impossível existir uma ordem”. De um modo similar, as decisões em assembleia podem não agradar o céu por ela ter cometido um erro ao ligar, mas mesmo assim o céu endossa sua decisão pelo tempo que for necessário. É assim que a ordem é mantida na casa de Deus.

Deveríamos ter uma atitude solene ao pensarmos na possibilidade de usarmos da autoridade do Senhor de forma errada e inadvertidamente identificarmos o céu com algo que não esteja correto, incorrendo assim no juízo governamental do Senhor. Esta é a verdadeira razão pela qual o Senhor deixou de estar associado com a massa da profissão cristã e adotou um testemunho remanescente. E se aqueles identificados com tal testemunho remanescente seguirem numa condição lamentável e comprometendo sua responsabilidade, Ele pesará Sua mão sobre eles em juízo governamental e reduzirá o seu número, peneirando e espalhando alguns para que os que ficarem se humilhem. É triste dizer, mas isto tem acontecido.


W. Potter escreveu um breve texto sobre as ações da assembleia em ligar e desligar, no qual ele diz que a expressão “qualquer coisa” em Mateus 18:19 é qualquer coisa mesmo, sem qualquer condição. A assembleia pode tomar uma decisão de ligar ou não, conforme achar ser ou não necessário fazê-lo para a glória do Senhor. Alguns acham que isto está mais para o papado e que daria à assembleia uma autoridade inquestionável. Estes argumentarão que se “qualquer coisa” for incondicional, então a assembleia poderia ligar qualquer coisa ao seu bel prazer, e isso seria automaticamente ligado no céu. Eles acham que isso faria o céu ficar à mercê das ações da igreja na terra, e caso a assembleia cometesse um erro, o céu estaria tendo comunhão com o erro. Todavia, tal ideia não tem fundamento. Já demonstramos que o Senhor continua no meio de uma assembleia em erro e que tenha o mal em seu meio, até que isso seja retificado ou ela seja formalmente repudiada.

É
triste que muitos tenham sido enganados por tal ideia equivocada de que, a menos que uma decisão de assembleia tenha o selo da Palavra de Deus, tal decisão não será ratificada no céu e não terá o poder de sujeitar ninguém a ela na terra. Em outras palavras, a decisão só seria uma decisão de ligar quando fosse uma decisão correta. O que essas pessoas estão realmente dizendo, ainda que não percebam, é que todas as decisões corretas da assembleia seriam infalíveis. Ao agir administrativamente para tomar uma decisão de ligar, a assembleia nunca estaria errada! Os próprios que acusam os irmãos de papismo são aqueles que apoiam a infalibilidade. O artigo de J. N. Darby demonstra que esta ideia equivocada confunde autoridade com infalibilidade.

À
primeira vista parece lógico, segundo este argumento, não se sujeitar a uma decisão injusta, mas por detrás desta ideia está a tentativa do inimigo de introduzir confusão na assembleia e minar sua autoridade e suas decisões. Tudo o que alguém precisaria fazer seria declarar que uma decisão da assembleia seria injusta e concluir que, por conseguinte, o céu não a ligaria. E se o céu não a aceitasse, então as pessoas deveriam igualmente rejeitá-la. Esta é uma forma bem conveniente de se colocar de lado as decisões da assembleia que não nos agradem. Se as ações administrativas da assembleia só exigissem sujeição com a condição de serem decisões justas, então toda a ordem estaria comprometida. Esta ideia errônea coloca os julgamentos da assembleia sob nosso próprio julgamento individual. Se assim fosse, a assembleia deixaria de ser a mais elevada corte de autoridade nestas questões, passando a posição para o nosso próprio julgamento individual! O resultado é que todos ficariam à mercê do que parecesse reto “aos seus olhos” (Juízes 21:25). Todavia, J. N. Darby escreveu que “a um julgamento feito por uma assembleia, mesmo que considerado errôneo, devo em princípio aceitá-lo e me sujeitar a ele”.

Em um esforço para negar a força do “tudo” de Mateus 18:18, alguns erroneamente decidiram que o versículo 19 refere-se a uma reunião de oração. O raciocínio é que, se a as orações da assembleia estão sujeitas à qualificação do céu (pois Deus apenas atende nossas orações quando elas estiverem em conformidade com a Sua vontade), então o “tudo” que a assembleia ligasse deveria estar sujeito à aprovação do céu. É um raciocínio sagaz, mas que tira o versículo 19 de seu contexto. A passagem não está se referindo a uma reunião de oração, mas àqueles congregados ao nome do Senhor, reunidos como tais para agirem em suas responsabilidades administrativas ao tomarem decisões que têm o efeito de ligar. Trata-se de uma reunião para disciplina. Em 1 Coríntios 5:4-5 Paulo fala do mesmo tipo de reunião. Se em Mateus 18:19 o Senhor estivesse se referindo à reunião de oração, então Ele teria mudado de assunto bem no meio de Sua dissertação sobre as ações administrativas da assembleia. Depois Ele teria voltado ao assunto anterior que tem a ver com a presença do Senhor no meio da assembleia, e de seus santos terem de exercitar um espírito de perdão para com um irmão arrependido depois de haver pecado (vers. 20-35). Não faria qualquer sentido. O propósito dos versículos 19 ao 20 é que a assembleia se reúne com o Senhor no meio para invocar a Deus para ratificar sua decisão de ligar. A promessa é clara: “Isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus”. (O versículo 20 pode até ser lido no partir do pão, mas ele apenas estabelece o fato de que o Senhor está no meio dos Seus santos quando congregados em assembleia).

Para aqueles que questionam se “tudo” significa qualquer coisa que a assembleia possa julgar, indicamos a leitura de 2 Coríntios 2:10. Ali vemos que quando se trata de desfazer uma ação de ligar Paulo diz: “E a quem perdoardes alguma coisa...”. Se eles são vistos ali perdoando “alguma coisa” é porque devem necessariamente ter ligado “tudo”. Isto não deveria ser difícil de compreender para alguém com disposição para tal, mas é aí que está a questão. Será que realmente desejamos saber a vontade do Senhor? Às vezes as pessoas fazem tanto barulho por considerarem que a assembleia talvez tenha tomado a decisão errada, que fica difícil entender aonde querem chegar. Mas, sinceramente, quando acontece de uma assembleia tomar uma decisão errada? Raramente. Potter dizia que, nos 50 anos em que ele esteve congregado com os irmãos, nunca soube de alguma decisão da assembleia à qual ele não pudesse se submeter.

Para alguns a solução seria existir outra etapa em que a assembleia faria uma revisão da decisão original tomada pela mesma assembleia. C. D. Maynard disse que “uma assembleia, quando congregada ao Nome de Cristo, tem a Ele em seu meio, e possui a Sua autoridade para agir em ligar ou desligar os pecados de um irmão culpado (Mt 18:18-20). Tal decisão é ratificada nos céus. Dessa decisão não há apelação, a não ser a Cristo na glória, já que o próprio Jesus ‘entregava-se àquele que julga justamente’ (1 Pe 2:23)...

Alguns poderiam dizer que se uma assembleia local julgasse supostamente de forma errada, existiria a possibilidade de se apelar para outra assembleia local, por exemplo, para restaurar alguém colocado injustamente fora de comunhão. Para tal ideia existe tanto fundamento bíblico quanto para qualquer corrupção introduzida pelo romanismo. O que tal ideia realmente faz é negar a unidade prática das duas reuniões. O mero pensar nisto já significa rejeitar que exista um corpo e um Espírito. Se a mesa do Senhor é uma, as duas reuniões estão ligadas quando uma delas toma uma decisão, portanto não há como apelar. Se elas pudessem revisar o julgamento uma da outra, a unidade do Espírito não existiria ali e elas nada mais seriam que reuniões independentes”. A falta de entendimento deste importante princípio em questões envolvendo a assembleia está por detrás de muitas das tristes divisões que ocorreram entre os congregados ao Nome do Senhor ao longo dos anos. Portanto, faremos bem se ponderarmos estas coisas cuidadosamente.

Outra ideia errônea de alguns é que se a assembleia tomar uma decisão errada ela perderá o terreno que ocupa como congregada ao nome do Senhor, e já não estará em terreno divino. Isto é um erro ultrajante. Mais uma vez tal ideia demonstra a ignorância que existe ao se confundir autoridade com infalibilidade. O fato de uma assembleia ser investida de autoridade, e não de infalibilidade, significa que ela tem a possibilidade de cometer um erro. Ao cometer um erro, a assembleia não perde seu status de estar biblicamente congregada, do mesmo modo como os pais em uma família não deixam de ser pais por terem cometido um erro ao disciplinar um filho de forma injusta.

Um exemplo deste equívoco é o que aconteceu em Tunbridge Wells em 1908-1909. Muitos achavam que as ações que a assembleia havia tomado, primeiro de silenciar (1903), e mais tarde de excluir da comunhão C. Strange (1908) tinham sido injustas. Acreditando que as decisões de Tunbridge Wells tivessem sido injustas e sem fundamento bíblico, algumas pessoas acharam que a assembleia teria perdido seu status de uma assembleia verdadeiramente congregada ao Nome do Senhor. Como consequência, muitos não quiseram se submeter às decisões de sua assembleia. W. R. Dronsfield propôs esta ideia errônea na página 33 de seu livro “The Brethren Since 1870” (“Os Irmãos desde 1870”), dizendo que “se dois ou três estiverem verdadeiramente congregados ao Nome do Senhor, qualquer decisão que vierem a tomar deve estar adequada para os céus a reconhecerem como tal. Todavia o inverso é também verdade, ou seja, que se aqueles congregados chegarem a uma decisão inválida e injusta, não poderão estar congregados ao Nome do Senhor”. Esta ideia equivocada levou a uma triste divisão entre os irmãos.


RESUMINDO: Se acharmos que a assembleia cometeu um erro ao ligar uma decisão:

Primeiro, precisamos ter certeza de termos entendido os princípios envolvidos. Pode ser que estejamos mal informados e ignoremos alguns princípios bíblicos. Se mesmo assim tiver sido uma decisão errada, devemos apresentá-la ao Senhor, a Cabeça da igreja, em oração.

Segundo, devemos expressar nossas convicções -- baseadas nas Escrituras -- aos irmãos e esperar que eles sejam exercitados a respeito.

Terceiro, devemos esperar no Senhor para que Ele possa intervir e fazer a correção. Podemos descansar na certeza de que Ele irá intervir, em Seu próprio tempo e da Sua própria maneira; a fé irá esperar nEle. Se for um erro sério pode ser que o Senhor venha a guiar outra assembleia para repudiar formalmente aquela assembleia que alega estar sobre terreno divino.

Enquanto isso, não devemos tomar o assunto em nossas próprias mãos e começar a fazer campanha entre os santos para boicotarem a decisão. É possível lutarmos pela causa correta, porém da maneira errada, o que só gera confusão. É comum os que agem na carne em questões de assembleia acabarem machucados -- mesmo que estejam lutando pelo que é certo! O Senhor disse: “Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt 26:52).

Continua em: 
Capítulo Nove - Os irmãos atuais são sectários comparados aos do século 19?

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–– Bruce Anstey | AO SEU NOME
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–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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