Um exame mais detalhado de Atos 2 | John MacArthur
Indubitavelmente, Atos 2 é a passagem da Escritura sobre a qual pentecostais e carismáticos desenvolvem sua teologia do batismo do Espírito Santo. Ao registrar o nascimento da igreja, Lucas disse:
“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”.
Como já afirmamos, a doutrina da subseqüência, de pentecostais e carismáticos, é extraída principalmente dessa passagem. Os carismáticos alegam que os apóstolos e outros discípulos — que experimentaram o batismo e as línguas em Atos 2.1 a 4 — já eram salvos. Portanto, no Dia de Pentecostes eles receberam o poder do Espírito Santo que deveriam usar para transformar o mundo.
Nesse aspecto, o ponto de vista carismático não pode ser censurado. Temos certeza de que os discípulos mencionados em Atos 2 — ou pelo menos alguns deles — tinham experimentado a salvação. Eram provavelmente os mesmos cento e vinte discípulos, incluindo os apóstolos, que se reuniram no cenáculo, conforme Atos 1. Como sabemos que já eram salvos? Jesus lhes dissera: “Alegrai-vos... porque o vosso nome está arrolado nos céus” (Lc 10.20) e: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). Não há dúvida de que Jesus assegurou-lhes a salvação.
A maior parte dos carismáticos sugere que os discípulos também haviam recebido o Espírito Santo antes do Dia de Pentecostes, no cenáculo, após a ressurreição de Jesus. Em João 20.21-22 lemos: “Jesus... soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”. De acordo com a interpretação carismática padrão concernente a esses versículos, visto que Jesus já lhes tinha dado o Espírito Santo, a experiência do Dia de Pentecostes deve representar algo maior. Era uma experiência de nível superior do batismo do Espírito, que lhes concedeu poder verdadeiro.(6)
Mas eu pergunto: Essa é a interpretação correta de João 20.21-22? Neste ponto, a posição carismática não resiste ao escrutínio. Inicialmente, a passagem não afirma que os discípulos receberam realmente o Espírito Santo. Nenhuma passagem o afirma até ao Dia de Pentecostes. A passagem de João 20 assevera apenas que Jesus lhes disse: “Recebei o Espírito Santo”. O que isso significa? A declaração foi um penhor, uma promessa, que se cumpriria no Dia de Pentecostes. Crisóstomo (345-407 d.C.) e muito outros mantinham essa posição. As declarações seguintes de João 20 parecem confirmar que os discípulos não receberam o Espírito no cenáculo. Oito dias depois, Jesus veio ao encontro deles, no lugar em que se escondiam — cheios de temor — um local fechado (20.26). Mais de uma semana depois de Jesus haver soprado sobre eles e prometido o Espírito, os discípulos não haviam ido a lugar algum nem realizado nada que manifestasse o poder e a presença do Espírito.
No entanto, os argumentos mais fortes surgem nos primeiros versículos de Atos 1. Um pouco antes da ascensão, Jesus reuniu os discípulos e lhes disse que não se distanciassem de Jerusalém e esperassem a promessa do Pai (At 1.4). Jesus continuou e afirmou:
“João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”. A “promessa do Pai” refere-se, aparentemente, a João 14.16: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco”. Essa era a promessa da vinda do Espírito Santo. Ela foi confirmada por Jesus em João 20.26, mas ainda não fora cumprida. Naquele momento os discípulos ainda esperavam pelo Espírito Santo.
Jesus disse novamente: “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Torna-se claro que o recebimento do poder seria correspondente ao recebimento do Espírito Santo. Os discípulos ainda esperavam. A promessa ainda não fora cumprida. Se o Espírito tivesse descido sobre eles na ocasião descrita em João 20, o poder também estaria neles, e não teriam nada a esperar.
Duas outras passagens indicam que os discípulos não receberam o Espírito Santo antes do Dia de Pentecostes. Em João 7, lemos que Jesus se levantou na Festa dos Tabernáculos e ofereceu água viva a todos os que desejassem vir e beber. No versículo 39, o apóstolo explicou que Jesus falava sobre o Espírito Santo: “Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado”. Essa passagem afirma explicitamente que o Espírito não viria enquanto Jesus não fosse glorificado; e Jesus só seria glorificado quando ascendesse ao céu.(7)
Além disso, Jesus falou aos discípulos: “Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, se eu for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16.7). Jesus só “foi” quando ascendeu, conforme registra o início de Atos dos Apóstolos.
Deste modo, o estudo cuidadoso da Bíblia aponta convincentemente para a conclusão de que as palavras de Jesus (Jo 20.22) são apenas uma promessa da vinda do Espírito Santo; os discípulos não O receberam naquele momento.
Lembre-se também de que todos esses acontecimentos se deram em ‘um período de transição’. É claro que houve uma sobreposição entre a Antiga e a Nova Aliança. Os discípulos conheciam e confiavam em Cristo, mas ainda eram crentes do Antigo Testamento. Eram incapazes de entender e experimentar a habitação permanente do Espírito enquanto Ele não viesse no Pentecostes.
Como respondemos à afirmação carismática de que “o batismo no Espírito é algo que deve ser buscado com ardor”? Embora os cento e vinte discípulos no cenáculo estivessem orando numa atitude de antecipação e expectativa (At 1.4), não há evidência de que buscavam o Espírito Santo. Os discípulos não podiam fazer nada para que esse grande evento ocorresse. Apenas esperavam o cumprimento soberano da promessa divina.
Também não existe, em todo o livro de Atos, a menor indicação de que alguém buscou ou pediu o Espírito Santo ou as línguas. Nos capítulos 8, 10 e 19 não achamos NINGUÉM buscando o Espírito. Não existe nenhuma passagem bíblica que apresente os crentes das igrejas de Antioquia, Galácia, Filipos, Colossos, Roma, Tessalônica ou Corinto buscando o Espírito Santo ou as línguas. Estude as passagens do livro de Atos que descrevem pessoas sendo cheias do Espírito e falando em línguas. Não há nem um exemplo — nem mesmo onde esses fenômenos ocorreram — indicando que algum membro da igreja primitiva buscou essa experiência. Frederick Dale Bruner estava certo ao perguntar: “Isto não deveria afetar a doutrina pentecostal da “busca do batismo no Espírito Santo com a evidência inicial do falar em línguas”?”(8)
Quando o Espírito Santo veio no Pentecostes, uma nova ordem foi estabelecida. A partir daquela ocasião, o Espírito Santo viria a todo crente no momento da fé e habitaria nele em um relacionamento duradouro e permanente. Esse é o motivo por que Romanos 8.9 afirma: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Essa também é a razão pela qual Paulo afirmou que todos os cristãos são batizados, pelo Espírito no Corpo de Cristo e que a todos nós foi dado de beber do mesmo Espírito (1Co 12.13).
Atos 2.3-4 registra o recebimento do Espírito. Os discípulos foram batizados com o Espírito (vv. 2-3); esse acontecimento foi acompanhado por um som vindo do céu, semelhante a um vento impetuoso, e por línguas como de fogo, que pousaram sobre todos eles. Nesse momento, todos ficaram cheios do Espírito e começaram a falar em outras línguas. Essas línguas miraculosas possuíam um propósito definido: serviriam como sinal de juízo sobre o Israel incrédulo, comprovando a inclusão de outros grupos na igreja; serviriam também para confirmar a autoridade espiritual dos apóstolos. (Quanto a uma avaliação mais completa do propósito das línguas, ver Capítulo 10.)
Atos 2.5-12 relata que os judeus ali presentes — “homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu” — ficaram extasiados. Aceitaram esse milagre surpreendente como um sinal da parte de Deus. Quando Pedro se levantou e pregou um sermão, três mil pessoas creram e foram salvas. Todas essas pessoas receberam o Espírito Santo no momento em que creram (2.38). Novamente, nada sugere que as três mil pessoas tenham falado em línguas enquanto ouviam os discípulos fazê-lo.
O acontecimento registrado em Atos 2 foi uma maravilha ímpar. Foi o primeiro e último Pentecostes para a igreja. Deus desejava que todos soubessem que algo incomum estava acontecendo; por isso, houve um som semelhante ao vento impetuoso, as línguas de fogo repartidas sobre cada um dos discípulos; também foi por essa razão que eles falaram em outras línguas.
Deus queria que todos os recipientes do batismo inicial do Espírito soubessem que faziam parte de um acontecimento único e dramático. Também queria que os peregrinos em Jerusalém, provenientes de países diferentes e de regiões circunvizinhas, ouvissem a mensagem em sua própria língua. A igreja nasceu. Iniciava-se uma nova era. Como Merrill Unger destacou:
“O Pentecostes é tão irrepetível como a criação do mundo ou do homem. Além disso, o Pentecostes ocorreu de uma vez para sempre, como a encarnação, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo. Deduzimos isso dos seguintes fatos:
1. O Espírito de Deus veio, chegou e fixou residência na igreja apenas uma vez, no Pentecostes;
2. O Espírito Santo foi outorgado, recebido e depositado na igreja apenas uma vez, no Pentecostes;
3. O Pentecostes ocorreu em um tempo específico (At 2.1) — em cumprimento de um tipo do Antigo Testamento (Lv 23.15-22), num local determinado (Jerusalém — cf. Lc 24.49), sobre poucas pessoas (At 1.13,14), com um propósito específico (cf. 1Co 12.12-20): introduzir uma nova ordem. Esse acontecimento não constitui uma característica contínua ou recorrente dessa nova ordem introduzida de uma vez por todas”.(9)
Entretanto, os carismáticos transformam esse acontecimento em algo normativo para os cristãos de todas as épocas. Afirmam que o eventos relatados nesse capítulo de Atos devem acontecer com qualquer pessoa. Se isso fosse verdade, qualquer pessoa também sentiria o vento impetuoso e as línguas repartidas. Evidentemente, esses fenômenos não são mencionados hoje.
Em 1976, os pentecostais realizaram uma conferência mundial em Jerusalém para celebrar “o milagre contínuo do Pentecostes”. De modo significativo, os delegados precisaram usar os serviços de intérpretes e fones de ouvido para entender o que era dito! Embora os carismáticos indiquem Atos 2 como base para sua crença e prática, os fenômenos carismáticos contemporâneos NÃO SÃO os mesmos experimentados pelos discípulos de Jerusalém no Pentecostes.
–– John MacArthur | O Caos Carismático
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
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