2 - Consequências da Teologia do Pacto


1. A Teologia do Pacto viola princípios básicos de interpretação bíblica


Com frequência tem sido declarado que um dos testes mais simples para toda doutrina é saber se ela exalta a Deus e ao Senhor Jesus Cristo. Toda sã doutrina, evidentemente, faz isso. Todavia, a Teologia do Pacto não passa neste teste. Além do mais, quando examinada à luz das Escrituras, percebemos que alguns dos princípios básicos da interpretação da Bíblia (Hermenêutica) são violados. Quando essas interpretações são analisadas do ponto de vista de suas conclusões lógicas elas se mostram bastante problemáticas. Os pontos a seguir demonstram como esse ensino não exalta a Deus e ao Senhor Jesus Cristo, e até mesmo se opõe a vários princípios fundamentais da interpretação da Bíblia.

2. A Teologia do Pacto rebaixa o caráter de Deus

Para começar, esse sistema de ensino rebaixa o caráter de Deus. Deus é mostrado como se tivesse iludido os filhos de Israel ao levá-los a acreditar que haveria um reino literal no futuro, quando segundo essa teologia Deus nunca teria intencionado que isso viesse a existir para eles. E ao longo dos anos Deus não teria sequer tentado corrigir suas falsas expectativas. Desse modo Deus é visto como fazendo promessas enganosas que Ele nunca tinha a intenção de cumprir. Isso é rebaixar o caráter de Deus e comprova que a Teologia do Pacto não poderia ser de Deus.


Deus disse exatamente o que queria dizer, e quis dizer exatamente o que disse — literalmente (Nm 23:19). Quando o Senhor apareceu aos Seus discípulos em ressurreição e eles Lhe perguntaram: “Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”, Ele não negou que iria restaurar o reino literalmente conforme esperavam. Ele simplesmente disse: “Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder.” (At 1:6-7). O Pai tinha reservado o Seu tempo para introduzir o reino com as bênçãos que o acompanhavam conforme prometera e de forma literal, mas isso aconteceria em algum momento mais tarde. Se não fosse para existir o reino literal o Senhor certamente teria corrigido as expectativas de seus discípulos naquele momento, mas Ele não tentou fazer isso, indicando que suas expectativas eram corretas. O erro deles estava na interpretação do momento em que essas coisas aconteceriam, e o Senhor em graça fez a devida correção.

3. A Teologia do Pacto priva o Senhor Jesus de Sua glória pública

A doutrina da Teologia do Pacto priva o Senhor Jesus da exibição da glória do Seu reino neste mundo (Hc 2:14; 2 Ts 1:10; Ap 1:7), e priva a Deus Pai da satisfação de ver Seu Filho publicamente inocentado no lugar onde Ele foi desonrado (Jo 5:23).

4. A Teologia do Pacto negligencia as Escrituras

O ensino da Teologia do Pacto negligencia as Escrituras que declaram abertamente que o presente chamado da Igreja pelo evangelho, o Mistério revelado, era desconhecido dos santos do Antigo Testamento (Rm 16:25-26; Ef 3:3-10; Cl 1:25-27). Os teólogos do Pacto dizem que a Igreja era conhecida pelos profetas do Antigo Testamento, que teriam profetizado acerca dela. Mas isso é uma clara negação das patentes declarações das Escrituras de que eles não sabiam nada a respeito. Isso era um “mistério” que estava “oculto” daqueles que viveram nas eras passadas, e que foi revelado somente quando o Espírito de Deus veio habitar na terra na Igreja quando esta foi formada.

A Teologia do Pacto desconsidera as muitas passagens das Escrituras que falam da verdade dispensacional, conforme discorremos nos capítulos anteriores. A clara evidência dos desígnios dispensacionais de Deus cobre mais de cem capítulos da Bíblia!

5.
A Teologia do Pacto posterga a vinda do Senhor

Esse sistema de ensino posterga ou atrasa a vinda do Senhor, e isso abre a porta para todos os tipos de coisas negativas que impactam a vida do crente de maneira prática (Mt 24:48).

6. A Teologia do Pacto rebaixa a Igreja


A nova Teologia do Pacto rebaixa a Igreja da posição que ela ocupa de uma entidade celestial, com bênçãos distintas que só pertencem a ela (Ef 1:3), à mesma condição dos santos mileniais na terra. As Escrituras ensinam que a Igreja é verdadeiramente uma entidade distinta dentre os grupos de pessoas abençoadas no sistema da graça. Ela é chamada de “igreja dos primogênitos” (Hb 12:22-23). Primogênito é um termo que aponta para aquilo que ocupa o primeiro lugar e de preeminência entre os outros santos de Deus.

Como já mencionado, aqueles que compõem a Igreja são vistos como “filhos” na casa de Deus, enquanto o santo do Antigo Testamento é visto como “menino” e “servo” na casa (Gl 4:1-7). O costume do lar judeu de celebrar um “bar mitzvá” ilustra essa diferença (N. do T.: “bar mitzvá” significa “filho do mandamento” e é também o nome da cerimônia de passagem, quando o menino é considerado adulto e responsável diante de Deus).

Além disso, Apocalipse 19 mostra a “esposa” do Cordeiro como distinta de outros santos celestiais, “aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro”, que compõem o “amigo do Noivo” (Jo 3:29). Sendo a esposa, ela ocupa um lugar especial em relação ao Cordeiro, ao contrário dos outros que não têm esse privilégio. As Escrituras declaram que Deus terá muitas famílias de seres abençoados no céu e na terra, tendo diferentes relacionamentos com Ele — eles não são todos um mesmo grupo (“toda a família nos céus e na terra” em Efésios 3:15 tem o sentido de cada família). Mas nenhum deles ocupa um lugar de favor e proximidade de Cristo como os cristãos que são membros do Seu corpo (Ef 5:23-32).

7. A Teologia do Pacto priva Israel de sua herança literal


A doutrina da Teologia do Pacto priva o remanescente de Israel de sua herança em sua terra. Ela rouba deles sua esperança nacional. As Escrituras afirmam que a herança de Israel não será retida para sempre. Apesar de seu fracasso, eles receberão uma herança literal em sua terra, “porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11:29).

8. A Teologia do Pacto se desvia dos princípios corretos da exegese bíblica


Esse sistema de ensino se desvia dos verdadeiros princípios da exegese bíblica e supõe que, por existirem coisas do Antigo Testamento que são citadas pelo Espírito Santo no Novo Testamento, isso significaria que elas teriam se cumprido nos dias atuais na Igreja. Isso é assumir algo que o Espírito de Deus não tinha a intenção de dizer.

Na verdade, como regra geral, quando uma passagem do Antigo Testamento é citada no Novo Testamento na forma de um cumprimento, isso será informado. Mas quando o Espírito de Deus cita uma passagem do Antigo Testamento no Novo Testamento, porém não diz que se trata de seu cumprimento, faz isso meramente para mostrar o caráter de algo, ou então que o princípio envolvido coincide com os desígnios morais de Deus. Compare João 19:36 com 19:37; Atos 1:16, 20 com Atos 2:16-21; Atos 13:27 com Atos 13:47 etc. A Teologia do Pacto não observa este princípio ao interpretar as Escrituras e infere coisas a partir de várias passagens que não foram citadas com esse objetivo, chegando a conclusões errôneas como resultado disso.

Os teólogos do Pacto também são, com frequência, inconsistentes em seu método de “espiritualizar” as Escrituras. Eles ensinam que as profecias do Antigo Testamento se cumprem alegoricamente nos dias de hoje na Igreja. Todavia muitas passagens do Antigo Testamento se cumpriram literalmente. Isso é impossível de se negar. Tome, por exemplo, as maldições e juízos pronunciados sobre Israel. Se eles não andassem de acordo com suas responsabilidades em seu relacionamento com Deus, conforme ditadas pelas alianças, eram avisados de que seriam destruídos por seus inimigos e levados cativos de sua terra. Essas coisas efetivamente aconteceram; as dez tribos foram levadas para a Assíria e as duas tribos para Babilônia. Além disso, as profecias relacionadas à primeira vinda do Messias — Seu nascimento virginal, Sua vida e ministério, Sua rejeição, Sua morte e ressurreição etc. — foram todas cumpridas literalmente. Os teólogos do Pacto admitem isso.

Sendo assim, os teólogos do Pacto ensinam que somente algumas profecias do Antigo Testamento se cumpriram de forma alegórica! Mas isso deixa o estudante sério da Bíblia na incerteza. Qual parte da Bíblia deve ser tomada literalmente e qual parte alegoricamente? E que autoridade ele teria para selecionar e escolher uma e não outra? Os teólogos do Pacto dirão que as bênçãos devem ser tomadas alegoricamente, mas que os juízos são literais. Todavia, com que autoridade das Escrituras eles fazem essa distinção qualificadora? Se fosse para ser assim, por que Deus não nos disse isso em Sua Palavra?

Quando examinamos esta ideia (as bênçãos do Antigo Testamento sendo cumpridas de forma alegórica, porém os juízos de forma literal) descobrimos que muitas vezes tal ideia não tem consistência. Muitas das bênçãos prometidas a Israel foram cumpridas literalmente! Por exemplo, as bênçãos de Deuteronômio 27-31 se realizaram nos dias de Josué e novamente nos dias de Davi e Salomão. Além disso, as bênçãos prometidas de restaurar os filhos de Israel do cativeiro — caso eles se humilhassem — se cumpriram literalmente nos dias de Esdras e Neemias. E mais uma vez os teólogos do Pacto são forçados a admitir isso. Portanto, os parâmetros desse método de interpretação não são seguidos por seus próprios interpretadores. E por que deveríamos pensar que algumas partes do Antigo Testamento se cumprem de forma espiritual ou alegórica quando Deus já nos mostrou como pretende cumprir essas coisas pelo fato de ter cumprido muitas delas de forma literal? Era de se esperar que, se Ele começou agindo dessa maneira, irá continuar a cumprir de forma literal as profecias que ainda restam.

A interpretação ortodoxa cristã da Bíblia vê um cumprimento literal da Bíblia. Isso não significa que toda palavra ou frase encontrada na Bíblia seja literal, mas o cumprimento dessas coisas é literal. O Espírito de Deus usa muitas figuras e símbolos na Palavra de Deus; não são coisas literais, mas simbolizam coisas que são literais. Por exemplo, as Escrituras falam do “sol” não brilhar e das “estrelas” caindo do céu (Mt 24:29). Isso não poderia ser tomado literalmente. A maioria das estrelas são milhares de vezes maiores que a terra, e se uma delas caísse na terra esta seria imediatamente destruída. Estas coisas obviamente são simbólicas. Elas têm o objetivo de representar que a grande apostasia que o Anticristo irá introduzir resultará na supressão da luz divina (o sol) e da verdade para os homens, e que muitos líderes dentre os homens (as estrelas) irão sucumbir nessas trevas espirituais e abandonar seu conhecimento de Deus. Estas são coisas literais que irão acontecer.

Os teólogos do Pacto não veem problema em inferir coisas das Escrituras para fazê-las encaixar em sua interpretação. Chamamos a isso de “fator de correção arbitrária”. Um exemplo disso é a invenção dos termos “Pacto das Obras” e “Pacto da Graça” — dos quais as Escrituras não fazem qualquer menção. Eles também dizem que a “nova aliança” (ou “novo pacto” ou “novo concerto”, dependendo da tradução) foi feito no tempo presente com a Igreja. Todavia não existe nada nas Escrituras que ensine isso. Cada vez que é mencionada a Nova Aliança ou Pacto as Escrituras declaram que não é algo que foi feito agora, mas algo que será feito no futuro. O Senhor diz, “estabelecerei uma nova aliança” e não “estabeleci uma nova aliança”. Além do mais, quando essa aliança ou pacto for feita as Escrituras dizem claramente que será “com a casa de Israel e com a casa de Judá” — não com a Igreja (Hb 8:8-12). (Em contraste, as bênçãos cristãs são, via de regra, vistas como possessão presente dos crentes — Ef 1:3-14; “fomos feitos...” — enquanto as bênçãos para Israel na profecia são futuras). O apóstolo Paulo confirma isso declarando que “as alianças” e “as promessas” pertencem aos seus conterrâneos. Ele qualifica com exatidão quem são eles, não deixando qualquer margem para dúvida, ao dizer: “meus parentes segundo a carne, que são israelitas” (Rm 9:3-4). Isso jamais poderia ser interpretado como uma companhia de crentes espirituais dos dias de hoje que tenham sido chamados dentre os gentios, como ensinam os teólogos do Pacto.


Os teólogos do Pacto rejeitam a ideia de que as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento devam ser tomadas literalmente porque a Epístola aos Hebreus demonstraria (segundo sua maneira de pensar) que aquelas coisas tiveram seu cumprimento em coisas espirituais que agora temos no Cristianismo. É verdade que a maneira de se aproximar de Deus no Antigo Testamento — por meio de formas, cerimônias e rituais — cedeu lugar a um “novo e vivo caminho” no Cristianismo, e que esse novo caminho é uma ordem de coisas espirituais, não literais (Hb 10:19-22). O autor da epístola deixa bem claro que toda aquela ordem exterior de adoração encontrada no Antigo Testamento deve ser entendida figuradamente no Cristianismo (Hb 9:9). Todavia muitos capítulos nessa epístola mencionam também que existem coisas que ainda estão por se cumprir em conexão com Israel, as quais são distintas das coisas espirituais que temos no Cristianismo. São coisas literais. Portanto, a própria epístola aos Hebreus, que os adeptos da Teologia do Pacto tentam usar na tentativa de provar que não haverá nada de literal se cumprindo para Israel no futuro, diz sim que haverá.

Por exemplo, em Hebreus 4 o autor menciona que “resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9). Isso se refere a algo que irá ocorrer depois que terminar o tempo do Cristianismo na terra. Tem a ver com um dia futuro quando o Senhor introduzirá o Seu povo em seu descanso final. Além disso, os capítulos 5 ao 7 falam do sacerdócio de Cristo sendo segundo a ordem de “Melquisedeque”. Este é um aspecto futuro e milenial de Seu sacerdócio, quando Ele irá reinar como rei e sacerdote, e um remanescente de Israel será abençoado por Ele (Zc 6:13; Sl 110:1-4). No capítulo 8 o autor de Hebreus mostra que a Nova Aliança será estabelecida “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. O Senhor insiste que isso ainda não foi feito, mas é algo que irá fazer no futuro (“Estabelecerei...” Hb 8:8-12).

Além disso, Hebreus 9 menciona dois “tempos” distintos que não devem ser confundidos “o tempo presente” (Hb 9:9) e “o tempo da correção” (Hb 9:10). O tempo atual tem a ver com o Cristianismo hoje, mas o tempo de corrigir todas as coisas tem a ver com a nova organização da terra no reinado público de Cristo. O versículo 11 segue falando “dos bens futuros”. Isso não poderia estar se referindo ao Cristianismo, pois ele tinha acabado de explicar no versículo 9 que as coisas cristãs são coisas para “o tempo presente”. Esses bens futuros são as bênçãos de Deus para Israel em um dia vindouro. O capítulo 10 menciona o Novo Pacto ou Aliança mais uma vez, e deixa claro que é algo que Ele ainda fará com Israel no futuro (“Esta é a aliança que farei com eles depois daqueles dias” Hb 10:16). No capítulo 12 temos a promessa de que o Senhor irá abalar “não só a terra, senão também o céu” (Hb 12:26-29), o que se refere ao tempo quando Seus juízos cairão sobre a terra. Sabemos das Escrituras dos Profetas que essas coisas serão entendidas por Israel quando eles forem restaurados ao Senhor e abençoados em Seu reinado público.

O ponto que queremos frisar em tudo isso é que ainda existe algo que virá para Israel no futuro. Portanto, enquanto a Epístola aos Hebreus ensina que o Cristianismo é uma abordagem espiritual e celestial de Deus pelo Espírito Santo, isso não significa que as bênçãos literais prometidas a Israel sejam nulas e sem efeito.

É
inconsistente para os teólogos do Pacto ensinarem que o Antigo Testamento deve ser interpretado num sentido alegórico ou espiritual que teria se cumprido no Cristianismo de nossos dias, pois quando se chega à eclesiologia da Teologia do Pacto (a doutrina e prática da igreja) eles adotam em muitas maneiras a ordem literal e exterior da adoração de Israel como padrão para seus cultos de adoração! Se tudo era para ser “espiritualizado” agora no Cristianismo, por que adotam tantas dessas coisas literais e as incorporam em sua adoração cristã?

A seguir temos uma lista de algumas coisas que as igrejas que seguem a Teologia do Pacto emprestaram do Judaísmo do Antigo Testamento e praticam literalmente.

Templos e catedrais literais como lugares de adoração.
Uma casta especial de homens para oficiarem em favor da congregação.
Instrumentos musicais para auxiliar na adoração.
O uso de um coral.
O uso de incenso para criar uma atmosfera espiritual.
Vestes religiosas para os “Ministros” e membros do coral.
Um altar literal (não sacrificial).
A prática do dízimo.
Observância de dias santos e festas religiosas.
Registro dos nomes e censo da congregação.

É verdade que muitas dessas práticas judaicas foram alteradas para serem adaptadas ao contexto cristão, mas elas continuam trazendo os paramentos do Judaísmo.

Outro exemplo de como a Teologia do Pacto se afasta dos sãos princípios da exegese bíblica está na inversão do significado de “Israel” do Antigo para o Novo Testamento. Isso causa uma ruptura na revelação progressiva da verdade nas Escrituras. Outro grande princípio da interpretação da Bíblia — que estudantes da Bíblia fariam bem em observar — é que novas revelações nunca contradizem as revelações já dadas. Um conceito no Antigo Testamento não pode ser usado para significar o oposto no Novo Testamento, caso contrário a Bíblia estaria cheia de contradições. À medida que as Escrituras iam sendo escritas, Deus dava uma medida adicional de luz em certos assuntos, mas essas novas revelações nunca contradiziam as anteriores. As Escrituras desdobram a verdade como um prédio que está sendo construído; primeiro é lançado o alicerce, depois é acrescentada uma estrutura etc. Uma coisa é construída sobre a outra, e cada nova coisa adicionada não destrói o que veio antes. Portanto, não pode ser (como supõe a Teologia do Pacto) que a nação de Israel, que é algo literal no Antigo Testamento, perca sua literalidade no Novo Testamento.

O Israel literal do Antigo Testamento não se transforma alegoricamente na Igreja do Novo Testamento. Quando a ideia é colocada à prova descobrimos que não encontra sustentação nas Escrituras. No livro de Atos Israel continua sendo chamado como a nação literal de Israel em contraste com os gentios — e isso foi depois de a Igreja ter sido estabelecida (At 3:12; 4:8, 10; 5:21, 31, 35; 21:28). Romanos 9-11 confirma isso. O termo “Israel” é usado em diversas ocasiões nesses capítulos para os descendentes naturais de Abraão (“parentes” de Paulo “segundo a carne”), mas nunca para uma companhia de pessoas chamadas dentre os gentios. Além disso, se aquilo que os teólogos do Pacto ensinam concernente a Israel fosse verdade, então a oração de Paulo por Israel não faria sentido: “O bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação” (Rm 10:1). Por que iria ele orar para que cristãos fossem salvos (caso a Igreja fosse Israel) se já estão salvos? Além do mais, se Israel e Igreja são uma mesma companhia de pessoas, não haveria necessidade de Paulo fazer distinção entre ambos, como ele faz em 1 Coríntios 10:32, onde diz: “Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus.”. Estas passagens provam que a palavra “Israel” não teve seu significado alterado no Novo Testamento; ela continua a ser usada para os descendentes naturais de Abraão, mesmo depois de a Igreja ter começado. E as Escrituras tampouco chamam a Igreja de “novo Israel”, como os teólogos do Pacto tomam a liberdade de fazê-lo.

Estas coisas são “non-sequitur”. Um “non-sequitur” é quando uma conclusão não decorre de premissas estabelecidas. Trata-se de um salto na lógica do raciocínio de alguém que acaba concluindo algo que não pode ser fundamentado. Por exemplo, “Sou um homem da raça humana, e como nessa raça os homens envelhecem e seus cabelos ficam grisalhos, e quanto mais velhos mais grisalhos ficam, PORTANTO sou mais velho que o José porque meu cabelo é mais grisalho que o dele”. Mas uma conclusão assim não é correta, pois na verdade José é vinte anos mais velho que eu, apesar de seu cabelo continuar preto. É triste afirmar, mas a Teologia do Pacto está marcada por esses non-sequitur em suas interpretações equivocadas das Escrituras.

A maneira correta e adequada de se manusear as Escrituras é demonstrada pelo apóstolo Paulo. Como vemos em Atos 17:2, ele discutia “com base nas Escrituras” (NVI) ou “tirando argumentos das Escrituras” (Tradução Brasileira). Ele não argumentava introduzindo pensamentos nas Escrituras com noções preconcebidas, mas tirava seus pensamentos de dentro das Escrituras.

9. A Teologia do Pacto desafia a lógica


A Teologia do Pacto desafia a lógica em muitas de suas interpretações. Quando submetidas à lógica muitas de suas “espiritualizações” não fazem sentido. Não importa a maneira que você escolhe para interpretar algumas das coisas que eles ensinam — alegoricamente, espiritualmente etc. — seria bem difícil convencer alguém de que isso é mesmo verdade. Por exemplo, os teólogos do Pacto nos dizem que já estamos agora mesmo no reino público de Cristo. Mas as descrições que as Escrituras fazem de Seu reino em poder indicam que Cristo irá governar com vara de ferro (Ap 2:27), e que a justiça irá encher o mundo todo (Is 32:1-19). Além disso, Satanás e seus anjos caídos serão aprisionados no abismo e não conseguirão sair para enganar as nações (Is 24:21-22; Ap 20:1-3). Acrescente-se a isso que o juízo será executado a cada manhã contra os que pecarem (Sl 101:8; Sf 3:5), e também que o reino animal, os leões e ovelhas, se deitarão juntos etc. (Is 11:6; 65:25 etc.).

Será que devemos crer que a justiça reina neste mundo hoje? Ao contrário, a injustiça está em todo lugar! Será que Satanás hoje se encontra mesmo aprisionado? Seu trabalho maligno pode ser visto em cada nação e modo de vida. Será que o juízo realmente cai sobre os que praticam o mal a cada manhã com atestam as Escrituras? (Os teólogos do Pacto poderão “espiritualizar” isto, mas então estariam indo contra seu ensino que afirma que no Antigo Testamento os juízos são literais). E o que dizer do reino animal vivendo em paz? Se eles dizem que o leão e a ovelha estão deitados juntos hoje espiritualmente, o que isso poderia significar?

10.
A Teologia do Pacto destrói os tipos e figuras das Escrituras

A Teologia do Pacto destrói os tipos e figuras das Escrituras. Ela descarta como mera ficção a beleza das figuras dispensacionais, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, que mostram o afastamento temporário de Israel e a presente interposição do chamado celestial da Igreja, antes de Deus retomar suas tratativas com o remanescente de Israel para introduzi-los nas bênçãos do reino milenial. Essas figuras representativas cobrem mais de cem capítulos de nossa Bíblia!

11. A Teologia do Pacto quebra a ordem dos eventos proféticos

A Teologia do Pacto quebra a ordem dos eventos proféticos. Exceto, talvez, pela vinda do Senhor e pela condenação final dos ímpios no lago de fogo, ela nos diz que as profecias do Antigo Testamento e do livro de Apocalipse já se cumpriram! Portanto não existiria um período de sete anos de Tribulação por vir, nenhum Armagedom etc.!

Outro exemplo dessa confusão é a ideia de que quando o Senhor vier o Arrebatamento e a Manifestação ocorreriam ao mesmo tempo. Todavia as Escrituras indicam que isso é impossível, já que existem muitas coisas que devem ocorrer entre o Arrebatamento e a Manifestação. O Senhor deve primeiro nos levar para a casa do Pai (Jo 14:2-3), e nos fazer assentar à Sua mesa e nos servir com felicidade celestial (Lc 12:37). Ele irá então assumir Seu lugar no Tribunal de Cristo e revisar a vida de cada um (2 Co 5:10, etc.). Depois disso haverá um tempo de adoração ao redor do trono no céu, e lançaremos nossas coroas aos Seus pés (Ap 4-5). Em seguida acontecerão as bodas do Cordeiro (Ap 19:7-8) e então a ceia que se segue (Ap 19:9). Essas coisas seriam impossíveis de acontecer no curto espaço de tempo que a interpretação da Teologia do Pacto sugere.

Além disso, se a vinda do Senhor para julgar “os vivos e os mortos” (2 Tm 4:1; 1 Pe 4:5) ocorresse no final do reino de Cristo, quando a Igreja tivesse supostamente convertido o mundo todo a Deus, quem dentre os vivos seria julgado nessa ocasião?

É difícil de acreditar, mas os teólogos do Pacto acham que a profecia já se cumpriu de alguma forma mística ou espiritual! Como poderiam eles explicar, em um sentido espiritual, o Anticristo sentando-se no templo e declarando ser Deus? (2 Ts 2:3-4). E como poderiam eles interpretar espiritualmente a volta das tribos de Israel à sua terra e fazer com que isso signifique algo lógico? (Dt 30:1-5; Is 10:20-22; 11:11-13; 26:19; 27:12-13; 35:10; 49:8-26; 66:19-20; Jr 30-33; 46:27-28; Ez 20:34; 34:11-16; 36:16-38; 37:1-28; Dn 12:2; Os. 6:1-3; 14:1-9; Mq 4:6-7; 5:3; Zc 8:7-8; Am 9:14-15; Sl 68:22; Sl 120-134; Lv. 23:24-25 – “a Festa das Trombetas”). Poderíamos fazer ainda muitas outras perguntas para enfatizar este ponto.

Continua em: 3 - Diferenças entre o Reino e a Igreja

Volte ao início da série clicando aqui:
SUMÁRIO - A TEOLOGIA DO PACTO E SUAS HERESIAS

–– Bruce Anstey | Teologia do Pacto ou Dispensações
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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