A DOUTRINA ACERCA DA SALVAÇÃO | Marcos Granconato



“Tu me chamaste e teu grito rompeu a minha surdez. Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo da tua paz”. – Agostinho de Hipona, Confissões X:27

INTRODUÇÃO

No anseio de cumprir a ordem de Jesus de evangelizar o mundo inteiro, os cristãos frequentemente falam sobre a salvação em suas conversas com os não crentes. Isso, às vezes, gera certa confusão, pois os incrédulos não entendem o que significa a afirmação de que o pecador precisa ser salvo. Por isso, é preciso que o discípulo de Jesus tenha em mente noções bem claras acerca da soteriologia bíblica, caso queira falar de forma mais eficaz acerca das boas-novas que deve proclamar.

Basicamente, salvação é o livramento da punição eterna do pecado (no momento em que se crê em Cristo), do poder escravizante do pecado (na medida em que o cristão cresce em santidade) e da presença maligna do pecado (quando o homem redimido estiver enfim com o Senhor). Esse livramento só é obtido pela fé em Cristo como o Filho de Deus que morreu pelos pecados da humanidade, mas ressuscitou dentre os mortos para justificação de todo o que crê (Jo 3.16; Rm 4.25).

A salvação, em sua plena consumação, abrange a alma do crente que é levada ao céu quando chega a morte (At 7.59; Fp 1.23) e o seu corpo que será revestido de incorruptibilidade ao tempo da ressurreição ou do arrebatamento da igreja (1Co 15.51-55; 2Co 5.1-8; 1Ts 4.16-17).

Neste capítulo serão brevemente expostos os diferentes aspectos que compõem a doutrina da salvação, conforme apresentada na Bíblia.

A PREDESTINAÇÃO

Os verbos “predestinar” e “predeterminar” traduzem a palavra grega proorízo. Predestinar é destinar de antemão e se trata de uma ação de Deus que abrange todos os eventos (At 4.27-28). No campo da soteriologia, a Bíblia afirma que Deus predestinou os crentes para serem conforme a imagem de seu Filho e que o resultado final disso será a glorificação deles (Rm 8.29-30).

Deus também predestinou os crentes para a adoção de filhos. Isso teve como única causa a livre escolha do Senhor, realizada segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.5,11).

O propósito último da predestinação dos crentes é o louvor da gloriosa graça de Deus (Ef 1.6).

A ELEIÇÃO

A eleição (Gr. eklogé / eleitos, Gr. eklektoí) diz respeito ao ato livre e soberano de Deus de escolher aqueles que, sem mérito algum, serão alvos efetivos da sua graça salvadora (Rm 9.14-24; 11.3-8).

O ato divino de eleger os que seriam salvos ocorreu na eternidade, antes da fundação do mundo (Ef 1.4), e foi realizado conforme a graça e a livre determinação do Senhor (2Tm 1.9; 1Pe 1.1-2), e não de acordo com qualquer fator positivo que ele, porventura, tenha visto previamente no homem (Rm 9.11,16; 11.5-6). De fato, a eleição não busca homens dignos, mas sim produz homens dignos (Cl 1.12), fazendo deles veículos de bênçãos (Mc 13.20) e protegendo-os do engano (Mt 24.24).

O Novo Testamento enfatiza que não há nenhuma injustiça da parte de Deus em seu ato de eleger quem ele quer para a salvação (Rm 9.13-20).

Ao contrário do que dizem, a eleição não desestimula o evangelismo. Em vez disso, essa doutrina encoraja a pregação da fé (At 18.9-10), uma vez que afirma que os eleitos, cedo ou tarde, atenderão à mensagem das boas-novas (Jo 10.16; At 13.48; 1Ts 1.4-5; 2Ts 2.13-14) e que os escolhidos que estão dispersos serão, com certeza, reunidos num só corpo, cumprindo enfim o plano infalível de Deus (Mt 24.31; Jo 11.51-52).

A AQUISIÇÃO

Deus comprou (Gr. agorázo) ou adquiriu (Gr. peripoiéo) o crente para si e o preço que pagou foi o sangue de seu próprio Filho. Como um escravo que foi adquirido por precioso valor, o cristão agora pertence a Cristo, sendo servo dele para sempre (At 20.28; 1Co 6.20; 7.23; Ap 5.9).

A LIBERTAÇÃO

De acordo com Gálatas 3.10-11, todas as pessoas estão debaixo da maldição da lei, sendo consideradas condenáveis diante de Deus em virtude de sua transgressão. O crente, porém, foi liberto (Gr. vb. exagorázo) dessa maldição, pois Cristo o substituiu na cruz, fazendo-se, ele próprio, maldição em lugar do pecador (Gl 3.13).

Cristo também libertou o crente do fardo da Lei a fim de que o homem salvo não viva como um escravo oprimido, mas desfrute do status de filho de Deus por adoção (Gl 4.5-6).

A REDENÇÃO

No conceito de redenção (Gr. lytrosis – Hb 9.12 / apolytrosis – Rm 3.24; Ef 1.7) está embutida a ideia de livrar por meio do pagamento de um resgate (Gr. lytron – Mt 20.28). Por meio do pagamento realizado por Cristo na cruz, os crentes foram resgatados (Gr. vb. lytróo) da iniquidade (Tt 2.14) e da maneira vazia de viver (1Pe 1.18).

A redenção do crente tem também um aspecto futuro, adquirindo o sentido de livramento da presente realidade marcada pelo pecado e seus efeitos (Rm 8.23; Ef 1.14; 4.30).

A VOCAÇÃO

A vocação (Gr. klesis / aquele que é chamado, Gr. kletós, vb. kaléo) de que se trata aqui é o chamado especial que o Senhor dirige unicamente aos eleitos (Rm 1.6; 8.28,30; 1Co 7.17-24; Ef 4.1,4; Cl 3.15; Hb 3.1). Trata-se de um convite diferente do chamado geral, dirigido a todas as pessoas (Mt 11.28; 22.14), uma vez que a vocação salvífica é eficaz e sempre conduz o eleito a Cristo (1Tm 6.12; Jd 1). Essa vocação especial é baseada unicamente na graça de Deus, sem que o homem chamado tenha mérito algum (2Tm 1.9).

A resposta positiva à vocação salvífica é garantida porque esse chamado, uma vez que é dirigido somente aos eleitos, é acompanhado pela obra de convencimento do Espírito Santo que, com paciência e docilidade, atua no coração do indivíduo até que ele entenda e aceite a mensagem cristã (At 16.14).

Frise-se que essa obra eficaz de vocação e convencimento não é realizada em cada ser humano (Rm 11.4; 1Co 1.23-26), do contrário todos os homens seriam salvos, hipótese que, como é sabido, jamais se cumprirá (Mt 25.46; 2Ts 1.9).

Assim, conforme dito, somente os eleitos são objeto do chamado gracioso (Rm 8.28-30; 2Ts 2.13-14). Estes, ainda que possam resistir à ação de Deus em sua vida durante algum tempo, no fim fatalmente se rendem à voz de Cristo e, ansiando por ele, curvam-se aos seus pés cheios de fé, arrependimento e gratidão (Jo 10.16). Os demais, porém, são deixados na incredulidade ou punidos com endurecimento ainda maior (Is 63.17; Jo 12.37-40; Rm 1.24-28; 9.17-18; 11.7-10; 2Ts 2.11).

O chamado eficaz é necessário porque, segundo a Bíblia, nenhuma pessoa pode se voltar para Deus ou para Cristo sem que primeiro o Senhor realize nela uma obra sobrenatural, inclinando-a para a verdade, para a obediência e para a fé (Lm 5.21; Ez 36.25-27; Jo 6.44,65; Fp 2.13).

Deve-se ainda notar que a vocação salvífica se constitui na prova de que a salvação de um indivíduo depende primariamente da vontade e da ação de Deus (Mt 11.27; Jo 1.13; 5.21; Tg 1.18). A salvação pertence a ele (Jn 2.9) e sem a sua iniciativa ninguém poderá ser liberto da incredulidade (Jo 6.37; Ef 2.8).

O PERDÃO

Na esfera da soteriologia, perdoar (Gr. charízomai / perdão, Gr. áfesis, vb. afíemi) é o ato de Deus que consiste em cancelar toda a dívida que o pecador tem com ele (Cl 2.13), deixando-o livre para prosseguir, sem qualquer cobrança (Veja-se uma ilustração disso em Mateus 18.23-27).

Esse perdão salvífico é único e ocorre ao tempo da conversão (At 10.43). Nesse aspecto, é diferente do perdão que, diversas vezes ao longo da jornada cristã, Deus concede ao crente que confessa seus pecados (1Jo 1.9).

O perdão salvador de Deus só é possível porque Cristo sofreu as consequências do pecado (Ef 1.7; 4.32).

A JUSTIFICAÇÃO

Justificar (Gr. dikaióo) é declarar justo ou livre de culpa e de castigo. Assim, a justificação (Gr. dikaíosis) é o ato judicial de Deus, baseado na obra de Cristo, mediante o qual ele atribui justiça ao homem que deposita sua confiança em Jesus, livrando-o da condenação decorrente da culpa do pecado (At 13.38-39; Rm 3.21-24; 5.1; 8.1,30,33-34; Fp 3.9; Tt 3.5-7).

Obviamente, a justificação abrange o perdão (Rm 4.6-8), mas vai além desse conceito, pois não somente cancela os pecados do homem que crê, mas também atribui a ele a justiça de Cristo realizada na cruz (Rm 5.18; 2Co 5.21).

A justificação é imediata, ou seja, ocorre no exato momento em que o homem passa a ter fé em Cristo (Rm 4.5).

A RECONCILIAÇÃO

Reconciliação (Gr. katallagé, vb. katallásso) é o restabelecimento da paz entre Deus e o homem. Por causa do pecado, o relacionamento entre ambos foi rompido (Is 59.2; Tg 4.4). Cristo, porém, sofreu em seu corpo, pela morte, as consequências dessa inimizade (Cl 1.21-22 – aqui consta o verbo apokathístemi, restaurar). Agora, quem crê nele é reconciliado com Deus, sendo salvo da sua ira (Jo 3.36; Rm 5.9-11). Assim, a reconciliação ocorre por meio de Cristo e abrange o perdão dos pecados (2Co 5.18-19).

A mensagem que anuncia a disposição de Deus em reconciliar o homem consigo, mediante Jesus, é o cerne das boas-novas pregadas pelos apóstolos, sendo essa a mensagem que faz do evangelista um embaixador de Deus (2Co 5.20).

A reconciliação que ocorre no momento da conversão é única e definitiva. Porém, há um aspecto da reconciliação que é mais dinâmico e que envolve repetição. Trata-se das situações em que o crente vê seu relacionamento com Deus ser abalado por causa do pecado pessoal. Nesses momentos a orientação bíblica é que o cristão busque, pelo arrependimento e obediência, a restauração da comunhão que foi rompida (2Co 5.20).

A ADOÇÃO

O termo “adoção” (Gr. huiothesía) é usado para descrever a posição que o crente ocupa diante de Deus, desfrutando dos direitos e privilégios de filho.

Por causa da adoção, o cristão deixa de ser como um escravo que vive debaixo do medo e começa a participar de um relacionamento com o Senhor marcado por intimidade e segurança (Rm 8.15; Gl 4.5-6). Também pela adoção, o homem se vê livre do jugo escravizante da lei e entra para a condição de herdeiro de Deus (Rm 8.17; Gl 4.7).

A adoção é garantida na predestinação feita pelo Pai (Ef 1.5), é efetivada na conversão ao Filho (Jo 1.12) e é testificada no coração pelo Espírito (Rm 8.16).

A REGENERAÇÃO

Basicamente, regenerar (Gr. anagennáo / regeneração, Gr. palingenesia,) significa gerar de novo. Não se trata, portanto, de uma mera reforma na vida de alguém, mas sim de um novo nascimento que ocorre na esfera espiritual (Jo 3.3-6; 1Pe 1.3,23; 1Jo 3.9) e cuja origem está em Deus.

Conforme o ensino de Jesus, ser regenerado é nascer “da água e do Espírito” (Jo 3.5). Essa expressão evoca a Nova Aliança mencionada em Ezequiel 36.25-27. Dessa passagem se depreende que nascer “da água e do Espírito” é ser purificado dos pecados e habitado pelo Espírito Santo (Tt 3.5-6).

Note-se que a regeneração é um ato soberano de Deus. É somente por sua vontade e poder que alguém nasce de novo (Jo 1.13; Tg 1.18). Aliás, a palavra traduzida como “de novo” em João 3.3 (Gr. ánothen), também significa “do alto”, indicando que a causa primária da regeneração é celeste e não terrena.

A VIVIFICAÇÃO

A Bíblia ensina que o homem incrédulo está morto em meio a delitos e pecados. Ocorrendo, porém, a fé em Cristo, o pecador é ressuscitado, recebendo vida espiritual (Ef 2.1,5) e perdão (Cl 2.13).

Ao ser vivificado (Gr. vb. syzoopoiéo, ser vivificado com), o crente é, de certa maneira, elevado à esfera celeste, onde desfruta de privilégios e bênçãos em sua nova associação com o Cristo ressurreto (Ef 1.3; 2.6).

A RECRIAÇÃO

O cristão é o prenúncio presente da nova criação futura (Ap 21.5). De fato, a Bíblia diz que quem está em Cristo é parte da nova criação (Gr. kainé ktísis) de Deus. O efeito disso é que o homem assim recriado abandona concepções e cosmovisões mundanas (1Co 2.16; 2Co 5.16-17) e, na prática, se vê comprometido com as boas obras, assim definidas segundo os padrões de Deus (Ef 2.10; 4.23-24).

Nessa recriação, a imagem de Deus no homem, que foi pervertida pelo pecado desde o Éden, entra num processo dinâmico e glorioso de restauração (2Co 3.18; Cl 3.10).

A PRESERVAÇÃO

A doutrina da preservação é também conhecida como doutrina da perseverança dos santos. Grosso modo, essa doutrina ensina que aqueles que Deus escolheu por sua graça jamais poderão perder a salvação, ainda que estejam sujeitos a quedas e até a desvios temporários.

Uma das bases para essa doutrina está na afirmação de que a salvação abrange uma sequência de ações de Deus que começa na eternidade passada e se conclui com a glorificação perene no futuro (Rm 8.29-30). Considerando a soberania e o poder de Deus, essa sequência não pode ser frustrada ou interrompida.

De fato, no texto de Romanos 8.29-30, vê-se que a corrente da salvação mostra seu elo inicial quando Deus conhece de antemão e predestina aqueles a quem decide alcançar. Em seguida, ele chama e justifica essas pessoas, glorificando-as finalmente.

Evidentemente, não há como quebrar esse processo, estando a salvação garantida, inclusive, pelo selo do Espírito que é o penhor da herança eterna (Ef 1.13-14).

Ademais, é absurdo conceber o Deus da Bíblia como um ser incapaz, que predestina alguém para salvar, chama-o e o justifica, mas no fim não consegue glorificá-lo. Aliás, indo precisamente contra essa ideia, a Bíblia afirma que é pelo poder de Deus que os crentes são guardados para a salvação (Jo 10.28-29; 1Ts 5.23-24; 1Pe 1.5; 5.10; Jd 24-25).

Outra base para a doutrina da preservação está no conceito de novo nascimento. Jesus ensinou que o homem salvo é aquele que nasceu de novo pela fé nele, podendo agora ver o reino celeste (Jo 3.3). Sabe-se também que quem nasce de novo se torna filho de Deus (Jo 1.12-13; 1Jo 5.1). Evidentemente, para perder essas bênçãos, o crente teria que “desnascer”. E mais: se quisesse recuperá-las teria de nascer de novo de novo! Ora, essas possibilidades não existem nas Escrituras. Nascer de novo ou ser regenerado, tornando-se filho de Deus, é experiência única e, infalivelmente, resulta na salvação do crente (Gl 3.26-29).

A doutrina da preservação dos santos também se sustenta na afirmação de que a salvação não pode ser anulada pelo pecado individual do crente. Em 1Coríntios 5.1-5, Paulo fala de um crente que tinha envolvimento sexual com a mulher do próprio pai. Era um pecado tão grave que ele diz não ser comum nem mesmo entre os pagãos (v.1), devendo esse homem ser “entregue a Satanás” (v.5), o que significa ser expulso da igreja (v.13). Isso, porém, não fez com que aquele homem perdesse a salvação. Na verdade, Paulo diz que a disciplina poderia trazer a destruição do corpo, mas que o espírito daquele homem seria salvo (v.5). Ademais, em 1João 2.1, é ensinado que se algum crente pecar, isso não gera sua condenação eterna, mas sim sua defesa, feita por um “Advogado junto ao Pai: Jesus Cristo, o justo”.

Finalmente, é importante observar que a segurança do homem salvo é testificada pelo próprio Espírito Santo em seu interior (Rm 8.15-16).

Outros textos que falam da segurança do crente são os seguintes: João 6.37-40; Romanos 5.8-10; 8.33-39; 1Coríntios 1.7-8; 3.15; Efésios 4.30; Filipenses 1.6 e Hebreus 7.25.

ATENÇÃO!
A salvação não pode ser atribuída a pessoas que professaram temporariamente a fé. Várias passagens bíblicas falam de pessoas que, participando da comunhão dos crentes, testemunharam e até experimentaram bênçãos maravilhosas, caindo, em seguida, na apostasia completa e definitiva (Hb 6.4-6). Não é correto, porém, dizer que essas pessoas perderam a salvação. Na verdade, elas NUNCA foram salvas (1Jo 2.19). Isso é evidente porque na Parábola do Semeador Jesus ensinou que a prova da fé salvadora é a perseverança (Mt 13.1-23). Quem não persevera NUNCA foi de fato salvo (1Ts 5.23-24; Hb 10.39; 1Pe 5.10; 1Jo 5.4-5).

A SANTIFICAÇÃO

Basicamente, santificação (Gr. hagiasmós) é a separação de algo por Deus para o seu uso. Quando relacionada à salvação do homem, a santificação pode ser posicional e experimental.

Santificação posicional: É a fase instantânea da santificação que tem lugar no momento em que a pessoa aceita Cristo como Salvador (1Co 6.11). Nesse instante, o homem passa a ocupar o status de santo diante de Deus, ou seja, é considerado separado para pertencer a ele e para servi-lo.

Santificação experimental: É a fase progressiva da santificação (Rm 6.19,22; 2Co 7.1; 1Ts 4.3-7; Hb 12.14). Começa no momento da conversão e segue se desenvolvendo até o dia da glorificação (Fp 1.6). O texto de 2Coríntios 3.18 diz que o cristão é transformado de um grau de glória em outro, sendo aperfeiçoado em santidade.

A GLORIFICAÇÃO

A glorificação (Gr. vb. doxázo) diz respeito à consumação da salvação do crente (Rm 8.17-18,21,30; 1Pe 5.4). Na glorificação o salvo entra para um estado de total livramento do pecado e dos seus efeitos, passando a habitar com o Senhor para sempre (Cl 3.4; 1Jo 3.2).

Essa fase abrange não somente a entrada da alma no céu (Lc 23.43; At 7.59; Fp 1.22-23), mas também, em sua realização completa, na ressurreição, o recebimento de um corpo transformado, totalmente livre de corrupção e sobre o qual a morte não tem poder (Rm 8.23; 1Co 15.42-43,51-54; 2Co 5.1-4).

O ambiente definitivo em que a glorificação será desfrutada é a nova terra que o Senhor há de criar (Ap 21.1-4).

COMO SER SALVO

A salvação ocorre pela fé em Cristo (Jo 3.16-18; Rm 1.16-17; Ef 2.8-9). Essa fé é precedida pela pregação, é acompanhada pelo arrependimento e é seguida de perseverança e frutos. Se não for assim, será uma fé falsa e logo deixará de existir.

Base bíblica para a pregação como fator que precede a fé: Lucas 16.31; João 17.20; Romanos 10.13-17; 1Coríntios 1.21; Efésios 1.13; 2Timóteo 3.14-15; Tiago 1.18,21; 1Pedro 1.23.

Base bíblica para o arrependimento como fator que acompanha a fé: Mateus 21.28-32; Marcos 1.15; Atos 2.37-41; 3.19; 11.18.

Base bíblica para a perseverança e os frutos como fatores que decorrem da fé: 1Tessalonicenses 1.3-10; Hebreus 10.39; 1Pedro 1.5; 1João 5.4-5.

A fé salvadora é a aceitação de Cristo conforme ele é apresentado nas Escrituras (Jo 1.12; At 8.37; 1Jo 5.10-12), isto é, como o Filho de Deus que veio ao mundo para morrer pelos pecados, tendo depois ressuscitado dentre os mortos (Rm 10.9; 1Co 15.3-4). Essa fé implica o abandono de qualquer outro caminho para ser salvo e a dependência plena e exclusiva da obra completa de Cristo (At 4.12; Gl 2.16; Fp 3.7-9).

A fé mediante a qual alguém é salvo tem origem sobrenatural (Ef 2.8; Fp 1.29; Hb 12.2) e, por isso, perdura e frutifica. Essa é a fé dos eleitos (Tt 1.1).

Quando a fé é apenas uma anuência intelectual ou uma reação emocional, ela se mostra improdutiva e logo desaparece (Mt 13.20-22). Essa é a fé morta que nada produz, pouco perdura e a ninguém salva (Jo 2.23-25; 12.42-43; Tg 2.14,17,26).

CUIDADO! VENENO!

Arminianismo
: O ensino bíblico que afirma que o crente não perde a salvação é chamado tecnicamente de doutrina da perseverança dos santos. Trata-se de um dos temas principais defendidos pela teologia reformada. Dentro do protestantismo, a vertente que se opõe à doutrina da perseverança dos santos é o arminianismo, sistema idealizado pelo teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609). Entre outras coisas, o arminianismo nega a fórmula “uma vez salvo, salvo para sempre”. Ainda que esse modelo tenha sido condenado pelo Sínodo de Dort (1618-1619), muitas igrejas evangélicas modernas o adotam, sendo possível encontrar seus expoentes entre batistas (eventualmente), assembleianos (principalmente) e presbiterianos (surpreendentemente). O perigo do arminianismo, considerado sob esse aspecto, é que faz a segurança do crente depender de seu esforço próprio. No final das contas, a salvação acaba sendo devida à dedicação e empenho do homem em vez de ser pela fé somente. Na prática, as igrejas que ensinam a perda da salvação exigem que o crente desviado conserte sua vida e volte para a igreja se quiser ser “salvo de novo”. A implicação lógica é que, de acordo com essa concepção, a “segunda” (ou terceira, ou quarta!) salvação ocorre pelas obras, ainda que os arminianos nem sempre estejam dispostos a assumir essa conclusão.

Catolicismo Romano: Enquanto o Novo Testamento ensina que a justiça de Deus é imputada ao homem no momento em que ele crê em Cristo (justiça imputada ou atribuída – Rm 5.1), o romanismo ensina que a justiça de Deus é infundida na pessoa aos poucos, na medida em que ela obedece aos ensinos da igreja católica (justiça infusa). Assim, na doutrina papista, o indivíduo só descobre se foi justificado quando comparecer diante de Deus e o Senhor avaliar se, ao longo da vida, aquela pessoa acumulou a justiça necessária para desfrutar da visão beatífica. Os católicos creem que a fé em Cristo abrange a adesão completa aos ensinos e regras da igreja. É precisamente a adesão a isso tudo que tornará um homem justificado ou não. Se ocorrer da obediência de alguém não ser suficiente para a sua entrada no reino do céu, ele será enviado ao purgatório, a fim de passar por um castigo temporário e, uma vez purificado, obter a justiça que falta para a sua salvação. De acordo com a doutrina romanista, rezas, missas e obras de penitência em favor dos mortos auxiliam a reduzir o tempo no purgatório. Não há nada na Escritura que ensine essas coisas, mas os romanistas não se incomodam com isso, posto que consideram sua tradição no mesmo pé de igualdade que a Bíblia em termos de autoridade.

Sinergismo: O termo sinergismo vem do grego e denota a ideia de trabalho conjunto. Os sinergistas creem, assim, que a salvação do pecador é obra de Deus, mas que o homem coopera com ele, fazendo sua parte. Os arminianos são considerados sinergistas, pois acreditam que o ser humano trabalha em conjunto com Deus para ser salvo na medida em que decide, de si mesmo, depositar sua fé em Cristo e perseverar nos caminhos dele. Porém, de um modo geral, qualquer crença que afirma que o indivíduo precisa “fazer sua parte” para ser salvo pode ser considerada uma crença sinergista. O oposto do sinergismo é o monergismo, proposto pela teologia reformada ou calvinista. Essa concepção ensina que somente o Senhor opera na salvação do homem. Para os monergistas, mesmo a fé e a perseverança do crente são obras de Deus na vida de seus eleitos.

Universalismo: O universalismo entende que, ao final, todos serão salvos. Alguns universalistas ensinam que isso será precedido por um período de juízo aplicado aos maus, mas que de forma nenhuma esse juízo será eterno. O primeiro teólogo de destaque a divulgar ideias universalistas foi Orígenes de Alexandria (c. 185-253). Segundo ele, toda a realidade criada, inclusive a angélica, caminha no rumo da apocatástase, ou seja, da plena reconciliação com Deus por meio de Cristo. Karl Rahner, John A. T. Robinson e John Hick são os proponentes mais destacados do universalismo atual. O “inclusivismo soteriológico”, como o universalismo é também chamado, encontra apoio na teologia do processo, no teísmo aberto e em outras vertentes do cristianismo tanto protestante quanto católico romano.

Aniquilacionismo: De acordo com essa visão, não existe nenhuma dimensão além e, depois da morte, o homem simplesmente apodrece. Ligada a essa concepção, mas com contornos menos radicais, está o condicionalismo ou a doutrina da imortalidade condicional, segundo a qual a imortalidade é uma dádiva de Deus concedida a todos os homens, mas só poderão retê-la aqueles que preencherem a condição de crer em Cristo. Assim, para os condicionalistas, os que rejeitam o Salvador serão aniquilados, caindo na inexistência completa. Os condicionalistas geralmente aceitam a possibilidade de um período indefinido de sofrimento no inferno, antes da total aniquilação do ímpio. A noção de um inferno eterno e literal, porém, de acordo com essa concepção, deve ser recusada, pois, segundo entendem, essa ideia não se harmoniza com o conceito de um Deus justo que vencerá definitivamente o mal.

Espiritismo: Para os espíritas a salvação é o livramento do espírito humano da realidade material em que está preso. Esse livramento ocorre por meio do processo de reencarnação, pelo qual o espírito evolui passando por vários ciclos de existência no plano material. A aceleração desse processo de livramento ocorre por meio de boas obras. O ensino acerca do pecado e da morte expiatória de Cristo, bem como as doutrinas da salvação pela fé, da ressurreição dos mortos, do reino celeste e do inferno, não fazem nenhum sentido dentro da concepção espírita, não havendo qualquer ponto de semelhança entre esse modelo religioso e o cristianismo bíblico.

– Marcos Granconato | Pequeno Manual de Doutrinas Básicas – 5ª edição (antiga)
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