Há
vários anos o termo “newspaper exegesis” (‘exegese periódica’) foi cunhado e
usado como argumento indigno contra o Premilenismo Futurista.[2] A caricatura
mostrava os estudiosos do Premilenismo Futurista com a Bíblia em uma das mãos e
a última edição do citado jornal na outra.
Ler os eventos a partir da Bíblia e interpretá-los como acuradamente
escriturísticos representa uma séria acusação da má hermenêutica e exegese na
prática. Neste capítulo, perceberemos que esta acusação não tem nenhum efeito
sobre a vasta maioria dos aderentes do Premilenismo Futurista. Ao contrário,
será demonstrado que a negligência na interpretação realmente caracteriza as
outras visões escatológicas, no sentido de que elas, sem garantias bíblicas,
lêem o Novo Testamento no Antigo, o que resulta numa escatologia que se adéqua
a uma teologia predeterminada. Fazendo isto, eles reinterpretam o Antigo
Testamento de maneira tal que ninguém antes do tempo de Cristo teria
reconhecido suas conclusões.
As profecias do Antigo Testamento, tomadas em seu significado simples,
inevitavelmente levam ao Premilenismo Futurista (Dispensacionalismo). Como
notado no capítulo anterior, este é um ponto sobre o qual os eruditos
amilenistas e posmilenistas concordam. Até mesmo um breve panorama da profecia
do Antigo Testamento não permite questionamento quanto ao que estava sendo
descrito, Como explica o Premilenista Walvoord:
Se interpretado literalmente, o Antigo
Testamento nos dá uma clara noção de expectativa profética de Israel. Eles
confiantemente anteciparam a vinda de um Salvador e Libertador, um Messias que
seria Profeta, Sacerdote e Rei. Esperavam que Ele os livrasse de seus inimigos
e inaugurasse um reino de justiça, paz e prosperidade sobre a terra redimida.
Dificilmente se discutirá se o Antigo Testamento apresenta ou não tal quadro,
não em textos isolados, mas na declaração constantemente repetida da maioria
dos profetas. Todos os Profetas Maiores e praticamente todos os Menores possuem
secções messiânicas, descrevendo a restauração e a glória de Israel em seu
reino futuro. Isto é tão claro aos grandes estudiosos do Antigo Testamento que
é consenso entre praticamente todos que o Antigo Testamento apresenta a
doutrina Premilenista quando interpretado literalmente. A interpretação
premilenista oferece o único cumprimento literal possível para centenas de
versículos do testemunho profético.[3]
À luz desta realidade histórica, amilenistas e posmilenistas geralmente
respondem de uma das duas maneiras: Por um lado, alguns afirmam que as
promessas dadas no Antigo Testamento, quando interpretadas como literais, eram
condicionais. Assim, quando a nação de Israel rejeitou o Messias, ela automaticamente
anulou qualquer promessa de um reino futuro. Mas, como discutido no capítulo
anterior, esta [terrível] afirmação choca-se contra a natureza irrevogável da
eleição divina (Rm 11.29). A rejeição do Messias por Israel era parte do plano
de Deus desde a eternidade passada, o que levaria o Salvador à cruz. Isto não
alterou o plano de Deus quanto ao Seu povo escolhido. Ademais, o glorioso
futuros de Israel é predito na promessa incondicional das alianças Abraâmica,
Davídica e Nova Aliança (e.g., Sl 89.29-37; Jr 30.4-11). Deus não revogaria
estas promessas sem que tivesse que voltar atrás em Sua palavra, o que é
absolutamente impossível (Hb 6.13-18). Por outro lado, muitos amilenistas e
posmilenistas respondem a isto simplesmente rejeitando a noção de que as
promessas concernentes ao milênio devam ser interpretadas literalmente. Em vez
disso, eles afirmam que muitas das profecias do Antigo Testamento devem ser
espiritualizadas, tais como quaisquer descrições físicas de um reino futuro são
entendidas como metáforas de bênção espiritual. Eruditas amilenistas justificam
tal abordagem apelando ao Novo Testamento com a desculpa de que, se o
intérprete começar aqui (no NT), ele chegará ao entendimento do Antigo
Testamento numa perspectiva amilenista. O propósito deste capítulo é investigar
esta argumentação. Para fazê-lo, antes de tudo é importante entendermos a mente
escatológica do Antigo Israel. Não se questiona se os judeus do Antigo
Testamento interpretavam as palavras dos profetas de modo literal. Como resultado
disto, eles esperavam um reino messiânico futuro na terra. A antecipação
daquela era dourada descreve uma progressão por todo o período
intertestamentário. Como explica o erudito abaixo:
Durante o período chamado
intertestamentário desenvolvia-se um pensamento em boa parte da literatura
judaica de uma ressurreição por vir e do estabelecimento de um “reino
milenar.”... Por exemplo, um reino milenar é descrito em obras como Enoque
6–36, 91–104 e 2Enoque 33.1, onde temos a expressão 1.000 anos, 4Esdras
7.28-29, onde temos o número de 400 anos e Test. Isaque 6–8, onde se refere a
um banquete milenar.[4]
Nos tempos de Cristo, portanto, a expectativa do povo judeu tinha como foco um
reino terreno no qual o Messias reinaria de Jerusalém sobre todas as nações.[5]
Esta teria sido a perspectiva de Maria ao ouvir o anúncio do anjo Gabriel em
Lucas 1.31-33.[6]. Foi também a visão dos discípulos durante seu tempo com
Jesus – foi por isto que, embora motivados por razões egoístas, eles desejaram
grandeza pessoal no reino (cf. Mt 20.21; Mc 10.37; Lc 22.24).
A consideração do tratamento que o Novo Testamento dá às questões relativas ao
milênio deve ser feita tendo como pano de fundo a escatologia judaica do
primeiro século. Se os escritores do Novo Testamento tivessem rejeitado o
Premilenismo Futurista, tão prevalecente em seus dias, deveríamos esperar que
eles o denunciassem clara e explicitamente (como o fizeram em resposta a outras
questões, tais como o legalismo dos judaizantes). Uma veemente condenação seria
necessária a fim de sobrepor a tão disseminada escatologia dos crentes judeus,
baseada num entendimento comum das Escrituras do Antigo Testamento que lhes
tinham sido transmitida.[7]
O fato de não existir tal denúncia tem grande significância, especialmente
quando comparado com as passagens do Novo Testamento onde uma interpretação
literal da profecia do Antigo Testamento é assumida. Ademais, a referência mais
explícita ao milênio em toda a Escritura encontra-se no Novo Testamento, no
livro de Apocalipse 20.1–6. Se o propósito dos escritores do Novo Testamento
era negar a escatologia prevalecente em seus dias, como afirma a posição
amilenista, eles fizeram um péssimo trabalho – de fato, um trabalho muito
pobre, tanto que a geração de pais da igreja que imediatamente os seguiu
entendeu o Novo Testamento numa perspectiva distintamente Premilenista.[8] Como
observa certo escritor:
Um dos testemunhos mais eloqüentes à
verdade Premilenista encontra-se no absoluto silêncio do Novo Testamento e,
consequentemente, dos primeiros pais da igreja a respeito de qualquer
controvérsia considerando o ensino premilenista. A visão premilenista era
universalmente adotada pelos judeus. A igreja também era predominantemente
premilenista. Não há registro de qualquer controvérsia nesse sentido. É
inacreditável que os judeus e a igreja primitiva tivessem cometido um erro tão
sério em sua interpretação do Antigo Testamento em sua expectativa quanto ao
justo reino sobre a terra após o segundo advento de Cristo, e não haja uma
correção, além de toda evidência que vem a confirmar, e não negar tal
interpretação.[9]
Na discussão que se segue, os ensinos de Cristo, Pedro, Paulo e João serão
considerados. A cada um deles será perguntado se rejeitam ou não o Premilenismo
Futurista. Notar-se-á que, em vez de uma interpretação alegórica excludente das
promessas do Antigo Testamento, o Novo Testamento realmente promove e sustenta
o Premilenismo Futurista dos profetas judeus.
JESUS TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?
Embora Jesus tenha falado do reino de Deus em um sentido geral (como o domínio
no qual Deus governa ou a esfera da salvação), ele jamais negou a realidade do
reino milenar futuro.[20]. De fato, a promessa de Jesus em Mateus 19.28 foi explicitamente premilenista. Ele disse aos seus
discípulos: “Em verdade vos digo que
vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar
no trono da Sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as
doze tribos de Israel”. Esta promessa foi reiterada na noite que antecedeu
sua morte, como registrado em Lucas
22.28-30: “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.
Assim como meu Pai me confiou um reino, Eu vo-lo confio, para que comais e
bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as
doze tribos de Israel”. Os discípulos que compartilhavam as expectativas
milenistas de seus compatriotas judeus entenderam claramente estas promessas
literalmente.
Após a ressurreição, o Senhor continuou a instruir seus discípulos sobre o
reino. Lucas, em sua breve descrição do período de quarenta dias entre a
ressurreição e a assunção do Senhor, explica que este tópico era predominante
nos dias do ministério de ensino de Cristo. Em Atos 1.3, Lucas escreve: “A
estes [os apóstolos] também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com
muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando
das coisas concernentes ao reino de Deus”. Sua mensagem primária dizia
respeito ao reino. Embora os discípulos tivessem sido caracterizados no passado
como cabeças duras, este não era mais o caso, pois Cristo “abriu suas mentes
para entenderem as Escrituras” (Lc 24.45).
Ao fim do período de quarenta dias a Escritura inclui uma passagem mais
instrutiva acerca do reino milenar. Depois de terem sido ensinados sobre o
reino pelo próprio Cristo e de terem recebido um entendimento sobrenatural da
Palavra de Deus, os discípulos ainda entenderam o reino messiânico no seu
sentido normal [literal] – Premilenista Futurista. Em Atos 1.6 eles inquiriram: “Senhor,
será este o tempo em que restaurarás o Reino a Israel?”. Na mente dos
discípulos, após intensiva instrução sobre o assunto pelo próprio Cristo
ressurreto, as promessas do Antigo Testamento concernentes ao milênio ainda
deveriam ser entendidas como literalmente verdadeiras. Sua única pergunta era a
respeito de quando estas coisas deveriam acontecer. É importante notarmos a
maneira que Jesus respondeu a esta dúvida: “Respondeu-lhes:
‘Não vos compete conhecer os tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua
exclusiva autoridade’” (v. 7). É significativo que Cristo não denuncie ou
corrija a expectativa dos discípulos quanto ao milênio [literal]. Ele não
refuta seu entendimento da natureza do reino. Em vez disso, Cristo meramente
explica que não era da competência dos discípulos conhecerem o tempo daquele reino futuro. Durante os quarenta dias
que Jesus passou com seus discípulos discutindo coisas pertinentes ao reino,
Ele certamente poderia ter-lhes ensinado que esse reino era apenas
“espiritual”. Tendo aberto os olhos dos discípulos para entenderem as
Escrituras, o Senhor poderia ter-lhes explicado que os profetas do Antigo
Testamento deveriam ser interpretados de modo alegórico e não literal. Mas Ele
não o fez. Ao fim deste período, os discípulos ainda estavam convencidos de que
o reino seria literalmente restaurado à nação de Israel. Se Cristo tivesse a
intenção de corrigir tal noção, esta seria a melhor oportunidade para o fazer.
Mas Ele nada disse. Ele se recusou a responder a pergunta dos discípulos acerca
do tempo do reino, mas de maneira nenhuma refutou seu entendimento da natureza
desse reino. A resposta de Cristo indica claramente que a expectativa dos
apóstolos de um reino terreno, literal, refletia seu próprio ensino e o plano
de Deus, claramente revelado no Antigo Testamento. Mas o tempo do reino era
ainda futuro. Nesse ínterim, o Senhor tinha uma missão específica a confiar aos
discípulos, que deveriam ser suas testemunhas “tanto em Jerusalém como em toda
a Judeia, Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).
PEDRO TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?
Do testemunho de Cristo, vamos aos testemunhos dos pós-Pentecostes dos
apóstolos. Atos 1.6 indica que os discípulos mantiveram suas expectativas
premilenistas após a ressurreição de Jesus. Mas o que dizer do Dia de
Pentecostes? O estabelecimento da igreja em Atos 2 alterou seu entendimento da
profecia do Antigo Testamento?
O sermão de Pedro em Atos 3 indica
exatamente o oposto – que os apóstolos aguardavam objetivamente o cumprimento
literal da profecia do milênio, mesmo depois do nascimento da igreja. Após a
cura de um homem (At 3.6-7), Pedro começou a pregar no templo. Lucas registra o
sermão em Atos 3.12-26. Em meio à
mensagem, Pedro disse aos seus ouvintes judeus: “Mas Deus, assim, cumpriu o que dantes anunciara pela boca de todos os
profetas: que o seu Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos para que sejam apagados os vossos pecados, a fim de que, pela
presença do Senhor, venham os tempos de Seu refrigério, e que Ele envie o
Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba
até aos tempos da restauração de todas as coisas de que Deus falou pela boca
dos seus santos profetas desde a antiguidade” (v. 18-21).
Nestes poucos versos, Pedro revela dois pontos importantes: Primeiro, ele
enfatizou que as profecias do Antigo Testamento sobre a primeira vinda de Jesus
tinham sido literalmente cumpridas (v. 18); assim, os judeus deveriam esperar
que as profecias sobre sua segunda vinda também se cumpririam literalmente (v.
20-21). Segundo, Pedro usou a linguagem própria do milênio – indicando que
falava de um reino terreno esperado por sua platéia judia. Frases como “tempos
de refrigério” e “o período de restauração de todas as coisas” são frases
características do milênio literal, emprestando imagens do Antigo Testamento,
com as quais os ouvintes de Pedro estavam plenamente familiarizados.
Por exemplo, Ezequiel disse que o reino milenar seria “chuva de bênçãos”
(34.26). O profeta Joel o descreveu como um tempo de satisfação (2.26). Isaías
o viu como uma era em que “A areia esbraseada se transformará em lagos, e a
terra sedenta em mananciais de águas” (35.6-7). Isaías 11.6-10 o descreve com palavras semelhantes:
“O lobo habitará com o cordeiro, e o
leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado
andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as
suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de
peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do
basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a
terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar. Naquele
dia, recorrerão as nações à raiz de Jessé que está posta por estandarte dos
povos; a glória lhe será a morada”.
“O período de restauração de todas as coisas” é outro nome para o reino
terreno futuro de Cristo, o reino milenar. É reminiscente da descrição de nosso
Senhor do reino como a “regeneração” (Mt 19.28). É então que a pergunta dos
apóstolos em Atos 1.6 será respondida (cf. Mc 9.12). O reino será marcado por
paz, alegria, santidade, pela revelação da glória de Deus, conforto, justiça,
conhecimento do Senhor, saúde, prosperidade e liberdade da opressão. O universo
será dramaticamente alterado em sua forma física (Jo 2.30,31; 3.14-16; Ap
16.1-21) assim como a maldição sobre o homem e seu mundo será revertida.
Pedro encerrou seu sermão em Atos 3 reafirmando o fato de que os judeus ainda
eram a nação escolhida de Deus. Ele disse: “Vós sois os filhos dos profetas e
da aliança que Deus estabeleceu com vossos pais, dizendo a Abraão: “NA TUA DESCENDÊNCIA SERÃO ABENÇOADAS TODAS
AS NAÇÕES DA TERRA” (v. 25). Em vez de negar um futuro para a Israel
nacional, Pedro sustentou e afirmou um entendimento literal das promessas do
Antigo Testamento – note que elas seriam cumpridas literalmente, do mesmo modo
que foram as promessas quanto à primeira vinda de Cristo. Quando o ouviram
pregar, os judeus entenderam exatamente o que Pedro queria dizer.
PAULO TERIA REJEITADO O PREMILENISMO FUTURISTA?
Como apóstolo dos gentios, Paulo talvez fosse o mais interessado em negar um
reino futuro para a nação de Israel ao proclamar o evangelho a uma audiência
não-judia por todo o império romano. Entretanto, o que Paulo disse aos seus
leitores predominantemente gentios em Romanos
3.1-4?
“Qual é, pois, a vantagem do judeu?
Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, sob todos os aspectos.
Principalmente porque aos judeus foram confiados os oráculos de Deus. E daí? Se
alguns não creram, a incredulidade deles virá a desfazer a fidelidade de Deus?
De maneira nenhuma! Seja Deus verdadeiro e todo homem mentiroso, segundo está
escrito: PARA SERES JUSTIFICADO NAS TUAS PALAVRAS E VENHAS A VENCER QUANDO
FORES JULGADO”.
A infidelidade de alguns judeus (cf. Rm 9.6) – ao ponto de uma geração
inteira ter rejeitado o seu Messias – não anulou a fidelidade de Deus, nem
cancelou Suas promessas à nação de Israel. Como Paulo perguntou retoricamente
em Romanos 11.1: “Pergunto, pois: Terá
Deus rejeitado Seu povo? De modo algum!”. O apóstolo continua a explicar
esse ponto nos versos 25-29. Ele escreve:
“Porque não quero, irmãos, que
ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio
endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios.
E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: VIRÁ DE SIÃO O LIBERTADOR,
E ELE APARTARÁ DE JACÓ AS IMPIEDADES. ESTA É A MINHA ALIANÇA COM ELES, QUANDO
EU TIRAR OS SEUS PECADOS. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa
causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os
dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.
No contexto, “Todo Israel” deve
ser entendido apenas como – uma geração futura de judeus étnicos que comporão
toda a nação de Israel no início do reino milenar. A visão amilenista comum de
que “todo Israel” se refere unicamente ao remanescente redimido durante a era
da igreja é incoerente com o texto. A declaração de Paulo diz respeito de todo
o Israel judeu crente, a quem o Senhor preservara para Si mesmo. O fato, por
exemplo, de que somente alguns dos ramos (judeus descrentes) foram quebrados
(v. 17) plenamente indica que o remanescente de judeus crentes – os ramos que
não foram quebrados – continuarão a existir, enquanto que a totalidade dos
gentios está sendo completada. Estes judeus são os que estão sendo redimidos e
que não fazem parte do endurecimento espiritual que veio a Israel por conta de
sua rejeição do Messias (v. 25).
Antes de todo o Israel ser salvo, seus membros descrentes, impiedosos, serão
separados pela inerrante mão do julgamento de Deus (Ez 20.33-38; Dn 12.10; Zc
13.8-9). Os que ouvirem a pregação dos 144.000 (Ap 7.1-8); 14.1-5), de outros
convertidos (Ap 7.9), de outras testemunhas (Ap 11.3-13) e do anjo (Ap 14.6), e
assim passarem pela vara do julgamento de Deus, compreendem todo Israel, que –
em cumprimento à promessa irrevogável e soberana de Deus – será completamente
uma nação de crentes prontos para o reino do Messias Jesus. Então as promessas
da nova aliança serão final e completamente cumpridas:
“Eis
que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel
e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia
em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles
invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor.
Mas esta é a aliança que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e
a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem
cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão,
desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua
maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados “ (Jeremias
31.31-34; cf. 32.38).
O controle de Deus sobre a história evidencia
irrefutavelmente Sua soberania. E tão certo como Ele cortou o Israel infiel de
Sua árvore da salvação, Ele também restaurará o Israel fiel, trazendo-o de
volta para Si – uma nação completamente restaurada e completamente salva.
Assim, como a totalidade dos gentios iniciará a salvação de Israel, assim
também a salvação de Israel iniciará o reino milenar de Jesus Cristo. Como um
expert que era no Antigo Testamento, Paulo tinha grande familiaridade com as
promessas de Deus a Israel. Em Romanos 3 e 11, o apóstolo deixou muito claro
que acreditava no cumprimento literal e futuro dessas promessas.
JOÃO TERIA REJEITADO
O PREMILENISMO FUTURISTA?
Quem quer que afirme que o apóstolo João negou
um reino milenar futuro e literal, deve tratar primeiro com o texto de
Apocalipse 20.1-6 (para maior explicação sobre essa passagem, ver os capítulos
3 e 6). O texto não poderia ser mais claro. Considere as palavras de João
escrevendo de seu exílio na ilha de Patmos, encorajando seus leitores com a
futura esperança:
“E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave
do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga
serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no
abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as
nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco
de tempo. E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de
julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e
pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam
o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo
durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se
acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem
parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas
serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos” (Apocalipse
20.1-6).
A passagem inequivocadamente ensina que o
retorno de Cristo precede o reino milenar – um cenário incompatível com o
Amilenismo e o Posmilenismo, mas que é exatamente o que ensina o Premilenismo
Futurista. Para negar a cronologia que Apocalipse impõe às suas perspectivas,
as posições amilenistas e posmilenistas precisam negar que o capítulo 20 segue
cronologicamente o capítulo 19.[11] Mas tal negação ignora a significância
cronológica da frase “e vi” (v. 1,4,11; cf. Ap 6.1,2,5,8,12; 7.2; 8.2,13; 9.1;
10.1; 13.1,11; 14.1,6,14; 15.1; 16.13; 17.3; 19.11,17,19; 21.1) e a
continuidade do contexto. Tendo tratado do Anticristo e do falso profeta no
capítulo 19, Cristo trata com o maligno, Satanás, no capítulo 20. Por que
rejeitar uma cronologia tão óbvia? A principal motivação parece ser uma negação
das conclusões Premilenistas Futuristas – na ausência daquela persuasiva
justificativa bíblica.
A extensão do tempo em que Satanás será preso é definido como mil anos, isto é,
as primeiras seis referências precisas e importantes à duração do milênio (cf.
Ap 20.3,4,5,6,7). A prisão de Satanás traz sérias dificuldades para amilenistas
e posmilenistas. Eles afirmam que Satanás já se encontra preso, pois crêem que
já [supostamente] estamos vivendo o milênio (embora não entendam que a duração
do milênio seja literalmente de mil anos). Muitos posmilenistas também crêem que
Satanás esteja atualmente preso, pois, de outra forma, seria difícil ver como a
igreja poderia antecipar o milênio. Entretanto, a atividade de Satanás na era
presente torna impossível a afirmação de que ele esteja preso na era atual.
Satanás introduz hipócritas mentirosos na igreja (At 5.3), trama esquemas
contra os crentes (2Co 2.11; Ef 6.11), disfarça-se de anjo de luz para enganar
as pessoas (2Co 11.14) e ataca os crentes (2Co 12.7; Ef 4.27). Satanás também
deve ser resistido (Tg 4.7); ele atrapalha os que estão no ministério (1Ts
2.18) e leva os crentes ao desvio (1Tm 5.15). Amilenistas e posmilenistas
geralmente argumentam que Satanás foi preso no momento da cruz e que tal prisão
significa simplesmente que ele não pode mais enganar as nações, impendido-as de
aprenderem a verdade de Deus. Mas Satanás nunca impediu as nações gentílicas de
conhecerem a verdade antes de sua alegada prisão por ocasião da cruz. Os
egípcios ouviram sobre o Deus verdadeiro pelos lábios de José e dos israelitas
durante os quatrocentos anos em que lá viveram como escravos. Os assírios de Nínive
não somente ouviram a verdade pela boca de Jonas, como também se arrependeram
(Mt 12.41). A rainha de Sabá ouviu a respeito do verdadeiro Deus por meio de
Salomão (1Re 10.1-9); os babilônios ouviram através de Daniel e de seus amigos
judeus; os persas ouviram sobre Deus através de Ester, Mordecai e Neemias.
Ademais, em que sentido Satanás é impedido de enganar as nações na era
presente, quando Paulo afirma [peremptoriamente] que ele cega o entendimento
dos incrédulos (2Co 4.4), e que ele “agora opera nos filhos da desobediência”
(Ef 2.2), e que “mantém cativos os descrentes” (2Tm 2.26) em seu atual império
(Cl 1.13)?
A Escritura testifica que tudo pode ser dito de
Satanás nesta era, menos que esteja preso, o que acontecerá somente no reino
terreno vindouro de nosso Senhor Jesus Cristo. Somente então o príncipe das
trevas será encarcerado no grande abismo, que será fechado e selado para que
ele não possa mais enganar as nações (cf. Is 24.21-22). Sua atividade no mundo
não será meramente restringida ou refreada, mas completamente interrompida; não
mais lhe será permitido atuar no mundo, como quer que seja. Com Satanás, suas
hostes de demônios e todos os pecadores que rejeitaram a Deus estarão fora do
caminho, e o reino milenar de paz e justiça será estabelecido [na terra por mil
anos]. O regente supremo neste reino será, naturalmente, o Senhor Jesus Cristo.
Somente ele é o “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16), e “O Senhor
Deus lhe dará [a Ele somente] o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). E Ele ainda
prometeu graciosamente que seus santos reinarão com Ele (Ap 2.26-27). Eles
governarão subordinados sobre cada aspecto da vida no reino e, sendo
glorificados e aperfeiçoados, cumprirão com perfeição a vontade de Deus.
Nesta visão, João vê o panorama do povo de Deus ressurreto, recompensado e reinando
com Cristo [na terra por mil anos]. Ele viu tronos simbolizando autoridade
judicial e real, com o povo de Deus os ocupando, e o julgamento lhes foi dado.
Os santos glorificados promoverão a vontade de Deus e julgarão disputas.
Política e socialmente, o governo de Cristo e de Seus santos será universal (Sl
2.6-8); Dn 2.35), absoluto (Sl 2.9; Is 11.4) e justo (Is 11.3-5).
Espiritualmente, Seu governo será um tempo em que o remanescente descrente de
Israel será convertido (Jr 30.5-8; Rm 11.26) e a nação será restaurada à terra
que Deus prometeu a Abraão (Gn 13.14-15; 15.18). Será um tempo em que as nações
gentílicas também adorarão o Rei (Is 11.9; Mq 4.2; Zc 14.16). O governo milenar
de Cristo e de Seus santos será marcado pela presença da justiça e da paz (Is
32.17) e da alegria (Is 12.3-4; 61.3,7). Finalmente, será um tempo em que a
maldição será interrompida (Is 11.7-9; 30.23-24; 35.1-2,7), um tempo em que
haverá abundância de alimentos (Joel 2.21-27), um tempo em que haverá plena
saúde e bem-estar (Is 33.24; 35.5-6), o que resultará em longevidade (Is
65.20).
Embora os amilenistas tentem reduzir o Premilenismo Futurista meramente a um
ensino do Antigo Testamento, o fato é que a passagem mais explícita acerca do
milênio encontra-se no livro final do Novo Testamento. Tomadas em seu sentido
normal, as palavras de João não podem ser minimizadas. Como observa Walvoord:
O livro de Apocalipse, embora sujeito a
todo tipo de abuso por parte da erudição e divergentes interpretações, quando
tomado em seu propósito pleno, nos oferece um esboço simples da verdade
Premilenista Futurista – primeiramente um tempo de grande tribulação; em
seguida o segundo advento, o aprisionamento de Satanás, a libertação e bênção
dos santos, o governo justo sobre a terra por 1000 anos, seguidos pelo julgamento
final, e novos céus e nova terra.[12]
REUNINDO TODAS AS
TESTEMUNHAS
O coração do debate milenista realmente
encontra-se no Novo Testamento. Praticamente todos reconhecem que o Antigo
Testamento ensina o Premilenismo Futurista – isto é, caso suas promessas sejam
interpretadas literalmente. Os judeus do Antigo Testamento e do período entre
os dois testamentos certamente entenderam tais promessas em termos literais.
Eles esperaram um reino messiânico terreno – um tempo de grande bênção física e
paz política para o mundo. A questão, então, é se os escritores do Novo
Testamento desaprovam ou não tal perspectiva. E a resposta simples é não.
De fato, eles fizeram o oposto. Quando é seu propósito falar sobre o tratamento
de Deus com os judeus, eles enfatizam o fato de que Ele ainda não concluiu Sua
obra naquela nação. As promessas do Antigo Testamento ainda não se cumpriram,
mas se cumprirão – do mesmo modo que a profecia bíblica se cumpriu com respeito
à primeira vinda de Cristo. Ademais, o Novo Testamento especifica a duração do
tempo, mil anos, que terá o reino milenar antes da história do mundo chegar ao
seu fim, dando início ao estado eterno. Com a confiança de que todas as
promessas de Deus verdadeiramente se cumprirão, os crentes podem esperar um
futuro glorioso – tanto no reino milenar como além – que os aguarda e a todos
que põem sua fé em Jesus Cristo.
– John MacArthur / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o Premilenismo
Futurista – John MacArthur & Richard Mayhue – Cap. 8, Pág. 155-168.
SUMÁRIO: Os
Planos Proféticos de Cristo
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