CAPÍTULO 2 (PARTE 2): Os MITOS Mais Comuns Sobre o Dispensacionalismo | Michael Vlach

Agora vejamos os MITOS mais comuns sobre o Dispensacionalismo:

MITO 1: O Dispensacionalismo Ensina Várias Formas de Salvação.

Ryrie está correto quando ele afirma que “a objeção mais freguentemente ouvida contra o dispensacionalismo é que ele supostamente ensina várias formas de salvação”.[9] John Wick Bowman fez essa acusação em 1956, quando ele disse que os dispensacionalistas estão “claramente lidando com dois meios de salvação”.[10] Em 1960, Clarence Bass argumentou que as distinções dispensacionalistas entre a lei e a graça, e Israel e a Igreja, “inevitavelmente resultam em múltiplas formas de salvação – que os homens não são salvos da mesma maneira em todas as eras”.[11] Embora estas acusações sejam infundadas, precisamos reconhecer que algumas declarações de dispensacionalistas foram feitas de maneira confusa sobre este assunto.[12] Isto foi especialmente verdadeiro no caso da nota referente a João 1.17 na Bíblia de Referência Scofield, de 1909:

Como uma dispensação, a graça começa com a morte e a ressurreição de Cristo (Rm 3.24-26; 4.24,25). O ponto aqui não é mais a obediência à lei como condição da salvação, mas a aceitação ou rejeição de Cristo, com as boas obras como fruto da salvação.[13]

Alguns viram nessa declaração uma afirmação explícita de que Scofield e os dispensacionalistas acreditavam em múltiplas formas de salvação.[14] Significativamente, a opinião de Scofield na sua Bíblia de referência foi muitas vezes equiparada ao dispensacionalismo, uma vez que ele foi tido como o líder dispensacionalista de seu tempo. De acordo com Klooster, a percepção de que o dispensacionalismo ensina várias maneiras de salvação era comumente declarada por não-dispensacionalistas até 1965.[15] Nesta mesma época, Ryrie publicou o trabalho “Dispensationalism Today”, no qual ele respondeu a esta acusação.[16] Ryrie afirmou que dispensacionalistas mais antigos, incluindo Scofield, não ensinaram isso. Eles fizeram “declarações descuidadas que poderiam ter sido mais bem escritas se elas estivessem sendo feitas à luz do debate de hoje em dia”.[17] Ryrie também pediu que os não-dispensacionalistas reconhecessem a significativa mudança da Nova Bíblia de Referência Scofield sobre João 1.17, na qual o texto polêmico foi removido e uma declaração clara de um único caminho para a salvação foi confirmada. A nota agora diz:

Na dispensação anterior, a lei se mostrava impotente para garantir justiça e vida para uma raça pecadora (Gl 3.21-22). Antes da cruz, a salvação do homem foi por meio da fé (Gn 15.6; Rm4.3), tendo como base o sacrifício expiatório de Cristo, visto antecipadamente por Deus; agora está claramente revelada a salvação e a ressurreição do Salvador.[18]

Desde a publicação de Dispensationalism Today, outros dispensacionalistas se juntaram a Ryrie para esclarecer esse assunto. Como Saucy escreveu, “Embora não se possa negar que há alguma tensão não resolvida nas declarações anteriores, dispensacionalistas têm mais recentemente sido cuidadosos em explicar que a progressão nas dispensações não envolve nenhuma mudança no princípio fundamental da salvação pela graça”.[19]

Como resultado do trabalho de Ryrie, os escritos de outros dispensacionalistas e a revisão da Nova Bíblia de Referência Scofield, muitos não-dispensacionalistas se convenceram de que o dispensacionalismo não ensina múltiplas maneiras de salvação. Fred H. Klooster é um exemplo:

À luz desta significativa revisão na Nova Bíblia de Referência Scofield e de tantos dispensacionalistas como Ryrie e [John] Feinberg, a velha acusação deve ser descartada. Deve-se proceder a partir da confirmação de que o Dispensacionalismo reconhece uma única forma de salvação em toda a Escritura. A Salvação é agora e sempre foi apenas pela graça – Sola Gratia! Esse consentimento é causa de alegria; este reconhecimento não deve ser feito de má vontade.[20]

A perspectiva de Klooster foi também compartilhada por Anthony Hoekema que declarou: “Agradecemos a insistência deles [dispensacionalistas] de que em cada era a salvação é somente pela graça, com base nos méritos de Cristo”.[21] Levando em consideração a Nova Bíblia de Referência Scofield e a Dispensationalism Today de Ryrie, Daniel Fuller escreveu: “Comparando estas declarações contemporâneas do dispensacionalismo com a teologia do pacto, concluímos que não há nenhuma diferença substantiva entre os dois a respeito do tema da lei e do evangelho”.[22]

Klooster, Hoekema e Fuller demonstraram integridade ao se disporem a avaliar esta questão objetivamente. Infelizmente, nem todos os críticos do dispensacionalismo seguiram essa orientação. No seu livro de 1991, “Wrongly Dividing The Word Of Truth: A Critique of Dispensationalism” (Dividindo Injustamente a Palavra da Verdade: Uma Crítica ao Dispensacionalismo), John Gerstner acusou todos os dispensacionalistas de ensinar mais de um caminho para a salvação. Ele disse: “Nós devemos, infelizmente, acusar os dispensacionalistas (de todos os tipos) de ensinar, sempre implicitamente e, às vezes, explicitamente, que há mais de um meio de salvação e, no processo de desenvolvimento dessa teologia, excluíram o único caminho a partir da dispensação da graça”.[23] Gerstner não explica porque o dispensacionalismo leva a uma soteriologia errada, no entanto este foi o seu argumento. Contrariando as alegações de Gerstner, entretanto, a evidência indica que o dispensacionalismo não ensina múltiplas maneiras de salvação. Como John Feinberg apontou, não há nada inerente ao dispensacionalismo que leve os dispensacionalistas a concluírem que a Bíblia ensina múltiplas maneiras de salvação: “Assim, a questão de saber se o dispensacionalismo implica numa visão de múltiplos métodos de salvação, ou numa posição de que somente um meio de salvação seja irrelevante. A Soteriologia não é a área determinante para o Dispensacionalismo”.[24]

MITO 2: O Dispensacionalismo Está Intrinsecamente Ligado ao Arminianismo.

Uma segunda acusação errônea muitas vezes feita contra o dispensacionalismo está associado ao Arminianismo.[25] Assim, o dispensacionalismo é supostamente oposto ao Calvinismo. Por exemplo, de acordo com Keith A. Mathison, “o dispensacionalismo adotou uma doutrina semipelagiana, arminiana, não baseada nas Escrituras”.[26] Gerstner viu o dispensacionalismo como inerentemente “anticalvinista” e o acusou de negar todos os cinco pontos do Calvinismo.[27] Ele também diz que “do seu ponto de vista da criação do homem, da queda, da expiação, soteriologia e escatologia, esse sistema é uma variação do arminianismo”.[28] J. I. Parker parece impressionado com as afirmações de Gerstner quando declara: “Ele [Gerstner] procura mostrar que o Calvinismo e o Dispensacionalismo são radicamente opostos e prova seu argumento”.[29]

A metodologia de Mathison e Gerstner é apontar para declarações de dispensacionalistas adeptos do arminianismo e então declarar que o dispensacionalismo é companheiro do arminianismo. E, em certos casos, eles estão corretos em afirmar que alguns dispensacionalistas possuem uma visão arminiana. Esse ponto não está em discussão. (Contudo, o número de dispensacionalistas que aderem linha por linha do todo do sistema arminiano são poucos, na melhor das hipóteses). A verdadeira questão, entretanto, é se o dispensacionalismo está inerentemente conectado ao [herético] arminianismo. Nossa afirmação é que não está. Nós apresentamos três razões para nossa alegação.

Primeiramente, como já dissemos, o dispensacionalismo é, principalmente, sobre eclesiologia, escatologia e hermenêutica, e não sobre soteriologia. Quanto a abordagem a respeito do dispensacionalismo estar relacionado à questão do arminianismo ou do Calvinismo, John Feinberg explica porque não está:

Nem o calvinismo nem o arminianismo estão na essência do dispensacionalismo. (...) Este assunto não está na essência do dispensacionalismo porque o calvinismo e o arminianismo são muito importantes no que diz respeito aos conceitos de Deus, o homem, o pecado e a salvação. O dispensacionalismo se torna muito importante no que diz respeito à eclesiologia e à escatologia, mas realmente não se trata destas outras áreas.[30]

Em segundo lugar, embora existam dispensacionalistas que são arminianos, existem também dispensacionalistas calvinistas. Conforme David L. Turner explica: “Há certos dispensacionalistas, eu incluso, que defendem a teologia Calvinista, incluindo a expiação limitada”.[31] Além disso, para Turner, o falecido S. Lewis Johnson Jr. Foi outro dispensacionalista que guardou todos os cinco pontos do Calvinismo.[32] Jeffrey Khoo aponta que James Oliver Buswell (1895-1977) foi um “premilenista dispensacional” que também era “um verdadeiro e consistente estudioso reformado..., um Calvinista de cinco pontos (TULIP*)”.[33] Buswell, um membro da Igreja Presbiteriana Bíblica, foi “talvez o maior proeminente estudioso reformado que teve uma visão premilenista dispensacionalista”.[34]

Tanto Mathison quanto Gerstner negam uma conexão entre o dispensacionalismo e o Calvinismo, mas eles não mostram de maneira lógica porque um é antitético ao outro. Nem demonstram porque os teólogos dispensacionalistas como Turner, Johnson e Buswell não podem ser calvinistas. Em vez de apenas citar certos dispensacionalistas orientados pelo arminianismo, os argumentos de Gerstner e Mathison seriam mais fortes se eles pudessem de maneira lógica mostrar porque o dispensacionalismo é inerentemente anti-calvinista e porque os dispensacionalistas que clamam ser calvinistas não são realmente calvinistas. Não há, no entanto, nenhuma razão lógica pela qual um dispensacionalista não possa ser um calvinista. Como Richard Mayhue observa, “alguém pode ser um calvinista de cinco pontos e ainda ser um dispensacionalista consistente”.[35]

Finalmente, alguns estudiosos não-dispensacionalistas têm realmente documentado uma ligação histórica estreira entre o dispensacionalismo e o calvinismo. De acordo com Vern Poythress, “os ensinos e textos de Scofield são evangélicos. Eles são ligeiramente calvinistas conquanto mantenha em grande relevância a soberania de Deus”.[36] O historiador da Igreja George M. Marsden disse que o “dispensacionalismo foi essencialmente reformado em suas origens do Século XIX e teve na América do final do mesmo século uma difusão maior entre os calvinistas reavivados”.[37] C. Norman Kraus declara que “as afinidades teológicas básicas do dispensacionalismo são calvinistas”.[38] Em sua discussão sobre o [herético] arminianismo e a teologia reformada, Wayne Grudem diz que “os dois pontos de vista são encontrados entre os... dispensacionalistas”.[39]

Nós destacamos as conclusões destes estudiosos não para provar que o dispensacionalismo é inerentemente calvinista, mas para mostrar que quando se quer forçar o problema, pode-se argumentar que o dispensacionalismo tem uma ligação histórica mais próxima do calvinismo do que do [herético] arminianismo. Assim, a alegação de que o dispensacionalismo é intrinsecamente ligado ao arminianismo é falsa e deve ser descartada. É simplesmente um MITO.

MITO 3: O Dispensacionalismo é Inerentemente Atinomiano.

Uma terceira acusação algumas vezes feita contra o dispensacionalismo é que ele ensina o antinomianismo. Antinomianismo, como Robert D. Linder define, é “a doutrina sobre a qual não é necessário que os cristãos preguem e/ou obedeçam a lei moral do AT”.[40] O antinomianismo é frequentemente associado com o endosso do comportamento sem lei.[41] De acordo com Gerstner, o dispensacionalismo é “comprometido com a doutrina inegociável do antinomianismo”.[42] Para ele, “todos os dispensacionalistas tradicionais ensinam que cristãos convertidos  podem (não devem) viver em pecado durante toda a vida pós-conversão sem perigo para o destino eterno deles”.[43] É importante notar que Gerstner foi além de simplesmente argumentar que certos dispensacionalistas ensinam antinomianismo. Para ele, o dispensacionalismo é inerentemente antinomiano.[44] Gerstner crê nisso por causa da alegação de que o cristão não está sob a Lei Mosaica e por causa de sua suposta falha “em entender as doutrinas reformadas de justificação e santificação”.[45] O dispensacionalismo, ele alega, crê que as pessoas podem ser justificadas sem ser santificadas. Este “dualismo”, de acordo com Gerstner, leva à crença de que esses cristãos podem ser “carnais”.[46]

Gerstner está correto em dizer que alguns dispensacionalistas têm separado a justificação da santificação. Devemos, no entanto, abordar também outras questões. Há líderes dispensacionalistas que vêem a justificação e santificação como sendo inseparáveis? Da mesma forma, o dispensacionalismo conduz um dispensacionalista a separar a justificação da santificação? Ao contrário do que Gerstner afirma, muitos dispensacionalistas vêem uma ligação inseparável entre justificação e santificação, e muitos não aceitam a idéia de que uma pessoa possa ser justificada sem ser também santificada. Não apenas não há nada dentro do dispensacionalismo que levaria um dispensacionalista a separar a justificação da santificação, como alguns dispensacionalistas vêem a justificação e a santificação como sendo inseparáveis. John MacArthur, por exemplo, argumenta de forma explícita contra o antinomianismo e se posiciona em defesa da visão de que a justificação e a santificação são inseparáveis.[47] Para MacArthur, “Não existe essa coisa de um verdadeiro convertido a Cristo que é justificado mas não santificado”.[48] Este posicionamento não é recente no sistema. O dispensacionalista Donald G. Barnhouse declarou que a “Justificação e a santificação são tão inseparáveis quanto o tronco e a cabeça. Você não pode ter um sem o outro”.[49] Alva J. McClain declarou que “A justificação não pode ser separada da santificação”. Ele também disse: “Justificação e santificação são dois aspectos da obra única de Deus em salvar os homens”.[50]

Como Gerstner, Curtis Crenshaw e Grover Gunn também afirmaram que há “um antinomianismo inerente ao dispensacionalismo”.[51] Para eles, os dispensacionalistas rejeitam a lei moral de Deus e sustentam que os cristãos são livres para agir carnalmente:

Rejeitar a lei moral, especialmente a lei moral do AT, resulta numa série de conseqüências. Eles tendem a rejeitar a idéia de que Cristo está governando agora por sua lei (ou qualquer lei que importe) como Rei dos reis, relegando isso a um futuro milênio. Isto, por sua vez, leva-os a rejeitar o Seu senhorio na salvação e mantém que se pode ter a fé sem obras (a idéia do “cristão carnal”).[52]

Há duas respostas a esta acusação de antinomianismo. Primeiro, não estamos negando que alguns dispensacionalistas podem ser antinomianos ou têm tendências antinomianas (embora não saibamos de nenhum dispensacionalista que realmente defenda uma vida sem lei). Negamos, entretanto, que o dispensacionalismo seja, em si, inerentemente antinomiano. Um sistema que é preocupado principalmente com eclesiologia e escatologia não pode necessariamente levar ao antinomianismo. Como Feinberg coloca:

Alguns argumentam que o dispensacionalismo implica em antinomianismo, já que os dispensacionalistas afirmam que a lei foi cumprida de qualquer maneira, pois Cristo é o fim da lei (Rm 10.4). Embora alguns possam manter este ponto de vista, isto dificilmente é a norma ou uma necessidade para o dispensacionalismo.[53]

MacArthur também está certo quando diz que “É um grosseiro mal-entendido assumir que o antinomianismo está no coração da doutrina dispensacionalista”.[54]

Em segundo lugar, embora a maioria dos dispensacionalistas diga que os cristãos de hoje não estão sob a lei mosaica, eles não afirmam que os crentes não estejam sem qualquer lei. A alegação de Creenshaw e Gunn de que os dispensacionalistas rejeitam a “lei moral” é uma deturpação daquilo que a maior parte deles crê. Muitos dispensacionalistas acreditam [corretamente] que os cristãos atuais estão sob uma nova lei – a Lei de Cristo, na qual as leis morais de Deus são comunicadas. De acordo com Wayne G. Strickland, a Lei de Cristo “é o novo pacto em contrapartida à lei mosaica. Assim como a lei mosaica era normativa para os judeus, a lei de Cristo é obrigatória para os cristãos”.[55] Segundo Blaising, o dispensacionalismo não é antinomiano porque “ao mesmo tempo em que ensina que a lei do pacto mosaico acabou de uma maneira dispensacional, ele também ensina que foi substituído pela NOVA LEI da aliança”.[56] No seu sumário sobre a perspectiva dispensacional da lei, Erickson escreve que “A lei moral está sempre presente... embora o seu conteúdo exato possa variar”.[57]

Alguém pode argumentar que os dispensacionalistas estejam errados no que concerne ao relacionamento entre a lei mosaica e a LEI DE CRISTO, mas não é correto acusar o dispensacionalismo de dizer que os cristãos de hoje não tem lei ou que eles podem pecar sem se preocupar com o seu destino eterno. Também deve ser observado que a ligação histórica entre o dispensacionalismo e o antinomianismo pode também ser exagerada. Como um especialista da história do dispensacionalismo, Blaising escreve: “Eu não sou convencido por Gerstner de que o antinomianismo, como tradicionalmente entendido, é característico do dispensacionalismo”.[58]

MITO 4: O Dispensacionalismo Conduz a uma Salvação Sem Senhorio.

Uma quarta acusação contra o dispensacionalismo é que ele obrigatoriamente conduz a uma idéia de salvação sem senhorio. Embora possua diferentes formas, a teologia do não-senhorio é normalmente caracterizada pela crença de que o arrependimento e entrega de uma vida ao senhorio de Cristo não é necessário par que ocorra a salvação. Alguns defensores do não-senhorio também sustentam que uma pessoa pode ser salva e não evidenciar frutos espirituais.[59] De acordo com Gerstner, “Toda essa traição dispensacional do evangelho se tornou central na controvérsia do senhorio”.[60] Para ele, “O evangelho do antinomismo dispensacional declara que uma pessoa pode ter Cristo como Salvador mas se recusar a “aceitá-Lo” como Senhor da sua vida”.[61]

Obviamente, alguns dispensacionalistas defendem uma visão da salvação sem senhorio ou têm tendências neste sentido. Lewis Sperry Charfer, por exemplo, fez declarações compatíveis com a visão do não-senhorio.[62] O defensor mais conhecido desta teologia é Zane Hodges. Seus livros, “The Gospel Under Siege” (O Evangelho Sitiado) e “Absolutely Free” (Absolutamente Livre) são explicitamente promotores da teologia do não-senhorio.[63] Mais uma vez, a questão aqui não é se alguns dispensacionalistas têm mantido uma visão de não-senhorio, mas se este ponto de vista é uma conseqüência inevitável do dispensacionalismo. Nós asseguramos que NÃO é, por duas razões:

Primeiro, uma vez que o dispensacionalismo é principalmente sobre eclesiologia e escatologia, ele não tem uma conexão necessária com a questão do Senhorio, um assunto soteriológico. Alguns dispensacionalistas até questionam se a opinião mais extrema a favor do não-senhorio de alguns dispensacionalistas está mesmo historicamente relacionada com o dispensacionalismo. Saucy, por exemplo, diz que “a posição radical do não-senhorio de alguns dispensacionalistas contemporâneos, negando a necessidade para a salvação de uma ‘fé com obras’ baseados em Tiago 2.14-26, nunca fez parte do dispensacionalismo tradicional ou clássico”.[64]

Segundo, vários teólogos dispensacionalistas rejeitaram explicitamente a ideia do não-senhorio. John MacArthur e Robert Saucy, por exemplo, argumentaram abertamente contra a posição do não-senhorio como defendida por Hodges.[65] Curiosamente, em sua afirmação de que o dispensacionalismo é intrinsecamente ligado à posição do não-senhorio, Gerstner cita John MacArthur contra outros dispensacionalistas.[66] Mas a lógica aqui é estranha. Gerstner cita o dispensacionalista John MacArthur para mostrar que a alegada visão do não-senhorio do dispensacionalismo é errada. PORÉM, em vez de provar o ponto de vista de Gerstner, entreganto, o uso de MacArthur mostra que há diversidade dentro do dispensacionalismo a respeito desta questão e que não há nenhuma conexão intrínseca entre o dispensacionalismo e a teologia do não-senhorio.

MITO 5: O Dispensacionalismo é Principalmente Sobre a Crença em Sete Dispensações.


No livro “What is Reformed Theology?” (O que é Teologia Reformada?), R. C. Sproul se esforça para mostrar como as teologias do pacto e reformada são distintas do dispensacionalismo. Sua declaração que define o dispensacionalismo era: “A teologia dispensacional originalmente cria que a chave para a interpretação bíblica é ‘manejar bem’ a Bíblia em sete dispensações, definidas na Bíblia de Referência Scofield como períodos de teste específicos na história da redenção”.[67] A definição do dispensacionalismo de Sproul é muito comum e, para ser honesto com ele, tem sido frequentemente utilizada por dispensacionalistas também. Em minha opinião, contudo, esta definição mostra uma falta de compreensão sobre o que o dispensacionalismo realmente é. Ao olhar para estas questões, estou convencido de que o dispensacionalismo não é primariamente crer em dispensações ou crer que existem sete dispensações. Por que afirmo isso?

Primeiramente, acreditar em dispensações não pode ser uma característica distintiva do dispensacionalismo desde que todos os cristãos crêem em dispensações. Qual o cristão que não crê que há uma diferença dispensacional entre o mundo pré e pós-queda? Quem não vê uma diferença dispensacional entre os tempos antes e depois da primeira vinda de Cristo? Qual cristão não reconhece que a era presente é diferente do novo céu e nova terra vindouros?

Além disso, o dispensacionalismo não é reconhecer o termo grego “oikonomia”, o qual está ligado à palavra “dispensação”. Afinal, qual estudioso bíblico não acredita que oikonomia seja um termo bíblico? Deste modo, admite-se que a palavra em questão não faz um dispensacionalista, e nem a definição deste termo nos revel a essência do dispensacionalismo. Como John Feinberg pontuou, “o erro inicial é pensar que a palavra ‘dispensação’ e a fala de ordens administrativas divergentes só aparecem no pensamento dispensacional”.[68] Feinberg também está correto ao dizer que “Definir o termo ‘dispensação’  não mais define a essência do dispensacionalismo assim como a definição do termo ‘pacto’ explica a Teologia do Pacto”.[69]

De um modo semelhante, o número de dispensações não deve ser considerado a essência do dispensacionalismo. Tradicionalmente, o sistema tem sido associado à crença em “sete” dispensações, mas alguns têm argumentado em favor de quatro ou oito, ou algum outro número qualquer. Pessoalmente, não concordo com a omissão do Estado Eterno como uma “dispensação” em qualquer esquema dispensacional. Além disso, nunca tenho sido inteiramente convencido dos critérios de “teste”, “fracasso” e “julgamento” para determinar uma dispensação, o que tem sido parte do dispensacionalismo clássico. Esta abordagem parece um tanto arbitrária para mim e lida com dispensações duvidosas e omitem outras que parecem óbvias (como o Estado Eterno). Assim, não creio que alguém deva defender sete dispensações para ser um verdadeiro dispensacionalista. Feinberg está correto novamente quando afirma: “O número de dispensações não está no coração do sistema”.[70]

Há outros MITOS sobre o dispensacionalismo e suas aplicações que também poderiam ser abordados, alguns dos quais podem realmente ter definido pontos do dispensacionalismo no seu início. Um deles é a suposição de que o sistema necessariamente ensina que o Sermão do Monte se aplica apenas ao futuro reino milenar. Lewis Sperry Chafer mantém esta visão[71] e é verdade que os primeiros dispensacionalistas relegaram o Sermão do Monte (Mt 5-7) ao futuro milênio somente. Mas a maioria deles, hoje, não tem a mesma opinião. Estes vêem o Sermão como um reino ético que se aplica nos dias atuais.[72]

Outro MITO diz que o dispensacionalismo ensina que há uma diferença entre o reino de Deus e o reino dos céus. Novamente, esta visão foi sustentada por alguns dos primeiros dispensacionalistas, mas é amplamente rejeitada pela maioria dos atuais. Mais uma vez, uma distinção precisa ser feita entre o que alguns crêem e o que é característico  do dispensacionalismo como um sistema. Como John Martin observou, “Um dos maiores equívocos é o pressuposto de que existe uma única ‘interpretação dispensacional’ de cada passagem”.[73]

Outras alegações sobre o dispensacionalismo atingem o nível do absurdo. O conhecido apresentador de rádio Hank Hanegraaff afirmou no seu livro, “Apocalipse Code” (Código do Apocalipse), que a opinião dispensacionalista de um cumprimento literal da terra prometida à Israel e a crença de que esta nação irá passar por tribulações no futuro leva ao racismo e ao estímulo de uma limpeza étnica”.[74] Esta acusação é simplesmente boba. De todos os livros que li sobre dispensacionalismo, a acusação de racismo não foi feita por aqueles que fizeram críticas ou explanações sérias sobre o sistema. Os dispensacionalistas crêem numa restauração de Israel e num futuro período de tribulação porque eles acreditam que a Bíblia ensina estas coisas. Isso dificilmente leva ao racismo. No Velho Testamento, Deus escolheu Israel dentre todas as nações de maneira explícita (ver Dt 7.6). Teria sido Deus racista no AT, uma vez que Ele escolheu amar o Israel étnico de uma maneira que não escolhera outras pessoas da Terra? Stephen Sizer, no livro “Zion’s Christian Soldiers?” (Soldados Cristãos de Sião?), também faz uma afirmação estranha de que as crenças dispensacionalistas resultam em uma total falta de preocupação com as grandes questões nacionais e globais:

Infelizmente, a idéia equivocada de um arrebatamento secreto tem gerado muito má teologia. É, provavelmente, a razão pela qual muitos cristãos não parecem se preocupar com as mudanças climáticas ou com a preservação de fontes, cada vez mais escassas de recursos naturais. Eles são igualmente despreocupados com a dívida nacional, a guerra nuclear ou a pobreza no mundo, pois esperam ser arrebatados para o céu e não sofrer as conseqüências do holocausto global vindouro.[75]

Certamente, não há fatos ou documentos para apoiar essa alegação. Como um dispensacionalista que crê num arrebatamento “secreto”, eu me importo com a guerra nuclear, a dívida nacional, recursos naturais e outras coisas que Sizer menciona. O mesmo é verdade para a maioria dos dispensacionalistas que conheço. Novamente, este parece ser o caso em que uma pessoa pensa que compreendeu as implicações do dispensacionalismo, mas, na realidade, não entendeu.

Em suma, os pontos mencionados acima são MITOS sobre o dispensacionalismo. Aqueles que estudam o sistema dispensacionalista devem se concentrar sobre os verdadeiros problemas e evitar tais mitos.

– Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o premilenismo futurista – John MacArthur & Richard Mayhue - Cap. 2, Pág. 40-52

SUMÁRIO: Os Planos Proféticos de Cristo

2 comentários:

  1. Paz, chama o arminianismo de herético kkk é muita besteira!!!

    O acróstico que resume o pensamento dos arminianos é " FACTS" e cada letra significa:
    F - free by grace to believe - Feitos livres pela graça para acreditar.
    A - Atonement for all - A todos expiação.
    C - Conditional election - Condicional eleição.
    T - Total depravity - Total depravação.
    S - Security in Christ - Segurança em Cristo.

    Até a confissão de fé batista é arminiana de 4 pontos então todos os batistas são hereges kkkk

    Cara vc não sabe o que é heresia, vê se estuda!!!

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Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....