Recentemente, enquanto corria em uma esteira na
academia, escutei atentamente um professor de Bíblia bem conhecido no meu
iPhone. Durante uma sessão de perguntas e respostas, alguém lhe perguntou o que
ele pensava sobre o dispensacionalismo. Ele respondeu que um de seus maiores
problemas com o dispensacionalismo era sua doutrina da salvação. Em particular,
ele argumentou que o dispensacionalismo ensina o tricotomismo – a crença de que
os seres humanos são compostos de três partes: corpo, alma e espírito. Ele
afirmou que desde que o dispensacionalismo ensina que a alma e o espírito são
distintos, isso leva à conclusão de que os cristãos podem viver vidas carnais
elegantemente enquanto vivem para a glória de Deus espiritualmente. Depois de
ouvir isso, eu repassei os seus comentários para ver se eu tinha entendido
corretamente. E sim, ele tinha dito exatamente isso. Para ele,
dispensacionalismo estava intrinsecamente ligado à crença de que a alma e o
espírito são partes distintas da constituição humana, o que poderia levar a uma
vida ímpia.
Este homem estava sinceramente errado. Tricotomismo não é uma crença necessária
ao dispensacionalismo nem de longe. Eu me perguntava como ou de onde ele tirou
essa conclusão. Infelizmente, os seus ouvintes terminaram aquele dia pensando
que o dispensacionalismo defende uma visão errônea da salvação. Este é apenas
um dos muitos exemplos em que o dispensacionalismo tem sido seriamente
deturpado.
Ao longo de sua história, ele tem sido muitas vezes associado a vários pontos
de vista periféricos que não são fundamentais para a sua teologia,
especialmente no que diz respeito à doutrina da salvação. Tal alegação revela a
ignorância quanto à verdadeira natureza do dispensacionalismo. Assim, este
capítulo vai mostrar alguns dos MITOS comuns ou mal-entendidos sobre a teologia
dispensacionalista que precisam ser eliminadas de quaisquer discussões factuais
do dispensacionalismo.
DISPENSACIONALISMO E OUTRAS DOUTRINAS
Nem todo sistema teológico tem uma relação orgânica com cada área da teologia
cristã. Por exemplo, a teologia reformada tem pontos de vista específicos sobre
as doutrinas da Escritura, da soberania de Deus e da salvação. Mas essa
teologia não lida com nenhum ponto específico da escatologia. Por exemplo, há
teólogos reformados que são amilenistas, pós-milenistas e premilenistas.
Entretanto, a tentativa de vincular a teologia reformada com uma visão milenar
específica seria incorreta, já que não há nenhuma relação inerente com qualquer
visão milenar específica.
O mesmo é verdadeiro para o dispensacionalismo. Esta teologia está
intrinsecamente ligada a algumas áreas da teologia, mas não a outras. Ao
examinarmos, fica claro que o dispensacionalismo está preocupado principalmente com as doutrinas da
eclesiologia (igreja) e escatologia (final dos tempos). Mas uma doutrina que
não é inerentemente relacionada com o dispensacionalismo é a soteriologia, a
doutrina da salvação. Como John Feinberg escreve:
O dispensacionalismo se torna muito importante
com relação à eclesiologia e à escatologia, mas realmente não se trata destas
outras áreas. Alguns pensam que a salvação é o cerne do dispensacionalismo
porque pensam erroneamente que ele ensina múltiplos métodos de salvação.
Aqueles que compreendem corretamente a posição percebem que sua ênfase está em
outro lugar.[1]
John MacArthur, um dispensacionalista que tem se envolvido profundamente em
debates soteriológicos com outros dispensacionalistas, também afirma com razão
que a escatologia e a eclesiologia, e não a soteriologia, estão no cerne do
dispensacionalismo.:
Assim, o dispensacionalismo forma uma
escatologia e eclesiologia. Esta é a extensão dele. O dispensacionalismo puro
não tem ramificações para as doutrinas de Deus, do homem, do pecado ou da santificação.
Mais significativamente, o dispensacionalismo verdadeiro não faz nenhuma contribuição
relevante para a soteriologia, a doutrina da salvação.[2]
O. T. Allis, um não-dispensacionalista, ecoa as conclusões de Feinberg e
MacArthur: “As principais características deste movimento [dispensacionalismo]
são duas em número. A primeira é relacionada com a igreja. (...) A segunda tem
a ver com a profecia”.[3]
Que o dispensacionalismo é principalmente sobre eclesiologia e escatologia (e
não soteriologia) é também evidenciada nas obras de outros líderes
dispensacionalistas que tem enfatizado a essência do dispensacionalismo. Por
exemplo, no livro “Dispensationalism Today” (Dispensacionalismo Hoje), Ryrie
dedicou um capítulo à “salvação”, mas o capítulo foi principalmente uma
refutação contra a acusação de que o dispensacionalismo ensina várias maneiras
de salvação. Ele não argumenta que o dispensacionalismo implique
necessariamente em qualquer visão soteriológica. Em seu trabalho de 1993, “The
Case for Progressive Dispensationalism” (O Argumento do Dispensacionalismo
Progressivo), Robert L. Saucy discute questões eclesiológicas, escatológicas e
hermenêuticas relacionadas com o dispensacionalismo, contudo, ele não promoveu
nenhuma soteriologia dispensacional em particular.[4]
Em um livro de 1992, editado por Blaising e Bock, chamado “Dispensationalism,
Israel and the Church: The Search for Definition” (Dispensacionalismo, Israel e
a Igreja: A Busca por definição), autores dispensacionalistas escreveram sobre
vários temas eclesiológicos, escatológicos e hermenêuticos, mas nenhum defendeu
uma soteriologia dispensacional específica.[5] O mesmo pode ser dito a respeito
do livro de 1993 dos mesmos autores, Progressive Dispensationalism.[6] Exceto
por tratar de conceitos errôneos à opinião dispensacionalista sobre a lei e a
graça, não houve discussão direta sobre qualquer soteriologia dispensacional.
Paul Enns, um dispensacionalista, dedica um capítulo à “Teologia Dispensacional”
no seu livro de 1989, “The Moody Handbook of Theology” (O Manual de Teologia
Moody).[7] Ele apresentou um parágrafo para o assunto da salvação. A ênfase do
parágrafo, entretanto, foi para refutar o falso argumento de que o
dispensacionalismo ensina variadas formas de salvação. Nenhuma soteriologia
dispensacional específica foi mencionada. Estas obras de dispensacionalistas
reconhecidos são importantes porque revelam o que está no cerne do
dispensacionalismo. É significativo que nenhum desses textos tenta ligar o
dispensacionalismo a uma determinada perspectiva soteriológica. Quando
abordaram a soteriologia, foi principalmente para responder às acusações de que
o dispensacionalismo está ligado a alguma perspectiva errada de salvação.
Para esclarecer, não estou afirmando que os dispensacionalistas não possuem
suas opiniões soteriológicas individuais; claro que eles têm. Uma distinção,
contudo, deve ser feita entre o que os dispensacionalistas asseguram
individualmente e o que o dispensacionalismo, enquanto um sistema, afirma. Não
considerar esta distinção é o grande erro daqueles que associam o
dispensacionalismo a certos pontos de vista soteriológicos. Eles estão, como
Feinberg diz, “reagindo àquilo que eles pensam que o dispensacionalismo afirma
ao invés de reagirem contra a lógica do próprio sistema”.[8]
– Michael Vlach / Os Planos Proféticos de Cristo: Um guia básico sobre o
premilenismo futurista - Cap. 2, Pág. 37-40
SUMÁRIO: Os
Planos Proféticos de Cristo
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