UMA ANÁLISE DA HERMENÊUTICA ALIANCISTA | JP Padilha



Sabe-se que, ao contrário do que se pensa a maioria, a distinção entre a teologia dispensacionalista e aliancista consiste no abismo entre uma hermenêutica e outra, e não se limita meramente a uma questão de Literalidade X Alegorização. Como proposto no módulo atual, esse texto visa apresentar uma resenha a respeito da hermenêutica aliancista, considerando que o autor inclina-se categoricamente ao Dispensacionalismo como o modelo interpretativo eclesiástico correto. Sendo assim, de forma apartidária e consistente, a intenção é apresentar algum esboço que tenha como objetivo esclarecer as premissas que norteiam a hermenêutica aliancista para fins de edificação sobre o tema discutido.

O Aliancismo (ou teologia do pacto) é um sistema hermenêutico que se apropria de uma ótica testamentária pactual. Isto é, o respectivo modelo olha para as Escrituras sob o entendimento de que Deus se relaciona com a humanidade por meio de pactos. O primeiro deles é o chamado “Pacto de Redenção”, onde o Pai, na eternidade, propôs ao Filho enviá-lo com o propósito de redimir a humanidade mediante a obra expiatória do mesmo. Dentro deste pacto maior, entre o Pai e o Filho, se encontram o “Pacto das Obras”, feito por Deus com Adão antes da queda, e o “Pacto da Graça”, que, segundo o aliancismo, se desenvolve após a queda do homem. O “Pacto das Obras” refere-se às supostas condições para que Adão pudesse viver eternamente na presença de Deus, o que dependeria de comer ou não da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17). Ou seja, o “Pacto das Obras” seria uma aliança condicional feita com Adão, tendo como condição única a obediência do mesmo. Após a queda, Deus estabeleceria o “Pacto da Graça”, onde as condições para o homem ser salvo da inimizade com o Criador se encontrariam na graça divina baseada na obra de Cristo, mediante a fé na obra redentora. A implicação desse sistema de pactos desemboca na visão de que, para os aliancistas, desde a queda, a salvação do homem se dava por meio da fé na salvação dAquele que viria da semente da mulher (Gn 3.15).

Como resultado desta premissa, o pacto entre Deus e Abraão (Gn 12, 15, 17 e 22) é a renovação do Pacto da Graça já feito com Adão (Gn 3.15) e encontra seu cumprimento em Jesus Cristo (Gl 3.29) com a Nova Aliança, anunciada por Jeremias (Jr 31.27ss; Hb 8).

Segundo o pastor e teólogo Abdalla, “de acordo com o Aliancismo, as promessas quanto à terra feitas a Abraão encontram sua realização nas bênçãos da Nova Aliança e no estado final dos crentes (Hb 3.18 – 4.16; 8; 11.10), não havendo uma diferença de pactos, mas uma renovada continuidade e o cumprimento da Aliança da Graça. Portanto, não há motivo para diferenciar Israel e Igreja, já que ambos são o povo escolhido de Deus que desfrutam da mesma salvação graciosa dada por Cristo e em quem não há mais divisão, mas apenas um só povo (Ef 2.11ss)”.[1]

Com isto, o aliancismo se encontra com uma visão unificada – denominando Igreja como sendo Israel e Israel como sendo Igreja --, dando ensejo ao entendimento “espiritual” (ou alegórico) das profecias referentes à nação de Israel quanto à terra e ao reinado messiânico davídico que, para o sistema em questão, encontram seu cumprimento na Igreja e em Cristo, que reina assentado à direita de Deus (At 2.25-36; Ef 1.20-23).

CONCLUSÃO:
Contrariando as claras dispensações da Escritura, a “Teologia da Substituição”, como é hoje conhecida, o aliancismo tira a ênfase das profecias e da Escatologia* em favor da promoção da harmonia teológica e da solução de problemas pessoais, nacionais e globais. Debaixo de uma hermenêutica claramente rasa e inferior a do Dispensacionalismo, a “Teologia Pactualista” tem como cerne interpretar textos literários observando seu sentido literal como veículo para um segundo significado, isto é, mais “espiritual”. Todo teólogo honesto reconhece as figuras de linguagem quando apresentadas pelo texto sagrado; contudo, o aliancismo toma figurativamente qualquer passagem das Escrituras cujo os autores inspirados jamais sonharam em aplicar, e muitos desses textos bíblicos, categoricamente literais, são submetidos à alegorização aliancista. Alguns teólogos podem negar, mas, como autor desta simples resenha, ouso afirmar que a alegorização destemida de textos sagrados literais continua sendo o “tendão de Aquiles” dos simplórios mestres do aliancismo.

Não se pode negar que, embora nenhum intérprete seja infalível, os teólogos da “Substituição” são muito mais propensos a interpretar alegoricamente passagens que sequer abrem brechas para a simbologia. A integridade do sistema teológico pactual, por uma questão de lógica, requer que seja assim. A Teologia da Substituição desenvolve primeiramente a Teologia Bíblica do Novo Testamento e, somente depois, prossegue para estabelecer a Teologia Bíblica do Antigo Testamento à luz do Novo Testamento.

O teólogo Michael Stallard argumentou corretamente que “essa metodologia faz com que o Antigo Testamento seja interpretado através das lentes do Novo Testamento, o que resulta em três problemas: (1) a possibilidade de se minimizarem as experiências do Antigo Testamento; (2) a subordinação da interpretação gramatical-histórica às conclusões da Teologia Bíblica do Novo Testamento; e (3) o fracasso de incorporar a Teologia Bíblica correta do Antigo Testamento na Teologia Sistemática daquele que está interpretando”.[2]

Dentre os milhares de exemplos das graves conseqüências da “israelização da igreja”, a forma como o aliancismo enxerga a continuidade da observância do aspecto moral contido no Pentateuco é exemplificada pela própria Confissão de Fé de Westminster, que vê o domingo como “sábado cristão” e, consequentemente, um mandamento a ser obrigatoriamente observado pela Igreja, que anteriormente era o último dia da semana e, agora (isto é, à partir da ressurreição de Cristo), tornou-se o domingo. Com base no sistema aliancista de interpretação alegórica dos aspectos cerimoniais do Antigo Testamento, muitas ordenanças como a supracitada são aplicadas à igreja de Deus, trazendo sérios desdobramentos para a vida prática do Cristão.

JP Padilha

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