CAPÍTULO 4: Depressão Espiritual

CAPÍTULO 4

DEPRESSÃO ESPIRITUAL

As aflições espirituais são as piores dentre as misérias mentais.[52]

Em seu poema “O Náufrago” (The Castaway), William Cowper escreve sobre um homem, vítima de naufrágio, que morre no mar. Aproximando-se do final do poema, ele nos revela porque meditava sobre o homem que afundou sob as ondas:

Mas o tormento ainda se deleita em traçar
Sua semelhança no caso de outro
.

Após nos dizer isso, que o atormentado encontra conforto nas histórias compartilhadas de outros miseráveis, Cowper usa o homem que afundou no mar como metáfora para descrever sua própria depressão:

Nenhuma voz divina a tempestade dissipou,
Nenhuma luz benevolente brilhou,
Quando arrancados de toda a ajuda eficaz,
Perecemos, cada um sozinho:
Mas eu debaixo de um mar mais áspero,
E submerso em abismos mais profundos do que ele
.[53]

Cowper descreve a si mesmo como abandonado por Deus. Nenhuma ajuda vem, apenas as profundezas esmagadoras. No entanto, o mesmo homem que escreveu esse poema também escreveu hinos de fé que até hoje abençoam congregações cristãs:

Vós santos temerosos, renovada coragem tomai
As nuvens que tanto temeis
São grandes em misericórdia e serão distribuídas
Em bênçãos sobre a vossa cabeça.
Não julgueis o Senhor com o sentido fraco,
Mas confiai nele por sua graça
Por trás de uma providência carrancuda
Ele esconde uma face sorridente
.[54]

MELANCOLIA RELIGIOSA
Na geração de Charles, o Manual de Medicina Psicológica identificou o que ele chamou de “melancolia religiosa”. Muitas vezes associada à insanidade ou demência, essa forma de depressão aflige pessoas, a qualquer momento, com terrores conscientes e irreversíveis acerca do desagrado de Deus. Ou ainda, aqueles que, sofrendo desse tipo de depressão, usam atos extremos de devoção religiosa a ponto de machucarem a si próprios e a outros. Cowper frequentemente vivenciava o primeiro caso, suportando o pensamento infernal de que o Deus que ele amava tinha graça para outros, mas não para ele.

O Manual cita como pregadores tão bem intencionados, porém equivocados, contribuem para a agonia espiritual da depressão:

É desnecessário dizer que o cristianismo sem distorção, e pregado nas suas justas proporções, é calculado para prevenir, não causar insanidade. A causa eliciadora da melancolia religiosa é, por vezes, atribuída a denúncias inflamadas de bem-intencionados pregadores, embora imprudentes.[55]

Às vezes pregadores e oradores cristãos se esquecem que aqueles que os ouvem lutam com várias doenças circunstanciais, biológicas e muitas outras provações. Eles esquecem o cuidado que um pastor deveria prover se um membro do rebanho sofresse essas formas de aflição. Para Cowper, o dom estimado e gentil de pastor lhe foi dado. John Newton, autor de Preciosa Graça (Amazing Grace), foi seu pastor e amigo.

Hoje, sentimentos similares a esses podem permanecer. A religião oferece ambos, um desafio e uma ajuda àqueles que sofrem de transtornos mentais. Esse desafio emerge quando pregadores presumem que a depressão é sempre e somente um pecado. Derramam gasolina no fogo e se perguntam por que aqueles a quem tentam ajudar se enfurecem ao invés de se acalmarem. Ao mesmo tempo, atualmente os estudos confirmam que aqueles com desafios na saúde mental simplesmente ficam bem melhores se fazem parte de uma comunidade religiosa.[56]

Neste cabo de guerra entre Deus e a depressão, Charles reconheceu uma realidade espiritual para ela. Sentia que a depressão em si tem contribuintes e desafios circunstanciais, biológicos e espirituais. Mas ele também acreditava que o lado espiritual das situações poderia originar seu próprio tipo de depressão. Em outras palavras, alguém com depressão biológica terá realidades espirituais para enfrentar. Contudo, uma pessoa pode sofrer de depressão espiritual, mesmo que não tenha tido depressão circunstancial ou biológica para compartilhar.

A famosa alegoria de John Bunyan, O Peregrino, deu uma linguagem a Charles enquanto tentava ajudar àqueles que sofriam (assim como descreveu o que também poderia pessoalmente assolá-lo). Na história de Bunyan, o personagem principal, chamado Cristão, cai no Pântano do Desânimo, sendo posteriormente capturado pelo Gigante Desespero e em seguida espancado impiedosamente no Castelo da Dúvida. O desânimo, o desespero e a dúvida se unem para criar angústias espirituais em nossas vidas.

OS SINTOMAS DA DEPRESSÃO
ESPIRITUAL
O que é essa melancolia espiritual? Na sua essência, a depressão espiritual diz respeito às deserções de Deus, reais ou imaginárias. Sentimos, em nossa percepção, que ele está irado conosco, que fizemos alguma coisa para perder seu amor, ou que ele lidou conosco como um brinquedo e nos deixou de lado sem nenhum motivo. De qualquer forma, ele existe para os outros, mas não para nós. Ele nos pune com um tratamento silencioso. Ele ri de nossa dor quando cochicha com os outros a nosso respeito.

A ironia da deserção é que a ausência de Deus parece esmagadoramente perto de nós. Observamos o vazio no rosto. De acordo com Charles, quando uma pessoa sabe que Deus está com ela, ela “pode suportar grande depressão do espírito.”. “Mas se nós cremos que Deus nos abandonou em nossas misérias e dificuldades, há um tormento dentro de nosso peito que posso somente assemelhar”, diz Charles, “ao prelúdio do inferno”. As pessoas podem “suportar um corpo sangrando, e até mesmo um espírito ferido, mas uma alma consciente da deserção de Deus encontra-se para lá de uma concepção insuportável”.[57]

Vários sentimentos horríveis surgem da deserção. Para começar, podemos ampliar cada fraqueza, limite, pecado e imperfeição dentro de nós. Duvidamos terrivelmente se “somos mesmo cristãos”, e nos tornamos “atormentados com o medo” de que sejamos “impostores vivendo vidas falsas”.[58]

Podemos ficar obcecados e “dolorosamente angustiados com questões” às quais não conseguimos responder, com “enigmas” que não conseguimos resolver e com nós de dificuldades que não conseguimos desatar. Partimos para o tudo ou nada. Porque não sabemos tudo acreditamos que não conseguimos saber nada. Rejeitamos consolo.

Talvez vejamos a própria Bíblia em extremos. Ela se torna, tanto um livro de chicotes, com satisfação em nos atacar com cada palavra em nossa desgraça iminente, ou, ao contrário, uma palavra seca, desinteressante, irrelevante para nós. Se a Bíblia nos açoita e condena com alegria, contorcemo-nos e gememos para o Deus ausente nos libertar. Se as Escrituras se secaram, tornamo-nos entorpecidos e indiferentes. Terrível apatia se estabelece. “Queremos sentir, mas não conseguimos sentir”.[59]

A “insônia espiritual” pode nos abalar e nos transformar. Agitados, lutamos, agonizamos, ficamos inquietos e nos preocupamos. Damos nosso melhor, nunca capazes de fazer o suficiente, conscientes apenas de que nossos resultados são muito pequenos e que Deus continua constantemente desagradado. Nunca estamos à altura e passamos nossos dias aflitos e ansiosos de que Deus vá embora balançando a cabeça em reprovação para nós a menos que façamos tudo certo ou suficientemente bem.[60]

Eventualmente nos desgastamos ou esgotamos. “O gozo do serviço se evapora, o mau humor que reduz a percepção dos detalhes estraga tudo, e o trabalhador se torna um mero burro de carga e lavador de pratos.”[61]. Esses afastamentos imaginários de Deus feitos por nós podem torturar a mente.

Você já vivenciou isso alguma vez?

Entretanto, o mais terrível desses sintomas espirituais Charles chama de “peso de espírito”. Em oposição ao que acabei de descrever, esse tipo de distanciamento de Deus é real e não imaginário. Vemos o verdadeiro horror de nosso pecado, nos sentimos merecedores de julgamento legítimo e para além de toda esperança ou merecimento de perdão. Mas não vemos nenhum remédio ou esperança de recuperação.

A partir de sua própria experiência, Charles nos ensina que, se tivéssemos sofrido “meia hora” desse tipo de convicção verdadeira do pecado real, teríamos mais compaixão daqueles que sofrem desta forma. “Ser empalado sobre seus próprios pecados, ridicularizado pela sua própria consciência, alvejado pelo seu próprio julgamento como por setas dentadas — isto é angústia e tormento”. “Próximo ao tormento do inferno”, a amargura do verdadeiro remorso e desespero revela o pior de nossas aflições — pior até mesmo que a própria morte.[62]

Em todos esses sintomas menosprezamos nossa esperança. Nós nos imaginamos sem nenhum remédio para o perdão ou reconciliação, como se Deus não tivesse amado o mundo e oferecido o seu próprio filho.

Para piorar as coisas, os outros comumente pensam que estamos “passando da conta” e “muito frequentemente condenam e até mesmo ridicularizam aquele que está triste de alma”.63 Assim, não somente nos sentimos abandonados por Deus, como também nos sentimos envergonhados e abandonados por aqueles que falam de Deus. Sofremos, portanto, um duplo sentimento de abandono e não sentimos nenhuma esperança de cura. Sem Salvador para o pecado, e sem nenhuma compaixão para os aflitos — racionalizamos em torturas.

A VULNERABILIDADE ESPIRITUAL DA
MELANCOLIA
Neste ponto, queremos lembrar que sofrer uma forma de depressão torna difícil de suportar a chegada de novas formas. Por exemplo, se alguém não gosta de nós, essa rejeição parece maior “em momentos de depressão”. O que teria nos incomodado por um dia agora se transforma em desejo de ficar longe das pessoas.[64]

Da mesma forma, se alguém já luta contra a depressão circunstancial ou biológica, fica mais vulnerável às aflições espirituais.65 É difícil o bastante passar o dia sem adicionar o desprazer de Deus ao trauma que já nos abate.

Como exemplo, Charles nos diz pessoalmente como sua luta em curso com as dúvidas se torna mais difícil com a depressão. É muito difícil ficar em pé dia após dia e dizer “não, eu não posso duvidar do meu Deus”, quando já somos afligidos por aquela “punhalada perpétua, cortante e invasiva” em nossa fé. Não é tão fácil de suportar.”[66]

Duas ajudas vêm à mente aqui:

1. Lembre-se de considerar o contexto de vida da pessoa. Vá devagar com seu julgamento. “Quando você vê homens fracos, não os culpe. Talvez, por suas fraquezas, eles tenham provado do que são feitos. Eles têm feito tanto quanto a carne e o sangue podem fazer e, portanto, eles estão fracos”.[67] Quem é que sabe que multiplicadas aflições eles suportaram?

2. Lembre-se que requereu-se mais fé de alguns para se fazer menos do que você. Algumas pessoas “não precisam temer o Pântano do Desânimo, pois carregam um pântano dentro de seus próprios corações, e nunca saem dele, ou ele delas nunca sai.” Há “muito o que admirar” na perseverança desses entes queridos e no Salvador que cuida deles. Nossos corações precisam de compaixão. “Trêmulos companheiros peregrinos, nós tocaríamos a harpa para vocês, para que, se possível, vocês pudessem esquecer seus medos por algum tempo, e caso não consigam se elevar acima de suas tristezas, ainda possam, pelo menos por ora, tomar sobre si mesmos as asas das águias e voar acima das névoas da dúvida.”[68]

Agora vamos observar um fator mais importante que contribui para a depressão em geral e para a depressão espiritual, em particular. Charles acreditava em um diabo real. Essa criatura não origina ou causa depressão. Porém, como um leão atraído pela zebra enfraquecida em meio ao rebanho, essa criatura do mal tem um prazer peculiar em devorar aqueles que são fracos, doentes ou debilitados.

Em outras palavras, “o grande inimigo faz um ataque planejado às almas ansiosas”.[69] Ele se deleita em tomar aflições e extrair ainda mais delas. Tal qual o Gigante Desespero, Satanás, se puder destruir completamente sua vítima antes do libertador chegar[70], por qualquer meio “açoita seu pobre escravo com excessiva maldade”. Acusação, condenação e sussurros cruéis se amontoam sobre o já ofegante sofredor. Se não formos cuidadosos, imitamos esse cruel acusador em nossas tentativas de ajudar a despertar nós mesmos ou nossos amigos depressivos.

Porque quando a depressão nos assalta, assim como Cowper, dizemos a nós mesmos que não somos verdadeiros filhos de Deus. Não temos esperança alguma, nossos pecados nos descobriram, nossas questões são demasiadamente numerosas, nosso futuro está condenado, nosso presente é merecedor somente de apatia e nosso perdão impossível. Essa antiga criatura do mal sorri e diz, “Sim, sim, você está certo. Oh, mas é pior do que você pensou. Está tudo perdido. Você está abandonado e tem razão. Você está perdido. Fique abaixado. Você está fora de alcance. É tarde demais para você, pecador! Eles ficarão melhores sem você. Você merece morrer.”

NÃO ALIMENTE ESSA AGITAÇÃO DA
ALMA
[71]
É aqui, quando se lida com a depressão espiritual, que Charles muda bruscamente sua abordagem, geralmente suave, como cuidador e como aquele que sofre. Muitas dores circunstanciais, biológicas e espirituais duram mais do que nossa capacidade de controlá-las ou entendê-las. Contudo, quando nos deparamos com este antigo inimigo, o diabo, resta apenas uma coisa que podemos e devemos fazer: “lutar!”.

A alma está quebrada em pedaços, perfurada, picada com facas, dissolvida, aflita, em pânico. Não se sabe como existir quando se dá lugar ao medo. Levante-se, cristão! Você está com um semblante tristonho. Levante e persiga seus medos. Por que você ficaria sempre gemendo em sua masmorra? Por que o Gigante Desespero deveria sempre vencê-lo com seu enorme porrete de macieira brava? Levante-se! Faça-o ir embora![72]

Como? Na essência usamos a frase: “você pode estar certo, exceto para Jesus.”

Você pode estar certo, as coisas estão piores do que eu pensava, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, tudo está perdido, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, estou abandonado, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, estou perdido, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, eu deveria ficar para baixo, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, seria tarde demais, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, estou fora de alcance, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, sou um pecador, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, eles podem estar melhores sem mim, exceto para Jesus!
Você pode estar certo, eu poderia merecer morrer, exceto para Jesus!

Não suplicamos a nós mesmos, mas às promessas de Jesus; não às nossas forças, mas às dele; às nossas fraquezas sim, mas às suas misericórdias. Nosso jeito de lutar é nos escondermos atrás de Jesus que luta por nós. Nossa esperança não é a ausência de nosso pesar, ou sofrimento, ou dúvida, ou lamento, mas a presença de Jesus. “O Castelo da Dúvida pode ser muito forte, mas aquele que vem lutar com o Gigante Desespero é ainda mais forte!”[73].

Ao suplicar por Jesus, abraçamos o que Charles chamou de “uma espécie abençoada de desespero”, que é a obra do próprio Deus em nosso favor.

um desespero de autossalvação, um desespero de lavar seu próprio pecado, desespero de não se obter mérito algum por si mesmo e pelo qual você pode se tornar aceitável aos olhos de Deus (...) isso é um tipo abençoado de desespero, mas em relação a qualquer outro tipo de desespero (...) não posso dizer nada que seja bom.[74]

Assim como William Cowper encontrou um dom da graça em seu pastor e amigo, John Newton, assim também precisamos de tais dons. Se nos sentimos banidos por Deus por causa do pecado ou do desânimo, de um jeito ou de outro “graciosamente nosso Pai celestial envia para seus aflitos” não apenas a si mesmo, mas também “as palavras de bom ânimo de pessoas que passaram por experiências semelhantes”.[75]

TRÊS PALAVRAS DURAS DE SPURGEON
Devido à gravidade do sofrimento causado pela depressão espiritual, Charles se torna um forte defensor e um duro cuidador em três circunstâncias.

A Primeira: Charles defende os sofredores sendo duro com os pregadores (incluindo ele próprio) que dizem aos pobres desesperados que Jesus não virá para eles a menos que sofram o bastante ou melhorem a si mesmos suficientemente para serem dignos. Crítico de si mesmo, de John Bunyan,[76] e de outros pregadores, Charles fala com clareza: “se, quando eu era um jovem, tivesse ouvido o evangelho que Cristo pregou tão claramente quanto tenho pregado a vocês, tenho certeza de que nunca teria estado no pântano tanto tempo quanto estive.”[77]. Por essa razão, em seus sermões, Charles aponta regularmente aos sofredores nos Castelos de Dúvida e Pântanos de Desânimo para um encontro imediato com a graça do Jesus Vivo.[78]

Segunda: Charles defende os sofredores, sendo duro com a melancolia intencionalmente escolhida de religiosos que se assombram de propósito com a temerosa noção de que alguém, em algum lugar, possa estar feliz.[79] Tais pessoas carregam isso consigo para calar a alegria das pessoas em nome de Deus. Esse tipo de religião faz paródia da dor sofrida com a depressão profunda e as aflições. Também bloqueia cruelmente sofredores carentes dos sorrisos de alívio de um Deus de graça, por falsamente condenar, como profano ou injusto, qualquer brilho ou alegria.

Terceira: Charles em raras ocasiões arriscará ofender o sofredor de outros tipos de depressão a fim de alcançar o doente espiritual que se recusa a lutar. Em vista disso, advirto qualquer um, antes de ler o sermão “um Chamado para o Deprimido”, a reconhecer esse motivo particular e ponderarem sobre isto. De outra maneira, o tom e as palavras de Charles provavelmente vão se revelar ásperos e inúteis.

Charles compara esse sermão particular a uma cirurgia grave em um momento terrível. Parece também reconhecer a fronteira na qual caminha com esse sermão. “Talvez você possa pensar que isto está mais dificultando do que ajudando”, admite no meio do caminho, “e tende mais a deprimi-lo do que a libertá-lo.”[80]. Todavia continua com a linguagem que não é sua norma: “eu diria qualquer coisa, por mais afiada que pudesse ser, mas que o despertasse de sua letargia.”.

Entretanto, enquanto o sermão continua, sentindo e talvez lamentando a nitidez de seu tom, ele começa a recuar: “parece-me que há uma maneira melhor do que essa”, diz. Então, no último quarto do sermão, recupera sua esperança corriqueira no evangelho e começa a falar sobre seu próprio sofrimento como uma experiência compartilhada sobre a necessidade da graça. Conclui lembrando àqueles que ouvem: tendo já experiência e “percorrido tal deserto de lamentações”[81]: “cuidado com aqueles que estão na mesma condição em que você tem estado e seja muito afetuoso com eles assim que souber de seus casos”.

Talvez nesse sermão, vejamos em Charles o ser humano tentando imperfeitamente administrar o auxílio para aflições que não são facilmente diagnosticadas. Em suas tentativas sérias e frágeis para ajudar, vemos a nós mesmos.

E AGORA?
Em nossa conversa juntos, o que aprendemos até agora é isso: se “escolas do pensamento científico e espiritual” são ambas tentadas a tratar a depressão se apegando “a uma explicação em detrimento de outra”,[82] Charles nos convida a resistir a tal tentação.

O pastor, conselheiro religioso, ou amigo, deve aprender a dar conta das realidades médicas, psicológicas e comportamentais da depressão. Por outro lado, o cuidador, seja ele médico, terapêutico, psicológico ou comportamental não deve descartar a contribuição de realidades espirituais para a depressão circunstancial e biológica.

Podemos resumir essas categorias em circunstanciais, químicas e espirituais. Cada uma delas nos ajuda a começar a compreender a depressão e seus tipos. O poeta que sofreu de depressão nos dá um hino e sua oração pode se tornar a nossa própria:

Cura-nos, Emanuel, aqui estamos
Nós esperamos sentir o teu toque,
Almas profundamente feridas para teu reparo,
E Salvador, tais somos nós...

Lembra-te daquele que uma vez suplicou
Com tremor por alívio.
“Senhor, eu creio,” com lágrimas ele chorou,
“Oh ajuda-me em minha incredulidade!”

Daquela que, também, tocou-te na urgência
E que a virtude de cura obteve furtivamente,
A quem respondeste: “Filha, vá em paz,
A tua fé te salvou.”

Como ela, com esperanças e medos nós viemos
Para tocar-te se pudermos.
Oh não envie-nos para casa em desespero;
Não despeça ninguém sem curar
.[83]

–– Zack Eswine / A Depressão de Spurgeon: Esperança realista em meio à angústia – PARTE 1 – Cap. 4 – Pág. 59-76

SUMÁRIO DA SÉRIE "A DEPRESSÃO DE SPURGEON: Esperança Realista em meio à Angústia"
_________________________________________
NOTAS:
52. Charles Spurgeon, “Lama Sabachthani?” MTP, Vol. 36, Sermão 2133 (Ages Digital Library, 1998), p.
168.
53. William Cowper, The Castaway, (http://www.poets.org/poetsorg/poem/castaway), acessado em
5/5/14.
54. William Cowper, God Moves in a Mysterious Way,Olney Hymns
(http://www.cyberhymnal.org/bio/c/o/w/cowper_w.htm), acessado em 5/5/14
55. John Charles Bucknill e Daniel Hack Tuke, A Manual of Psychological Medicine (Londres, 1858),
p. 179. (https://archive.org/stream/manualofpsycholo00buckrich#page/178/mode/2up). Nota do revisor: A
obra, cuja publicação foi coordenada por John Charles Bucknill, tem o seguinte subtítulo: “Contendo o
Histórico, a Nosologia, Descrição, Estatística, Diagnóstico, Patologia e o Tratamento da Insanidade, com
um apêndice de Casos”.
56. Lauren Cahoon, Will God Get You Out of Your Depression?(ABC News, March 19, 2008)
http://abcnews.go.com/Health/MindMoodNews/story?id=4454786, acessado em 4/5/14.
57. Charles Spurgeon, Lama Sabachthani?, MTP, Vol. 36, Sermão 2133 (Ages Digital Library, 1998), p.
168.
58. Charles Spurgeon, A Call to the Depressed, MTP, Vol. 60, Sermão 3422 (Ages Digital Library,
1998), p. 536.
59. ibid.
60. Charles Spurgeon, Faint, But Not Fainthearted, MTP, Vol. 40, Sermão 2343 (Ages Digital Library,
1998), p. 20.
61. Charles Spurgeon, Martha and Mary, MTP, Vol. 16, Sermão 927 (Ages Digital Library, 1998), p.
297.
62. ibid.
63. Charles Spurgeon, The Garment of Praise, MTP, Vol. 59, Sermão 3349 (Ages Digital Library, 1998),
p. 226.
64. Spurgeon, Autobiography, Capítulo 32, p. 400.
65. Charles Spurgeon, Hope in Hopeless Cases, MTP, Vol. 14, Sermão 821 (Ages Digital Library, 1998),
p. 492.
66. Charles Spurgeon, The Roaring Lion, MTP, Vol. 7, Sermão 419 (Ages Digital Library, 1998), p.
1040.
67. Spurgeon, Faint; But Not Fainthearted, p. 19.
68. Charles Spurgeon, The Sweet Harp of Consolation, MTP, Vol. 13, Sermão 760 (Ages Digital Library,
1998), p. 476.
69. Charles Spurgeon, Loving Advice for Anxious Seekers, MTP, Vol. 13, Sermão 735 (Ages Digital
Library, 1998), p. 107.
70. Spurgeon, Hope in Hopeless Cases, p. 492.
71. Charles Spurgeon, New Uses for Old Trophies, MTP, Vol. 17, Sermão 972 (Ages Digital Library,
1998), p. 73.
72. Charles Spurgeon, Fear Not, NPSP, Vol. 3, Sermão 156 (Ages Digital Library, 1998), p. 651.
73. Charles Spurgeon, Christ Looseth From Infirmities, MTP, Vol. 56, Sermão 3195 (Ages Digital
Library, 1998), p. 282.
74. Charles Spurgeon, A Discourse for the Despairing, MTP, Sermão 2379
(http://www.spurgeongems.org/vols40-42/chs2379.pdf), acessado em 19/3/14.
75. Charles Spurgeon, Means for Restoring the Banished, MTP, Vol. 16, Sermão 950 (Ages Digital
Library, 998), p. 645.
76. Em múltilplos sermões, Spurgeon corrige o que ele acredita ser um erro de John Bunyan, ao requerer
que o cristão passe por um Pântano de Desânimo antes que possa alcançar a Porta Estreita. Veja:
“Prompt Obedience,” MTP, Vol. 58, Sermão 3310 (Ages Digital Library, 1998), p. 414.
77. Charles Spurgeon, The Free Agency of Christ, MTP, Vol. 48, Sermão 2761 (Ages Digital Library,
1998).
78. Veja por exemplo Charles Spurgeon, The Believer Sinking in the Mire, MTP, Vol. 11, Sermão 631
(Ages Digital Library, 1998), 360; Prisoners of Hope, MTP, Vol. 49, Sermão 2839 (Ages Digital Library,
1998), 431; Soul Satisfaction, MTP, Vol. 55, Sermão 3137 (Ages Digital Library, 1998), p. 192.
79. Shenk, Lincoln’s Melancholy, p. 87.
80. Charles Spurgeon, A Call to the Depressed, MTP, Vol. 60, Sermão 3422 (Ages Digital Library,
1998), p. 540.
81. ibid., p. 542.
82. Richard Winter, Roots of Sorrow: Reflections on Depression and Hope (Eugene, Oregon: Wipf &
Stock Publishers, 2000), p. 34.
83. William Cowper, Heal Us, Emmanuel,Olney Hymns

Nenhum comentário:

Postar um comentário

QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?

Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....