6 - A ADMINISTRAÇÃO LOCAL NA IGREJA


A DIFERENÇA ENTRE DOM E OFÍCIO


Existe uma diferença entre dom e ofício, porém os cristãos quase sempre confundem "dom" com "ofício". Tentar colocar um dom (como é o pastor) para funcionar como um ofício em uma igreja local é uma prova clara desse equívoco. Dom e ofício são duas coisas distintas nas Escrituras. O dom é exercitado em relação ao corpo de Cristo; o ofício é uma responsabilidade em conexão com a casa de Deus. O dom é para a edificação, enquanto o ofício tem a ver com governo ou administração. Se por um lado o dom é universal (para todo o corpo), por outro, o ofício é uma responsabilidade local (isto é, para uma assembleia local). Existe uma exceção no caso do apostolado. O apostolado é tanto um ofício quanto um dom. É o único caso nas Escrituras em que um ofício é algo universal (At 1:20; 1 Pd 5:1). Doze dos discípulos do Senhor foram designados para o ofício do apostolado (Mc 3:14; Lc 6:13; At 1:20). O Senhor fez isso quando ainda estava no mundo. Judas caiu em transgressão e seu "ofício" ("bispado", "cargo" ou "ministério", dependendo da tradução) foi dado a outro homem – Matias (Sl 109:8; At 1:16-26). Todavia, eles receberam o "dom" do apostolado do Espírito depois que o Senhor ascendeu à Sua posição celestial à destra de Deus (1 Co 12:28). Os dons, conforme mencionamos, fluem de Cristo no céu. Aqueles homens foram então dados à igreja para ajudá-la a se estabelecer na verdade. "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens... E ele mesmo deu uns para apóstolos" (Ef 4:8-11).

Uma pessoa que tenha uma responsabilidade local (ofício) em uma assembleia pode também ter um dom para ensinar ou pregar publicamente (1 Tm 5:17), mas quando as Escrituras tratam de dons e ofícios, uma coisa não é confundida com a outra.

Quando entendemos a diferença entre essas duas coisas, e como as Escrituras as tratam de forma distinta, percebemos o quão longe da verdade estão afirmações do tipo "Ele é o Pastor de uma igreja". Em circunstâncias normais, um servo do Senhor nunca é "o" único dom em uma igreja local. Tampouco ele deve ficar restrito a exercitar seu dom em "uma" igreja local, ou até mesmo em uma seita dentro da igreja. O seu dom lhe foi dado para ser usado para o proveito de todo o corpo de Cristo. O modo biblicamente correto de dizer seria "Ele é um pastor na igreja".

ANCIÃOS, PRESBÍTEROS [BISPOS] E GUIAS

Com exceção do apostolado, que é um caso à parte, existem apenas dois ofícios na igreja. Um é o de presbítero (no sentido de supervisor, às vezes traduzido como bispo, ancião ou guia), e outro é o de diácono.

O ofício de presbítero (bispo, ancião ou guia) é o meio normalmente usado pelo Senhor para dirigir uma assembleia local em suas responsabilidades administrativas. O foco do seu trabalho está particularmente no bem-estar espiritual de uma assembleia local. As palavras usadas nas epístolas para os que atuam neste ofício são "presbíteros", "anciãos" e "guias" (ou "líderes", "pastores", "dirigentes" ou "condutores", dependendo da tradução).

Todas estas palavras podem ser usadas de forma intercambiável para designar o mesmo ofício. Compare Atos 20:17 com 20:28, Tito 1:5 com 1:7 e 1 Pd 5:1-2 com 5:5.


O
termo "anciãos" (do grego "Presbuteroi") descreve a maturidade e experiência, qualidades que deveriam ser a marca daqueles que ocupam tal ofício. A palavra se refere àqueles de mais idade, todavia nem todos os homens mais velhos na assembleia necessariamente atuam nessa posição de liderança responsável (1 Tm 5:1; Tt 2:2). A razão é que nem todos podem ter a experiência, o exercício, ou ainda as qualificações morais necessárias (1 Tm 3:1-7; Tt 1:6-9).

O
termo "bispos" (gr. Episkopoi) descreve o trabalho de supervisão que eles executam, ou seja, sua função é pastorear o rebanho (1 Pd 5:2; At 20:28), zelando por suas almas (Hb 13:17), admoestando (1 Ts 5:13) etc.

O
termo "guias" ou "líderes" (gr. Hegoumenos) descreve o trabalho de liderança que eles devem efetuar na assembleia local. Ao se referir às pessoas que ocupam essa posição, as Escrituras usam expressões como "os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam" (Ts 5:12-13; Hb 13:7, 17, 24; 1 Co 16:15-18; 1 Tm 5:17). Repare que são "os que trabalham... que presidem", e não "o que trabalha... que preside". Sempre que eles são citados na função em que atuam, é usada a forma plural. Às vezes eles podem ser citados no singular, quando o assunto for o caráter pessoal de cada um (1 Tm 3:1-7), mas quando se trata do trabalho que efetuam, a forma é sempre plural. Isto demonstra que, em condições normais, este trabalho não é para ser efetuado por um só homem. Deus tem o cuidado de prover para que exista mais de um ancião atuando numa assembleia local, para que nenhum indivíduo tente se levantar e presidir sobre a assembleia. É triste admitir, mas este cuidado nem sempre é respeitado e às vezes indivíduos acabam se levantando e contaminando suas assembleias locais (At 20:30).

Algumas traduções, como a citada acima, trazem "presidem sobre vós no Senhor" (1 Ts 5:12), o que pode dar a ideia de que esses homens estariam acima do rebanho de Deus. Todavia, isto não é correto. Uma melhor tradução para estes versículos seria "que presidem entre vós", como ocorre no início da passagem, "os que trabalham entre vós". O sentido é que eles, assim como todos os outros membros do corpo de Cristo, têm um lugar "entre" os que fazem parte do rebanho. O único lugar nas Escrituras onde encontramos alguém presidindo sobre uma assembleia local é o caso de Diótrefes, um homem mau (3 Jo 9-10). Quão diferente é isso quando comparado à ordem adotada nas denominações inventadas pelo homem. O modo como Deus determinou é que existissem alguns bispos em uma igreja ou assembleia local (Fp 1:1; At 20:28; Tt 1:5), mas a maneira do homem é ter um bispo sobre muitas igrejas ou assembleias!

Estar entre os "que presidem entre vós" não implica necessariamente ensinar ou pregar em público, mas sim cuidar das questões administrativas da assembleia. Repito: confundir estas duas coisas é não entender a diferença entre um dom e um ofício. Todavia estes homens devem ser "aptos para ensinar" (1 Tm 3:2). Isto significa que eles devem ser capazes de expor a Palavra da maneira como foram ensinados, mesmo que não sejam necessariamente dotados para serem mestres ou doutores (Tt 1:9). Alguns dos "que presidem" talvez nunca ensinem em público, mas é muito bom e proveitoso quando podem fazê-lo. Esses também devem ser "dignos de duplicada honra" quando governam bem (1 Tm 5:17).

Aqueles que ocupam esta posição de liderança responsável são vistos, simbolicamente falando, como "estrelas" e como o "anjo da igreja" no livro de Apocalipse (Ap 1:20; 2:1, 8, 12; 3:1, 7, 14). Em seu papel de "estrelas", eles devem dar testemunho da verdade de Deus (os princípios da Palavra), sendo portadores da luz na assembleia local. Isto mostra que devem ser instruídos na Palavra (Tt 1:9). Quando a assembleia for confrontada com um problema ou dificuldade, eles devem ser capazes de derramar a luz da Palavra de Deus para determinarem como a assembleia deve agir. Em Atos 15 temos um exemplo do seu trabalho. Depois de ouvirem falar de um problema que estava atribulando a assembleia, Pedro e Tiago, fazendo seu papel de "estrelas", derramaram luz sobre o assunto. Tiago aplicou um princípio tirado da Palavra de Deus, e então deu o seu parecer quanto ao que ele acreditava que o Senhor gostaria que eles fizessem (At 15:15-21).

Em seu papel de "anjo da igreja", os mesmos que ocupam esse lugar de responsabilidade agem como mensageiros, a fim de apresentarem a vontade de Deus na assembleia no desempenho das decisões que são tomadas. Isto também é ilustrado em Atos 15. Depois de determinarem o que acreditavam ser a vontade do Senhor em relação ao problema, eles presidiram na assembleia local, no sentido de colocar em prática a vontade de Deus. Eles apresentaram suas conclusões diante da assembleia, evitando assim agirem independentes dos demais irmãos, que também acreditavam ser aquela a vontade do Senhor. Em seguida foi enviada uma carta aos irmãos de Antioquia a fim de notificar os irmãos ali acerca de como o problema tinha sido resolvido (At 15:22-33).

Em certo sentido, o trabalho dos pastores (dons) e dos anciãos (ofícios) é semelhante. Ambos têm a responsabilidade de cuidar do rebanho e alimentá-lo. Mas os dois nunca são tratados como iguais. O pastor não limita sua atuação à assembleia local, ao contrário do que faz o ancião, presbítero ou guia.

DIÁCONOS

Enquanto aqueles que desempenham o ofício de ancião (presbítero ou guia) estão ocupados com o bem-estar da assembleia local, os que têm o ofício de diácono devem se ocupar com os cuidados temporais da assembleia local (At 6:1-6; 1 Tm 3:8-13). A palavra "diácono" poderia ser traduzida como "ministro", pois na Bíblia o ministério não está restrito apenas às coisas espirituais (Lc 8:3; At 6:1 – "ministério cotidiano", 12:25; 13:5; Rm 16:1). Os diáconos ministram as coisas temporais, mas seu serviço para o Senhor não precisa estar confinado exclusivamente a isso. Se eles tiverem um dom para ministrar a Palavra, poderão exercitar esse dom conforme a direção que receberem do Senhor (1 Tm 3:13). Tanto Estêvão como Filipe, que eram diáconos, também tinham dons para o ministério da Palavra. Estêvão tinha o dom de mestre ou doutor (At 7); e Filipe era bem dotado como evangelista (At 8:5-40; 21:8). As irmãs também podem atuar como diaconisas. Romanos 16:1 diz: "Recomendo-vos, pois, Febe, nossa irmã, a qual serve na igreja que está em Cencréia". Todavia, elas não poderiam ocupar oficialmente tal posição, pois Paulo disse a Timóteo que os diáconos deveriam ser "maridos de uma só mulher", o que demonstra que eles eram homens (1 Tm 3:12). Aqueles que têm esse ofício também precisam ter uma qualificação moral semelhante à dos anciãos (presbíteros ou guias).

A ESCOLHA DOS ANCIÃOS

A pergunta que surge é: "Como as pessoas chegavam a ocupar esses ofícios?". Em cada caso encontrado nas Escrituras elas eram escolhidas. Porém, em nenhum lugar das Escrituras lemos que os anciãos eram escolhidos pela igreja ou assembleia local. Assim como já demonstramos que não existe sequer uma assembleia local na Bíblia que tenha escolhido um pastor para si, também não há uma assembleia que escolha seus anciãos! Apesar disso, quase todos os grupos eclesiásticos hoje na cristandade escolhem seus anciãos. Mas onde encontramos a autoridade necessária para agir assim? Independente da piedade e inteligência daqueles que na cristandade se envolvem nessa tarefa, em lugar nenhum na Bíblia vemos uma assembleia receber o encargo de uma escolha tão difícil quanto a de escolher seus anciãos. A Palavra de Deus diz que os anciãos eram escolhidos pelos apóstolos. A Bíblia diz: "E, havendo lhes [Barnabé e Paulo], por comum consentimento, eleito anciãos em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido" (At 14:23).

Em algumas ocasiões encontramos os apóstolos delegando essa tarefa a determinados irmãos. Tito é um exemplo disso. Paulo o enviou à ilha de Creta com o propósito de ordenar anciãos ali. Mesmo neste caso, a comissão que Tito recebeu foi exclusivamente para aquela localidade. Ele não tinha autoridade para ordenar anciãos em nenhum outro lugar, a menos que fosse comissionado pelo apóstolo (Tt 1:5). Vemos aqui a sabedoria de Deus cuidando para que os anciãos fossem especificamente escolhidos para uma assembleia, e não por uma assembleia. Se uma igreja local escolhesse seus anciãos, ela poderia estar inclinada a selecionar os líderes que viessem a satisfazer seus desejos. Mas por essa escolha ser uma função apostólica, a assembleia ficaria assim livre de correr esse risco.

Porém, no caso dos diáconos, as igrejas locais realmente os escolhiam. Um exemplo disso está em Atos 6:1-6. Sete homens foram escolhidos pela igreja em Jerusalém para ocupar o lugar de diáconos (embora neste capítulo eles não tivessem sido diretamente chamados de diáconos), mas foram oficialmente designados pelos apóstolos para ocupar aquela posição.

Hoje uma igreja local poderia escolher pessoas para cuidarem das necessidades temporais da assembleia, porém elas não poderiam ser oficialmente designadas para o ofício de diáconos, pois hoje já não existem apóstolos, ou alguém que tenha recebido de um apóstolo a incumbência de fazê-lo.

HOJE NÃO EXISTEM APÓSTOLOS PARA ORDENAR ANCIÃOS E DIÁCONOS


Todo o valor da escolha de uma pessoa para ocupar um determinado ofício depende da legitimidade do poder que está por trás dessa escolha. As Escrituras deixam claro que ninguém, além dos apóstolos ou de alguém enviado por eles, teria o poder de comissionar uma pessoa para uma dessas funções. Mas onde será que encontramos hoje alguém capaz de mostrar evidências de ter sido comissionado por um apóstolo para desempenhar tal tarefa? Na Palavra de Deus não há um indício sequer de que o poder de ordenar alguém tenha tido continuidade. Portanto, a igreja hoje não tem o poder de ordenar anciãos (presbíteros ou guias) para tal ofício, ou um diácono para desempenhar seu papel, simplesmente por não termos um apóstolo ou alguém autorizado por um apóstolo para fazer isso.

Todavia, percebemos que esta não é a crença e prática de alguns cristãos, que acham que ainda existem apóstolos no mundo hoje. A Bíblia, porém, mostra o contrário. Ela diz que a igreja está edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito" (Ef 2:20-22). Nesta passagem das Escrituras a formação da igreja é comparada à construção de uma casa. Ela começa com o assentamento da Pedra principal (Cristo), depois é assentado o alicerce ou fundamento (os apóstolos e profetas), para finalmente subirem as paredes do edifício, nas quais cada verdadeiro crente é acrescentado até que o edifício todo esteja completo na vinda do Senhor. Isto demonstra que o lugar que os apóstolos e profetas ocupam na igreja é em seu fundamento ou alicerce. Eles foram diretamente usados pelo Senhor para estabelecerem a igreja em seu início. As epístolas que escreveram determinam a ordem e função da igreja; é nelas que foram assentados os fundamentos do cristianismo. O Senhor já não dá apóstolos à igreja, pois Ele já não está mais construindo o fundamento ou alicerce. Isto já foi feito. Na verdade, falta pouco para o edifício ficar pronto. Estamos esperando apenas que as últimas pessoas sejam salvas, para que as poucas pedras (vivas) que faltam possam ser assentadas na construção. O ministério dos apóstolos e profetas continua com a igreja por meio de seus escritos inspirados, mas já não temos a presença pessoal deles no mundo (Ef 4:11-13).

TRÊS QUALIFICAÇÕES PARA O APOSTOLADO

Relacionamos a seguir três coisas que qualificam uma pessoa para o apostolado, as quais demonstram que hoje já não seria possível existir apóstolos no mundo.

1)
Eles deveriam ter visto o Senhor pessoalmente (1 Co 9:1; 2 Co 12:2).

2)
Eles deveriam ter sido escolhidos e enviados diretamente pelo Senhor (Lc 6:13; Jo 6:70; At 9:15; 22:21).

3)
Eles deveriam ter sido testemunhas de Sua ressurreição (At 1:22; 1 Co 15:8, 15).

O que a Bíblia diz é que surgiriam impostores se apresentando como apóstolos. Portanto, qualquer pessoa que hoje reivindique para si o apostolado está se colocando nesta categoria de impostor (Ap 2:2 – "os que dizem ser apóstolos"; 2 Co 11:13-15 – "falsos apóstolos"; 2 Tm 3:13).

William Kelly escreveu: "Está claro que não temos, hoje no mundo, apóstolos ou seus representantes designados por um apóstolo para executarem um trabalho de responsabilidade dos apóstolos, como foi o caso de Tito. Como consequência, se você se submeter ao ensino da Palavra de Deus, já não irá encontrar anciãos e nem desejará procurá-los, ao menos em sua forma oficial. Se alguém alegar que isso ainda seria possível, peça que tal pessoa apresente as bases bíblicas para isso. Na minha opinião as evidências que temos são mais que suficientes para refutar isso. Você não pode ordenar pessoas formal e precisamente para esse ofício, a menos que tenha poder e autorização do próprio Senhor para fazê-lo. O problema é que você não tem esse poder, o qual é indispensável para autenticar anciãos, e este é definitivamente o ponto fraco da questão. Você não tem nem apóstolos, nem pessoas comissionadas pelos apóstolos, para agir neste sentido, portanto todo o sistema atual de ordenação desmorona por faltar a ele uma autoridade competente".

EXISTEM ANCIÃOS HOJE?

Alguns poderiam perguntar: "Acaso isto significa que você não acredita na existência de anciãos?" Embora não tenhamos hoje alguém autorizado a ordenar anciãos, não devemos pensar que o trabalho deles não continue. Se assim fosse, ao levar os apóstolos para o céu Deus teria deixado as assembleias locais sem uma direção. O Espírito Santo continua levantando homens para efetuarem este trabalho (At 20:28). Geralmente em uma reunião de cristãos congregados de acordo com as Escrituras há homens que se incumbem dessa obra. Eles serão identificados pelo trabalho que executam e devem ser reconhecidos por isso, ainda que não tenham sido oficialmente ordenados para tal ofício. Nossa obrigação é:

1)
Reconhecê-los (1 Ts 5:12; 1 Co 16:15).
2)
Estimá-los (1 Ts 5:13).
3)
Honrá-los (1 Tm 5:17).
4)
Lembrarmo-nos deles (Hb 13:7).
5)
Imitarmos sua fé (Hb 13:7).
6)
Obedecê-los (Hb 13:17).
7)
Sujeitarmo-nos a eles (Hb 13:17).
8)
Saudarmos a eles (Hb 13:24).

Todavia, em nenhum lugar nas Escrituras é dito que a igreja deve ordená-los, simplesmente porque a igreja não tem poder para fazê-lo. O Espírito de Deus deixou claro que previa uma época quando os apóstolos não estariam no mundo para ordenar anciãos, e por isso nos deixou princípios na Palavra que nos ajudassem a reconhecer aqueles que o próprio Espírito levantou para levar adiante esse trabalho na assembleia local. Paulo descreveu no mínimo duas assembleias nas quais não havia anciãos ordenados. Mesmo assim, ao dirigir-se a elas, ele apontou um princípio de que deveriam existir alguns irmãos nessas assembleias que efetuariam este trabalho. Isto nos serve como um excelente guia para os dias de hoje, quando já não dispomos de uma ordenação oficial de anciãos.

Ao escrever aos coríntios, Paulo disse a eles que reconhecessem os da casa de Estéfanas e outros semelhantes a eles, "que se tem dedicado ao ministério dos santos". Paulo disse-lhes que os reconhecessem como líderes e se sujeitassem a eles (Co 16:15-18).

Ao escrever aos tessalonicenses, Paulo lhes disse que reconhecessem aqueles que trabalhavam entre eles para o bem da assembleia. Eles seriam identificados por seu trabalho em meio ao rebanho. Consequentemente, a assembleia devia tê-los "em grande estima e amor, por causa da sua obra" (1 Ts 5:12-13).

William Kelly escreveu: "O que fazer então? Será que não existem pessoas preparadas para serem bispos ou anciãos, só por não existirem apóstolos para designá-los? Graças a Deus existem e não são poucos! Dificilmente você encontrará uma assembleia dos filhos de Deus onde não existam alguns homens mais velhos e responsáveis, que saem atrás dos que se desviam, que advertem os indisciplinados, que confortam aqueles que estão abatidos, que aconselham, admoestam e apascentam as almas.

Acaso não seriam eles os anciãos, se ainda existisse poder e autoridade para ordená-los? Portanto, qual é o dever de um cristão, dentro da atual realidade e daquilo que ainda nos cabe? Não digo que deva chamá-los de anciãos, mas certamente deverá estimá-los com alta estima por causa de seu trabalho, e amá-los e reconhecê-los como aqueles que cuidam de seus irmãos no Senhor".


HOJE NÃO HÁ MAIS ORDENAÇÃO

As assim chamadas "igrejas", das quais temos falado, usam a prática da ordenação para aprovar oficialmente uma pessoa para ministrar entre eles. Porém isso não é encontrado nas Escrituras. Se alguns cristãos criam uma organização à qual dão o nome de "igreja", com seus próprios credos e regras administrativas, obviamente ninguém ali estará livre para ministrar, a menos que seja oficialmente aprovado.

Geralmente é assim que funciona, pois isso faz parte do sistema que eles organizaram. Se alguém quiser ser um ministro nessa seita, terá de se sujeitar às suas leis e regras. Mas tudo isso só comprova que essas organizações realmente não passam de seitas.

Apesar da maioria dos cristãos acreditarem que tal pessoa deva ser ordenada antes de poder ministrar na igreja, não existe na Bíblia uma só pessoa que tenha sido ordenada por homens para pregar a Palavra para a igreja! Nem sequer uma! Já está na hora de voltarmos às práticas bíblicas neste sentido.

"MAS NA BÍBLIA AS PESSOAS ERAM ORDENADAS!”

É
comum as pessoas argumentarem que na Bíblia as pessoas eram ordenadas. Sim, a Bíblia nos diz que Paulo e Barnabé ordenaram anciãos de cidade em cidade em uma de suas jornadas missionárias (At 14:23). Mas nas Escrituras não existe uma única evidência sequer de que Paulo, Barnabé, Tito etc. tenham ordenado um pastor, mestre ou evangelista! Pela mesma razão, tampouco há nas Escrituras evidência de que eles tenham ordenado algum profeta ou sacerdote! Não existe qualquer indício de pessoas assim terem sido ordenadas. Onde, na Palavra de Deus, as igrejas denominacionais se baseiam para fazer isso? Cabe aqui uma citação de W. T. P. Wolston: "A ideia está na cabeça das pessoas, e não nas Escrituras". Se essa fosse a vontade de Deus para a igreja, Ele teria nos dado instruções acerca disso em Sua Palavra.

Todavia, é verdade que homens que tinham um dom foram ordenados, mas não com o propósito de levarem adiante o ministério para o qual seu dom os capacitava! Aqueles que eram ordenados pelo apóstolo (ou por alguém autorizado pelo apóstolo) eram designados para ocuparem oficialmente o posto de presbítero (ancião ou guia). Considerando que todos têm um dom, aqueles homens certamente também tinham um dom. Alguns deles poderiam ter o dom de pastor ou mestre (doutor) (Tm 5:17), porém insistimos que sua ordenação não era para o exercício do dom, e sim para o ofício para o qual tinham sido designados.

A IMPOSIÇÃO DE MÃOS

O que dizer de Atos 13:1-4? "E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram". A passagem parece demonstrar ser necessário que alguém, até mesmo um apóstolo, seja ordenado antes de sair para pregar.


Muitas das ideias que as pessoas têm sobre os assuntos divinos vêm da leitura casual da Palavra de Deus. Elas nem sempre se dedicam a buscar as Escrituras com atenção e oração, antes de chegarem às suas conclusões. Este assunto da imposição de mãos é um excelente exemplo disso. Não temos autoridade para dizer que Atos 13:1-4 esteja se referindo a uma ordenação. Ali não diz ser uma ordenação, e a palavra (ordenar) nem sequer aparece na passagem. Ela menciona a imposição de mãos, mas não passa de suposição achar que uma ordenação seja feita pela imposição de mãos. Sempre que a Bíblia menciona que anciãos foram ordenados, não há qualquer menção de que isso tenha sido feito com a imposição de mãos! Pode até ser que houvesse imposição de mãos sobre aqueles que eram ordenados, mas as Escrituras não mencionam isso. Pode ser também que os apóstolos (ou os que foram autorizados por eles) tenham feito uma porção de coisas quando ordenaram anciãos, mas seria pura suposição de nossa parte afirmar que fizeram essas coisas, já que as Escrituras não mencionam isso. William Kelly escreveu: "Não tenho dúvida de que o Espírito de Deus sabia da superstição que seria associada à imposição de mãos anos mais tarde na história da igreja, por isso tomou o cuidado de nunca associar a imposição de mãos com a ordenação de anciãos... Eu insisto que, nesta questão de ordenação, a cristandade não percebeu a intenção e o pensamento de Deus, e agora se agarra a uma ordem de coisas que inventou e que não passa de desordem, fazendo isso por ignorância, mas não sem a responsabilidade por seu pecado".

Em Atos 11:25-26 e 12:25 fica claro que Barnabé e Saulo já estavam no ministério antes que os de Antioquia impusessem as mãos sobre eles. Paulo não foi colocado no ministério, como apóstolo, por meio da imposição de mãos daqueles homens. Ele disse que foi o Senhor quem o colocou. Ao escrever a Timóteo, ele disse: "E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério" (1 Tm 1:12). Ele não recebeu seu apostolado de homens. Ao escrever aos gálatas, ele disse: "Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos)" (Gl 1:1).

Se a imposição de mãos que vemos em Atos 13 tivesse sido uma ordenação, então quem os ordenou? Simeão, chamado Níger, Lúcio, Manaém, e talvez outros ali? Esses eram profetas e mestres, dons que têm o segundo e terceiro lugares na igreja (1 Co 12:28). Se eles ordenaram os apóstolos, então o menor ordenou o maior. Não pode ser. William Kelly escreveu: "Acaso o apóstolo Paulo considera a imposição de mãos de outros como ordenação para seu ofício especial? Com toda certeza podemos crer que não. Se fosse este o caso, por que ele não fez menção desta ocasião e da imposição de mãos quando reivindicou seu direito de apóstolo? (1 Co 9:1; 2 Co 11:5; 12:12)".

Atos 14:26 explica o que realmente aconteceu quando as mãos de outros em Antioquia foram impostas sobre Barnabé e Saulo. Ali diz: "E dali navegaram para Antioquia, de onde tinham sido encomendados à graça de Deus para a obra que já haviam cumprido". Isto demonstra que os irmãos em Antioquia haviam estendido a eles "as destras, em comunhão" (Gl 2:9). Eles tinham dado a Barnabé e Saulo total comunhão e suporte na obra que estavam para executar. Talvez tenha sido incluída uma ajuda prática ou financeira, além de suas contínuas orações por eles durante a jornada, apesar de as Escrituras não mostrarem estes detalhes. Não existe nada em Atos 13:1-4 que dê a entender que Barnabé e Saulo tenham sido ordenados para ocupar uma posição clerical.

Além disso, o ato de encomendarem Paulo à graça de Deus foi repetido. Aquilo era algo que os irmãos faziam para os servos do Senhor cada vez que eles saíam em uma nova obra para pregarem o evangelho (At 15:40; Gl 2:9). Isto certamente comprova que não se tratava de uma ordenação, pois mesmo aqueles que pensam enxergar uma ordenação em Atos 13 não acreditam que uma pessoa precise ser reordenada a cada um ou dois anos.

Oras, se a ordenação de alguém é capaz de validar o poder que designou aquela pessoa, e as Escrituras não autorizam qualquer poder de ordenar exceto o exercido por um apóstolo ou um enviado seu, então fica claro que aqueles que hoje tentam ordenar não têm poder de Deus para isso. Um irmão, que outrora se submeteu ao sistema humano da ordenação, coloca muito bem a questão: "Eles impuseram suas mãos vazias sobre minha cabeça oca!".

Então, o que dizer de 1 Timóteo 4:14, que admoesta:

"Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério [anciãos]"? Esta passagem também mostra a imposição de mãos, porém mais uma vez não há qualquer menção de ordenação. Trata-se de uma suposição na mente das pessoas. A passagem é bem simples. Timóteo tinha um dom do Senhor; e era um dom que fora profetizado por um profeta (ou profetas), de que Timóteo seria usado pelo Senhor no exercício desse dom. Os anciãos reconheceram o dom que ele havia recebido do Senhor e estenderam a ele as destras de comunhão em seu trabalho. Paulo escreveu a Timóteo exortando-o a não negligenciar esse dom, trazendo à sua memória que outros (os anciãos) também o estavam apoiando com seu suporte. Aquilo deve ter sido um tremendo encorajamento para Timóteo.

Continua em: 
Coleta ou Dízimo?

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–– Bruce Anstey | A ORDEM DE DEUS
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–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/

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