Disciplina na Igreja
Outro assunto relacionado ao governo da igreja local, que é negligenciado nas assim chamadas "igrejas", é o da disciplina e excomunhão. Como já vimos no capítulo com o título "Um chamado à separação", cada cristão é individualmente responsável por separar-se do mal. Portanto é óbvio que uma assembleia de cristãos também deve se manter livre do mal. Trata-se de uma responsabilidade coletiva. O motivo disso é que a associação com o mal corrompe toda a assembleia. Conforme mencionamos, os três principais tipos de mal que devem ser mantidos fora de um grupo de cristãos são o mal moral, doutrinal e eclesiástico. Se uma pessoa em uma assembleia se envolve ou está associada com um mal assim, a assembleia local tem a responsabilidade de tirar essa pessoa de sua comunhão. O apóstolo Paulo escreveu: "Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo" (1 Co 5:12-13). Isto demonstra que a assembleia é responsável por julgar o mal em seu meio quando este se manifesta.
Existem três razões principais pelas quais a assembleia deve afastar pessoas envolvidas com o mal.
1) A glória do Senhor – A assembleia deve ter o cuidado de não permitir que o Nome do Senhor esteja associado com o mal diante dos olhos do mundo. Quando os irmãos em Corinto agiram em prol da glória do Senhor e colocaram fora a pessoa em pecado, o apóstolo escreveu em aprovação: "Porque, quanto cuidado não produziu isto mesmo em vós que, segundo Deus, fostes contristados! Que apologia, que indignação, que temor, que saudades, que zelo, que vingança! Em tudo mostrastes estar puros neste negócio" (2 Co 7:11). Eles agiram com zelo, adotando medidas extremas visando a glória do Senhor.
2) A santidade na assembleia, a qual deve ser mantida – Existem duas razões para isto: primeiro, a assembleia é o lugar da habitação de Deus. Ela deve ser mantida em condições adequadas para a Sua santa presença. O Senhor habita no meio do Seu povo congregado ao Seu Nome (Mt 18:20), portanto a assembleia deve manter o mal fora do seu meio a fim de permanecer um lugar adequado à Sua presença. "A santidade convém à tua casa, Senhor, para sempre" é um princípio que permanece válido para todas as épocas (Sl 93:5). "O que usa de engano não ficará dentro da minha casa" (Sl 101:7; 1 Co 3:17; Nm 5:1-4). A segunda razão é a característica que o mal tem de fermentar. Como já mencionamos, a associação com o mal corrompe. O apóstolo Paulo escreveu: "Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa" (1 Co 5:6-8; Gl 5:9-12). Ele também escreveu: "As más conversações corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33). Se a assembleia não tirasse o mal de seu meio, logo outros seriam afetados por ele.
3) A correção e restauração do ofensor – A ação de colocar alguém fora de comunhão deveria ter sempre em vista o bem e a bênção da pessoa que errou. Ela é colocada fora e não se deve ter contato com ela, para que seja humilhada para arrependimento e restaurada ao Senhor.
"Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais" (Co 5:11). Quando alguém se encontra numa condição de arrependimento e julgamento de seu próprio pecado, cabe à assembleia receber essa pessoa de volta à comunhão. Referindo-se à pessoa que os irmãos em Corinto haviam colocado fora de seu meio, o apóstolo Paulo escreveu: "Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor" (Co 2:6-8).
A assembleia deveria sempre tratar do assunto como sendo seu próprio pecado. Sua atitude quanto à excomunhão de alguém deveria ser de lamentação – reconhecendo que falharam, por terem sido incapazes de alcançar o irmão enquanto ele seguia em direção ao pecado. Os coríntios nada fizeram a respeito. Paulo lhes escreveu: "Estais ensoberbecidos, e nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação" (1 Co 5:2). Cada um na assembleia deveria investigar seu próprio coração e perguntar a si mesmo: "O que eu poderia ter feito para impedir que essa pessoa caísse em pecado?" Devemos reconhecer que não fizemos nada a respeito; que não pastoreamos essa pessoa da forma adequada, ou que não oramos por ela o suficiente etc. Era isto que significava o sacerdote comer da oferta pelo pecado: "O sacerdote que a oferecer pelo pecado a comerá" (Lv 6:26). Este tipo de cuidado pela glória do Senhor é algo que quase não existe na cristandade hoje, todavia deveria ser praticado por cada assembleia cristã.
RECEPÇÃO – UMA RESPONSABILIDADE DA ASSEMBLEIA LOCAL
Outra prática da igreja no princípio, que hoje quase não existe na cristandade, era o cuidado com a recepção de pessoas à comunhão.
Considerando o que a Bíblia ensina a respeito da pureza na assembleia, quando alguém tem o desejo de partir o pão "à mesa do Senhor" (1 Co 10:21), a assembleia deve ter o cuidado de não receber à comunhão alguém envolvido em pecado; seja ele moral, doutrinal ou eclesiástico. O princípio é simples. Se uma assembleia local tem a responsabilidade de julgar o pecado em seu meio, como já demonstramos (1 Co 5:12), a consequência natural disso é que ela deve ter o cuidado com aquilo ou aquele que recebe em seu meio.
Alguém afirmou corretamente que a assembleia local não deve ter uma comunhão aberta, e nem ter uma comunhão fechada, mas sim uma comunhão protegida. A assembleia deve receber à mesa do Senhor todo membro do corpo de Cristo que não esteja impedido pela disciplina bíblica. Se não fizer assim, ela estará agindo de forma inconsistente com o terreno do "um só corpo" sobre o qual ela professa estar congregada (Ef 4:4).
Se, por um lado, todos os cristãos devem estar à mesa do Senhor, nem todos podem estar ali, já que seu privilégio pode ser anulado por seu envolvimento com algum pecado.
QUEM DECIDE QUEM DEVERIA ESTAR EM COMUNHÃO?
É importante entender que os irmãos na assembleia local não decidem o que é adequado à mesa do Senhor e o que não é. Isto é algo que compete à Palavra de Deus. A razão é que a mesa não é dos irmãos, a mesa é do Senhor. As preferências e gostos pessoais dos que fazem parte da assembleia não têm nada a ver com a recepção. A decisão vem totalmente da Palavra de Deus. Quando não existir um motivo bíblico para se recusar a alguém a comunhão à mesa do Senhor, tal pessoa deve ser recebida. Se um crente já batizado professar com clareza sua fé e demonstrar devoção em seu andar, não existe motivo para que seja recusado. O nível de conhecimento das Escrituras não é um critério neste sentido. Ainda que seja um crente limitado em seu conhecimento, as Escrituras dizem: "Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas" (Rm 14:1).
Todavia, nem sempre se pode determinar de imediato se alguém professa claramente sua fé e é devoto em seu andar. Quanto maior a confusão no mundo ou no testemunho cristão do qual a pessoa tiver saído, maior a dificuldade de se tomar uma decisão. Se for este o caso, então o bom senso mostra que a assembleia deve pedir que a pessoa que tem o desejo de estar em comunhão aguarde algum tempo. Isto não significa que a assembleia está afirmando que tal pessoa tenha alguma associação com o mal. Poderia ser o caso, porém os irmãos podem estar incertos quanto a isso e por esta razão devem esperar até que estejam convencidos de não ser este o caso, uma vez que são eles os responsáveis diante de Deus pelas pessoas que recebem em comunhão. As Escrituras ensinam: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios" (1 Tm 5:22). Embora a aplicação deste versículo seja mais ampla do que a recepção à mesa do Senhor, ele apresenta um princípio pelo qual a assembleia pode ser guiada no processo de recepção. Alguém maduro e piedoso não se sentirá ofendido com isso, pois certamente nenhum cristão piedoso iria querer que a assembleia violasse um princípio bíblico. Na verdade, todo esse cuidado deveria dar a ele a confiança de estar entrando em uma comunhão onde existe a preocupação com a glória do Senhor e a pureza da assembleia.
SERIA SUFICIENTE O TESTEMUNHO PESSOAL?
Um importante princípio relacionado a este assunto e que precisa ser compreendido é que a assembleia, biblicamente falando, não se baseia no que diz uma testemunha. Tudo o que diz respeito à assembleia deve ser feito de acordo com este princípio: "Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra" (2 Co 13:1). Confira também o que diz em João 8:17 e Deuteronômio 19:15. Por esta razão a assembleia não deve receber pessoas com base em seu próprio testemunho, principalmente considerando que todas as pessoas costumam dar um bom testemunho de si mesmas, como as próprias Escrituras afirmam: "Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos" (Pv 16:2). E também: "Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória" (Jo 7:18). Por isso é preciso pedir a uma pessoa que deseja entrar em comunhão que aguarde, principalmente quando a assembleia nada souber a respeito dela. Assim que a assembleia local venha a conhecer a pessoa que deseja estar em comunhão, ela poderá ser recebida com base no testemunho de outros.
Este é um princípio que encontramos em todas as Escrituras. Até mesmo o Senhor Jesus Cristo, o Senhor da Glória, sujeitou-Se a este princípio quando Se apresentou a Israel como seu Messias. Ele disse: "Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro [válido]” (Jo 5:31).
Em seguida ele continuou apresentando quatro outros testemunhos que comprovavam quem Ele era: João Batista, Suas obras, Seu Pai e as Escrituras (Jo 5:32-39). Apesar dos vários testemunhos de que Ele era o Messias, o Senhor ainda advertiu os judeus de que chegaria um tempo quando eles, como nação, receberiam um falso messias (o Anticristo) sem testemunhas. Ele disse: "Se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis" (Jo 5:43). Assim o Senhor reprovou a prática de se receber alguém com base em seu próprio testemunho.
Os filhos de Israel falharam justamente neste ponto, quando receberam os gibeonitas com base no testemunho deles próprios (Josué 9). Isto está registrado nas Escrituras para nos alertar quanto ao perigo de agirmos assim.
Atos 9:26-29 nos dá um exemplo do cuidado que a igreja no princípio tinha ao receber alguém à comunhão. Quando Saulo de Tarso foi salvo, ele quis entrar em comunhão com os santos em Jerusalém, porém foi rejeitado. Mesmo que tudo o que ele dissera aos irmãos em Jerusalém sobre sua vida pessoal fosse verdade, ele não foi recebido com base em seu próprio testemunho. Foi só quando Barnabé levou Saulo consigo e o apresentou aos irmãos, testificando de sua fé e caráter, de modo que então já era o testemunho de duas pessoas, que os irmãos o receberam. Daquele momento em diante Saulo "andava com eles em Jerusalém, entrando e saindo" (At 9:28). Se a igreja no princípio não recebeu Saulo de Tarso imediatamente, com certeza os cristãos hoje não podem esperar ser recebidos imediatamente quando desejarem estar em comunhão em uma assembleia local.
COLOCANDO A PROFISSÃO DE FÉ DA PESSOA À PROVA
Outro importante princípio para se receber alguém é que existe a necessidade de se colocar à prova a profissão de fé da pessoa. Se alguém diz que é cristão, é preciso que prove isso deixando de lado todo pecado conhecido. Além disso, em 2 Timóteo 2:19 diz que "qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade". Veja também Apocalipse 2:2 e 1 João 4:1. Se essa pessoa não apartar-se da iniquidade, sua confissão de fé não é genuína. Isso é ainda mais importante em uma época de ruína e abandono do testemunho cristão, quando o que não faltam são doutrinas e práticas perniciosas de todos os tipos. Um exemplo disso pode ser visto em figura em 1 Crônicas 12:16-18. Naquele momento Davi era o rei rejeitado de Israel. À medida que pessoas de várias tribos de Israel entenderam o erro que tinha sido rejeitá-lo, elas foram a ele e o consideraram como o verdadeiro rei de Israel. Quando os da tribo de Benjamim (a tribo do rei Saul) foram a Davi, ele colocou à prova a profissão de fé deles. Ao ficar comprovado que sua confissão era genuína, e eles demonstraram verdadeiramente estar ao lado de Davi, a Palavra de Deus nos diz que "Davi os recebeu".
Se uma pessoa professa má doutrina, está claro que a assembleia não deve recebê-la, pois se o fizer ficará em comunhão com o mal que traz em seu ensino. (Compare 2 Jo 9-11 e Rm 16:17-18). Não falamos aqui das diferenças de opinião que as pessoas possam ter a respeito de assuntos como o batismo, por exemplo, mas de coisas que digam respeito aos fundamentos da verdade cristã. As Escrituras dizem: "Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus" (Rm 15:5-7). Isto demonstra que a assembleia deve receber à comunhão pessoas que possam glorificar a Deus "concordes, a uma boca". Como a assembleia poderia glorificar a Deus assim se alguém fosse recebido trazendo consigo má doutrina? Enquanto os irmãos na assembleia estivessem falando uma coisa, aquela pessoa estaria falando outra. O resultado seria confusão. Paulo disse aos coríntios: "Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer" (1 Co 1:10).
Quando a questão envolve pecado eclesiástico, é preciso paciência e discernimento para identificar isso em alguém. Existe uma diferença entre alguém associado ao erro clerical por ignorância e uma pessoa ativamente envolvida e promovendo tal erro. Um crente que talvez ignore a ordem bíblica para a adoração e o ministério cristão, pode querer partir o pão à mesa do Senhor vindo de uma denominação criada por homens e que pratique uma ordem clerical. Ainda que essa pessoa esteja associada ao erro eclesiástico, ela não está envolvida com o mal eclesiástico. E se tal pessoa for conhecida por sua piedade no andar e professar sã doutrina, não deveria haver impedimento para que ela partisse o pão, mesmo que não tivesse se desligado formalmente de sua associação com aquela denominação.
A questão é: "Quando uma associação inconsciente com o erro eclesiástico se torna mal eclesiástico?" Cremos que a resposta é simplesmente quando a vontade da pessoa está envolvida com isso. Para detectar essa vontade é preciso que a assembleia tenha um discernimento sacerdotal. Em casos assim a assembleia precisa depender muito do Senhor para conhecer o Seu pensamento a respeito do assunto. Em condições normais, os irmãos deveriam permitir que essa pessoa partisse o pão, esperando e confiando que Deus estaria trabalhando em seu coração – e que ela iria abandonar o lugar de onde veio, após participar da ceia do Senhor, e continuar congregada com aqueles reunidos ao nome do Senhor. Este princípio é encontrado em 2 Crônicas 30-31. Ezequias permitiu que o povo de Judá, e também alguns das dez tribos separadas, participassem da Páscoa e adorassem o Senhor no divino centro em Jerusalém. Depois de fazerem isso, eles voltaram para casa e destruíram seus ídolos e imagens. (Não estamos insinuando que as denominações criadas pelos homens sejam condescendentes com a idolatria; estamos falando apenas do princípio encontrado ali). O que é interessante neste caso é que Ezequias não lhes disse que procedessem assim! Aquilo foi uma resposta vinda de seus corações pelo simples fato de terem estado na presença do Senhor em Jerusalém. Todavia, se alguém deseja continuar indo a ambos os lugares regularmente, isto não deveria ser aceito. Como assinalou J. N. Darby, uma pessoa assim não estaria sendo honesta com nenhuma das partes. Ele também afirmou que a degradação e a corrupção aumentam cada vez mais no testemunho cristão, ficando cada vez mais difícil colocar em prática este princípio. É necessário um discernimento ainda maior à medida que os dias se tornam mais sombrios. Algo assim só tem acontecido esporadicamente nos dias atuais.
Outra figura do Antigo Testamento ilustra o cuidado no recebimento à comunhão. Quando a cidade de Jerusalém, o centro divino neste mundo onde o Senhor havia colocado o Seu Nome, foi reconstruída nos dias de Neemias, havia um grande perigo representado pelos inimigos em redor. Consequentemente, eles não abriam os portões para permitir que as pessoas entrassem na cidade "até que o sol aqueça" [literalmente ao meio-dia] (Ne 7:1-3). Eles se certificavam de não existir qualquer vestígio de sombras em redor antes de permitir que as pessoas entrassem na cidade. Até que chegasse aquele momento, eles faziam com que as pessoas que desejassem entrar na cidade aguardassem. À medida que a escuridão na cristandade aumenta nestes últimos dias, é preciso tomar este tipo de cuidado na recepção de pessoas à comunhão. Você encontra o mesmo princípio em 1 Crônicas 9:17-27 ("os porteiros").
Tudo isso soa muito estranho para a maioria dos cristãos que não conhecem outros métodos além da comunhão aberta praticada pelos denominacionais. A ênfase nas igrejas é conseguir o máximo possível de pessoas para o grupo. São feitos grandes esforços neste sentido. Tomar cuidado com quem é acrescentado à comunhão provavelmente parece algo meio incomum, mas todavia é isso que a Palavra de Deus ensina.
EXCLUSIVO DEMAIS!
Alguns discordam dessas coisas, declarando que isso é ser exclusivista. Gostaríamos de enfatizar mais uma vez que estes princípios não foram inventados por nós, mas são simplesmente princípios ensinados pela Palavra de Deus. As assembleias locais de cristãos devem ser exclusivistas quanto ao pecado, e devem ser cuidadosas quando não conhecerem com quê uma pessoa pode estar associada. A passagem em 1 Coríntios 11:28 costuma ser apresentada para dar a ideia de que cada pessoa é individualmente responsável diante do Senhor em julgar a si mesma, e que não caberia à assembleia "escrutinar" as pessoas. O versículo diz:
"Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice". Aqueles que pensam assim são rápidos em argumentar que não cabe à assembleia "examinar" a pessoa, mas que é a própria pessoa que deve "examinar-se a si mesma", e então participar da ceia.
Oras, se fosse esse o significado do versículo, então ele entraria em conflito com os princípios que já mencionamos – de que a assembleia é responsável em julgar o mal em seu meio e, por conseguinte, deve ser cuidadosa quanto a quem está em comunhão (1 Co 5:12). Considerando que a Palavra de Deus não se contradiz, o versículo em 1 Coríntios 11:28 deve estar se referindo a algo que não seja a recepção à mesa do Senhor. Um exame mais atento do contexto do capítulo no qual o versículo aparece nos revela que a passagem não está se referindo àqueles que desejam entrar em comunhão à mesa do Senhor, mas sim àqueles que já estão em comunhão ali. A passagem diz simplesmente que cada um daqueles que estão em comunhão tem a responsabilidade de julgar-se a si mesmo antes de participar da ceia. Se não o fizer, ele "come e bebe para sua própria condenação [juízo governamental]" (Co 11:29).
Isto é parecido à ordem que os pais dão aos seus filhos antes de se sentarem à mesa para o jantar. Eles dizem: "Vejam se as suas mãos estão limpas antes de se sentarem à mesa". A ordem aplica-se às crianças que fazem parte da família e participam regularmente das refeições naquela casa, e não aos vizinhos que moram na mesma rua. Aqueles que fazem parte da família e pretendem participar do jantar devem estar limpos quando chegarem à mesa. O mesmo acontece na assembleia. A exortação para se examinarem a si mesmos antes de participarem da ceia é para aqueles que já estão em comunhão à mesa do Senhor.
A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL
Se por um lado existe a responsabilidade da assembleia local nesta questão, por outro, o indivíduo que deseja entrar em comunhão com uma assembleia local também tem sua parcela de responsabilidade. Se ele deseja andar corretamente diante do Senhor, irá querer ter cuidado ao dar esse passo. Todavia, muitos cristãos acham que podem se associar com qualquer coisa que desejarem sem que sejam afetados por isso, mas a Bíblia ensina que somos afetados por aqueles com quem nos associamos, e alguém que esteja buscando comunhão com uma assembleia de cristãos sobre a qual tenha poucas informações deve agir com cuidado. O princípio da contaminação decorrente da associação com o mal funciona nos dois sentidos. A assembleia deve ser cuidadosa quanto a quem e a quê recebe em sua comunhão, mas a pessoa que procura estar em comunhão também deve ser cuidadosa. As Escrituras dizem: "A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro" (1 Tm 5:22). Isso se refere à comunhão e foi escrito para uma pessoa na casa de Deus. A responsabilidade de todo cristão é manter -se puro, pois "as más companhias corrompem os bons costumes" (1 Co 15:33).
Em vista disso, por que alguém iria a uma assembleia de cristãos, da qual não tem qualquer conhecimento quanto ao que creem ou praticam ali, para insistir em partir o pão ali, considerando que tal pessoa acabaria associada com tudo o que acontecesse ali? Como ela poderia ter certeza de não estar entrando em um grupo de pessoas com doutrinas blasfemas ou práticas condenáveis? Nossa única conclusão é que uma pessoa assim nunca teria levado em consideração estas coisas, ou simplesmente não acreditaria que elas pudessem ocorrer.
O cuidado que cada crente individualmente deve ter é visto em figura no Antigo Testamento, quando o assunto é a adoração praticada por Israel. O Senhor disse a eles: "Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; mas no lugar que o SENHOR escolher numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno" (Dt 12:13-14). Este princípio irá guiar o cristão que procura pelo lugar que o Senhor escolheu nos dias de hoje. Os filhos de Israel não deviam oferecer seus sacrifícios e nem adorar em qualquer lugar que vissem – e o mesmo vale para o cristão. Um cristão simplesmente não deve ir a qualquer lugar para oferecer sua adoração ao Senhor. Ele deve fazer isso apenas no lugar onde Deus quer que ele esteja. Tendo em vista o mal e o abandono da Palavra de Deus que existem hoje no testemunho cristão, e o perigo de ser levado ao erro, não se deve ter pressa em oferecer sacrifícios de louvor em comunhão com uma assembleia de cristãos da qual não se conhece coisa alguma. A obrigação de cada um é descobrir de antemão algo sobre aquele grupo de cristãos. A pergunta que se deve fazer é: "Quais doutrinas e práticas este grupo possui?". Se uma pessoa encontrar o lugar que acredita ser da direção do Senhor para ela, é melhor não ter pressa de partir o pão ali. É preciso orar a respeito e esperar no Senhor até ter a tranquilidade de saber que não está se associando com algo que seja uma desonra para o Senhor. Que o Senhor possa guiar o leitor nesse importante passo.
CARTAS DE RECOMENDAÇÃO
Outra coisa que está estreitamente associada à recepção à comunhão é o uso de cartas de recomendação. Trata-se de uma carta escrita por uma assembleia e assinada por dois ou três irmãos, a qual é enviada a outra assembleia recomendando uma ou mais pessoas à comunhão dos santos naquela localidade para onde essas pessoas estiverem se dirigindo. Mais uma vez, isto é algo que geralmente não é praticado nas igrejas da cristandade.
Um exemplo desta prática entre os cristãos no princípio é visto no caso de Apolo, em Atos 18: 24-28. Ali diz:
"Querendo ele passar à Acaia, o animaram os irmãos, e escreveram aos discípulos que o recebessem; o qual, tendo chegado, aproveitou muito aos que pela graça criam". Apolo era reconhecidamente um homem que tinha um dom, mas mesmo assim ele precisou de uma carta de recomendação dos irmãos para poder ser recebido pelas assembleias na Acaia, as quais até então nada sabiam a respeito dele. Isso demonstra o cuidado que existia entre os cristãos no princípio quanto a quem eles deviam receber à comunhão. Veja também Romanos 16:1 e 2 Coríntios 3:1-3.
Continua em: 7 - A ESFERA DE MINISTÉRIO DAS IRMÃS NA IGREJA
Para retornar ao início, clique aqui: Sumário - A ORDEM DE DEUS: Para Cristãos Congregarem para Adoração e Ministério | Bruce Anstey
–– Bruce Anstey | A ORDEM DE DEUS
________________________________________
Livro disponível em E-book (gratuito) ou impresso aqui:
https://aordemdedeus.blogspot.com/
–– Fonte 1: Página JP Padilha
–– Fonte 2: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?
Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....

-
Para entender a relação entre o Natal, sinal da cruz, o famoso "santíssimo sacrário" em forma de sol e sua relação com Tamuz e...
-
“Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhece...
-
Este artigo é um resumo introdutório que objetiva esclarecer as principais dúvidas dos católicos romanos que buscam um relacionamento pessoa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário