É POSSÍVEL PERDER A SALVAÇÃO? | JP Padilha


“Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2 Pedro 2.20-22).

Com base neste versículo, muitos crentes pensam ser possível que um cristão perca a salvação pelo fato de que muitos crentes professos, conhecedores da verdade do evangelho, renunciam o conhecimento do Senhor e outra vez são envolvidos e vencidos pelas corrupções do mundo, das quais uma vez haviam escapado. Mas estes versos não dizem, nem poderiam dizer que um cristão perde a salvação que uma vez foi conquistada na cruz do calvário por Cristo. Estes versos falam de pessoas que apenas professaram o evangelho temporariamente, mas que não são salvas devido ao fato de voltarem a se envolver e ser dominadas pelas mesmas “corrupções do mundo”, o que torna o estado dessas pessoas ainda pior do que antes da sua profissão do evangelho. Os versículos não falam que elas perderam a salvação, mas que provaram não ser salvas. Para provar este ponto, basta lembrar o que Jesus disse a respeito de seus escolhidos em João 5.24. Aqui é dito que uma pessoa verdadeiramente redimida pelo seu sangue sequer participará do Juízo Final:

Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação (ou Juízo – ARA), mas passou da morte para a vida” (João 5.24).

Atente-se para os tempos dos verbos, os quais revelam uma transformação imutável na posição do pecador salvo: “ouve”, “crê”, “TEM”, “ENTRARÁ”, “PASSOU”. A passagem NÃO diz que o salvo “terá” vida eterna, mas que tem a vida eterna no momento em que crê, o que significa um direito adquirido por graça, e tão somente pela graça. A conjugação desses verbos está bem definida aqui, de forma que aquele que verdadeiramente recebe a genuína fé jamais pode decair da graça que uma vez lhe fora conferida.

Há diferentes tipos de julgamentos que você encontra na Bíblia, mas é importante distinguir cada um deles. Na ordem dos eventos proféticos, primeiro vem o arrebatamento da Igreja (os salvos) e dos que morreram em Cristo. Para estes não há julgamento ou condenação, pois Cristo pagou o preço de sua redenção. A dívida foi quitada. Nas palavras de Mario Persona, “Deus seria tão injusto de julgar um crente quanto um juiz humano seria injusto de julgar alguém por um crime que outro confessou e pagou a pena. Cristo confessou nossos pecados (levou sobre si) e pagou a pena”.

Oras, se Jesus disse que aquele que crê verdadeiramente nele não participa sequer do Juízo Final, o que podemos inferir de 2 Pedro 2.20-22? Certamente não se trata de um genuíno crente sendo capaz de perder a salvação uma vez dada aos santos de Deus. Portanto, o contexto mais adequado para entender o que Pedro está nos dizendo está em 1 João 2.19, que diz:

“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 João 2.19).

Este é o contexto. Se considerarmos o que está explícito neste verso, todo o entendimento do contexto de 2 Pedro 2.20-22 virá à tona, e teremos convicção de que esse texto NÃO diz que um genuíno cristão, nascido de novo, pode perder a salvação. A doutrina satânica do livre arbítrio ensina que uma pessoa redimida pelo sangue de Cristo pode perder a salvação, mas, como podemos constatar na Bíblia, isso é uma heresia que alcança um nível de iniquidade difícil de suportar. É tirar de Jesus Cristo o seu poder de salvar aqueles que o Pai lhes deu:

“E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” (João 6.39).

ENTENDENDO O CONTEXTO DE 2 Pedro 2.20-22

João Calvino, um dos maiores expositores da Doutrina da Salvação, comenta sobre estes dois versos da seguinte forma:

“Pedro mostra quão perniciosa foi a seita que levou os homens consagrados a Deus de volta à sua sujeira antiga e às corrupções do mundo. E ele exibe o nível hediondo do mal por uma comparação; pois não era pecado comum afastar-se da santa doutrina de Deus. Teria sido melhor para eles, diz ele, não conhecer o caminho da justiça; pois, embora não haja desculpa para a ignorância, o servo que, consciente e deliberadamente, despreza as ordens de seu Senhor, merece uma dupla punição. Além disso, havia ingratidão, porque deliberadamente extinguiram a luz de Deus, rejeitaram o favor que lhes era conferido e, sacudindo o jugo, tornaram-se perversamente devassos contra Deus; sim, na medida do possível, profanaram e revogaram a aliança inviolável de Deus, a qual havia sido ratificada pelo sangue de Cristo. Quanto mais sinceros deveríamos ser, deveríamos avançar humildemente e cuidadosamente no curso de nosso chamado. Agora devemos considerar cada sentença.

Ao nomear as “corrupções do mundo” (vs 20)Pedro mostra que rolamos na sujeira e somos totalmente poluídos até renunciarmos ao mundo. Por “o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo” (vs 20), ele sem dúvida entende o evangelho. Ele testemunha que o objetivo é livrar-nos das impurezas do mundo e nos afastar delas. Pela mesma razão, ele chama depois de “o caminho da justiça” (vs 21). Ele, então, sozinho, faz um progresso correto no evangelho que fielmente aprende de Cristo; e ele realmente conhece Cristo, que o ensinou a despojar-se do velho e vestir-se do novo, como Paulo nos lembra em Efésios 4.22.

Ao dizer que, tendo abandonado “o santo mandamento que lhes fora dado” (21)eles retornaram às suas próprias poluições, ele sugere primeiro quão indesculpáveis ​​eram; e, em segundo lugar, ele nos lembra que a doutrina de uma vida santa e virtuosa, embora dirigida a todos em comum, ainda é peculiarmente ensinada àqueles a quem Deus favorece com a luz de seu evangelho. O homem, por si só, não pode alcançar a verdade de Deus. Mas Pedro declara que aqueles que novamente se tornam escravos das poluições do mundo se afastam do evangelho de uma vez por todas. Os fiéis também pecam; mas como eles não permitem o domínio do pecado sobre si, eles não se afastam da graça de Deus, nem renunciam à profissão de sã doutrina que uma vez adotaram. Os que permanecem no pecado não devem ser considerados salvos pela graça enquanto resistem arduamente à carne e às suas concupiscências” (João Calvino – Comentário de 2 Pedro 2.20-22).

Estes versos nos falam de homens que se submeteram à obediência a Cristo e, após isso, se precipitaram novamente em pecados sem medo ou vergonha. Agora note algo interessante: No verso 22 estes falsos crentes são comparados a “cães e porcos”. Isso nos lembra do que Jesus nos advertiu a respeito daqueles que são incapazes de receber o evangelho como pérolas, mas tratam-no como se fossem pedradas. Senão, vejamos:

“Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem” (Mateus 7.6).

O sentido aqui é que, quando identificamos esses “cães e porcos”, não devemos distribuir as pérolas do evangelho a eles, visto que eles não sabem diferenciar pérolas de pedradas. Com isso, cães e porcos, quando ouvem o evangelho da graça, se sentem ofendidos e voltam-se contra nós a fim de nos despedaçar.

Mas, voltando ao contexto de 2 Pedro 2.20-22, daqui resulta que nenhuma parte do pecado pode ser atribuída ao evangelho. Para esse propósito, Pedro cita dois provérbios antigos – sendo o primeiro deles o ditado de Salomão em Provérbios 26.11. Neste provérbio se diz: “Como o cão torna ao seu vômito, assim o tolo repete a sua estultícia”. Pedro, com base neste provérbio, prossegue em dizer que “o cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (vs 22). O que Pedro quis dizer é brevemente isso: que o evangelho é um remédio que nos purifica com alimentos saudáveis, mas que existem muitos cães que vomitam e engolem novamente o que vomitaram para sua própria ruína; e que o evangelho também é uma pia que limpa toda a nossa impureza, mas que existem muitos porcos que, imediatamente após a lavagem, se revolvem na lama. Estes indivíduos são claramente identificados aqui como réprobos, indignos e incapazes de ouvirem outra vez o evangelho (Tt 3.10-11). Ao mesmo tempo, os piedosos são lembrados a prestar atenção em si mesmos, exceto que desejem ser considerados cães ou porcos (Mt 7.6).

Sendo assim, a resposta é: Não, o verdadeiro crente não pode perder a salvação. A Palavra de Deus confirma a garantia da salvação:

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade; com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória” (Efésios 1.11-14).

– JP Padilha
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