O que significa ser entregue a Satanás - Parte 1 | JP Padilha


As instruções de Paulo em 1 Coríntios 5 para entregar a Satanás um irmão que está em pecado apresenta alguns desafios especiais àqueles que servem o Senhor e querem entender em que se implica entregar alguém a Satanás. O primeiro destes desafios é entender todo o contexto de 1 Coríntios 5.1-13 e de outras passagens que tratam do mesmo ato. Como será mostrado ao longo deste artigo, este ato trata-se de um ministério não somente da Igreja para disciplinar o crente que está em pecado, mas também de um ministério do próprio Deus para algum propósito santo, a fim de mostrar a verdadeira fé e devoção de um servo, ou para disciplinar, ou, em alguns casos, para castigar um filho que está em pecado. De qualquer forma, Deus sempre o faz para o bem do crente, de forma a disciplinar diretamente o Seu servo. Por ora, vamos ao verso 5 de 1 Coríntios 5. É aqui que começaremos nossa jornada sobre o que vem a significar o ato de entregar alguém a Satanás:

“Seja, este tal, entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Coríntios 5.5).

Aqui trata-se de disciplina na Igreja. Em 1 Coríntios 5 num todo, Paulo aborda um problema sério na igreja de Corinto: a tolerância com o pecado. Este capítulo é um chamado urgente à disciplina e pureza dentro da igreja. Paulo começa expondo um caso específico de imoralidade sexual que chocou até mesmo os pagãos (vs. 5). Ele não apenas condena a ação, mas também a passividade da igreja em lidar com a situação.

Nos versos 1-2, Paulo começa abordando um problema grave na igreja de Corinto: a tolerância com o pecado sexual. Ele menciona um caso de imoralidade entre os coríntios que até os pagãos condenariam. Um homem estava vivendo em pecado ao ter relações sexuais com a esposa de seu pai (adultério e incesto). Isso era algo inaceitável, não somente para os padrões cristãos, como até mesmo para a cultura pagã. Nem mesmo os pagãos, com todas as suas depravações sexuais, toleravam esse nível de desvio moral.

Paulo instrui a igreja a agir com firmeza, removendo (excomungando) o membro pecador da comunhão para proteger a santidade do Corpo de Cristo. Ele destaca a importância de JULGAR aqueles que estão dentro da Igreja, mantendo a pureza e a integridade entre os crentes. A metáfora do fermento ilustra como um pequeno pecado pode contaminar toda a comunidade.

Paulo está chocado, não apenas pelo pecado em si, mas pela falta de reação da igreja! Ao invés de lamentarem e tomarem medidas severas contra o pecador, eles se orgulhavam por serem tolerantes. A atitude dos coríntios revela uma falta de entendimento da gravidade do pecado e da necessidade de santidade dentro da igreja. A arrogância deles os cegou para a necessidade de disciplina e correção na congregação.

A resposta de Paulo é clara: a igreja deveria se entristecer e tomado a iniciativa de expulsar o pecador da igreja. Essa ação pode parecer severa, mas neste contexto trata-se de uma correção que, como será provado, levará o crente ao arrependimento. O julgamento é um ato de amor e preservação do Corpo de Cristo, além de ser também um ato de amor pelo próprio pecador. A Igreja, como um todo, tem a responsabilidade de manter a santidade e integridade entre seus membros.

Nos versos 3-5, Paulo continua tratando da questão do pecado na igreja de Corinto. Mesmo estando ausente fisicamente, Paulo declara que já julgou o caso. Ele o faz com a autoridade que Deus o outorgou como apóstolo. Este julgamento não é pessoal, mas espiritual, refletindo a seriedade com que devemos tratar o pecado em uma congregação cristã.

Paulo instrui a igreja a reunir-se em nome do Senhor Jesus (Mt 18.20) e, com o poder de Cristo, entregar o pecador a Satanás (vs. 5). Esta ação pode parecer dura, mas o objetivo é a salvação do espírito do pecador no dia do Senhor (NOTA: Geralmente o Dia do Senhor se refere à Sua Manifestação quando Ele vier em Sua Segunda Vinda para julgar as nações após a Tribulação para estabelecer quem entrará no Reino Milenar ou não, mas neste contexto o Dia do Senhor se trata do Arrebatamento, pois a Igreja não passará pela Tribulação. Ela será arrebatada antes da Tribulação, sete anos antes da Segunda Vinda de Cristo para julgar as nações. Devemos sempre nos lembrar que a Igreja não será julgada – não entrará em juízo algum – João 5.24).

A entrega a Satanás aqui implica remover o indivíduo da proteção e comunhão da igreja, expondo-o aos perigos de se andar com os mundanos fora do Corpo de Cristo e às consequências de seu pecado na esperança de que ele se arrependa. Como será provado mais à frente, o ato de entregar o pecador a Satanás para a destruição de seu corpo a fim de que seu espírito seja salvo (vs. 5) tem a ver com colocá-lo sob uma situação em que suas paixões carnais morrerão e, assim, seu espírito será salvo.

A disciplina visa restaurar, não destruir. É um ato de amor, buscando o bem-estar eterno do pecador. A ação firme da igreja também serve como um alerta para os demais membros sobre a seriedade do pecado e a importância da pureza na vida cristã. Quando a igreja toma medidas sólidas e severas contra o pecado, ela resguarda sua santidade e testemunho no mundo.

Portanto, aprendemos que a disciplina é necessária para a saúde espiritual da Igreja. Ela deve ser aplicada com amor e firmeza, sempre visando a restauração do pecador e a proteção de uma assembleia. Que possamos ser diligentes em manter a pureza nas congregações, confiando na sabedoria e autoridade de Deus em todas as nossas ações. Se alguém que está entre nós se mantém em pecado, este tal deve ser entregue a Satanás (colocado para fora da igreja – do nosso meio) para a destruição do corpo, para que o espírito deste seja salvo no dia do Senhor.

COMO É POSSÍVEL DESTRUIR A CARNE E SALVAR O ESPÍRITO? (1Co 5.5)

O problema é óbvio. A igreja de Corinto tinha a mente tão aberta e tolerante que não fazia nada para eliminar a imoralidade que tinha se infiltrado na congregação. O comportamento de um de seus irmãos era escandaloso, mas ninguém o tinha corrigido adequadamente. Este membro da igreja adulterou com sua própria mãe (a esposa de seu pai). Paulo explicou que tal impureza, deixada sem correção, destruiria uma comunidade inteira de santos. Ele então ordenou que expulsassem o pecador da congregação.

Mas a preservação da congregação não é a única meta ali. Este ato disciplinar é um ato de amor, buscando os melhores interesses do irmão rejeitado. O homem pecador estava tentando manter um pé na Igreja de Deus enquanto o outro estava no mundo. Seus irmãos não podiam forçá-lo a tirar o pé do mundo, mas podiam tirar seu outro pé do meio do povo de Deus. Assim, entregaram-no a Satanás com um propósito: “a destruição da carne” (vs. 5). Uma vez que ele se achasse só no mundo, o pecado não o satisfaria. Uma tradução melhor deste versículo seria “a destruição dos desejos carnais”. Ele, como “o filho pródigo”, poderia cair em si e voltar ao Senhor (cf. Lc 15.17-18; 2Tm 2.24-26). Deste modo, os outros cristãos poderiam ajudá-lo a destruir as paixões carnais que o estavam roubando da comunhão com Deus, para que pudesse ser perdoado e salvo (cf. Tg 5.19-20). 2 Coríntios 2.5-11 pode indicar que este homem de fato voltou ao Senhor. Isso mostra que ele provavelmente era um eleito de Deus – predestinado à salvação (Ef 1.3-14; 2.8-10). Daí a correção de Deus por meio da Igreja.

O segundo e maior desafio que este capítulo apresenta está na sua aplicação prática. Muitas igrejas preferem manter a “paz” ao invés de prezar pela santidade e continuam tolerando o pecado a fim de evitar o confronto com o pecador. Passagens como 1 Coríntios 5.1-13 e 2 Tessalonicenses 3.6-15 são mandamentos que Deus nos deu para nos separar de irmãos que andam em pecado dentro da congregação. Ou rejeitaremos aqueles que retornam ao pecado, ou seremos rejeitados por Deus pela nossa desobediência. Tenhamos coragem, intrepidez, amor e fé para fazer o que o Senhor exige para preservar a pureza de Seu povo.

HIMENEU E ALEXANDRE

1 Timóteo 1.18-20 “Esta é a admoestação que faço a você, meu filho Timóteo, segundo as profecias que anteriormente foram feitas a seu respeito: que, firmado nelas, você combata o bom combate, mantendo a fé e a boa consciência, porque alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé. Entre esses estão Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás para serem castigados, a fim de que aprendam a não blasfemar.

O que significa ser entregue a Satanás? Mais uma vez, aqui o texto se assemelha a 1 Coríntios 5, quando um ou mais membros da congregação precisam ser disciplinados. Em 1 Coríntios 5 o cristão que foi entregue a Satanás havia adulterado com a própria mãe. Aqui, em 1 Timóteo 1.18-20, temos os nomes dos que estavam blasfemando contra o santo nome de Deus – Himeneu e Alexandre. E eles são entregues a Satanás para serem castigados.

Ao entendermos o significado do versículo 20, devemos entender um contexto maior de ser entregue a Satanás e, então, todo o resto fará sentido.

A frase é assustadora: "entregue a Satanás”. É uma ideia inconcebível às mentes mundanas o fato de que alguém pode ser entregue ao próprio diabo, mas é exatamente isso o que a Bíblia diz. Foi exatamente o que Paulo fez com estes dois homens, e é exatamente o que ele está convidando Timóteo a fazer também a outros que são dignos de tal destino. É uma parte do ministério da Igreja, assim como é um ministério do próprio Deus entregar as pessoas a Satanás, como será mostrado aqui.

A palavra “entregar,” no versículo 20, paradidōmi, significa ceder, soltar ou entregar. Mas a melhor tradução para obter o sentido aqui é “abandonar”. A ideia aqui é remover a proteção e abandonar alguém a Satanás. Encontramos esta mesma palavra em Atos 15.26, onde a versão Revista e Atualizada traduz como "exposto”. Estar abandonado nas mãos de Satanás é uma situação que pretende transmitir a ideia de estar exposto a um grande perigo, ficar sem qualquer isolamento, proteção ou abrigo e ser entregue totalmente ao diabo.

Como vimos, Paulo fez isso na igreja de Éfeso e convida Timóteo a continuar o mesmo tipo de trabalho. Portanto, é uma obra de grande importância e é uma obra de Deus. Um paralelo a esta passagem é o texto de 1 Coríntios 5, do qual já falamos no início deste artigo e que fala de um homem que é culpado de uma forma de incesto na igreja, e o versículo 5 fala dessa pessoa que vive com a esposa de seu pai em um relacionamento de fornicação. Como já fora dito, Paulo exorta a igreja de Corinto a "que esse tal seja entregue a Satanás para a destruição da carne" (vs. 5).

Essas duas passagens – 1 Coríntios 5.5 e 1 Timóteo 1.20 – são os dois lugares no Novo Testamento onde temos a ideia de abandonar alguém a Satanás explicitamente declarada desta maneira.

Agora, preste muita atenção ao que irei dizer, pois é essencial que entendamos isso. Existem pessoas que andam por aí dizendo que não há condições sob as quais algum cristão poderia estar sujeito a Satanás. Eu ouço isso de pessoas carismáticas continuamente, em especial no movimento pentecostal, e não é isso que as Escrituras ensinam. As Escrituras ensinam claramente que não apenas é uma possibilidade ser entregue a Satanás, mas também é um ministério da Igreja fazer isso. Há momentos, lugares e circunstâncias, sob o plano de Deus, em que as pessoas devem ser definitivamente entregues a Satanás, e há momentos e ocasiões em que o próprio Deus faz exatamente isso.

Ser entregue a Satanás, nessas duas referências que mencionei, possui o sentido de ser expulso da igreja – de ser desassociado – ou, na antiga terminologia, excomungado. Nessas duas passagens, o ato de entregar alguém a Satanás tem o sentido de excluir um membro de qualquer associação com os santos de Deus e da mesa do Senhor. Seria, nos termos de Mateus 18, pegar alguém que, pelo pecado contínuo, fosse expulso da igreja e tratá-lo como um incrédulo. Neste sentido, quando este alguém fosse entregue a Satanás significa que, antes disso, ele não estava totalmente em seu poder; não poderia haver uma mudança; não haveria comprometimento nem abandono a Satanás se ele já estivesse em seu poder. Este alguém estaria com um pé na Igreja e outro no mundo. É, portanto, necessário que ele esteja sob a disciplina governamental de Deus por meio da exposição total a Satanás.

Veja bem, 1 João 5.19 diz: “O mundo inteiro jaz no maligno”. O mundo já está em suas mãos. O mundo já lhe foi entregue por causa do pecado. A instrução para a igreja de entregar alguém a Satanás significa que alguém não está naquele momento totalmente sob o controle de Satanás. Portanto, devemos falar sobre pessoas que, de uma maneira ou de outra, estão sob a égide da proteção oferecida pela Igreja, e existe na Igreja o isolamento e a proteção, o cuidado, o amor e a bênção de Deus. Assim, estamos falando aqui sobre pessoas que estão sob os cuidados da congregação – dentro da comunidade de pessoas redimidas –, sob a proteção de Deus, que recebem uma parte do derramamento de Suas bênçãos, e que, em algum momento, são colocadas fora dessa proteção e deixadas totalmente expostas a Satanás.

Isso pode ser verdade para crentes ou incrédulos. Alguém poderá perguntar: "Como assim?" A resposta é que há incrédulos na Igreja, assim como havia incrédulos na comunidade dos remidos em Israel que, em virtude de sua associação com o povo de Deus, estavam, portanto, sob certa quantidade de proteção, e, em virtude de um efeito de respingo, pessoas que estão ao redor daqueles que estão recebendo as chuvas de bênçãos de Deus também vão se molhar, e então Deus deu até aos incrédulos, em virtude de sua proximidade ou de seu envolvimento com a comunidade redimida, uma certa proteção, uma certa quantidade de bênção. Isso não significa que toda pessoa que professa ser cristã está salva. Maior parte das pessoas que saem do nosso meio é porque nunca foram crentes e não voltarão para a Igreja porque, na verdade, não eram dos nossos. “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 João 2.19). Todavia, há aqueles que, tratando-se do contexto aqui apresentado, quando entregues a Satanás para serem disciplinados ou castigados, voltam a caminhar com o Senhor.

A IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO E PROTEÇÃO DA IGREJA

Mas, vejamos algumas ilustrações de pessoas incrédulas que, em virtude de estarem envolvidas ou próximas ao povo de Deus, recebem uma certa medida de proteção, acolhimento e bênçãos do Senhor. A primeira está em Gênesis 18. Aqui veremos algumas coisas surpreendentes ao examinarmos isso. Em Gênesis 18, Deus havia dito que iria destruir a cidade de Sodoma, uma cidade cheia de maldade, uma cidade miserável conhecida por sua descarada homossexualidade violenta e, no versículo 26, o Senhor diz em sua conversa com Abraão: "Se eu encontrar em Sodoma cinquenta justos dentro da cidade, pouparei todo o lugar por causa deles”. Isso não é incrível? Você tem uma cidade inteira, cujo pecado subiu às narinas de Deus. Um mal grave! Uma cidade inteira que merece que a ira de Deus seja derramada sobre ela, e o Senhor diz: “Se eu puder encontrar 50 pessoas justas, pouparei a cidade inteira”. Agora, esse é o isolamento que chega aos que não merecem, simplesmente por causa de sua proximidade com os justos.

Então, no verso 28, Abraão diz: "Que tal 45?" E o Senhor diz: “Tudo bem, se eu puder encontrar 45, não a destruirei”. Abraão está se remoendo neste momento e, então, ele diz: "Que tal 40?" O Senhor diz: "Ok! Não farei isso pelo bem dos 40”. Abraão vai mais longe: "Suponha 30?" E o Senhor responde: "Não farei isso por 30". Então nós partimos para o verso 32 e Abraão simplesmente diz: "Que tal 10?" E o Senhor diz: "Suponha que haverá dez justos”. Abraão diz que o Senhor disse: "Não a destruirei por dez". Ou seja, Deus concedeu a Abraão a chance de encontrar 10 justos em Sodoma para não destruir a cidade inteira por causa da depravação daquele povo. Incrível! Ele havia dito 50, mas Abraão o convenceu de considerar 10 justos para evitar que uma cidade inundada de depravação fosse consumida pela ira de Deus. Uma cidade inteira de milhares e milhares de pessoas seria poupada por causa do desejo de Deus de ser misericordioso com dez pessoas que pertencem a Ele. A propósito, não havia dez, e Deus destruiu a cidade.

Mas o ponto aqui é o seguinte: a proximidade e o envolvimento com o povo redimido de Deus atuam como proteção e isolamento até para os incrédulos, e isso pode ser visto na história de Israel. Havia na nação de Israel muitos judeus incrédulos. Muitos, nas palavras de Paulo, judeus que não eram judeus verdadeiros, mas eram judeus por nacionalidade apenas, não por fé, e ainda assim todas as abundantes bênçãos de Deus a esta nação foram consumadas e ainda serão no futuro, dando-lhes a terra prometida com todas as suas riquezas, derramando a maravilhosa bênção do sistema de sacrifício cerimonial e do sacerdócio, toda a proteção e cuidado de Deus e a derrota de seus inimigos. Era uma bênção para o judeu secular naquela nação, tanto quanto em certo sentido ao judeu religioso, pois isso agia como proteção e isolamento para os incrédulos também.

O mesmo ocorre na Igreja. A Igreja tem incrédulos nela que, em virtude de estarem visivelmente na Igreja professa (não necessariamente no Corpo de Cristo ainda), participando e se associando, são, portanto, os que recebem certa porção de bênção que o Senhor derrama em sua Igreja em um sentido secundário (ainda que a graça de Deus não esteja derramada sobre os incrédulos). Uma ilustração perfeita disso está em 1 Coríntios 7, onde isso é significativamente esclarecido. Paulo está discutindo sobre o casamento e a questão de saber se um parceiro crente deve permanecer com um parceiro incrédulo após se casarem. A conclusão é óbvia, pois não há brechas para divórcio nem para casamento entre divorciados: Se você é uma esposa cristã, deve ficar com o marido não cristão; se você é um marido cristão, deve permanecer com a esposa não cristã e, no versículo 14, Paulo responde à pergunta se deve ou não permanecer no casamento misto, dizendo: "O marido incrédulo é santificado pela esposa; a esposa incrédula é santificada pelo marido”, e continua dizendo: “Os seus filhos eram impuros, mas agora eles também são santificados”.

Em outras palavras, um cônjuge e filhos incrédulos de uma família onde há um crente são todos beneficiários da bênção de Deus. O que isso significa é que existe novamente esse efeito de respingo; eles estão por perto quando as chuvas de bênçãos celestiais chegam e os molham. Portanto, o argumento que Paulo está defendendo é: Não dispense seu cônjuge não cristão por causa do benefício para ele ou ela só de estar ao seu redor quando Deus derramar sua graça, e mesmo os filhos são abençoados e muitas vezes levados à salvação.

Portanto, a ideia é a seguinte: que existe no abrigo do povo de Deus uma proteção contra toda a explosão dos desígnios malignos de Satanás, e que poderíamos concluir no Antigo Testamento que um judeu incrédulo na nação de Israel estava em melhor situação do que um judeu incrédulo fora da nação Israel, onde não havia promessa de proteção da aliança, e que podemos concluir na nova dispensação que um incrédulo associado à Igreja e envolvido com a Igreja está melhor do que um incrédulo lá fora, sob a fúria total de Satanás e deitado nos braços do Iníquo, simplesmente em virtude do fato de que, como Deus é bom para com os Seus, aqueles que estão próximos dos Seus se beneficiarão de alguma maneira com essa bondade, e isso explica por que existem pessoas que querem andar pela Igreja, mesmo que não desejem receber o Cristo, que é a cabeça da Igreja.

Agora, é importante notar que alguém ser entregue a Satanás significa que ele é afastado do isolamento e proteção dessa comunidade de crentes e entregue completamente a Satanás. Deus retira toda a Sua mão de proteção que ele, em algum grau, tenha desfrutado.

ENTREGUES A SATANÁS

Existem outros contextos em que vários personagens bíblicos foram entregues a Satanás, não somente pela Igreja, mas pelo próprio Deus e para outros fins. Porém, no fim das contas, o objetivo é sempre disciplinar o crente! Na minha busca pelo estudo sobre o tema, fiquei impressionado com o significado desta frase: “entregue a Satanás”.

Estas passagens bíblicas nos levarão a uma reflexão ampla a respeito do tema. É muito importante e profundo o que descobriremos a partir daqui! Estes versos nos levarão a um entendimento maior sobre o que o Senhor nos ensina sobre “entregar alguém a Satanás”.

Voltemos ao Antigo Testamento. Assim como no Novo Testamento, Deus – por Seus próprios motivos, pessoalmente –, tira pessoas de sob a proteção da comunidade de crentes e as coloca sob o controle de Satanás. O próprio Deus fez isso e eu quero que o leitor veja isso a partir de várias ilustrações bíblicas.



Vamos para o livro de Jó. É aqui que começamos. No capítulo 1 de Jó, somos apresentados a esse homem que era perfeito e reto, temia a Deus e evitava o mal. O texto o descreve como um homem que tinha 10 filhos, 7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 500 juntas de bois, 500 jumentas, uma grande casa, etc. Este homem era o maior de todos os homens do Oriente. Seus filhos iam e se deleitavam em suas casas, todos os dias, e enviavam e pediam que suas três irmãs comessem e bebessem com eles; e quando os dias de suas festas terminavam, Jó os enviava e os santificava, levantava-se bem cedo de manhã e oferecia holocaustos de acordo com o número de todos, pois Jó dizia: "Pode ser que meus filhos tenham pecado e amaldiçoado Deus em seus corações”. Jó assim fazia continuamente. Este homem era tão consciente espiritualmente que ele não apenas mantinha seu coração diante de Deus, mas oferecia sacrifícios por seus filhos apenas com a suposição de que eles poderiam ter pensado algo em seus corações que estava errado, e ele queria ter certeza de que o pecado fosse coberto. Esse é um homem bom, o melhor dos homens, bem como o homem mais próspero do Oriente.

No verso 6 há um dia em que os “filhos de Deus” (esses filhos de Deus se referem aos anjos caídos) vieram se apresentar diante do Senhor. Bom, não sabemos que dia era, não sabemos qual foi a ocasião e não sabemos quais foram as circunstâncias. O que sabemos é que os seres angélicos caídos vieram diante do Senhor e Satanás veio com eles, sendo ele aquele que se rebelou primeiro, Satanás. Ele veio e o Senhor disse: "Satanás, de onde você vem?" E Satanás respondeu ao Senhor e disse: “De um lado para o outro na terra e de andar para cima e para baixo nela” (vs. 7) – o que nos diz onde ele passa seu tempo. “E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal” (vs. 8 ). “Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura teme Jó a Deus debalde? Porventura tu não cercaste de sebe, a ele, e a sua casa, e a tudo quanto tem? A obra de suas mãos abençoaste e o seu gado se tem aumentado na terra. Mas estende a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não blasfema contra ti na tua face (vs. 9-11). “E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do Senhor” (vs. 12).

Veja bem, Satanás está sempre querendo diminuir a obra de Deus, sempre querendo destruir a obra de Deus, sempre querendo mostrar-se a Deus, e tenho certeza que ele estava lá para fazer alguma acusação contra Deus diante de todo o resto dos seres angelicais que estavam lá. Ele queria fazer Deus parecer ruim. Esse é o seu desejo, e, então, Deus diz: "Você já olhou para meu servo Jó e que homem bom ele é?" E Satanás respondeu ao Senhor e disse: "Jó teme a Deus por nada? Você acha que ele ama, confia e acredita no Senhor do jeito que ele faz por nada? O Senhor acha que ele faz isso só porque está em seu coração fazer isso? O Senhor fez uma cerca ao redor dele, da casa dele e de tudo o que ele tem de todos os lados, e abençoou o trabalho de suas mãos, e sua substância aumentou na terra. Por que acha que ele o adora? Porque ele é um pragmático. Ele sabe quem está entregando a mercadoria. É simples, ele sabe como abrir a comporta. Ele faz as coisas pelo Senhor e o Senhor descarrega nele todas as bênçãos. É claro que ele é bom, mas não é por nada”. “Estenda a Sua mão agora”, diz Satanás no versículo 11, “toque tudo o que ele tem, e ele amaldiçoará a Ti e Tua face!” "Tire as coisas dele e ele amaldiçoará Tua face".

E o Senhor disse a Satanás – faça isto: "Eis que tudo o que ele tem está em seu poder"! Sublinhe isso. "Eis que tudo o que ele tem está em seu poder"!

Deus entregou Jó a Satanás, sem sombra de dúvidas! Repito: Deus entregou Jó a Satanás! Esse foi um ato divino pela soberania de Deus. Mas Deus foi enfático: "Apenas sobre ele mesmo, não coloque sua mão", ou, "Você pode fazer o que quiser com as coisas dele, mas não toque nele", ou, ainda, em outras traduções, “Toque em tudo que ele tem, porém não encoste nele”. E Satanás saiu da presença do Senhor. Deus o entregou a Satanás.

“E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito, que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles; e deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova. Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova. Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova. Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, eis que um grande vento sobreveio do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova” (Jó 1.13-19).

Satanás fez várias coisas. Ele entrou e infundiu ódio nos sabeus. Eles vieram e exterminaram alguns dos animais de Jó. Satanás levou algumas pessoas a iniciar um incêndio, queimou todas as suas colheitas e todas as suas ovelhas. Os caldeus vieram. Satanás motivou os caldeus. Veja bem, Satanás se move sobre todos os tipos de agências humanas. Os caldeus subiram sobre os camelos e os levaram embora, mataram os servos de Jó com a ponta da espada – e Jó perdeu tudo.

Agora veja os versos 18-19: “Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova”.

Satanás simplesmente acabou com tudo o que ele tinha, com todas as suas colheitas, todos os seus animais, todos os seus filhos, e então nos deparamos com a reação de Jó diante de tudo que perdeu, nos versos de 20-22: “Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma”.

Jó rasgou seu manto, raspou a cabeça, caiu no chão e amaldiçoou a Deus. É isso que o texto diz? Caiu no chão e o quê? Amaldiçoou a Deus? NÃO. Ele adorou a Deus e disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu retornarei para lá. O Senhor deu e o Senhor tomou. Bendito seja o nome do Senhor!”. Ouça esta frase! O quê? “Bendito seja o nome do Senhor!”

E em tudo isso, Jó não pecou, nem acusou a Deus com algum tipo de loucura. O leitor poderá perguntar: "Qual é a questão?" A questão é a seguinte: Deus fez questão de apontar para o diabo e a todas as pessoas que já leram esse relato que a questão é a seguinte: que a verdadeira fé salvadora não depende de circunstâncias positivas. Esse é o ponto. Que ponto? Veja, o diabo pensou: "Bem, essas pessoas seguem o Senhor porque o Senhor lhes dá todas as coisas”. E o que nosso Senhor está dizendo é isto: "Vou lhe dizer o seguinte: quando redimo uma vida e quando transformo uma vida, quando uma alma é convertida e quando um homem realmente me ama, esse amor não se baseia nas circunstâncias". E, de certo modo, Jó é quase supérfluo ao ponto aqui. Deus está discutindo com Satanás, e para defender seu argumento Ele usa Jó, e o objetivo é mostrar a força, a continuidade e o caráter inabalável da verdadeira fé salvadora de Jó – do verdadeiro amor a Deus. Estupendo!

Ouço o tempo todo, sobre o livro de Jó, que Jó nos ensina a lidar com o sofrimento. O objetivo de Jó é mostrar o caráter de um homem piedoso, e o caráter de um homem piedoso é que ele ama a Deus e adora a Deus não por causa do que Deus fez ao lhe dar coisas, mas por causa de uma pura devoção somente. Ele confiava em Deus.

Mas Satanás voltou. Em outro momento houve uma segunda reunião no capítulo 2, e Satanás passa pela mesma conversa com Deus:

“E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para o consumir sem causa. Então Satanás respondeu ao Senhor, e disse: Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. Porém estende a tua mão, e toca-lhe nos ossos, e na carne, e verás se não blasfema contra ti na tua face! E disse o Senhor a Satanás: Eis que ele está na tua mão; porém guarda a sua vida. Então saiu Satanás da presença do Senhor, e feriu a Jó de úlceras malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. E Jó tomou um caco para se raspar com ele; e estava assentado no meio da cinza. Então sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre. Porém ele lhe disse: Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2.3-10).

Deus diz: "Você reparou no meu servo Jó?" E Satanás responde: "Deixe-me vê-lo novamente". E assim, no versículo 6, o Senhor disse a Satanás: “Você pode fazer com ele o que quiser. Desta vez, você pode atingi-lo, mas não pode matá-lo. Você pode fazer o que quiser com ele, porém, poupe a sua vida!” Satanás saiu da presença do Senhor e feriu Jó com úlceras malignas, desde a planta do pé até o alto da cabeça. Preste muita atenção nisso! Satanás tem o poder de trazer doenças. Satanás pode trazer doenças, e aqui está Jó com um pedaço de cerâmica quebrado, raspando as crostas e furúnculos enquanto se senta no monte de cinzas, e isso era um símbolo de seu luto e tristeza. E sua esposa, muito “prestativa” – que não era uma mulher de Provérbios 31 – aparece e diz: "Amaldiçoe a Deus e morra”! Obviamente ela está mandando Jó amaldiçoar a Deus e se matar (se suicidar). E ele diz a ela: "Você fala como uma doida! Temos recebido de Deus o bem! Por que não receberíamos também o mal?”. “Em tudo isso não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2.9-10).

Isso é incrível! Deus está defendendo um argumento monumental sobre a natureza da verdadeira salvação, sobre a natureza da verdadeira piedade, sobre a natureza de um coração realmente reto. A pessoa que realmente ama a Deus não é a pessoa que ama a Deus por causa do que recebe, mas é uma pessoa que ama a Deus por causa de quem Ele é. Essa é a questão. E alguém poderá dizer: "Bem, não foi muito justo fazer de Jó a ilustração apenas para defender um argumento!” O quê? Como é? Você precisa enxergar além da vida de um indivíduo o fato de que Deus estava defendendo um argumento para toda a eternidade. Ele tem o direito soberano de fazer isso. Estamos falando de um Deus que nos ensina que o verdadeiro crente não ama a Deus pelo o que Ele dá, mas pelo que Ele é. Estamos falando de um homem que tem os olhos fitos na eternidade, não nas coisas desta vida!

Bem, sabemos como segue o resto da história. Ele tem um monte de amigos bem-intencionados que vêm e dizem a ele um amontoado de bobagens, do capítulo 4 ao capítulo 37. São 33 ou 34 capítulos de conversas evasivas. No meio de tudo isso, Jó está depressivo e com o coração partido. Os capítulos 3-10 descrevem a tristeza de Jó, e ele está realmente sofrendo. Ele está com dor, não somente no corpo, mas na alma. ”Oh! se a minha mágoa retamente se pesasse, e a minha miséria juntamente se pusesse numa balança!” (Jó 6.2). Jó não somente ficou doente e deprimido, como chegou ao ápice do desespero e desejou a morte. Sua alma ansiava pela morte (cf. Jó 7.11-16; 16.20; 19.18-19).

No capítulo 10, ele diz: “A minha alma está cansada da vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma. Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo” (Jó 10.1-2).

Em outras palavras, Jó está dizendo: “Mostre-me por que o Senhor está lutando comigo. O que o Senhor está fazendo comigo? Eu só quero saber o que está acontecendo! Não consigo entender isso. Não consigo explicar! Perdi minhas plantações, meus animais, meus filhos, minha casa! Eu perdi minha saúde! Tudo o que me resta é uma esposa que eu realmente gostaria de trocar por algumas das outras coisas que perdi – e em tudo isso, não faço ideia do porquê isso está acontecendo”. “Por que o Senhor está fazendo isso?”

Ninguém responde. Os céus estão abobadados. Eles estão absolutamente silenciosos, e, no vácuo do silêncio de Deus vêm todas essas outras pessoas com suas respostas erradas. Finalmente – maravilhosamente – no capítulo 38, o Senhor se manifesta a Jó: “o SENHOR respondeu a Jó de um redemoinho, dizendo: Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento?” (Jó 38.1-2). Você sabe o que o Senhor disse a respeito do que estava acontecendo? NADA! Ele não respondeu a Jó dizendo: “Bem, veja, Jó, quero lhe contar sobre isso. Agora você saberá por que estou fazendo isso!” Não. O Senhor não explicou nada a Jó sobre o que estava acontecendo nos lugares celestiais – especificamente no Céu. Jó não sabia disso até ler este livro mais tarde, o que provavelmente nunca fez. Ele não sabia e provavelmente nunca soube. Ele não sabia o que estava acontecendo nos capítulos 1 e 2. Isso aconteceu no Céu – ele não fazia ideia do que estava acontecendo.

E quando o Senhor vem, o Senhor não diz a ele. O Senhor apenas diz, com efeito: “Agora, aperte o cinto, que Eu lhe perguntarei e você me responderá! Por que você está fazendo esses tipos de perguntas? Onde você estava quando eu fiz o mundo? Onde você estava quando eu lancei os fundamentos da terra? Onde você estava quando eu criei montanhas e mares? Onde você estava quando as estrelas da manhã e os anjos cantaram juntos e todos os ‘filhos de Deus’ (anjos) gritaram de alegria pela criação? O que você sabe sobre a terra? O que você sabe sobre a morte?” (cf. Jó 38).

Em outras palavras, o que Deus está dizendo é: "Farei exatamente o que quero e quem é você para me questionar?" E Deus apenas revela a Si mesmo, Sua onipotência, Seu caráter.

Finalmente, Jó entende a mensagem e diz o seguinte no capítulo 42 – “Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido... Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia. Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos. Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.2-6).

Você sabe o que ele diz? “Deus, eu entendo! O Senhor é Deus; o Senhor pode todas as coisas e nenhum de seus planos pode ser frustrado! Quem sou eu para falar daquilo que não entendo? O que pretendo com meus vãos pensamentos? Falei sem entendimento! O Senhor é soberano, pode fazer qualquer coisa, o Senhor sabe tudo e tem todos os privilégios. O Senhor continua no Seu trono! Eu sou um tolo por abrir minha boca. Peço perdão. Eu tenho falado sobre coisas muito além do meu entendimento; coisas das quais não sabia... coisas muito incríveis e maravilhosas para eu entender. Então me ouça, Senhor, me ouça, e é isso que eu quero que o Senhor ouça: Eu tinha ouvido falar sobre o Senhor com a audição do meu ouvido, mas agora meus olhos lhe vêem”!

Mas o que é que ele quis dizer com isso? – “Eu te conhecia apenas de ouvir falar, mas agora meus olhos te vêem!”(?) O que Jó está dizendo é: “Eu conhecia o Senhor apenas pelo que ouvi falar; mas agora eu o conheço por experiência pessoal. Eu vi o Senhor em ação, e me odeio, e me arrependo no pó e nas cinzas”.

Este homem querido mostrou sua piedade. Ele tinha a resposta certa. “Oh, Deus”, ele disse, “o pecado em tudo isso é meu pecado, por não reconhecer seu direito soberano de dar e tirar. O que eu disse no começo é verdade – ‘o Senhor deu, o Senhor tira, bendito seja o nome do Senhor’. Quem eu era para questionar? O Senhor tinha todo o direito de fazer o que fez”.

Entendamos que o objetivo de todo este livro é mostrar o caráter da verdadeira piedade; é mostrar a realidade inquebrável de uma alma redimida que sob nenhuma pressão abandonará seu Deus, e sob nenhuma pressão negará seu Deus; sob a perda de tudo, ela permanece verdadeira. Enquanto eu estudava para escrever este artigo, entendi que meu caso é 99% espiritual. Sofro de depressões, ansiedades, tormentos e angústias inescrutáveis há mais de 10 anos e sempre perguntando a Deus o porquê de tanto sofrimento, a ponto de afetar minha família. Eu fiquei tão confuso quanto Jó. Eu realmente pude entender, sob a base dessas Escrituras, que algo tem ocorrido no Céu a meu respeito. Passei por tantos médicos e medicamentos por anos e agora os meus olhos vêem que os homens e os remédios não resolverão nada.

No livro de Jó aprendemos que o sofrimento demonstra o caráter da verdadeira conversão e do verdadeiro amor por Deus, e o sofrimento levou Jó, de um entendimento limitado de Deus, a um entendimento ainda maior de Deus. E, é claro, Deus derramou bênçãos sobre ele. O sofrimento de Jó não durou para sempre. A partir do versículo 7, devolveu-lhe mais do que tinha antes (o dobro). Deus o abençoou com tremenda abundância, e ele morreu, mas não até que estivesse velho e cheio de dias, diz o versículo 17. Ele teve as filhas mais bonitas da história da humanidade (tente imaginar isso). Deus deu a ele os filhos mais bonitos que já houveram ou há de haver (já imaginou?). Deus deu a ele as melhores colheitas. Sim, chega um momento em que Deus recompensará a pessoa fiel. Mas, por um tempo – anote isto – o Senhor, em Seu propósito soberano, pode optar por entregar um dos Seus a Satanás para Seus próprios propósitos, para nada mais senão demonstrar a um mundo observador a força e o caráter da genuína conversão; para que o mundo veja pessoas que amam a Deus não pelo que Ele dá, mas por quem Ele é. E nossa Teologia fraca, insípida e superficial de hoje é ignorante quanto a isso. Jó foi usado por Deus para provar o caráter do verdadeiro amor a Deus; a verdadeira devoção a Deus. Que revelação maravilhosa temos aqui!

E não foi sem grande benefício para ele, pois ele aprendeu sobre a soberania de Deus e aprendeu a ter um amor mais profundo a Deus. Ele encontrou em si mesmo alguns pecados que não sabia que tinha e entendeu a necessidade de se submeter ao governo divino, não importando o que isso envolvesse. Um verdadeiro crente, então, pode ser entregue a Satanás para trazer maior glória a Deus. Mas Satanás tem limites para o que ele pode fazer, ok? Primeiro, Deus disse a ele: “Você não pode tocá-lo”. Na segunda vez, Ele disse: "Você pode tocá-lo, mas não pode" o quê? "Você não pode matá-lo”! Guarde bem isso: Sempre há uma restrição, mesmo quando alguém é entregue a Satanás.

Não fiquemos surpresos se dentro da Igreja de Cristo existem alguns que, incapazes de encontrar qualquer motivo, acabam em uma situação em que parece que Deus removeu totalmente Sua mão de proteção e bênção sobre eles, e eles estão na mesma confusão interrogativa de um Jó. Eles não conseguem entender por que isso está acontecendo, não podem explicar humanamente por que isso aconteceu, e a resposta está em algum lugar na esfera espiritual, nos lugares celestiais, que pode ou não ser conhecida por nós. Mas Deus tem seus santos propósitos, e em sua graça virá uma restauração e um tempo de grandes bênçãos.

A diferença entre um verdadeiro crente que é entregue a Satanás e um falso crente é que o falso crente não ficará incomodado com isso. Ele amará o mundo e as coisas do mundo, e permanecerá lá, no mundo. Ele não voltará mais. Já o crente... ele questionará. Ele se confundirá... e ele começará a buscar por respostas do porquê Deus o está confrontando ou permitindo certos tormentos em sua vida... e ele retornará para o rebanho de Cristo.

JESUS CRISTO

Agora eu gostaria de externar outro exemplo de alguém que foi entregue a Satanás pelo próprio Deus, e desta vez é alguém que é ainda mais reto do que Jó, alguém que é ainda mais perfeito que Jó, que foi total, absoluta e totalmente sem pecado – o Senhor Jesus Cristo. É realmente surpreendente o que aprenderemos aqui.

Mateus 4.1“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”.

Marcos 1.12 diz que Ele foi impelido pelo Espírito. Para que finalidade? Observe: Com o objetivo de ser tentado – ou provado – pelo diabo.

Agora preste atenção. Deus não apenas entregou Jó ao diabo, mas também entregou Cristo a ele. É exatamente o que o texto diz. Ele entregou Cristo a Satanás. Da mesma forma que Deus colocou Jó nas mãos de Satanás e provou o caráter da verdadeira salvação e provou o caráter de Jó, assim Deus colocou Seu próprio Filho amado nas mãos de Satanás para provar Seu caráter e mostrar que Ele não iria cair nas garras das tentações, nem vacilar, em nenhum nível ou aspecto. Cristo permaneceria verdadeiro como o Deus-homem perfeito. E você notará, no versículo 2, que essa tentação durou 40 dias e 40 noites. Acredito que a tentação não só veio no final, mas que, se comparados todos os registros do evangelho, descobriremos que houve tentação em todos esses momentos.

Um jejum de 40 dias e 40 noites é uma experiência tremendamente enfraquecedora. Jesus está em um ponto altamente vulnerável e, no final desses 40 dias e 40 noites, houve um grande ponto culminante com essa tentação, mas isso não significa que a tentação não tenha vindo do começo dos 40 dias e 40 noites até o fim. Acredito que Ele foi tentado durante todo o tempo em que esteve no deserto e acredito em cada tentação detalhada nos versos que descrevem esse evento. No fim desses 40 dias e 40 noites, houve uma grande tentação culminante. Foi um momento de grande fraqueza física e mental, quando Ele já estava todo esse tempo sem comer nem beber. Foi também um momento de grande solidão.

Certa vez eu li uma frase de um puritano que disse que Satanás é um pirata que procura encontrar um navio que navega sem frota. E Satanás é um pirata que procura encontrar um navio que navega sem frota. Ele quer encontrar um crente isolado e sozinho, sem a proteção de outros, e aqui está Cristo sozinho por 40 dias e 40 noites (se você se encontra assim, saiba que não está sozinho nessa experiência), fraco, em um lugar estéril, no precipício, com vista para o Mar Morto, na parte de trás do platô de Jerusalém, e lá o diabo chega a Ele por desígnio de Deus, que o levou ali por seu Espírito e o tenta, e o tenta nas áreas onde Ele tinha direito.

Antes de tudo, Satanás o tenta quanto ao pão. E não era Ele o Filho de Deus, e não tinha o direito de comer, e não fez tudo o que foi feito? E se Ele fez pão para uma multidão, não poderia fazer para si mesmo? E então Satanás o tentou a se jogar do alto do Templo e, assim, ser aclamado como o Messias, e tomar o direito que era dEle. E não era dEle? E Satanás continua, e o tenta a tomar os reinos do mundo. Oras, e eles não eram Seus por promessa? O diabo o tentou nas áreas em que Cristo de fato tinha direito, mas Cristo resistiu a todas essas tentações, em meio à fraqueza e solidão.

O versículo 11 é o xeque-mate contra Satanás: “O diabo o deixou e os anjos vieram e ministraram a ele”.

Deus colocou Seu próprio Filho nas mãos de Satanás e depois o abençoou no final com uma ministração de anjos por ter passado nesta prova, assim como abençoou Jó por ter passado em sua prova. Sim, Deus, por Seu próprio desígnio soberano, pode optar por colocar um dos Seus – até o próprio Filho – nas mãos de Satanás para trazer a Si mesmo a maior glória.

APÓSTOLO PAULO

2 Coríntios 12.7-10“E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E [Deus] disse-me: ‘A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte”.

Paulo foi entregue nas mãos de Satanás. Nesta passagem a Bíblia nos mostra que Paulo tinha um “espinho na carne”. A Bíblia não diz com clareza o que era esse espinho. Porém, ao nos atentarmos ao contexto histórico e textual de 2 Coríntios percebemos que o espinho na carne de Paulo provavelmente era algum homem que atuava entre os coríntios – uma figura religiosa influente dentro da igreja de Corinto –, o qual se opunha ao ministério de Paulo, perturbando sua vida, desrespeitando-o, caluniando-o, estimulando a perseguição contra ele, desencorajando a igreja a ajudá-lo em suas necessidades e deixando-o muito abatido. Essa interpretação nos parece mais sensata porque explicaria o fato de que no verso 10 Paulo associa o espinho na carne a injúrias, necessidades, perseguições e angústias. Portanto, uma enfermidade na alma, como por exemplo a depressão, ou qualquer coisa que esteja mais associada aos males da alma, parece se encaixar melhor ao espinho na carne de Paulo. Não dá para ter certeza, mas é certo afirmar que o contexto da passagem nos dá essa pista.

Nos versos que antecedem essa passagem, Paulo diz: “Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar. De alguém assim me gloriarei eu, mas de mim mesmo não me gloriarei, senão nas minhas fraquezas. Porque, se quiser gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas deixo isto, para que ninguém cuide de mim mais do que em mim vê ou de mim ouve” (vs. 1-6).

Numa linguagem mais popular, Paulo está dizendo: "Não é conveniente nem adequado para mim a glória ou a vanglória – Não é certo me vangloriar”, diz ele. "Vou chegar a visões e revelações do Senhor". E ele teve muitas visões. Sabemos que Paulo viu Jesus Cristo ressuscitado dos mortos. Ele teve revelações extraordinárias. Referindo-se a si mesmo, ele diz: "Conheço um homem” (ele fala de forma indireta aqui porque, novamente, ele não quer se vangloriar), e esse homem, seja no corpo, não posso dizer, ou fora do corpo, também não sei dizer (ele realmente não pode defini-lo) que foi arrebatado ao terceiro céu” – isto é, a morada de Deus. “Ele foi arrebatado ao paraíso”, diz Paulo no versículo 4. No versículo 3 ele não sabe se estava dentro ou fora do corpo. Ele não conhece a dinâmica espiritual real do que aconteceu. Ele apenas sabe que estava lá. Ele ouviu palavras indizíveis que não são lícitas para qualquer homem pronunciar. “Mas eu não me gloriarei em alguém assim; eu mesmo não me gloriarei. A única coisa de que me gabarei é da minha enfermidade!”

Ou seja, houve uma grande tentação na vida de Paulo por causa de seus muitos sucessos, visões e revelações, o que poderia torná-lo muito arrogante. “Mas eu não vou fazer isso (me gabar). Eu desejo me gabar (vs. 6), mas não vou ser tolo. Eu teria dito a verdade em me gloriar, mas agora eu me retenho para que ninguém pense em mim acima daquilo em que me vê ser ou ouve de mim. Não quero que ninguém tenha uma opinião injusta ou exagerada de mim. Por isso não me gabo, mesmo tendo tido essas coisas”. E então olhamos para o verso 7 e Paulo basicamente diz o seguinte: “Eu tenho de confessar: não sou apenas eu quem estou me restringindo, a menos que eu deva ser exaltado acima da medida através da abundância das revelações”.

Em outras palavras, Paulo está dizendo: “O que me impede de me gabar é que me foi dado um espinho na carne” – e acredito que a implicação aqui é de que Deus trouxe isso. Deus permitiu isso. Deus permitiu que Satanás colocasse uma enfermidade em Paulo. Este é um homem piedoso, este é um homem santo, este é um homem reto, assim como Jó era um homem reto. Este é um homem que conhece a experiência cristã como talvez nenhum homem que já tenha vivido, além do próprio Deus-homem, tenha conhecido. Não estamos falando de um homem pecador. Ele lida com as áreas de sua vida diante de Deus. “Foi-me posto um espinho na carne”, diz este santo homem. Entendamos que o Senhor lhe colocou este peso e, no entanto, este peso é chamado no versículo 7 de “um espinho na carne, mensageiro de Satanás para me espancar, para que eu não seja exaltado acima da medida”.

Preste atenção! Eu acredito veementemente que este texto nos diz que o Senhor entregou Paulo a Satanás, pelo menos nesse aspecto. Ele deu a Satanás o direito de infligi-lo. Veja bem, não estou dizendo que Deus o afligiu, mas que é uma obra de Satanás com a permissão de Deus. Deus pretendia que Satanás pudesse fazer isso para manter Paulo fraco, para que ele fosse dependente. Homens com grandes dons precisam disso porque tendem a não ser dependentes. Deus enviou Paulo à arena de Satanás para ser golpeado. A palavra “Esbofetear” é usada em Mateus 26.67 na descrição de Jesus em julgamento quando o socavam. Este termo tem uma raiz da palavra que significa “os nós dos dedos”, e tem a ver com socos do punho que esmagam o tecido e o osso, e ele diz: “Eu tenho esse espinho na carne que enfia os nós dos dedos no meu corpo. É um mensageiro de Satanás”.

Mas alguém pode perguntar: “Deus poderia ter evitado isso?” Claro que sim. Mas Deus permitiu isso na vida de Paulo para que ele não ficasse orgulhoso, mas humilde. Paulo implorou a Deus três vezes, pedindo-lhe que este mensageiro de Satanás se afastasse dele (vs. 8 ). Ele rogou! Alguém dirá: “Bem, alguns carismáticos nos dirão que ele não tinha fé suficiente”. Não me venha com essa. Isso é estranho ao texto sagrado. "Bom, ele não reivindicou sua libertação!” Também não caio nessa. Porque o texto diz exatamente o que o Senhor nos revela aqui. Paulo exclamou: “Tira isso!!!” E o Senhor disse: “Não! A minha graça te basta, a minha força se aperfeiçoa nessa fraqueza. Não vou tirá-lo, porque é uma fraqueza suficiente para permitir que minha força se manifeste". Assim, Paulo diz: "De bom grado, alegremente me gabarei de minhas fraquezas” Por quê? "Porque o poder de Cristo repousa sobre mim. Tenho prazer em minhas fraquezas, reprovações, necessidades, perseguições, angústias por amor a Cristo, porque quando sou fraco, então sou” – o que? – "forte".

Deus permitiu que Satanás causasse um estrago na vida de Jó. Entregou-o a Satanás. Por que? para que Jó pudesse ser a prova viva do caráter de um homem piedoso, para que Jó pudesse aprender que Deus era soberano, para que Jó conhecesse a Deus mais intimamente e melhor do que jamais imaginara conhecê-lo, porque em suas lutas ele foi atraído a Deus de uma maneira que sua prosperidade nunca poderia fazê-lo. Então Deus entregou Jó a Satanás por razões maravilhosas e impediu que Satanás acabasse por destruir Jó.

Deus entregou Cristo a Satanás para provar sua pureza. Deus entregou Paulo a Satanás, pelo menos nesta área, para que Satanás pudesse ser o instrumento de Deus para manter Paulo humilde, para que ele soubesse onde estava sua força e, portanto, fosse um servo mais eficaz. Assim, o Senhor entrega Jó a Satanás para provar que ele é um homem piedoso. O Senhor entrega Paulo a Satanás para que Paulo seja um servo maior e mais eficaz e para que ele possa aprender a ser humilde e dependente de Deus.

APÓSTOLO PEDRO

Lucas 22.31-34“Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. E ele lhe disse: Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. Mas ele disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conheces”.

O Senhor disse: “Simão, Simão” – ele está falando com Pedro – "Simão, Simão” (vs. 31). Ele o está chamando por seu antigo nome porque vê características de seu antigo eu – pecado. Então, Ele escolhe o nome antigo para enfatizar a velha natureza que vê em seu comportamento, e diz duas vezes por causa de sua compaixão. “Simão, Simão” – é pathos. “Eis que Satanás vos reclamou”. E eu acredito que isso seja uma realidade para todo crente. Satanás adoraria andar por aí como um leão que ruge, devorar todo crente e mostrar a Deus e aos anjos. Penso que Satanás gostaria que os outros anjos se rebelassem. Satanás quer expressar sua opinião e, se ele pudesse apenas capturar os salvos, se ele pudesse fazê-los abandonar a salvação, e se ele pudesse engoli-los em seu próprio reino maligno, então ele poderia ter uma vitória sobre Deus; ele poderia dar um xeque-mate em Deus, pelo menos em um ponto. Mas ele não o pode fazer, pois os salvos jamais serão arrebatados das mãos de Cristo. Eles foram predestinados à salvação antes da fundação do mundo. Satanás tem poder para fazer muita coisa, mas não tem poder de tirar a salvação de um eleito de Deus.

Mas Satanás deseja ter você. Particularmente, Satanás desejou Pedro porque Pedro foi muito crucial para o desenvolvimento da Igreja. Ele foi o grande pregador que Deus usou nos anos da fundação da Igreja. Satanás quer você, e ele quer peneirar você como trigo. Em outras palavras, ele quer expô-lo ao vento. Ele quer que a sua personalidade se desintegre como o trigo quando é jogado no ar e simplesmente sopre o joio. Ele quer soprar sua confiança, sua utilidade, sua confiança em Deus, sua segurança e sua eficácia. Ele quer você.

O Senhor poderia ter evitado a tentação sobre Pedro naquele momento? É claro! O mesmo Senhor que amarrará Satanás por mil anos em um abismo no livro do Apocalipse certamente poderia tê-lo impedido aqui de tocar Pedro, mas Ele não o fez. Veja o versículo 32: “Orei por você para que sua fé não falhasse. Eu orei por você para que você não acabasse perdendo sua salvação” (Pedro jamais perderia a salvação, a menos que Cristo o deixasse). Assim como Ele fez com Pedro, você pode ir tão longe com Jó e não mais longe, você pode ir tão longe com Paulo e não mais longe, e você pode ir tão longe com Pedro e não mais longe. Você não terá o fracasso final de sua fé se você é um crente em Cristo.

No versículo 32 Cristo diz a Pedro: “Mas quando você se converter”, ou seja, “Eu vou deixar você ir para Satanás e, quando você voltar” – faça o quê? – “fortaleça os seus irmãos”.

Agora, o que Pedro iria aprender sendo liberado para Satanás? Aprender o quê? Fortalecer os outros, certo? Ele, sendo colocado nessa situação, poderia voltar e fortalecer os outros. No caso de Jó, Deus estava mostrando algo para Satanás, e Deus estava mostrando para todas as pessoas que lêem a Bíblia que um verdadeiro amante de Deus não abandonará esse amor e devoção, ainda que perca tudo. Uma grande e profunda lição! No caso de Paulo, Ele estava ensinando humildade e dependência. No caso de Pedro, Ele queria alguém que pudesse contar aos outros como era estar nas garras de Satanás. Quando você passa por isso e volta, então Deus o usa para fortalecer os outros.

Pode ser que o Senhor, em Sua soberania, pegue um crente que seja de alguma forma desobediente, pecador e orgulhoso, como Pedro era, e diga: “Tudo bem, Eu vou deixar você ir. Você acha que pode lidar com isso sozinho?” Pedro diz: “Embora irei abandoná-lo por algum momento, nunca o abandonarei; ficarei com você, morrerei com você, irei com você até o fim”. Então Jesus diz: "Tudo bem, se você se acha tão bom, Eu simplesmente testarei você”. E Jesus o deixa ir. Um cristão orgulhoso pode se descobrir sob a proteção de Deus, entregue a Satanás, e o que ele aprenderá é que ele não pode fazer isso sozinho, e por isso acredito que o Senhor literalmente entregou Pedro a Satanás para que, quando ele voltasse, fosse uma fonte de força para todo mundo. E Pedro volta no versículo 33: “Senhor, eu estou pronto para ir com você para a prisão e para a morte”. E, é claro, quando ele teve a chance, ele negou a Cristo três vezes, certo? E então, no versículo 62, ele saiu e chorou amargamente, e se arrependeu. Ele acertou seu coração com Deus.

A questão é a seguinte: As Escrituras indicam que pessoas que estão dentro da estrutura da comunidade de crentes, esteja você falando de 1 Coríntios 5.5 (o homem que adulterou com sua mãe), esteja você falando de 1 Timóteo 1.20 (Himeneu e Alexandre – que inclusive eram pastores na igreja), esteja você falando de personagens do Antigo Testamento, como Jó, esteja você falando sobre o próprio Jesus Cristo, esteja você falando sobre Paulo ou sobre Pedro, essas pessoas que pertencem ao reino do Senhor, de uma forma ou de outra, estão sob a proteção de Deus e de Seu reino, e podem, para os propósitos de Deus de instrução, correção e treinamento, como ilustração de grandes verdades, ser levadas ao domínio de Satanás, desprotegidas para o santo propósito e glória de Deus.

Alguns são entregues a Satanás para purificação, como Pedro. Alguns são entregues a Satanás para maior efetividade, como Paulo. Alguns, para provar a validade de sua fé, como Jó. Mas, em todos eles, o objetivo primário será sempre mostrar a glória de Deus, para louvor dAquele que opera o tipo de salvação que mantém um Jó, o tipo de poder que humilha um Paulo e restaura um Pedro, e então Deus recebe a glória em todas essas coisas.

Marque isto, amado leitor. As pessoas dentro da comunhão da Igreja, sejam elas crentes ou não, podem ser testadas para provar o que quer que Deus deseja que seja provado.

Na próxima parte deste artigo, veremos o que acontece aos incrédulos e a alguns crentes da Igreja que são expulsos, não para serem testados, fortalecidos e provados, mas para serem castigados e julgados – para castigo e julgamento – e essa é uma questão totalmente diferente, a qual nos levará de volta a 1 Timóteo 1.20. Também veremos exemplos de incrédulos que são entregues a Satanás para perdição eterna.

Pensamos em Jó, e somos lembrados de que ele esteve entregue a Satanás por anos e anos, longos anos, antes que pudesse ver a recuperação de tudo o que perdeu. Quando pensamos no Senhor Jesus Cristo, pensamos em alguém que foi entregue a Satanás por algumas semanas. Para o apóstolo Paulo, talvez alguns anos. Para Pedro, apenas um dia. Como verdadeiros filhos de Deus, entendemos que Deus tem Seus propósitos para cada ato divino, e para esses homens que mencionei aqui os propósitos eram para provar, refinar e fortalecer, tudo para satisfazer a glória de um Deus soberano, que não pergunta ao homem o que ele quer, mas faz tudo quanto lhe apraz. O Senhor usou Satanás para que Jó, Cristo, Paulo e Pedro fossem servos mais nobres do que eram, e, portanto, eu oro ao Senhor para que nós reconheçamos que, caso isso nos torne servos melhores, estamos dispostos a sofrer tudo o que o inimigo possa trazer, sabendo que ele não pode trazer nada que acabe com a nossa fé, pois somos mantidos na graça e poder de Deus. E se isso pode melhorar e enriquecer esse ministério ao qual somos chamados, então vamos sofrer o que quer que seja, e nos comprometer a manter nossa alma fiel a quem nos ama e se entregou por nós, Aquele que diz: “Nenhum homem, nem Satanás, nem ninguém, jamais arrancará minhas ovelhas da minha mão”. E assim, ó, Senhor, se for para fortalecer, refinar, humilhar, para maior utilidade, para provar a genuinidade de nossa fé ao mundo que nos assiste, faça em nossa vida o que é necessário para que o Senhor possa receber a glória que lhe é devida, e consideraremos isso um privilégio.

Enquanto finalizo esta primeira parte do artigo, sei que o Espírito de Deus sondou a mente de cada leitor, e você talvez esteja vendo coisas em sua própria vida de uma maneira que nunca as viu antes, assim como eu. Minha oração é que você entenda a Palavra de Deus e sua aplicação em seu coração. Oro também para que, se você não estiver em comunhão com o Senhor, possa se acertar com Ele, porque há também esse castigo. Há aqueles que estão sob o poder de Satanás porque o Senhor os está castigando, para purificá-los do pecado. Veremos isso na próxima parte do artigo (O que significa ser entregue a Satanás – Parte 2), mas mesmo no que vimos aqui, você pode ver isso permeando o contexto. Se você for colocado sob as mãos de Satanás por um tempo, em alguma área da vida, certifique-se de que seja para um propósito santo de maior utilidade para Deus e glória ao Seu nome, em vez de castigo ou julgamento.

Parte 2 neste link:
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2024/08/o-que-significa-ser-entregue-satanas.html


– JP Padilha
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