É POSSÍVEL UM CRISTÃO ENTRAR EM DEPRESSÃO? | JP Padilha


Sim. Qualquer pessoa pode entrar em depressão, tendo ou não conhecimento de Deus. Muitos santos de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, são vistos em momentos de profunda depressão e desespero. Jó não somente ficou deprimido, como chegou ao ápice do desespero e desejou a morte. Sua alma ansiava pela morte:

“Por isso não reprimirei a minha boca; falarei na angústia do meu espírito; queixar-me-ei na amargura da minha alma. Sou eu porventura o mar, ou a baleia, para que me ponhas uma guarda? Dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama; meu leito aliviará a minha ânsia; então me espantas com sonhos, e com visões me assombras; assim a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a vida. A minha vida abomino, pois não viveria para sempre; retira-te de mim; pois vaidade são os meus dias” (Jó 7.11-16).

Muita gente pensa que um cristão não pode entrar em depressão, ou que ele só entraria em depressão por falta de fé, ou se estivesse em pecado, ou longe da presença do Senhor. Mas isso é um mito. Contrariando este estereótipo fútil, a Bíblia nos mostra Paulo profundamente deprimido e sobremaneira ansioso em mais de uma ocasião, de modo tal que entrou em pânico:

“Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos (deprimidos), nos consolou com a vinda de Tito” (2 Coríntios 7.5-6 – grifo meu).

A palavra “abatidos” aparece traduzida em algumas versões como “deprimidos”. Portanto, ao dizer que Deus consola os deprimidos, Paulo estava falando de sua condição naquele momento. A pressão que sofria, tanto de seus perseguidores como das responsabilidades que tinha para com o povo de Deus chegava a limites humanamente intoleráveis em muitas ocasiões:

“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos(2 Coríntios 1.8).

Em situações assim, até o apóstolo Paulo, que geralmente é considerado um exemplo de cristão, precisava ser ajudado por seus irmãos quando o desânimo caía sobre si. Foi o que aconteceu ao chegar à Itália, profundamente desanimado com as coisas que lhe haviam ocorrido nos dias anteriores. Ele, que no navio, em meio à tempestade, serviu de ânimo aos passageiros e tripulantes (At 27.26), agora precisara ser animado por outros:

“E de lá, ouvindo os irmãos novas de nós, nos saíram ao encontro à Praça de Ápio e às Três Vendas, e Paulo, vendo-os, deu graças a Deus e tomou ânimo” (Atos 28.15 – grifo meu).

Agora preste atenção: E se pensarmos no que o Senhor Jesus sofreu nas horas que antecederam a cruz e também enquanto estava pregado nela antes de Sua morte, será que encontraremos alguém mais deprimido, mais desesperado da vida e mais desanimado? Diante dos horrores que haviam diante de Si, em Sua oração ele chegou a derramar gotas de sangue em seu suor e precisou ser confortado por um anjo:

“E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão (Lucas 22.43-44).

Veja como um salmista descreve os sentimentos do Senhor durante sua vida (muitos salmos são proféticos e revelam os sentimentos do Messias em sua peregrinação na terra) no Salmo 38.6-17:

“Estou encurvado, estou muito abatido, ando lamentando todo o dia. Porque as minhas ilhargas estão cheias de ardor, e não há coisa sã na minha carne. Estou fraco e mui quebrantado; tenho rugido pela inquietação do meu coração. Senhor, diante de ti está todo o meu desejo, e o meu gemido não te é oculto. O meu coração dá voltas, a minha força me falta; quanto à luz dos meus olhos, ela me deixou. Os meus amigos e os meus companheiros estão ao longe da minha chaga; e os meus parentes se põem à distância. Também os que buscam a minha vida me armam laços e os que procuram o meu mal falam coisas que danificam, e imaginam astúcias todo o dia. Mas eu, como surdo, não ouvia, e era como mudo, que não abre a boca. Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja boca não há reprovação. Porque em ti, Senhor, espero; tu, Senhor meu Deus, me ouvirás. Porque dizia eu: Ouve-me, para que não se alegrem de mim. Quando escorrega o meu pé, eles se engrandecem contra mim. Porque estou prestes a coxear; a minha dor está constantemente perante mim” (Salmos 38.6-17 – profecia acerca dos sentimentos do Senhor durante sua vida na terra).

Se ao passar por uma depressão você se sente encurvado, abatido, fraco, quebrantado, inquieto, sem forças, em total escuridão, prestes a escorregar e a cair, então saiba que não está sozinho. O próprio Senhor Jesus já experimentou todos esses sentimentos. A única diferença foi que ele não tinha pecado, o pecado agindo em Si ou a possibilidade de pecar como nós temos.

Mas Ele prometeu não nos abandonar quando essas mesmas dificuldades nos sobreviessem:

“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28).

Cristo deu aos que crêem nEle o Espírito Santo, que o próprio Senhor chamou de “Consolador”. Oras, um Consolador só tem alguma utilidade para pessoas que estão desconsoladas, desanimadas, deprimidas e ansiosas. A quem um Consolador iria consolar se os cristãos fossem super-homens e super-mulheres vivendo acima de qualquer depressão, desespero ou tristeza profunda?

A depressão pode ser decorrente de algum problema em nossa vida espiritual – algum pecado não confessado, falta de fé, negligência na oração e até influência de espíritos malignos. Mas, antes que aqueles que gostam de rotular as pessoas com a rapidez com que Davi condenou o homem que tomou a única ovelha do pobre (2Sm 12), saiba que também pode não ser nada disso.

A depressão pode ser também circunstancial, por estarmos envolvidos em coisas que nem mesmo nós sabemos quais são, isto é, pode não ser culpa nossa. Foi o que aconteceu com Daniel no período em que passou por uma depressão profunda que durou três semanas:

"Naqueles dias eu, Daniel, estive triste por três semanas. Alimento desejável não comi, nem carne nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com ungüento, até que se cumpriram as três semanas” (Daniel 10.2-3).

Daniel descobriria depois que a razão daquilo era uma batalha espiritual que ocorria em função de suas orações. Ou seja, a depressão pode ocorrer como consequência do que está no mundo invisível, seja por nossa falha ou por nossa fidelidade a Deus. Se você fizer uma breve pesquisa na história, verá que maior parte dos depressivos e ansiosos é composta justamente de homens e mulheres de Deus, justamente por conta da pressão com que o mundo e Satanás nos impõem, além das responsabilidades sob as quais nos submetemos diante do Senhor. Sendo este mundo um lugar onde o cristão não é bem vindo, obviamente ele fica mais propício a entrar em depressões inefáveis.

O salmo 88 talvez seja um dos mais fortes com relação à depressão, ansiedade, desespero, terror, abandono, isolamento, etc. Este é o caso de Hemã, um servo fiel a Deus, como ele mesmo se declara no começo do capítulo. O que mais chama a atenção neste capítulo é o silêncio de Deus. A propósito, eu costumo chamá-lo exatamente de “O Salmo do Silêncio de Deus” porque não há um alívio, um consolo ou resposta de Deus ao salmista que se encontra no ápice do desespero humano e sem saber por que se encontra neste estado. É, de fato, um caso de depressão e ansiedade traumático. O Salmo 88 é uma paisagem invernal de desolação sem alívio. Não há uma resposta por parte do Senhor. Ao contrário da maioria dos salmos que costumamos ler, neste não há um final feliz.

Há, porém, outras formas de depressão que não têm origem espiritual, mas física. Nosso corpo é controlado por hormônios e substâncias químicas que causam verdadeiros rebuliços em nosso humor. Mulheres que conhecem os efeitos da tensão pré-menstrual sabem o quanto seus corpos e mentes podem ser afetados pelas mudanças que ocorrem no organismo nesse período.

Antes de descobrirem a causa de problemas físicos como a epilepsia, tudo era considerado problema espiritual e muitas pessoas sofreram severos danos por causa da ignorância.

CONDENAÇÕES POR PARTE DOS IGNORANTES

Infelizmente, ainda hoje vemos pessoas atribuírem à depressão de alguém a sua espiritualidade ou caráter, causando-lhe sofrimentos e danos emocionais irreversíveis. Mas estes sofredores de depressão ou de outros problemas mentais muitas vezes estão sofrendo com as reações do organismo e precisam de ajuda. Pessoas que desconhecem a depressão e que não possuem empatia geralmente chamam os depressivos de “preguiçosos”, “fracos”, “incrédulos”, “malandros”, etc. E os adjetivos podem ser ainda mais condenatórios, tais como “mentirosos”, “vigaristas”, “enganadores”, “vitimistas”, etc. Tudo isso piora ainda mais o quadro do depressivo.

Um exemplo disso é Jó. Jó foi julgado por sua própria esposa devido ao seu estado mental e físico:

“Disse a mulher de Jó: ‘Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre’. Porém ele lhe disse: ‘Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?’ Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” (Jó 2.9-10).

A mulher de Jó insistia para que ele amaldiçoasse a Deus e morresse (obviamente pelas próprias mãos – suicídio), mas ele deixou claro que aceitava de Deus o mal que lhe afligia, tanto quanto o bem dos tempos de bonança.

Jó foi julgado e zombado por seus próprios amigos, que questionaram sua fé em Deus por conta de sua condição. Seus próprios amigos alegavam que ele estava assim porque estava em pecado. Riam de sua condição miserável. Este é um clássico exemplo do que muitos líderes religiosos fazem com os deprimidos – atribuem a depressão deles ao seu caráter, e colocam em dúvida a sua índole. Crianças cercavam Jó para rirem de sua extrema miséria na alma e no físico. Os amigos mais íntimos de Jó começaram a detestá-lo e se tornaram inimigos dele por conta de sua angústia:

“Os meus próprios amigos zombam do meu estado, e os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus” (Jó 16.20).

“Até as crianças zombam de mim e acham graça do meu estado quando chego. Todos os meus amigos, inclusive os mais chegados, agora me detestam; aqueles mais íntimos, a quem amo, simplesmente voltaram-se contra mim” (Jó 19.18-19).

É impressionante e, ao mesmo tempo estarrecedor, ver como a Igreja falha com os deprimidos ao agir desta maneira nos dias de hoje, com todo o conhecimento que temos sobre as doenças da alma.

SUSPEIÇÕES MESQUINHAS AINDA PERSISTEM

Em seu livro “A Depressão de Spurgeon”, Zack Eswine comenta sobre a depressão de Charles Spurgeon e faz algumas citações do pregador:

“Por causa da lentidão ou ausência de cura, os que sofrem de depressão deverão suportar diariamente vozes de condenação. Afinal de contas, “você já não deveria ter superado isso a essa altura?”.

A condenação provém daquilo que Charles chama de “suspeições mesquinhas”, e que muitos nutrem em relação àqueles que estão em depressão. Aos olhos de muitas pessoas, incluindo cristãos, depressão significa covardia, falta de fé, ou simplesmente falta de atitude. Tais pessoas dizem a Deus em oração, e pessoalmente a seus amigos, que o sofredor de depressão provavelmente está fingindo, é fraco ou não é espiritual. Em nossa frente, eles nos instruem a aumentar nossa coragem, nos envergonham ao nos fazer expor nossas mentiras ou citam a Bíblia para chacoalhar a nossa fé. Tentam argumentar conosco por meio da “lógica” para demonstrar e provar quão absurdos são nossos medos.

Ao escolherem essa postura, provam que não compreendem seu semelhante, homem ou mulher. Somente em momentos exasperados alguns deles finalmente admitem isso. Com toda a força, ou mesmo no sussurro de suas próprias lágrimas, gritam: “eu não compreendo você!”; “isto simplesmente não faz sentido algum!”.

A falta de controle leva tais pessoas a recorrerem de forma apressada a essas ferramentas de incriminação, julgamento, condenação ou exortação espiritual mal orientada, na tentativa de reparar a situação. Todavia, essas ferramentas simplesmente não funcionam com esse tipo de dor. Em vez disso, essas pessoas terão de aprender a usar uma ferramenta diferente. Caso contrário, apenas continuarão chutando o forno quebrado, esperando, em vão, suscitar o seu calor. Um pé dolorido e um amigo amassado são tudo o que tal BIRRA produzirá como resultado” (Zack Eswine – Livro: A Depressão de Spurgeon: Esperança realista em meio à angústia).

O recurso para todo cristão está em Deus e no Senhor Jesus Cristo, que sabe tudo o que passamos. Todavia, é necessário entender que, em algumas circunstâncias, Deus pode querer usar de medicamentos para nos tratar e curar, do mesmo modo como usou uma pasta de figos para curar Ezequias (2Rs 20.7) ou um pouco de vinho para a enfermidade que Timóteo tinha no estômago (1Tm 5.3).

Sendo assim, em alguns casos Deus pode querer que recorremos a médicos e medicamentos para sermos curados de enfermidades como a depressão, que aflige um número cada vez maior de pessoas. Mas, do mesmo modo como a pasta de figos de Ezequias não podia fazer nada por si só, assim o cristão deve estar ciente de que Aquele que às vezes permite que passemos por depressões e ansiedades, tal como fez com Jó e Paulo, só permite isso porque tem um propósito.

Muitas vezes Deus nos ensina que um pouco de ar fresco, exposição ao sol, exercícios físicos e boa alimentação podem ser a solução para uma depressão e/ou ansiedade. Tudo dependerá da sua comunhão com Ele para que Ele te oriente. Sim, um dia Ele irá te orientar. Ele não permitirá que você fique sem uma resposta, ainda que sua depressão dure uma vida inteira. Às vezes, entender o que Deus quer com uma depressão pode aliviar a própria depressão.

Por ora, saiba que fora comprovado que meia-hora de caminhada equivale a um antidepressivo receitado por um psiquiatra! Quem sabe o seu caso não é fruto de isolamento social? Mais uma vez, Deus pode estar querendo te ensinar alguma coisa.

Digo essas coisas porque eu, autor deste artigo, sofro de depressões e ansiedades há muitos anos. Passei pelos melhores médicos, tomei os melhores medicamentos e nada solucionou o meu caso. Após 10 anos de pelejas com os melhores psiquiatras e psicólogos disponíveis, tenho tentado investir na oração e na mudança de estilo de vida, com uma caminhada à luz do sol e um remédio para hipotireoidismo (sim, descobri que parte da minha depressão tem a ver com alterações em uma glândula chamada tireoide). Também fui muito julgado e condenado por não conseguir sequer sair da cama por muito tempo. A própria Igreja tem falhado em seu testemunho ao lidar com os deprimidos!

Para você, que sofre de depressões e ansiedades, eu só tenho uma coisa a dizer: O propósito de Deus talvez não esteja claro na hora do problema, mas certamente um dia ficará, e então veremos que a Sua vontade foi sempre a melhor para nós. Os santos de Deus da antiguidade recorreram Àquele que podia tirá-los daquela depressão e foram atendidos. Nós temos o mesmo Senhor a Quem recorrer.

– JP Padilha
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