O verbo “batizar”, na
língua em que foi escrito o Novo Testamento (grego koinê), significa “imergir”.
De fato, a imersão, era a forma de batismo adotada pelos apóstolos e pelos
primeiros cristãos. Aliás, é bom dizer desde já que a alegação de que no Novo
Testamento o batismo por aspersão é visto em Atos 9.18; 10.47-48 e 16.33 não se
baseia em nenhuma evidência textual ou histórica, mas somente nas suposições de
alguns intérpretes que imaginam ter sido difícil realizar a imersão nas
ocasiões descritas nesses textos. Essas suposições, contudo, não levam em conta
a natureza abreviada ou resumida da narrativa nem a consequente implicação
lógica de que as pessoas mencionadas nos textos de Atos se deslocaram para um
lugar onde houvesse água suficiente para imergir os novos crentes.
A convicção acerca da imersão como prática dos
cristãos primitivos baseia-se em ampla evidência neotestamentária (Mt 3.16; Mc
1.5, 9-11; Jo 3.23; At 8.36-39). Essa evidência, porém, é fortalecida por
fatores históricos de peso incontestável. Por exemplo: a literatura produzida
nos tempos da igreja antiga mostra, mais especificamente no “Didaquê”, o uso da
imersão. Ali fica claro que a aspersão era admitida somente quando não havia
água suficiente.[1]
É também curioso observar que as catedrais
europeias construídas na Idade Média têm ainda hoje marcado no piso do prédio
do batistério o local em que antigamente ficava o “tanque” usado para a
imersão. Diga-se ainda que o próprio reformador João Calvino, praticante do
batismo por aspersão, escreveu em suas institutas: “... na verdade, o próprio
termo batizar significa imergir, e é patente haver sido observado na igreja
antiga o rito de imergir”.[2]
O fato de a imersão ser, inegavelmente, a forma
de batismo adotada pelos primeiros cristãos não implica, necessariamente, na
rejeição do batismo por aspersão como prática herética. Isso porque, à luz do
Novo Testamento, o batismo cristão deve atingir quatro propósitos fundamentais,
sendo certo que a maior parte deles é alcançada também pelo rito de aspergir.
O primeiro propósito do batismo é
“proclamativo”. Quando é batizado, o crente, sendo indagado pelo ministrante
acerca do seu relacionamento com Deus, anuncia publicamente que fez as pazes
com ele, por meio da obra realizada por Cristo (1Pe 3.21). Esse alvo é
perfeitamente alcançado, independentemente da forma de batismo adotada.
O batismo tem também um propósito
“identificador”, apontando para a associação do batizando com Cristo e seus
seguidores. A Bíblia ensina que os israelitas libertos do Egito foram batizados
na nuvem e no mar com respeito a Moisés. Isso significa que, ao se colocar sob
a nuvem e ao passar pelo mar, cada israelita se identificou com Moisés ou, mais
especificamente, com o povo liberto por ele (1Co 10.1-2). Da mesma forma, o
crente, quando se submete ao batismo, apresenta-se como alguém que faz parte da
comunidade de redimidos por Cristo, identificando-se com esse grupo que se
“revestiu” do Senhor (Gl 3.27).
De fato, Cristo disse que, por meio do batismo,
o homem demonstra que se tornou um discípulo dele (Mt 28:19). Obviamente, não
sendo dependente da forma, esse ideal se perfaz não só no rito de imergir, mas
também por meio da aspersão da água sobre o crente.
O terceiro propósito do batismo é “simbólico” e
consiste de prover uma alegoria da lavagem espiritual que beneficia todo aquele
que recebeu o Salvador. Com efeito, o homem que é justificado pela fé em Cristo
é lavado dos seus pecados (1Co 6.11). Esse é o lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo de que fala Paulo em Tito 3.5. Ora, O batismo é uma forma de
simbolizar essa realidade (At 22.16) e tanto o batismo por imersão como o
realizado pela aspersão suprem muito bem esse objetivo (Hb 10.22).
Finalmente, o batismo tem um propósito
“dramatizador”, posto que na sua realização são encenadas a morte do crente
para o pecado e a sua ressurreição para uma nova vida. A conexão entre o
batismo e o processo abrangente da morte, sepultamento e ressurreição do crente
é vista em Romanos 6.4 e Colossenses 2.12. Nesse aspecto, a imersão supre
perfeitamente o ideal de encenar o que aconteceu com o homem que recebeu o
perdão de Deus. É, de fato, nítido o significado de cada gesto: o mergulhar na
água evoca a morte do crente para o pecado e seu sepultamento com Cristo; o
levantar-se da água denota sua ressurreição para uma vida nova sob a influência
do Espírito Santo.
É precisamente na realização desse quarto
objetivo que o batismo por aspersão se mostra ineficaz. Ora, para atingir o
propósito “dramatizador”, a forma de batismo é essencial, impondo-se a
necessidade da imersão. Isso porque, obviamente, o processo de morte,
sepultamento e ressurreição não pode ser adequadamente simbolizado por meio da
mera aspersão de água sobre o candidato.
Assim, não é correto dizer que o batismo por
aspersão é herético. Também peca pelo exagero quem afirma que o crente aspergido
jamais foi batizado. O que deve ser afirmado é que o crente batizado por
aspersão cumpriu sim a ordenança de Jesus. Porém, o fez de modo irregular, não
realizando um dos propósitos centrais dela, ou seja, a encenação do processo
morte/sepultamento/ressurreição. Em suma: seu batismo foi “existente”, mas não
foi “regular”. Naturalmente, o único modo de suprir essa irregularidade é
submeter o crente a um novo batismo, no qual seja observado o rito da imersão.
– Marcos Granconato
___________________________________________________
Acesse o blog do livro "O Evangelho Sem Disfarces" e baixe-o
gratuitamente clicando aqui:
https://jppadilhabiblia2.blogspot.com/2019/08/sumario-o-evangelho-sem-disfarces.html
Compre o livro
impresso aqui:
https://clubedeautores.com.br/livro/o-evangelho-sem-disfarces
– Fonte 1: Facebook JP
Padilha
– Fonte 2: Página JP
Padilha
– Fonte 3: https://jppadilhabiblia.blogspot.com/
– Fonte 4: https://jppadilhabiblia2.blogspot.com/
Assinar:
Postar comentários (Atom)
QUEM É O JP PADILHA? QUAL É A SUA PROFISSÃO?
Se você me perguntar o que eu sou, eu lhe responderei: "sou esposo". Se você insistir, lhe responderei: "sou pai"....

-
Para entender a relação entre o Natal, sinal da cruz, o famoso "santíssimo sacrário" em forma de sol e sua relação com Tamuz e...
-
“Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhece...
-
Este artigo é um resumo introdutório que objetiva esclarecer as principais dúvidas dos católicos romanos que buscam um relacionamento pessoa...
Nenhum comentário:
Postar um comentário