O BATISMO: Significado e Método | Marcos Granconato



O verbo “batizar”, na língua em que foi escrito o Novo Testamento (grego koinê), significa “imergir”. De fato, a imersão, era a forma de batismo adotada pelos apóstolos e pelos primeiros cristãos. Aliás, é bom dizer desde já que a alegação de que no Novo Testamento o batismo por aspersão é visto em Atos 9.18; 10.47-48 e 16.33 não se baseia em nenhuma evidência textual ou histórica, mas somente nas suposições de alguns intérpretes que imaginam ter sido difícil realizar a imersão nas ocasiões descritas nesses textos. Essas suposições, contudo, não levam em conta a natureza abreviada ou resumida da narrativa nem a consequente implicação lógica de que as pessoas mencionadas nos textos de Atos se deslocaram para um lugar onde houvesse água suficiente para imergir os novos crentes.

A convicção acerca da imersão como prática dos cristãos primitivos baseia-se em ampla evidência neotestamentária (Mt 3.16; Mc 1.5, 9-11; Jo 3.23; At 8.36-39). Essa evidência, porém, é fortalecida por fatores históricos de peso incontestável. Por exemplo: a literatura produzida nos tempos da igreja antiga mostra, mais especificamente no “Didaquê”, o uso da imersão. Ali fica claro que a aspersão era admitida somente quando não havia água suficiente.[1]

É também curioso observar que as catedrais europeias construídas na Idade Média têm ainda hoje marcado no piso do prédio do batistério o local em que antigamente ficava o “tanque” usado para a imersão. Diga-se ainda que o próprio reformador João Calvino, praticante do batismo por aspersão, escreveu em suas institutas: “... na verdade, o próprio termo batizar significa imergir, e é patente haver sido observado na igreja antiga o rito de imergir”.[2]

O fato de a imersão ser, inegavelmente, a forma de batismo adotada pelos primeiros cristãos não implica, necessariamente, na rejeição do batismo por aspersão como prática herética. Isso porque, à luz do Novo Testamento, o batismo cristão deve atingir quatro propósitos fundamentais, sendo certo que a maior parte deles é alcançada também pelo rito de aspergir.

O primeiro propósito do batismo é “proclamativo”. Quando é batizado, o crente, sendo indagado pelo ministrante acerca do seu relacionamento com Deus, anuncia publicamente que fez as pazes com ele, por meio da obra realizada por Cristo (1Pe 3.21). Esse alvo é perfeitamente alcançado, independentemente da forma de batismo adotada.

O batismo tem também um propósito “identificador”, apontando para a associação do batizando com Cristo e seus seguidores. A Bíblia ensina que os israelitas libertos do Egito foram batizados na nuvem e no mar com respeito a Moisés. Isso significa que, ao se colocar sob a nuvem e ao passar pelo mar, cada israelita se identificou com Moisés ou, mais especificamente, com o povo liberto por ele (1Co 10.1-2). Da mesma forma, o crente, quando se submete ao batismo, apresenta-se como alguém que faz parte da comunidade de redimidos por Cristo, identificando-se com esse grupo que se “revestiu” do Senhor (Gl 3.27).

De fato, Cristo disse que, por meio do batismo, o homem demonstra que se tornou um discípulo dele (Mt 28:19). Obviamente, não sendo dependente da forma, esse ideal se perfaz não só no rito de imergir, mas também por meio da aspersão da água sobre o crente.

O terceiro propósito do batismo é “simbólico” e consiste de prover uma alegoria da lavagem espiritual que beneficia todo aquele que recebeu o Salvador. Com efeito, o homem que é justificado pela fé em Cristo é lavado dos seus pecados (1Co 6.11). Esse é o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo de que fala Paulo em Tito 3.5. Ora, O batismo é uma forma de simbolizar essa realidade (At 22.16) e tanto o batismo por imersão como o realizado pela aspersão suprem muito bem esse objetivo (Hb 10.22).

Finalmente, o batismo tem um propósito “dramatizador”, posto que na sua realização são encenadas a morte do crente para o pecado e a sua ressurreição para uma nova vida. A conexão entre o batismo e o processo abrangente da morte, sepultamento e ressurreição do crente é vista em Romanos 6.4 e Colossenses 2.12. Nesse aspecto, a imersão supre perfeitamente o ideal de encenar o que aconteceu com o homem que recebeu o perdão de Deus. É, de fato, nítido o significado de cada gesto: o mergulhar na água evoca a morte do crente para o pecado e seu sepultamento com Cristo; o levantar-se da água denota sua ressurreição para uma vida nova sob a influência do Espírito Santo.

É precisamente na realização desse quarto objetivo que o batismo por aspersão se mostra ineficaz. Ora, para atingir o propósito “dramatizador”, a forma de batismo é essencial, impondo-se a necessidade da imersão. Isso porque, obviamente, o processo de morte, sepultamento e ressurreição não pode ser adequadamente simbolizado por meio da mera aspersão de água sobre o candidato.

Assim, não é correto dizer que o batismo por aspersão é herético. Também peca pelo exagero quem afirma que o crente aspergido jamais foi batizado. O que deve ser afirmado é que o crente batizado por aspersão cumpriu sim a ordenança de Jesus. Porém, o fez de modo irregular, não realizando um dos propósitos centrais dela, ou seja, a encenação do processo morte/sepultamento/ressurreição. Em suma: seu batismo foi “existente”, mas não foi “regular”. Naturalmente, o único modo de suprir essa irregularidade é submeter o crente a um novo batismo, no qual seja observado o rito da imersão.

– Marcos Granconato
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