É correto chamar a todos de "irmãos"? | JP Padilha


Existe um costume no âmbito evangélico e entre grande parte dos católicos que é o de chamar qualquer um que se identifique como cristão de "irmão". É também comum encontrarmos debates na TV e nas redes sociais homens (geralmente intitulados “pastores”) que, mesmo depois de terem negado as verdades essenciais da fé cristã, são chamados de “irmãos” pelos oponentes, pelo apresentador e até pelos espectadores. Mas, o que aconteceu com o entendimento dessas pessoas? Pobres bestas! Se um indivíduo se auto-intitula “crente”, “cristão” ou “evangélico” já é o suficiente para ser chamado de irmão, ainda que este esteja escandalizando a Igreja com ideias totalmente antibíblicas. Os dois debatedores terminam o proselitismo, apertam as mãos e dão aquele tapinha nas costas. Já viu isso? Eu já. E eu quero vomitar!

Existem outras formas peculiares de usar o termo “irmão” no mundo. Muitas vezes o termo "irmão" é usado não como forma de dizer que ambos comungam da mesma fé, mas como forma de criar distanciamento. Um exemplo clássico disso é quando as pessoas costumam usar o termo “senhor” ou “senhora” para se dirigirem aos adversários numa briga ou bate-boca. Políticos são especialistas nisso. Basta ver um vídeo de briga entre parlamentares para ver como eles fazem uso do termo "Vossa Excelência", não como um pronome para denotar um elevado grau de respeito (como ensina o dicionário), mas como preâmbulo para as ofensas e palavrões que se seguirão.

O que dizem as Escrituras sobre nossa maneira de tratar aqueles que se dizem irmãos, porém negam a sã doutrina ou são insubordinados às decisões da igreja ou assembleia? Ao revelar os princípios que deveriam reger a autoridade do Senhor na assembleia, Jesus deixou claro que existiria um momento quando um insubordinado dentre os irmãos deixaria de ser tratado como "irmão" para ser tratado como incrédulo ou infiel.

"Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano" (Mateus 18.15-17).

É disso que Paulo fala em 1 Coríntios 5 ao tratar da excomunhão de um crente que estava contaminado com pecado moral. Ele devia ser excluído da comunhão (excomungado) e da mesa do Senhor e ser tratado como alguém que estava fora. Obviamente o Catolicismo e o Protestantismo acabaram distorcendo essa ação disciplinatória e consideraram a excomunhão como uma exclusão do Corpo de Cristo, o que é impossível ao homem fazer, já que nenhum verdadeiro membro de Cristo pode ser arrancado do Seu Corpo – a Igreja. A excomunhão aqui é apenas no âmbito administrativo e da comunhão prática na terra, não no Céu. O ato de excomungar um membro da comunidade cristã por este estar em pecado não o faz perder a salvação. Pelo contrário – este ato visa expô-lo aos perigos de se estar fora da assembleia e às tramoias de Satanás para que ele seja restaurado por meio do arrependimento. Trata-se de um ato de amor, não de repulsa.

"Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo." (1 Coríntios 5.9-13).

Preste muita atenção ao que Paulo está dizendo aqui. Repare que ele faz uma ressalva no tratamento para com os incrédulos, chamados aqui de "devassos deste mundo", por saber muito bem que seria impossível viver no mundo separado fisicamente deles. Afinal, precisamos estudar, trabalhar e conviver com colegas, chefes e parentes incrédulos e não há como fugir disso. Os sistemas monásticos importados pelo Catolicismo das religiões orientais tentam fazer uma separação física dos incrédulos, isolando seus religiosos em mosteiros inacessíveis. Mas a doutrina dos apóstolos ensina que o tratamento com rigor deve ser reservado aos que, "dizendo-se irmãos, não são" (vs. 11), e vivem em pecado; e desonram o Nome que carregam. Isto é, o afastamento completo deve ser exercido com relação àqueles que se dizem irmãos e não são. É com eles que não devemos nem mesmo nos assentar para comer. Prestemos atenção no verso 11 mais uma vez:

“Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais (1 Coríntios 5.11).

Ações assim nunca são por falta de amor (como também não é a disciplina de um filho), mas têm por objetivo fazer com que o transgressor se envergonhe de seu modo de ser e possa se arrepender de seus caminhos e ser restaurado à comunhão com os irmãos. Mas, enquanto isso não acontece, ele não deve de maneira nenhuma ser chamado de "irmão" e todo contato que vá além do absolutamente necessário deve ser evitado. "Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho... E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela" (Hebreus 12.6-11).

Pelo fato de muitos de nós termos vindo de uma tradição católica, somos sempre muito "bonzinhos" na hora de tratar com as pessoas por acreditarmos que "todos somos irmãos" ou que "não devemos julgar". Porém, a Palavra de Deus ensina outra coisa. Devemos sim julgar as más ações das pessoas, suas doutrinas, o que falam, etc., apesar de não podermos julgar o coração, isto é, julgar sem a reta justiça; sem conhecer as pessoas. O Senhor ensinou seus discípulos a tomarem cuidado com o "fermento" ou doutrina dos fariseus, e também a não agirem do modo como eles agiram, o que por si só prefigura fazer um julgamento.

O julgamento pode ser tanto individual quanto da assembleia. Uma vez que tivermos claro diante de nós que estamos lidando com alguém que, "dizendo-se irmão", comporta-se de maneira contrária às Escrituras, devemos nos apartar do tal e deixá-lo de chamar de "irmão". Como o Senhor ensinou, devemos considerá-lo "gentio e publicano", que era a forma de um judeu enxergar um não judeu ou impuro. Essa separação é profilática, isto é, tem por objetivo evitar contaminação e permitir que fiquemos preparados "para toda boa obra" (2Tm 2.21), o que não acontece se estivermos ligados às pessoas erradas. "Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?" (1 Coríntios 5.6).

Leia mais sobre o ato de julgar as pessoas e seus atos pecaminosos neste link:
Deus nos proíbe de julgar?
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2019/11/deus-nos-proibe-de-julgar-jp-padilha.html

Evidentemente, somente "o Senhor conhece os que são Seus", porém a parte que me diz respeito é agir de acordo com o que diz a continuação da passagem: "Qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade. Ora, numa grande casa não somente há vasos [pessoas] de ouro e de prata, mas também de pau e de barro; uns para honra, outros, porém, para desonra. De sorte que, se alguém se purificar [separar] destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra" (2 Timóteo 2.19-21).

Vamos imaginar um cenário prático dessa questão de chamar ou não de "irmão" alguém que esteja sendo causa de escândalo para a Igreja na internet, ou por negar doutrinas fundamentais da Bíblia, ou às vezes até por ser legalista como os fariseus e querer colocar as pessoas debaixo de um jugo, ou o contrário disso – por ser liberal e ensinar doutrinas estranhas que vão além do evangelho a fim de atrair um público maior. A partir do momento em que ele faz isso em um debate numa rede social e você continua a chamá-lo de "irmão", no intuito de tentar apaziguar os ânimos ou ser educado, a impressão que dá aos incrédulos que estão acompanhando a conversa é de que você e ele são “farinha do mesmo saco”. Então o incrédulo irá pensar: "É isso que é ser cristão? É isso que é ser 'irmão'? Isso não é muita hipocrisia e falsidade? Muito obrigado! Mas quero ficar bem longe desse evangelho".

Leia mais sobre o que significa a separação dos ímpios nestes links:

Não vos associeis com aquele que diz ser irmão e não é!
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2024/08/nao-vos-associeis-com-aquele-que-diz.html

2 Coríntios 6.14-18 – Um chamado à separação:
https://jppadilhabiblia.blogspot.com/2019/11/2-corintios-614-18-um-chamado-separacao.html

– JP Padilha
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