Seria o Domingo um substituto do Sábado judaico? | JP Padilha
Não. O Domingo do calendário ocidental não substitui o Sábado dos judeus. As regulamentações que regem a observância da guarda do dia do Sábado estão no Antigo Testamento. Tais regulamentações são aspectos da lei cerimonial (lei de Moisés) e não moral. Ou seja, o Sábado judaico não tem lugar no Novo Testamento. Essas regulamentações mosaicas não estão mais em vigor, pois foram juntamente findadas com o sistema de sacrifícios, o sacerdócio levítico e todos os outros aspectos da lei de Moisés que prefiguravam Cristo.
Em Colossenses 2.16-17, Paulo refere-se explicitamente à guarda do dia do Sábado como uma “sombra de Cristo”, a qual não é mais obrigatória desde que a substância (Cristo) veio. Os versos nos mostram que o Sábado semanal está em vista quando lemos a frase "nos sábados, nas luas novas e nas festas fixas". Essa frase faz referência aos dias santos judaicos do ano, dos meses e das semanas do calendário judaico, os quais fazem parte da aliança perpétua com Israel (cf. 1 Cr 23.31, 2 Cr 2.4; 31.3, Ez 45.17; Os 2.11).
Se o apóstolo da graça estivesse falando de datas cerimoniais especiais de descanso na passagem de Colossenses 2.16-17, por que ele usaria a palavra "Sábado” (Shaba)? Sendo assim, fica patente que Paulo trata esses “dias e festas cerimoniais” como algo ultrapassado e ilegítimo para a Igreja de Deus.
Como já fora tratado neste capítulo, o Sábado era um sinal para Israel na aliança mosaica (Ex 31.16-17, Ez 20.12; Nm 9.14). Todavia, a Igreja não é o cumprimento da nova aliança prometida a Israel. Esta nova aliança ainda será cumprida no futuro (Hb 8). Todavia, a Igreja de Cristo não está obrigada a observar o sinal da aliança mosaica, nem o sinal da nova aliança que será feita com Israel.
Também observamos que o Novo Testamento não ordena que os cristãos guardem o dia do Sábado, e as razões aqui mostradas são mais do que suficientes. Os apóstolos estabeleceram o "primeiro dia da semana" (At 20.7; 1Co 16.2) para culto, adoração e ministério. Deus não ordenou que o cultuássemos no primeiro dia da semana. Isso foi uma decisão humana apenas. Portanto, o culto público pode ser feito em qualquer dia da semana, se assim for possível ou necessário. Não há sequer uma ordem de Deus no Novo Testamento de que devemos "guardar o domingo" como um "dia especial" para Ele.
Vale ressaltar que não somente na era da Igreja o Sábado jamais fora ordenado às nações gentílicas, como também em nenhum período do Antigo Testamento Deus ordenou que os gentios guardassem o dia do Sábado, senão que Ele o fez somente a Israel, Seu povo terreno, a Sua “menina dos olhos”. Na Bíblia, os gentios nunca são condenados por não guardarem o dia do Sábado. Ora, se a observância deste dia sagrado dos judeus fosse um princípio moral e universal, certamente teríamos ordens detalhadas nas epístolas dos apóstolos acerca deste mandamento. Mas o fato é que não vemos nada disso no evangelho da graça. Também não existem quaisquer comandos na Bíblia para se guardar o dia de Sábado antes da promulgação da lei no monte Sinai. Ou seja, antes de Moisés, ninguém foi ordenado a seguir esta lei.
No dia em que os apóstolos se reuniram no Concílio de Jerusalém (At 15), eles não estabeleceram a guarda do dia do Sábado para os cristãos gentios, simplesmente porque não faria qualquer sentido. Jesus nunca deu tal ordem aos apóstolos, nem enquanto estava fisicamente com eles nem nas revelações à Igreja primitiva.
Qualquer israelita que descumprisse a guarda do Sábado estava sujeito à pena de morte (Ex 31.12-17). O apóstolo Paulo advertiu os gentios sobre diferentes pecados em suas epístolas, mas nunca falou nada sobre ter que guardar o Sábado. Absolutamente nada. A propósito, não somente Paulo, como nenhum apóstolo jamais deu tal ordem aos gentios.
Em Gálatas 4.10-11, Paulo repreende os gálatas por pensarem que Deus esperava que eles guardassem “dias santos e especiais”, incluindo o Sábado:
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio que eu haja trabalhado em vão para convosco” (Gálatas 4.9-11).
Em um determinado período da Igreja primitiva, os cristãos judaicos (judeus recém convertidos) ainda guardavam o dia do Sábado e condenavam os cristãos gentios por não fazerem o mesmo. Isso ocorria porque os cristãos judaicos ainda não compreendiam que estavam em uma nova dispensação. Os cristãos gentios estavam sendo mal tratados pelos cristãos judaicos por não guardarem o dia do Sábado. Assim, Paulo repreendeu severamente os cristãos judaicos por imporem tal lei aos gentios:
“Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai. Mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz” (Romanos 14.4-6).
Portanto, definitivamente, o Domingo do calendário ocidental não substituiu o Sábado para ser dia de Shabat. Em contrapartida, temos o primeiro dia da semana como referência dos apóstolos, momento em que os crentes se reúnem para a celebração de Sua ressurreição, a qual ocorre no primeiro dia da semana. Para nós, cristãos, cada dia, cada hora, cada minuto e cada momento é um momento santo como o Sábado, mas não por cessarmos de trabalhar ou de fazer quaisquer tarefas, e sim porque fazemos um trabalho espiritual em nós mesmos e descansamos sob o nome do Senhor Jesus Cristo e na Sua salvação em nós (Hb 4.9-11).
“Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar. Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4.9-16).
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